segunda-feira, 30 de maio de 2011

A ingênua




Tudo bem, eu admito: acredito. Em quase tudo. Naquela promessa maluca em horário impróprio, na história descabida e cabeluda que alguém conta para logo em seguida rir da minha expressão desapontada por com tanta convicção, crer. Vivo mesmo nesse mundo paralelo onde as possibilidades são reais, e os milagres, a um passo de acontecer. Por que não, pergunto. Dê uma explicação plausível de que a loucura cotidiana ainda não invadiu dois terços do mundo e até deixo que certo ceticismo me seja remediado. Posso ser otimista em relação a que o amor brote de onde há discórdia, as pessoas se gostem sem insegurança ou desconfiança, e os mais escabrosos devaneios sejam palpáveis, fotografáveis, imagináveis? É nesse paralelo reinventado que me descubro ingênua. Mais que a maioria das pessoas com fé e um milhão de crenças no bolso de trás da calça, em altares dentro de suas casas. Creio de verdade e sem cena, porque ser cândida é mostrar, sem complicação, o quanto tudo é, ou não. Provar aos incrédulos o quanto sinais nos tocam os olhos, cartas nos dão dicas intuitivas, aquele horário igual visto pode ser mesmo amor.

Sem burrice, contudo. Tenho meus conceitos e conhecimentos, e não dispenso boa dose de bom senso. Se a vida anda dura, e a descredulidade passível, conservo minha inocência apenas para me manter sã e de guarda fechada. Culpa de uma mente tão fértil possuir, impossível. A tecnologia avança, a psicopatia humana idem, e do outro lado corre por fora a tal superação diária de cada um. Crer que os sonhos se tornem realidade desde sempre é marca minha. Correr atrás, do jeito sucinto e mesmo desastrado a que vivo, a consequência. Dessa minha candidez sincera, muito já foi extorquido. Fodam-se os outros se o peso da vida não os deixa dar asas ao que pode acontecer e ninguém sabe até que ponto se mistura o real com o fantasioso. Sem pudor, vou pelo caminho daquilo que, positivamente, pode vir a me surpreender - feito coelho tirado da cartola, arco-íris aberto em dia chuvoso ensolarado, flor aberta de repente, sem ser ainda a hora "correta". Simples.

Sim, eu confio em duendes e horóscopo, ação e reação, recompensas pelo bem feito. Na tal força maior que move montanhas, o Universo e pessoas de suas mais temíveis e temeráveis condições. Acredito em cortes de cabelo narrados, ações nunca antes tidas como realizáveis, na chuva lá fora que me contam e que na verdade, nem cai. Cheia de bondade, é até meio infantil essa minha ânsia de que a mágica cósmica faça do que é rotineiro um pouco mais maleável e colorido. Capaz de cair nas mais intransponíveis mentiras, caso as chances de descoberta sejam escassas. Por algum tempo, permanecer então nisso que nada tem deveras, porém, num outro plano existe: fora do que é existente. Vou ser mais forte, um pouco mais temerosa; desenvolver que seja o razoável para me proteger de ser assim tão pueril e até mesmo tola, um pouco de descrença. Certa suspeita, apenas como proteção pra quando a rotina desabar inteira, completa em existência - para que ao menos avisada eu esteja.

É agora ele quem brinca e depois ri, desfeito o meu rabisco imaginário processado às pressas, daquilo que por segundos achei ser verdadeiro. Acredito em tudo, eu sei. Sabia que você ia cair, ouço. Deixo então esse meu lado criança que nada tem de sério e se deslumbra com qualquer inovação da mente alheia à mostra e retruco: é fácil me enganar, você sabe. Não o farei, não tenho motivos - quando for verdade, você saberá. E eu que agora tenho aprendido a pagar pra ver, e só acreditar então, vendo, aguardo. Será que demora demais? É a ansiosa aqui do lado quem pergunta.

