segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Bichinho do ciúme

Pode ser numa manhã ensolarada, mas com frio na sombra. Ou nos dias em que me obrigo a pegar a lotação úmida com cheiro de cachorro molhado, guarda-chuva no chão, sapatilhas encharcadas. Nos chega sem pedir licença, nos toma a mente e entorpece sem que a gente perceba. Delírio, sangue pulsante, voracidade. E eis que por pensar em ideias inexistentes, ou mesmo por visualizar malí...cia onde não existe, nhac. Imprudente aos tentadores segundos de fúria e imaginação exacerbada, cega da fantasia de nem mesmo saber bem o que, mas ainda assim, ter medo de que, quem a gente pensa que nos pertence, esteja se auto emprestrando por aí: enciumamos.
Toda e qualquer mulher que se aproxima - e não for da família (ou mesmo sendo uma prima distante e de idade aproximada) - se torna alvo. Passamos a desacreditar a amizade entre homem e mulher. Silenciamos frente à alguns amigos com quem conversávamos bastante, preferimos que nossa melhor amizade, seja também quem nos possibilite amor. Fervorosamente, nosso desejo secreto é de que, qualquer piranha que pense em chegar perto do que (pensamos nós, é claro), nos pertence, tenha seus cabelos queimados, sua voz emudecida e o corpo paralizado. Até morte, em casos gravíssimos, cogitamos. E nós, mulheres, quase damos início à 3ª Guerra Mundial. Atiramos indiretinhas cheias de mensagens confusas nas entrelinhas. Temos o dom de fazer com que a acidez de ironias premeditadas nos tragam a lerdeza das respostas que já sabemos quais são. Como assistir a quem tente um contato, a quem tenha participado de quando a gente ainda nem existia dentro da vida do outro, sem deixar que nosso alerta vermelho pisque, fazendo com que flamejemos não só de ciúme, mas raiva e ódio e zelo? Invejamos quem vê o dia inteiro quem queríamos nós, admirar. Nos sentimentos fiéis proprietárias do que nos pertence, do que ainda não é nosso, daquilo que um dia desejamos que seja do que nunca foi e nem mesmo será. Basta que nosso instinto alerte e naturalmente, feras paranóicas.
De repente, nos vemos contaminadas logo após entrar na veia o veneno desse sentimento obscuro e que, munidas de segurança e boa autoestima, nem deveria infeccionar. Se vai o bichinho, tão logo nos hostilizou. E enfraqueceu. Fez ruir a imagem maravilhosa que tínhamos de nós mesmas, instaurou o caos no relacionamento, precipitou opiniões fortes em palavras impensadas, de ambos os lados. Batalha travada, vitória de lado nenhum. Some novamente, para dentro do lugar indefinido de onde brotou, o animal minúsculo em comparação ao tamanho do amor que a gente sente. E no fim das contas, quem ganha mesmo é quem deixa que num abraço apertado, num braço dado a se torcer, na visualização de que, como é minúsculo essa teimosa besta que habita na gente e mesmo que por pouco tempo nos faz irracionais e assustadiços. Afinal, o que os olhos não vem, esse incômodo bichinho que se chama ciúme, inventa.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Andressa responde: amor de infância e fazer o cara "esperar"

Olá Andressa querida,
Cá estou eu, leitora assídua do seu blog, apaixonada pelas suas palavras, mas não presente em comentários. (Desculpe por isso,mas quando leio teus textos tenho a sensação de que não há mais nada a ser dito, me calo e concordo.)

Ah, querida é você. Pena que não comente! Adoro tudo que colocam aqui, só me serve de incentivo para que continue postando e querendo escrever ainda mais. Pois então, vamos à questão.
Bom, vamos lá ao meu drama (que no fundo sinto ser uma paranóia normal ,mas que deve ser cuidada).
Namoro, há 4 meses com um cara que eu conheço desde os 12 anos. Nos gostamos desde esta idade, mas sempre fomos muito bobos e nunca tínhamos falado um para o outro o que se sentíamos. Até que nos separamos por um tempo.

Hm, um amor de infância.

Ano passado, voltamos a nos falar, e ele começou a me chamar para sair (mas como sempre tinha alguma coisa marcada, acabava furando com ele). Pois bem, um belo dia, ele disse que não me chamaria mais para sair, pois estava cansado de me chamar e eu nunca comparecer. E eu fui percebendo que não podia deixar isso acontecer, eu ainda gostava dele um pouco, e ele ainda parecia gostar de mim.

Compreensível.