domingo, 29 de maio de 2011

Meia-calça



Quando pequena, acho que desde sempre desenvolvi uma opinião toda própria. Gostava de almoçar na sala, vendo televisão na minha mesinha de criança, e tive os mais estranhos animais dentro de casa: coelho, patos, hamsters, tartaruga, passarinho, e claro, gato e cachorro. Contudo, o especial era o coelho. Dinho, nomeei. Até hoje a lembrança de ter que me desfazer daquele do pelo branquinho e dos olhos vermelhos que me foi dado na páscoa, e apenas crescia dentro da casa menor onde morávamos. Das manias, só dormia - e foi assim até alguns anos atrás, pasmem - de abajur ligado, tinha pavor de dentista e cortar cabelo (o que ainda hoje me dá certo temor, nos minutos antecedentes) e a mais marcante dentre todas: não usava calças.
De repente, e não lembro bem porque, rejeitava toda e qualquer masculinidade que me era imposta. Pensava, a cabecinha pequena do cabelo sempre negros com franja: é de menino. Assim como jogar futebol e entrar no banheiro masculino. Ia virar guri. Porém, em relação à calças, era eu totalmente adversa. Fazia birra e não vestia de jeito, maneira e tecido nenhum. Minha mãe, coitada, virou sócia da loja onde comprava meia-calças grossas, finas, dos mais variados tipos. Gostava da liberdade de vestir saia e me sentir feminina. Tiara na cabeça, para crescer a franja, e vestido. Bota, meia-calça. Balé, sapatilha e meia-calça. Na minha teimosia - ainda tão presente - e dentro dos meus caprichos, tão prontamente bem aceitos e resolvidos, é que penso: algumas de nossas loucuras são imperecíveis; perpetuam na eternidade.
Anos depois, aceitei com certa cautela que usar calças não era o que me faria diferente dos garotos que jogam video game, brigam na escola e assistiam lutinhas na televisão. Lembro dessa época com nostalgia e pesar, pelas lembranças, me mudei outras vezes e depois para onde vivo até hoje, e, implementei o uso de calças no meu dia-a-dia. Hoje, se contar, talvez muito não creiam: até faço uso de jeans, e outros tecidos que separem as pernas. A novidade é que, mais do que nunca, as tão femininas meias-calças se fazem totalmente presentes no meu dia-a-dia. Uma por semana, pois como o uso é intenso, os rasgões são frequentes. O curioso é que, mesmo após anos, a liberdade para mim é poder me sentir menina e moça, das pernas soltas e cós despreocupado, de uma maneira que calça nenhuma me faz sentir. Penso então: algumas manias, lá atrás tão escolhidas por nós, retornam com toda uma força que nem mesmo nós sabemos existir? Estão nossos gostos e memórias tão intrínsecos e trançados que, tanta coisa do passado é capaz explicar o presente vivenciado? Acredito nas escolhas feitas puras em intuição e cultura, conhecimento e vontades mistas, tão íntimos e pessoais que como algum DNA codificam o que é apenas nosso e a mais ninguém poderia pertencer. Retornam arroubos esquisitos e singulares assim, quando menos imaginamos. Deixando de ser por moda, conveniência ou estética, para resguardar aquilo na gente que mesmo sendo excêntrico, é também forte: o que compõe apenas pedaços nossos que não se fecham em quebras-cabeças alheios. É das peculiaridades passadas, presentes e eternas que o indíviduo consegue marcar feito carimbo sua marca na humanidade. De meia-calça, cabelo cortado e almoço em frente à televisão. Deixando que os bichos agora sejam as feras domadas aqui dentro, libertas apenas em momentos de mansidão e fuga necessários.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Gosto




Se há males que vem para o bem, talvez apenas hoje acredite em tal verdade nada absoluta. Acontece que, pela primeira vez, acho que me bateu um medo tão assustadiço de perder você tão precocemente, que, no meio desses dias que não passam - mas sim, em alta velocidade correm; praticamente voam - tive chance de perceber o quanto já me encontro dentro disso tudo que se alastra e só cresce, e que não sei bem o que é. Pela roupa não trocada logo que cheguei, pela noite mal dormida, pelo peso no peito de acreditar, mas querer com urgência que o ao vivo chegue pra que a angústia de ser ingênua e errar se dissipe e dê lugar a certeza de que tudo ficou bem, sim, é o que disse na noite passada: gosto de você.

Indiferente e inerte a romances, a sensação é de repente, aos poucos, acordar dentro de um. Enrolada, entretida, de tão feliz, distraída: quando vi, já de riso fácil e com uma vontade sua que só aumenta. Há algo em você que é antídoto pra toda a minha insônia presente há anos - crônica. Além de me fazer dormir em instantes, faz com que eu não consiga me afastar por muito tempo. E beijo, e aperto forte, faço questão de retirar seu sossego. Dia iluminado, mesmo chuvoso lá fora, caso você apareça logo cedo; sono alegre, caso apenas à noite a vida nos deixe respirar um para o outro. A facilidade com que você consegue que eu, prolixa nata, me cale e sinta um silêncio sereno, pacífico; cúmplice. Gosto da minha mão que bagunça o seu cabelo fino, apenas para arrumar depois. Dos filmes ruins, do seu olhar observador, sempre atento - porém, secreto. Esse meu mistério cheio de pistas ao qual aceito cada vez mais o desafio de desvendar, por puro prazer. Quase morrer de paixão pelo seu perfume, simplicidade, sensatez. Sentir um ciúme tolo e sem motivos pelo por mim nominado fã clube de menininhas que te querem, mas não possuem - só para rir um pouco, ao contrário de preocupar. Admirar tua habilidade em ser menino e fazer churrasco, dirigir bem, enquanto eu sou apenas "mulherzinha" e falo horas com as amigas. Vestir seus casacos, arrastar as despedidas, esquentar minhas mãos (quase sempre) gélidas nas suas, quentes. Até mesmo o seu pé com meia, quando enrosca no meu descoberto, acaba me fazendo rir e apaixonar um pouco mais e da mania de me enganar de vez em quando, tamanha a minha inocência em crer em qualquer coisa dita.

Assim, simples, desprendido e sem complicação: gosto de você. Da forma insuspeita que pensava nem conseguir, colorida apenas nos filmes de amor e canções melosas (só que sem a forma piegas da coisa). Segura em minhas próprias convicções, nesse sentimento que tem me feito desprender de boa parte dessa aparente pose toda. Já sem medo de que desmorone, se acabe, se vá a qualquer instante, com calma qualquer dia, e cara a cara que é melhor, te asseguro o quanto tem crescido aqui dentro e só progride essa parte sua que eu nem imaginava vir a existir. E agora que sei, te conto. Sem pulseira do Bom Fim no pulso esquerdo, mas torcendo pra que seja recíproco como até aqui tudo tem sido.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Não namorável




Que os homens curtem ver revista de mulher boazuda e passar cantada fraca em menina gostosa na rua, já estamos cansadas, de tamanho o saber. Agora, missão praticamente impossível é esta: se comprometer, afetivo e emocionalmente com um mulherão. Tarefa para poucos, vocação para raros. Desafio para alguns, que até o fariam de boa vontade, mas instinto para tal empreitada não possuem.
A moça pode ter uma autenticidade invejável. Fala o que vem a cabeça, faz só o que está afim, e melhor: dá liberdade. Quer sair com os amigos? Vai. Não pode hoje? Tudo bem, tenho outros planos. Possui vida própria que não a dele, e não pressiona por nada, nunca: vai no ritmo que a banda do garanhão toca. Tudo muito bem, completamente bom. E sabe: não passará disso. Nunca. Entrada para o hall das donzelas selecionadas para se exibir como "namorada": proibida. Enorme a cumplicidade, ótimos os momentos juntos, se pergunta então: por que?

Justo porque além de não se frear, ser esperta e por vezes, um pouco impulsiva, ter um ciúminho pequeno e mudar de humor a cada hora do dia, nasceu graúda. Desde sempre, voluptuosa. Com direito a coxa, peito - às vezes, braço - e derrière avantajados. Mesmo lutando frente às tantas barreiras para mostrar que poderia sim, ser considerada inteligente (piora se for bonita, a batalha será eterna), ter um senso de humor refinado e culto além de ser bonitona, não: quem mandou ter essa genética de passista de escola de samba? Que fique um fiapo, que se arranje com um bombado, que seja apenas para ver ou sexo - ela não é de cera, mas é como se fosse. Pode não falar com voz de retardada, e saber de cor e salteado todos os escritores franceses de maior influência na literatura brasileira. Pergunto: de que adianta, se, o corpo - tão visual, tão chamativo, tão luxurioso - quase berra pra que ela seja considerada apenas objeto, símbolo, fetiche, e não alguém pra se passar o domingo num parque qualquer, com a família? De nada.