Então, eu o chamei para ir ao cinema, e nós fomos. Foi bom sair com ele, fiquei desejando repetir aquilo sempre. No mesmo dia, à noite, ele me pediu para que eu o ligasse, e ele me disse que tinha gostado muito de sair comigo, e que precisava me falar uma coisa que vinha guardando há tempo. E disse que gostava de mim, desde os 12 anos e que seu sonho era namorar comigo, mas que de tanto eu furar com ele, ele resolveu conhecer outras pessoas e que no momento estava "ficando" com uma menina que ele mal conhecia, apenas pra tentar me esquecer, já que meus inúmeros bolos o levaram a pensar que eu não lhe dava a mínima.

Vou ser sincera, como sempre sou, até porque, é isso que esperam as pessoas que enviam os e-mails. Enfim, amor de infância é complicado. Pessoas se conhecem há tempo, mas também mudam, crescem, amadurecem e se desenvolvem. Ele guardou esse "amor" o tempo todo dentro dele e foi iludindo as outras coitadas, é isso? Vocês ficaram UMA vez, e por se conhecerem há tempo, iniciaram precocemente esse namoro? Não sei qual a sua idade, mas depois de um tempo, a gente vai aprendendo que quanto mais lento for o caminhar das coisas, mas tempo tende a durar, menos erros a gente comete ao longo do caminho, ENFIM. Continue.

Eu o disse que também gostava dele e que se tivéssemos sido menos bobos, tudo teria dado certo, nós estaríamos namorando. Pois bem, ele me pediu uma semana pra resolver a vida dele, e eu dei esse tempo. Passada uma semana ele me ligou dizendo que não estava ficando com mais ninguém e me chamando para ir ver uma exposição de quadros com ele. Eu fui, e na volta pra casa, ele me pediu em namoro.

Uma semana. Ainda assim, considero pouco tempo para se decidir estar num relacionamento. A gente tem que ter certeza quando mergulha de cabeça na vida de alguém. Sei que vocês se conheciam, e tudo o mais, mas menina, vocês tinham arrecém voltado a se falar. Sei lá, precisa-se conhecer BEM alguém antes de se decidir uma coisa dessas. Minha opinião.

Pois bem, até aí, não há motivos para preocupações. Passamos 4 meses como namorados normais, que se amam,  querem estar juntos e que se protegem e ajudam mutuamente. E olhe, foi preciso muita ajuda e proteção, pois problemas familiares aconteceram e era preciso que um fosse a rocha do outro.

Acontece. O nome disso é vida, né? Ao menos, se vamos ter alguém do nosso lado, que seja quem nos fortifique. Namoro, geralmente, é pra isso. Além de amarmos a pessoa, uma boa amizade entre os dois só enaltece ainda mais a relação.

Quando fizemos 4 meses de namoro, ele tentou avançar o sinal, tentou ganhar intimidade e confiança a mais, por assim dizer. E eu, deixei um pouco, mas controlei a situação, temporariamente.

Certo. Vocês namoram há quatro meses, nesse relacionamento apressado. E quatro meses em que você fez o cara esperar, por não sentir "confiança" o suficiente. Desculpa, mas como já disse, não sei sua idade. Só que, se você tá com alguém, e gosta dessa pessoa, é natural que o sexo ocorra. Homens esperam isso. Mulheres, idem. Se foi o tempo em que tínhamos que fazer o cara esperar ali pra ver se ele queria mesmo. Se não for com a gente, eles dão o jeitinho deles de conseguirem "intimidade" em algum lugar, com alguma outra pessoa. É um fato isso, não dá pra negar - além do que, a quantidade de mulher vagabunda presente e viva no mundo de hoje é algo surreal. A gente acha que imagina, mas é ainda pior. Não vi problema em ele tentar "avançar o sinal". Se você era virgem, ok. Mas que explicasse ao moço, e fosse indo aos poucos. Homem sente necessidade disso.

Uma semana depois, eu fui lhe fazer uma surpresa, fui acordá-lo em sua casa, com um bom dia e beijinhos no pescoço. E acontece que nesse dia aconteceu, nós transamos.Tudo bem, não foi da forma que eu imaginava que seria (se bem que acho que quase nunca é, isso deixa tudo até mais belo, acontecer naturalmente). Mas ele foi fofo, delicado, paciente e me tratou da melhor forma possível. Eu sendo virgem e ele não, foi paciente ainda assim.

Ainda não captei o problema. Então, se aconteceu e foi ótimo, até agora, tá tudo bem ok. Você não se arrependeu, pelo visto, ou seja: fez o que tinha que ser feito. Parabéns.