O modo hipócrita como alguns caras ainda categorizam as mulheres nos dias de hoje é esdrúxulo, chega a ser revoltante. Mignon, rostinho de anjo, gestos delicados e faculdade tradicional: para namorar. Com aliança, e tudo. Planos de casamento, lua de mel extendida fora do país. Pra levar nas festas de família e da empresa, restaurantes refinados. Agora, experimente ter quadris largos, cintura fina e esbanjar languidez. Fale demais, pense de menos, e aja sempre. Curse o que te der prazer, tenha uma loucura de estimação e milhares de amigos homens. Ficam com estereótipos Sandy de mulher, desejando ardentemente que Juliana Paes e Scarletts Johansons apareçam para trovejar um pouquinho a infinidade dos dias. Infelizmente, a covardia masculina te levará apenas para casa, para cama e para pequeninos lugares, afugentados das grandes agitações e pessoas influentes da cidade. Conhecer a mãe? Loucura, garota. Ou você quer que a fêmea que o amamentou até os seis meses a conheça e logo imagine a selvageria que deve (ou às vezes, nem rola) entre quatro paredes? Não, não. E nem quer o cunhado e o pai fantasiando sobre você assim que puserem os olhos quando você entrar na sala. Porque, sabe: você é para ver, mas ele que tem a experimentado quer que o prazer seja próprio, apenas privado a si. Mas a sociedade, os parentes distantes e amigos de escola não precisam, de jeito nenhum saber da iguaria que o querido encontrou, e agora, enrola para continuar mistério.

Pior de tudo, é que pode haver sentimento, sim. Conflituoso a um medo de assumir para todos que anda por aí com uma gostosa de parar trânsito, aeroportos e olhares masculinos. Aditivo, o ciúme em saber que é notada, em tudo quanto é canto (mesmo no barzinho da esquina onde a leva). E mais: a desconfiança de que, cortejada demais, fértil em abundância, deve trair. Como confiar em quem seduz assim, espontaneamente, mesmo descabelada, de coque baixo e calça de moletom? Não consegue, não vai adiante. Esses são os frouxos, inseguros e palhaços que mais tarde viram piada no picadeiro das rodas de conversa feminina: o babaca que não assumiu nada por ela ser apetitosa em demasia. Homens que estão fadados a casar com a sem-gracice, e pelo resto da vida, correr atrás dos risos ofegantes de quem se entrega à volúpia de viver. Gostosa, ou não.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Espelho: não dividimos



Nós, mulheres, podemos estar verdadeiros bichos da goiaba, mas uma atração é instantânea: a do próprio reflexo. Meio narcisistas, totalmente preocupadas com a aparência, nos olhamos em superfícies metálicas, vitrines das ruas passadas, espelhinhos portáteis, e enorme, de carros alheios e afins. O desejo de se estar bela, e bem - e de, se não estiver, dar uma ajeitada básica para o melhor possível mostrar ao mundo - é uma constante: a mídia nos alimenta como quem substantiva: tem que ser linda. Sejam divas. Arrasem não só quarteirões, como quadras, ruas e esquinas. Lá vamos nós atrás de malhação pesada, alimentação balanceada, e os cosméticos mais eficazes. Tudo em prol da concorrência, que sabemos, anda apertada (tire os gays, os compromissados e os pilantras; sobrará a se contar nos dedos as opções decentes).
Então que, nesses espelhos todos, um conforto, quem sabe. Fazemos tudo certinho, vamos à manicure sempre que dá, sofremos tirando sobrancelha e buço, caçamos roupas e sapatos em centros urbanos para que sejam nossos, e de nenhuma outrazinha. Entendam, homens, que é tudo questão de investimento, também: tempo, dinheiro, espaço na agenda, e uma vontade que você notem a superprodução hollywoodiana feita para vocês, embrulhada logo à frente.
Como compreender então, quando logo pela manhã, o cara vem ao seu lado, e limpa a pele? Passa hidratante no corpo, depila as costas com cera, usa mousse no cabelo. Faz as unhas, chapinha nos cabelos. Corretivo em espinhas, nem pensar. Pesadelo dos pesadelos: tira a sobrancelha também - pior é quando pede o contato da sua profissional. É deixar ir por água abaixo toda admiração máscula exercida até então. Ótimo que vocês se cuidem, homens. Que usem um bom perfume, cortem as unhas, os cabelos a mais. Perfeito. Porém, quando ele pergunta se você tem algum "creminho" para olheiras, antes de dormir, ou seca o cabelo com secador, não há ato afrodisíaco que faça retornar aquele boom de masculinidade do começo.
Falo por mim, e pelas mulheres e tias, moças inseridas no meu cotidiano: além de se conservarem "ao natural", sejam mesmo rústicos. Homens. Anda faltando tanta virilidade, tanta coragem nesse mercado. O que eu já vi de artigo estragado ficar anos na prateleira sem saber bem por que, acabam os dedos das mãos; inúmeros. Há ainda o prazo de validade, que esperamos condizer com a realidade e demais explicações do rótulo: não queremos levar gato por lebre. Ou nesse caso, um cara que tem mil e outras preocupações antes de se embonecar, por um verdadeiro Ken. Ser um bom representante da espécime masculina é muito mais que falar grosso e dirigir bem. Tem muito a ver com não temer sentimentos, se mostrar como é, conservar até um certo mistério que nos instigue cada vez mais a desvendar o que há por trás dessa paz de espírito toda.
Agora, meninos, sejamos breves e diretas: deixem a sedução de ser mulherzinha conosco. Deixem a barba por fazer, e que a vaidade se infiltre em escolher as nossas roupas, do que as de vocês próprios. Se mantenham simples, que é o segredo de continuar nos fazendo vibrar dentro dessa geração andrógina com possíveis homens de antigamente. E ah, não esqueçam de nos devolver as blusas justas e calças skinny e sarouel. Fiquem com o básico, que assim, vocês ficam ótimos. E fazem sucesso. Nos dêem o gostinho de ser meninas que precisam ser conquistadas por fortes cavalheiros do mundo moderno. A arte de tentar, como desafio, estar quase sempre linda e pronta a ser feminina sem nada de errado ter nisso. Sigam matando baratas, nos abraçando quando os barulhos estranhos lá de fora se fizerem presentes e fazendo o fogo do churrasco. A gente pode fazer o sacrifício de lavar a louça (ainda que de luvas), cozinhar de vez em quando, e pensar em todos os detalhes. Como era nas épocas de antigamente: sem muita frescura, cheio de simplicidade. Um homem, uma mulher, e um espelho. Preferencialmente, dela.

sábado, 21 de maio de 2011

Diferente



Olha, o que te falo é aquilo que poderia ser clichê, mas se tratando de mim, é totalmente real: nunca foi assim. Em boa parte, porque eu nunca quis. Qualquer sensação maior de alegria possível, de comodidade cordial, ânimos quentes, e a minha fuga. Sei que não lido bem com essas sensações profanas de se confundir naquilo que ainda se desconhece. E o medo de arriscar? Enorme. Queria eu que gostar de você fosse naquela paz simples onde não enfiaram os alheios uma porção de minhocas, ideias e teorias dentro do que a gente tinha. Naquela simplicidade de, quero te ver, eu também, então vamos. E íamos. O cerco vai apertando, os dias, exigindo ainda mais que sejamos responsáveis, e adultos, profissionais e acadêmicos. Do outro lado da cidade, vamos dormir? Vamos. Vem. Não dá. Não posso. Tanto pela infinidade de bairros que nos separam, quanto pelas infinidades de locomoção, o dia seguinte cedo que nos exigirá disposição para não cair dentro do sono numa hora qualquer de bobeira. Perigo isso de plantar fantasia onde já há a conformidade. A vontade imensa, aumentada ali, sempre aguardando as oportunidades dos dias de glória e liberdade - final de semana . E que se adcione os dias das fugas dentro de horários que deveriam ser de seriedade, mas aos quais - fugitivos, clandestinos, transgressores - escapamos; para nos reencontrar, sem deixar de se perder porque é meio da semana. Da nossa fuga, todo um roteiro já planejado. Los Angeles, Fernando de Noronha, Paris e estabilidade, então, em Nova York: enquanto escrevo em casa, no maior estilo Carrie Bradshaw e ganho o mundo em viagens a trabalho,  você ganha muito dinheiro. Um mês, cinco; um ano.
Me paraliso na dúvida entre o passo a se dar, e o congelamento de ficar onde estou. Se arrisco, e não petisco? Se me dou, e, em mesma moeda, nada recebo? É essa confusão toda que corrói. Desconhecer até que se ponto a doação é ganha como dádiva, ou puro desperdício. Imagina se, justo na vez em que sinto tão forte que mal me aguento, a negativa vem grande e em troco por todos aqueles a que me recusei perder tempo. Os nós aqui dentro se embaraçam e afirmam cada vez mais, e aquilo que poderia salvar quem sabe essa minha insegurança em ter tudo, e ao menos tempo, nada de palpável, concreto, tem se reafirmado. Claridade, peço. Diga o que quer, seja direto. Me ferir está fora de cogitação. Se não passar de mera brincadeira essas horas em que rimos e compartilhamos nosso melhor, que aqui se encerre. Fiquem os bons momentos fotografados na memória, antes que se desmanchem admiração e cumplicidade, essa infinidade de afeto que me veio, surpreendente, e cada vez mais tem se feito presente.
Contudo, da única vez em que há diferenciação sincera no que sinto, mais do que sempre, desejo tanto que a realidade faça parte também do sonho. Adicta dessas vivências todas, insaciada como qualquer contaminada, quero é mais. Noites mal dormidas, filmes de enredos precários, um silêncio colado no outro, apenas para olhar depois e concluir num sorriso descabido, finalizador: cara de braba. Que não é assim que me pretendo, irrascível, arisca; imperativo seja o estado leve e descomplicado de querer e ser ter, com reciprocidade, mãos dadas e beijos no queixo. Diferente dos rabiscos todos que eu deixei no caminho, dessa vez o que almejo tem sido destaque nessas alegorias do coração.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Desocultando desejos I