Então, eu tive que perguntar, porque a paranóia não me deixou em paz, se ele já tinha transado com alguma de suas namoradas, ou se foram apenas com mulheres sem que houvesse essa relação de namoro. Ele me respondeu que sim, que já havia transado com uma de suas namoradas, mas que nunca tinha sido tão especial, pelo significado que eu tinha na vida dele.

Então, menina. Cadê o problema? Não vi nem sombra por enquanto. Natural que, se ele já tivesse namorado outras meninas, não fosse mais virgem. É uma paranóia que nem devia existir.

A questão Andressa, é que eu fico com medo de ter dado liberdade demais aos 4 meses e que isso venha desgastar nossa relação, porque é bonito em um namoro a questão da conquista do dia-a-dia, do conhecer, do confiar.

Minha querida: isso é uma questão MUITO ultrapassada. Pra que esperar, se você sentia vontade, e ele, logicamente, também? Não acho nada bonito esses relacionamentos, não. O que conheço de cara que espera meses e meses, e quando a menina dá a "liberdade" é largada no dia seguinte... Acho que é o curso natural dos relacionamentos. Você transa, e nada muda: tá tudo certo. O que desgasta namoros é brigar toda hora, isso sim.

Tenho medo, porque sei que existem homens que quando conseguem o que querem, deixam o desejo, o respeito e a vontade de estar juntos desaparecem, e adeus namoro. Não gosto de pensar que ele seja assim, porque eu o conheço há muito tempo e nunca o vi ser assim com ninguém, e ninguém nunca quer pensar algo assim de seu namorado, não é? Mas, fiquei pensando muito nisso, pensando se essa intimidade concedida iria melhorar ainda mais nosso relacionamento ou se ia estragar, fiquei pensando que se ele já tinha transado com uma de suas namoradas e tinha terminado, isso não era nada, não era motivo para que ele não viesse a terminar um dia.

Mas por que é que um cara terminaria um relacionamento só porque conseguiu sexo? Se ele gosta mesmo de você, ele vai é continuar, porque deve estar achando ótimo isso tudo. Vai por mim.

Quero acreditar em suas palavras diárias, de que sou especial, de que tenho um significado muito mais importante do que qualquer pessoa que já tenha passado em sua vida, de que o que nós temos será pra sempre, de que o respeito que ele sente por mim não acabará e de que sua adimiração por mim será progressiva e eterna, e na maioria das vezes acabo acreditando mesmo, mas essa paranóia não quer sair de mim.O que faço Andressa? O que faço pra continuar acreditando em tudo que ele me diz e continuar aproveitando nosso namoro sem me preocupar com coisas que nem ele próprio demonstra se preocupar? Como dar fim a essa paranóia?

Mas menina, você namora com ele, certo? E não confia nele? POR QUE essa paranóia? Não tem sido bacana o sexo, você não tem gostado? Não entendo. Você tem mais é que aproveitar e acreditar no que o cara diz, ele está com VOCÊ, e o que é passado, além de só servir pra museu, já ficou lá atrás (tomara que bem longe). Não tem nem porque existir esses seus pensamentos, não se sinta culpada por ter deixado uma de suas vontades vir à tona.

Desde já te agradeço, por ler e tentar ajudar. O que eu quero dizer se identifica muito com o que tu acaba escrevendo em teu blog, e admiro teu talento demais!

Eu agradeço, e espero ter te ajudado, menina. Bora tirar essas minhocas da cabeça e aproveitar da melhor maneira possível. Boa sorte! Quer enviar sua dúvida, dilema, ou pergunta também? Se joga no dessagoncalves_@hotmail.com e é só esperar.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Pequenas e irritantes "regrinhas"