Procurando inovar resolvi incluir parcerias ao blog, nem sempre tenho tempo disponível a me dedicar mais ou blog resolvi então entrar com algumas parcerias para aumentar a dinamica do blog e acrescentar mudanças e ai vai:

Eu não disse que as mudanças no Kawacauim-kawcauim iriam apenas aumentar? Pois então, aqui estou eu pra apresentar pra vocês a nova seção de perguntas e respostas do blog. Conhecem a desejosoculto? /http://www.formspring.me/desejosocultos. Essa gaúcha misteriosa,  tem cada vez mais e mais acumulado fãs em seu Formspring. O legal é que ela responde como aquela nossa amiga, sabe? Mas com um olhar longínquo, que só agrega.
A desejosocultos, agora parte do Kawcauim-kawacauim enviou algumas perguntas feitas lá no Formspring.me dela respondidas por nós. Meninas, continuem a questionar, pedir opinião, e afins, que tá tudo ótimo, viu? Ela manda sempre pra cá, o que de mais pertinente for. Vamos às delicadas questões!

Oi, Desejos. Tenho 19 anos, sou virgem. Já tive meus rolos, mas estou sozinha há um ano. Não sou feia, mas também não sou das mais bonitas. Todas minhas amigas namoram, por isso, pouco saio para festas. Sinto que vou ficar pra tia.

Amada, você tem apenas 19 anos. Sabia que despertar o interesse está muito mais ligado a comportamento do que propriamente à beleza? Sério...
Então faz o seguinte: só desencana. Vive a tua vida sem encucar com os caras. Tenho certeza de que isso já vai fazer você se comportar diferente.
Provavelmente você se preocupa mais com o que os outros pensam de você (e em conquistar sua aprovação) do que em viver a sua vida e ser feliz com as suas escolhas. Não tenha medo da rejeição, até porque TODOS nós temos que lidar com ela em algum momento das nossas vidas.

O que leva um homem a decidir assumir um namoro? Mesmo estando ficando só com a pessoa, ela já conhecer seus pais, saírem direto juntos? O que falta?

Não posso falar por eles, mas falo por mim. O que me leva a assumir um namoro é a perspectiva de um futuro bacana com alguém me enriquece, que faz com que eu queira ser sempre melhor, que me motiva. Preciso de pessoas positivas, que entrem para somar e não para me enlouquecer, me passar insegurança, ficar no meu pé ou fazer milhões de exigências e colocar pressão sobre mim. Preciso estar com alguém que traga leveza, sabe? Que torne os momentos mais gostosos, mais divertidos.
TODO MUNDO busca satisfação emocional - homens e mulheres. Porém, a fonte de satisfação emocional é bem diferente entre os sexos e tem nuances de pessoa pra pessoa.
Quando eu assumo um namoro, encaro quase como um negócio: eu posso oferecer X,Y e Z e a pessoa pode agregar A, B e C na minha vida. É um resultado final que vale a pena pra ambos? Então pronto, vamos tentar e ver no que dá! :)

Conheci um cara numa balada, que pediu meu telefone e vive me ligando e me chamando pra sair. Não quero, não sei por que...Só que eu vivo reclamando que não tenho ninguém e quando aparece quem pareça se importar eu não quero. Saio? Ou sair de má vontade não rola?

Sai com o cara, vocês nem conversaram nada além da balada. Vai que ele é um cara super bacana? Aliás, o que você ia fazer na segunda-feira de noite além de ver TV ou ficar no computador beliscando porcarias até a madrugada? Acho que você está se boicotando...
O que você tem a perder? Se o cara não for legal ou não mexer contigo, eu entendo. Mas agora para e pensa: se você não tivesse achado que ele poderia ser interessante naquela ocasião na balada, você nem teria dado o seu telefone, certo? Paga pra ver.

Fico com um cara há quase um ano. Eis o principal problema: ele tem namorada. Ele diz gostar muito de mim, mas envolve muitas outras coisas. Tô gostando muito dele, daí vem aquela famosa frase "ruim com ele, pior sem ele"... Dá pra ver que é coisa de pele quando estamos juntos. Nao sei te explicar. Estou muito confusa. Dá pra ver uma preocupação dele com relação a gente sabe? O que faço? Continuo ficando pra ter ele comigo de vez em quando ou me afasto?

Pare de ficar com ele. Ele é um imbecil. Se quisesse ficar contigo terminaria o namoro. Além disso, ele está traindo a namorada contigo. Coitada da guria, que provavelmente nem sonha que isso está acontecendo. Além disso, tenho certeza de que você não quer fazer o papel de amante na vida de ninguém e muito menos se sentir responsável pelo término da relação deles, caso venha acontecer.
Mais uma coisa: se vocês começarem a namorar um dia - o que eu não acho que vá acontecer pelo comportamento dele contigo até o momento - quem garante que ele não vai te trair com outra garota também? Pensa nisso.

Meu ficante e eu estamos visivelmente ficando mais sério. Estamos há dois meses e pouco juntos, saímos direto, não ficamos com mais ninguém e eu já conheci os pais dele, só que as vezes ainda fico meio insegura. O que achas dessa fase pré namoro?

Acho que é a fase mais delicada, em que a maioria das gurias não tem paciência, perde o jogo de cintura e acaba colocando tudo a perder por se afobar em querer logo o título de namorada.CALMA! As mulheres costumam se entregar mais facilmente que os homens porque não temos aquela ideia fixa de "liberdade" como eles tem.
Por isso, se você conseguir manter o jogo de cintura, conseguir simplesmente continuar sendo como você tem sido, o namoro será a consequencia natural dos acontecimentos, sem que você precise ter pressa. RELAXA E TE DIVERTE! Curte o garoto bastante e não encuca e nem começa a pegar no pé colocando pressão, tá? Beijo!

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Perfume



Teu cheiro impregnado perto da minha nuca e colo é quase coleira invisível dessa felicidade que estampo. Lembrança recente de uma memória recente capaz de fremitar em ritmo descompassado, prender estômago, e estremecer mãos. Falir os sentidos e transportar para a irrealidade do sonho, questão de segundos. Chego a sentir a sorte que outros não vêem nem olfatam, toda alastrada por entre casaco e manta, pescoço e boca. Eu, que ando desprotegido pela chuva à fora que detesto, e continuo sorrindo, porque a vida tem sido mais que meros calos workahólicos e penosos agouros acadêmicos. Penso: sim, tem talvez o destino ou essa força maior me presenteado com algo que de tanto mentalizar, ocorreu. Desde a vez em que de longe, concordei: bonito, é. Mas sério, também. Agora, tudo isso. Na motriz do twist carpado duplo que deu a vida, essa sua chegada não anunciada dá a cada pequeno gesto e estupenda força delicada de me fazer sorrir, com qualquer feito ou palavra. Surpreendente em cada ato, extasiante. Com uma diferença vasta em detalhes derramados, me permito sair da bolha a que me submeti e fazer sujar um pouquinho fora dessa existência toda que por hora nos sufoca, e em momentos como o dos passos quase saltitantes, a mão na outra mão, beijos que percorrem queixo e orelhas escondidas, contemplação.
Pergunta sempre já sabendo a resposta de cor, a que tanto digo - teimosa em opinar: sim, eu acho isso. Acho que trocava a sua introspecção séria, de ser hora certa, pela minha loucura de mulherzinha que não se cala nunca, e nas mais inoportunas vezes, apronta. Penso também que se fosse sempre feriado e pudéssemos fugir das urbanidades rotineiras pra qualquer lugar em comum a que estivéssemos salvos dessa burocracia rotatória que se tornaram os dias, a vida teria ainda mais sono saudável e menos café, mais você comigo, e nós dois juntos; perto. Frases no meio da noite, e vertigens em meio aos sonhos, surf music que me embala no banco do lado, em poucos minutos. Enfeitiçada por teu perfume, louca por tua barba. E é verdade, eu não sei pra onde tudo isso caminha, mas se for de mãos dadas contigo, não me perco e nem distraio: aproveito.