Espere ele vir falar com você. Caso ele não venha, vá atrás uma única vez. Se vocês conversarem já há alguns dias, cada um tem a vez para chamar o outro por mensagem instantânea. Ele não chamou você? Espere. Não se atire, não se jogue, pareça "fria-controlada-indiferente" e ele dará muito mais valor. Faça-o esperar para ter sexo, mesmo que você queira muito. Suma quando brigarem. Saia sozinha, para que ele sinta a sua "independência". Não ligue no dia seguinte. Apenas cumprimente quando esbarrar com ele em festa. E todo esse sistema que nos limita a sermos blasés e indiferentes, quando na verdade mesmo, gostaríamos de ser marcantes heroínas que chegam na vida do cara pra mudar de vez. E pra melhor.
Seguir regras, para mim, sempre foi um suplício. Em casa, nos colégios em que estudei, e mesmo em lugares públicos, há sempre limites tênues, que se quebrados, nem fazem estardalhaço. Às vezes me revolto, incompreendo métodos e doutrinas, e enfim, quase nunca sigo à risca o que me impõe. Acatar ao resguardo nos faz evitar muitos percalços, uma boa quantia de desilusões - porém, por outro lado, alimenta a masculinização dos relacionamentos, o que faz com que o padrão de termos sempre que estar esperando que ajam, ao invés de agir, permaneça ao longo das décadas. Tem diminuído, eu sei. Contudo, continuamos reféns de atos (ou da falta dos mesmos) do lado dos moços que vêm de Marte. E a cartilha das meninas repreende quem não segue os mandamentos de não amar demais, demonstrar de menos, falar pouquinho e parecer comportada e bem adestrada, mesmo quando na realidade não se é.
Se está afim, vai lá e tenta: que a gente acha que sabe de tudo, mas dos mistérios das pessoas sabe pouco demais, mesmo quando se conhece bastante. Acredito nas válidas tentativas de se tentar a felicidade, ainda que a cicatrização apenas é apenas acelerada quando por pouco tempo nos doeu e já foi. Se ontem foi esplêndido, não se sinta corrompida pelas opiniões alheias que falam tanto, mas não nos dizem realmente nada de útil. Ter a intuição como atriz protagonista quando nós mesmos só conseguimos coadjuvar se torna necessário ao longo dos anos que passam. Crer mais no que se sente internamente, na bondade de com quem nos relacionamos, no contorno que a vida dá aos dias.
Quanta menina que espera namorar para transar, e é largada por aí assim que acontece? Quanta garota que não liga, e o moço não liga e os dois quase se envevenam de tanto orgulho? Ou que some, e ele nunca mais reaparece? E que fica sem entender mais nada, porque não seguiu o que acreditava mas, simplesmente "o certo a se fazer". Quem é que nos diz, depois de certa idade, o que é certo o que a gente precisa que seja? Só a gente, feliz, ou infelizmente. Que a gente beije quando sentir vontade, saia quantas vezes e com quem desejar, vá para cama (com segurança e cuidados necessários, sempre bom reforçar), quando o feeling nos tomar conta. Há tanto relacionamento por aí que venceu barreiras, preconceitos, quebrou tabus e continua de pé, justamente por ser forte o suficiente para se fazer o que bem entender, com espontaneidade o bastante para ser maior que qualquer regrinha que outra que os comportamentos não sigam. Que se mantenha a vontade própria no alto das prioridades dessas nossas vivências. Nada no mundo é tão insustentável que não nos faça suportar com decência. Que o respeito mútuo seja a única necessidade vital da vida a dois, que a gente namore quem nos der vontade, que aja de acordo com os princípios que escolheu para si, que não se deixe enganar fantasiando ser quem por tempo suficiente nossa autenticidade não permite. Sem regras, só o amor.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Andressa responde: A fuga do amor próprio e o canalha

Pelo amor de todos os santos me socorre, Andressa! Você deve estar acostumada a ler esse tipo de e-mail todos os dias, mas é que seus conselhos são ótimos...

Certo, vamos lá.

Vou começar do princípio: ele era ex da minha melhor amiga (tenso), mas o problema não é nem esse.
Tenso mesmo. E ele ainda é. Ex, infelizmente, é pra sempre.
Ele namorou comigo 5 meses pensando nela, não sei se foi orgulho (literalmente, ela lhe deu um pé na bunda) ou se realmente era apaixonado por ela.

Como assim, não sabe se era orgulho dele ainda gostar dela, ou se ele era apaixonado? Percebam que, as duas coisas envolvem sentimento. Não se gosta de alguém sendo orgulhoso. Logo, ou ele gostava dela, ou ainda era apaixonado. Para você, não sei o que seria pior. Ainda mais ela sendo sua amiga.

Os dois primeiros meses foram águas limpas e calmas. Daí pra frente, calmaria nunca mais. Só nesse intermédio de tempo foram quatro términos de relacionamento (todos eles, ele é quem terminou).

Meu deus do céu. Então, em três meses, vocês acabaram o relacionamento, quatro vezes? E confiar no outro, não existia? E acreditar no sentimento que vocês dois tinham, também não? Poxa, para chegar ao ponto de "terminarem" e reatarem, é porque as brigas deveriam ser feias MESMO. Coisa que, a gente vai aprendendo, a longo prazo só destrói o que sentimos pelo outro. 

Cansada de sofrer, ignorei ele de todas as formas possíveis e dentro de uma semana arrumei outro.

Gostando dele? Pra que? Sossegar um pouquinho faria bem, hein.

A partir desse momento, ele passou a pegar no meu pé de novo com aquele papinho de que "eu te amo", "não sei ficar sem você" e mais aquelas ladainhas de sempre.

Claro, ele notou que perdeu. Agora, pensem comigo: ela teve que chegar ao ponto de arrumar  outro cara qualquer, que não era ele e de quem ela nem mesmo gostava tanto, pra que o ex-namorado, que também era ex da amiga, se tocasse. Acho deprimente, desculpa. Mas enfim, é triste que alguns homens sejam imaturos a esse ponto que se toquem só quando não estamos mais ali, na palma da mão deles.

Três meses então se passaram, e ele com aquele lema "não te quero, mas não te largo". Foi indo e me venceu pela insistência. Voltamos.

Porra, hein. E o outro? Foi enganado, coitado. Fiquei com pena. Não te quero mas não te lago significa: te quero, mas é muito pouco. Coisa de cara covarde e, como já disse, imaturo emocionalmente.

Um mês depois de termos voltado, fiquei sabendo que, até a "outra" da história eu fui (não sei se ajuda, mas foi ele que me contou), fora ter que aguentar tudo e todos me falando sobre o que o bonitinho tinha aprontado.

Compreensível que os outros comentem. Ver duas meninas serem enganadas por um canalha desses, e sabarem somente um mês depois, deve dar o que falar pro povo. E não, na minha humilde, porém forte opinião, ele ter contado não ajuda. Ajudaria ele se ajudar, adquirindo um pouquinho de caráter, não acha? Homem assim não muda, é fruta podre meninas. Precisamos aprender, e nos afastar enquanto é tempo. A longo prazo, só faz mal.

Ele sempre tem aquela mania de correr quando as coisa ficam feias pra ele. E olha que ficaram mais que feias, nunca vi um menino aprontar tanto.

Ver, já vi. Mas, ainda bem e acho que graças a Deus, nunca foi comigo. Não sei se teria pulso e estômago pra aguentar tudo isso. Nessas horas, temos que deixar a razão gritar dentro da gente, porque ela geralmente está mais que certa. Você sabia o quanto ele era salafrário e sem vergonha, mas por causas emocionais, não largava de mão.

Agora, ele me jura amor eterno, pede confiança, e reclama de frieza e desatenção. Como, depois de tudo que sofri, posso voltar a ser a apaixonada de antes?!

É simples: não volte. Se você ceder, um pouquinho que seja, vai tudo voltar a ser a ruina e a tristeza que era. O que ele quer é você mansa e louca por ele, aceitando a todas as pirraças e situações desrespeitosas que ele comete. Sinceramente, ele já provou que não tem um mísero pingo de respeito por você. Pelo amor do senhor, encontre o restinho de amor próprio que já existiu aí dentro de você e reavive!

Um dos pensamentos que me atormenta é o "fantasma" do lado da família dele: ninguém me conhece e quando sai qualquer comentário, ele nega até a morte nosso relacionamento. Pela minha parte, todo mundo sabe. Me incomoda essa minha inexistência, que nem sei se é desleixo da parte dele ou paranóia minha, porque nem sei se importa mais o fato de saberem, conhecerem ou não.

Olha, uma coisa é eles de fato conhecerem você, fisicamente. Outra coisa, bem diferente, é ele negar que esteja com você. Outra prova de que ele não vale nem a comida que come, e menos ainda que a merda de defeca. Me dá nojo só de ler essas coisas, desculpa. Mas enfim, não consigo entender é o que você está fazendo ainda com alguém que não a valoriza um pouquinho que seja.

Vou embora daqui três meses da cidade, e reatamos apenas na reta final da minha estadia aqui. Porém, meu sentimento, imagino que vá ficar aqui com ele por um longo tempo.

Como ficamos abobadas enquanto estamos apaixonadas. Até mesmo aceitamos de tudo, até mesmo deixar nosso sentimento num cidade que não é a nossa e com quem não sabe e muito menos merece cuidar dele. Cuidado, garota. Vá aproveitar essas suas últimas semanas onde está morando agora aproveitando, curtindo, conhecendo gente, se despedindo dos amigos que fez. E não com quem te esconde por aí, oras. 

Eu era daquelas que se imaginava inabalável a qualquer sentimento ou insegurança, e estou aqui cheia de ideias, "sem noção", sem saber nem por onde começo a reorganizar meus pensamentos sobre mim e principalmente sobre ele.

Acredito que ao longo do e-mail, fui dando algumas respostas sobre o que penso do assunto. A vida nos atinge em cheio, onde menos imaginávamos que conseguiria. Caia fora, bebê. É só o que tenho a aconselhar. Enquanto você estiver entretida com quem apenas brinca com você, o conto de fadas em que você acha que vive continuará, e a vida real, com gente de carne, osso e coração que bate e sente não vai te ocorrer. Boa sorte!
Quer enviar seu e-mail também? Corre lá e send it pra dessagoncalves_@hotmail.com, que num piscar de olhos sua resposta estará aqui publicada. Beijos, garotas!