(Escrito em: Janeiro 2011)

domingo, 1 de maio de 2011

Senhorita sem sal



Ela não grita. Nem chora em público. Mal se mexe. Sucumbe em si todos os chiliques e engole sapos e verdades, e palavras que deveriam sair, mas ficam na boca da garganta, estocadas. Você pergunta o que quer comer, escuta um tanto faz. Pede uma cerveja, ela mal beberica, apenas para não fazer feio, e sim, fazer sala: não ficar feio, você sabe. Mal fala, tenta não se mover, abaixa o olhar, porque penetrar na sua vista é ousadia demais, e ela, mulherzinha de bom senso, moça de respeito, que isso - não pode. Estar bonitinha, e com uma roupa nada vulgar, tudo no lugar, já é algo e tanto pra tal donzela. Com ela, não existe dança até o chão, nem riso incontrolável, nem vontades urgentes que necessitam ser supridas. Faz questão de olhar com desdém a tal felicidade exprimida aos lados, contemporizada no ar, nas vozes e rostos alheios, em torno. Porque ela, você sabe, ela é comedida. Se ela curte uma selvageria, não conta. Os poucos dias insanos, ínfimas memórias pra contar para netos e bisnetos. Se diz, talvez, tímida. Na dela, pacata. Sempre a mesma feição inexpressiva, quase botox, de tão paralizada. Sem caras e bocas, gargalhadas incontroláveis, cara amarrada, quando necessário. Assiste a vida passar, pela janela de espectadora dos desejos do mundo sendo todos cumpridos (enquanto os dela, dentro de alguma caixinha qualquer, no armário). Se tem um lado devasso, o mundo ainda o desconhece - isso, se existir, realmente. Quase uma robô, pré programada para risinho mecânico na hora em que você dá aquela tirada irônica, sorriso quando não ter o que falar; quietude, para não parecer burra. Passar por louca? Capaz, não. Que vergonha. Aliás, vergonha ela não passa. Nem alegria extrema, de tanto que se tranca em continuar sendo tão blasé que quase passa despercebida; apagada. Se você curte, ela passa a adorar. Se detesta, lá vai ela dizer que não é muito fã também (porém, nenhuma das opiniões expressas com vigor e luta, com debate e vontade: tudo naquele ritmo de mais ou menos em que a insossa vive, sempre na linha tênue e nunca em extremo algum).
Não é o que nos mandam esses mil manuais de conquista barateados pela sociedade? Deixa que o cara liga. Esconda uma parte da sua inteligência. Evite assuntos picantes. Pareça inanimada, desinteressante, e com humor estável. Seja uma pessoa destemperada, para resumir. Quer que ele pense o que? Sua desvairada, é uma vagabunda, independente demais, muito espertinha: não dá. Díficil é se manter na corda bamba de que tanto falam, de se mostrar para logo em seguida ter que esconder a confusão que é ser mulher nesses tempos modernos, sem realmente compreender o que quer o time lá de Marte.
Eu, que nunca consegui fingir com maestria ser sempre tão Amélia ou certinha, a qual a sensatez me vem apenas em momentos oportunos desisti de me equilibrar nessa inconstância plural que é o mundo masculino e suas particularidades. Já venho com todo meu temperamento forte, as minhas mil palavras, tão prolixas, e meus conceitos, sempre ferrenhos; fortes. Quem gosta, saboreia muito mais do que apenas uma companhia vazia e sem nexo, é com gosto, quase sempre ardente ou mordaz, oportunamente, agridoce. Sem o aspecto pastoso e insípido de algo que não dê vontade de lambuzar o prato e repetir. Que cause sensação alguma, boa, péssima, relevante: surpreendente. Demais, nunca pra menos. Quem com o tempo souber tirar bom proveito dessa algazarra de temperos e índoles, qualidades e tons, é quem merece ter o menu em mãos, e o pedido, quem sabe, aceito. Porque viver com quem se permite e à vida se entrega, é sim, o que dá sentido e apetite pra que os dias não passem em branco, mas sim, se completem. Com sensualidade, e quedas, atitude e frases sem nexo, beijinhos na nuca - inesperados - fica fácil ter nas mãos pimenta, sal, limão e açúcar: quem gosta de intensas reações, entende melhor a magnitude mágica da vida, os fugazes momentos que necessitam ficar memorizados. Sem robô, e sim, com carne, osso e um temperamento forte ao lado pra que a montanha-russa faça valer a pena o passeio de estar vivo sabe-se até quando.