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Uma consumidora compulsiva



Tudo bem, eu admito. Compro. E gasto demais enquanto compro. Vou contar desde o início como essa sina toda começou: um belo dia, começa-se a estagiar. Sim, você fará uma faculdade e, já que quer se mostrar independente e crescida para os pais, além de ter o próprio dinheiro e mais autonomia no ir e vir da porta de casa sem dar satisfações ou pedir grana emprestada, você começa a trabalhar. Algumas horas por dia, aprendizado na área em que futuramente atuará, e no final do primeiro mês, seu primordial salário. Mesmo que a quantia seja pequena, que pro Eike Batista e suas ações represente algo próximo de dois centavos ou uma coceirinha de segundos, você já imagina uma vida de possibilidades onde a carteira pode ser aberta com felicidade toda vez que se faça desejável: poderá comer fora quando e onde bem entender, comprar todas as roupas e sapatos possíveis do univeros, o que antes precisava de choro e drama aos genitores (pior ainda se você tem irmãos, pois a regra do "o que dou a um, devo dar a todos" já se encontra no biotipo de quem escolhe ter filhos), sair para quantas festas sobrar fôlego, disposição e vontade, enfim: o mundo parece seu. Mas não é.
E sabe por que não? Pois existe um pequeno tropeço, uma pequena armadilha em que todas nós, mulheres, estamos muito mais tentadas a cair que os sensatos rapazes. Tem nome, e parte-se em três palavras que compõe o anjo e demônio dos dias nossos: cartão de crédito. Faz-se um, e parcela-se, o que faz com que sentir o preço das aquisições acabe ficando para todo mês, no letal dia escolhido para que a fatura chegue, se arrastando aos meses seguintes em que as compras foram sendo divididas. Os preços passados pelo objeto divididos então entre limite, jurus e boa parte do seu precioso salário. Cheguei a ter seis cartões (nem todos de crédito, porém, que me fizeram ter contas e mais contas, mensalmente). Farmácia, lojas de conveniência, grandes magazines: só por ganhar um significativo capital, a gente se julga capaz de pagar por tudo. Porém, existe a tal a sensação da compra. Que é inenarrável. Quero ver entender, quem não se acostuma a ter tudo que antes não podia nas mãos, a pegar aquele vestido que ficou per-fei-to, levar até o caixa, assistir com olhinhos brilhando ao processo de decodificar o produto e ver a compra ser aceita - tudo para sair da loja sacolejando a beleza para despir à noite. Impossível. Os econômicos não entendem; por vezes, julgam. Aquele perfume de coisa nova é totalmente essencial, assim como as duas sapatilhas levadas para casa numa só semana, e os três casaquinhos de cashmere em promoção, tão bonitinhos e de bom caimento (ainda que já seja primavera, precisamos pensar a longo prazo, oras).
Quando brigo ou me frustro, ao invés de atacar a geladeira, eu congelo a razão e vasculho minhas faturas on-line - que agora são de apenas dois cartões de crédito, mas que incomodam ainda assim - para ver se posso curar um pouquinho do que me entristece me sentindo ainda melhor. Vale supermercado, ida ao salão de belezas, aceito até mesmo brindes ou amostras grátis. Mas a possibilidade de se embelezar a vida com algo novo, a diferença de se sentir mais mulher, mais criativa e com um armário que dê opções para noite, dia, sapatos, bolsas e jóias e artefatos que nos deixem com tal sensação de poder que, mesmo que o mundo caia, que levemos um fora, que a família nos esqueça, o mundo pareça um lugar habitável. Se conhecesse Becky Bloom, talvez nos tornássemos além de boas amigas de compras, confidentes de compradoras compulsivas. Tentando melhorar tendo ao lado quem compreenda o delírio que o cheiro de peça nova devasta sob nós, clientes ávidos e endividados a longo prazo.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A primeira vez do amor


Alguém havia me falado sobre a primeira vez do "eu te amo". E que depois de dita, a vontade é repeti-la milhões  de vezes ainda - nem sempre nos momentos de romance, fofuras e afins, mas que às vezes na dor a gente nota o extremismo sem limites de quando o amor nos atinge. Para mim, é na intensidade que salta à boca a frase que garante, anuncia e merecidamente o outro escuta - tão gritante - que pequeno a nós mesmo fica; e a consciência se toca, e as atitudes revelam, e os gestos comunicam. Compartilha-se e nem nota-se, já se ama e seja a vez que for, torna-se de repente, novamente a primeira. Ou a unica. Desejamos que também, a ultima.
Eu, que demorei a amar alguém além de familiares, quando me vi saber que amava outro ser de idade regular com a minha, homem, já com algum passado nas costas e um futuro todo pela frente. Era dia dos pais. Chorava sem parar, porque essas fatalidades da vida ocorrem em dobro para aqueles que se rebelam - e claro, me incluo exatamente no grupo de risco. Sem norte, sem chão e praticamente sem afeto, o momento foi triste, mas até então nunca havia notado alguém que queria tanto o meu bem, tão mal exatamente por estar em frente ao meu sofrimento. Doeu, claro, mas notei saindo do carro, em lágrimas e infeliz, que podia além de contar com alguém, como confio em minhas amigas, uma possibilidade de quem me traga uma felicidade até então irreconhecível, porém tão nova e acima da linha de apenas o bem querer e uma amizade suportam. Não contentada em esperar até o ao vivo, respondi numa mensagem desinquieta que eu amava mesmo, finalizando que estava bem também e a único desejo no momento era ver o outro tranquilo e feliz, comigo. Sei que nos é ensinado que meninas, e então, mulheres, não devemos nos arriscar a dizer primeiro tais três palavras que compõe a fatídica frase primeiro sem ter certeza. O medo tentou assolar um pouquinho, porém eu sabia do meu - nobre, único, exclusivo e cada vez mais, grandioso - amor. E mais: tinha plena ciência que o outro tinha conhecimento de eu já tanto saber disso tudo.
Acredito também que a resposta postivia não se deu apenas por me encontrar num momento de fragilidade. Para construir um sentimento, é necessário um bom punhado de tempo, aliciado a pequenas atitudes de depois de um tanto conquistar do outro, nos faz ganhar apenas para nos perdermos: doamos um pouquinho da gente, colocamos o coração nas mãos firmes do outro e se faz tudo isso sem penar nem pesar; tendo um sorriso como estampa. Alguns meses, muita coisa passada por cima, e o resultado final não seria diferente. Apenas a incessante certeza de ter feito tudo certo, de usar do instinto que por vezes me toma conta no momento realmente necessário. Depois, que o amor está declarado, apenas se há de ter o maior cuidado para não deixar que se banalize ou tornar rotineiro algo que tão forte faz chegar ao ponto de declarar ao outro que orbitava já internamente. Até porque, quem ama não precisa dizer: age, demonstra e com pequenas atitudes, algumas surpresas em quintas-feiras frias ou finais de semana inesquecíveis dizem pela gente.
A cada briga, se propoia a repetir o que tantas vezes já disse, desde então. Para que se esfrie os animos, para que na mente fixe o tanto que a gente sente ao invés de se piorar os atritos.
Concordo que, quando estamos em período de TPM o cuidado talvez possa ser maior, e a frase, prolixamente empregada. Feito remedinho, como profilaxia barata, porém, de poderoso efeito. Substitui muita paranóia, chocolate e choro à toa. Treinem, meninos!

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Andressa responde: Pro cara desgrudar


 Olá, Andressa!
Depois de séculos sem escrever, aqui vou eu, direto para o Andressa responde. Minha situação é a seguinte:

Olá, olá. Vamos adiante!
Em 2006, estudava com um cara. Do meio pro final do ano, comecei a olha-lo com outros olhos e então, não deu outra: comecei a gostar (e muito) dele. Ele também parecia estar afim e percebi isso quando ele resolveu fazer uma coisa que odiava só pra me ajudar. Claro que não foi só isso, mas esse foi, digamos assim, o gatilho.

Até então, nada de anormal. Homens costumam fazer pequenas coisinhas para nós, mesmo detestando, quando o nosso bem maior é mais importante aos olhos deles. Prossiga.
Tínhamos uma amiga em comum que vivia dizendo que ele gostava de mim. O problema: ele era muito tímido para me chamar para sair. Para solucionar a questão, foi simples: chamaria eu. E o fiz.

Corajosa, a moça. Não sei se eu teria tido a mesma atitude. Acredito que não (sempre fui muito "mulherzinha" e raramente dei o primeiro passo. Algumas vezes me arrependi; noutras, não). Mas enfim, admiro sua coragem em simplesmente tentar.
 
Perguntei se ele queria ir ao cinema, e ele aceitou logo de primeira, empolgado. Saímos, conversamos muito antes do filme começar e depois, voltando para casa, também. O problema é que, ele, além de tímido, era muito lerdo e não aconteceu absolutamente nada do que eu esperava.

Putz. Sei não. Segundo minhas experiências de vida, e o que já observei por aí, homem, tímido ou não, compromissado ou não, feio ou não, AGE. É do instinto masculino fazer algo, seja o que for, para conquistar o "objeto", ou no caso, a mocinha, desejável. Minha conclusão: ele estava em dúvida. Coisa que muito acontece com gente confusa e perita em se enrolar em relacionamentos por anos.
Depois disso, conversamos ainda mais. Eu, tentando entender o que havia acontecido na saída e torcendo para que a conversa evoluísse. O problema é que ele se mostrou ainda mais lento que no dia que saímos e eu comecei a perder a paciência. Ele prendeu minha atenção quando disse que a irmã (outra amiga dos dois) dele tinha pedido para ir ao cinema no dia que ele foi comigo, mas que ele não deixava porque tinha outro propósito. O problema é que ele ficou enrolando 2 meses, com vergonha de falar a que tinha ido (literalemente).

Que queria ter ido com você para te beijar, e não ficar apenas falando? Uma bela demora, eu admito que não teria paciência para tanto. Acontece sempre comigo: demorou demais, acabou o interesse. Dois meses é tanto tempo, são oito semanas...Imagine só!Acabou que eu perdi a paciência e quando ele falou que realmente falaria o que o motivou a tal atitude, eu que não queria mais ouvir. Não tenho, nem nunca tive, paciência com homem lerdo (ou lento... que seja).

Nem eu. Enfim, não dá MESMO. Homem foi feito pra agir, já que quando nós, mulheres, agimos, eles se assustam como gatinhos perdidos pela cidade. Quem nos mal acostumou assim foi a própria raça masculina.
Enfim, paramos de nos ver no ano seguinte, por causa das obrigações da vida. Ele foi pra uma falculdade e eu para outra, ficamos um bom tempo sem nos falar.Até que, em meados desse ano, ele voltou a se comunicar comigo (tínhamos ainda os contatos virtuais) e agora tá que nem um louco correndo atrás de mim.

Arrependimento tardio? Consciência pesada? Aquela vontade louca de saber o que teria sido e não foi? Uma curiosidade absurda sobre como seria conhecer você "melhor"? Não sei o que motiva, depois de tanto tempo, alguns homens a se tocar de como foram idiotar nos perdendo no passado. Mas muito acontece, infelizmente.
Já foi direto ao ponto, já disse o que queria, mas, francamente, 5 anos depois, quem não quer sou eu. Só que ele não larga do meu pé. Quer sair comigo toda semana, diz coisas incompletas, só para eu perguntar do que se trata e ele falar do que sente, essas coisas. Falei para ele que não queria nada além da amizade da forma mais amigável possível, porque ele não deixa de ser um ser humano com sentimentos e detestaria se alguém fizesse de outra forma, caso fosse comigo. Só que agora estou nessa.
Como faço para que ele largue de vez do meu pé?
Bem, se você já disse da melhor maneira que encontrou, só basta sumir. Infelizmente. Você já falou. Ele, como ser humano, poderia ter feito bom uso das orelhas (ou olhos, caso tenha sido via internet) para que se fragasse. Te garanto que ele tem certeza de que foi fraco quando mais deveria ter sido forte. E que deve ter se arrependido mesmo, pois mulher com personalidade tá raro por aí hoje em dia. Enfim, dê um tempo dele nas redes sociais, bloqueie, não responda, suma. Infelizmente, tem caras que só "se tocam" desse jeito. A gente tenta não dar tanta atenção, tenta falar o mínimo, faz de tudo para mostrar que nossas intenções são outras - ou simplesmente inexesitem - mas insistência só gera ainda menos vontade. Ou seja, ainda menos chances de vocês virem a ficar algum dia. E mais e mais asco da sua parte, que deve estar se sentindo até mesmo mal com essa situação toda. Eu, sumiria. Total da vida do rapaz. Se não quero MESMO, não tem porque contato nenhum.
Espero ter ajudado, guria. Um beijão!
Quer enviar a sua dúvida também? Manda lá pro dessagoncalves_@hotmail.com que é só esperar.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Eu, a densa



Ah, mas nossa, como você tem "personalidade forte". É, ela é uma menina de "gênio difícil". Dá medo, é isso? Quem é que me controla quando todas as visões da minha intuição impulsiva conseguem apenas mostrar a visão do centro, no olho do furacão? Eu quero destruir toda essa escória que deixa meus dias insalúbres para passar na garganta. Minha vontade é estrangular tudo que me tira o riso, me desce as lágrimas, deixa à mostra a garotinha indefesa e chorona que existe no meu universo particular - e que visitantes são restritos. Preciso parar, mas é na adrenalina que encontro o desejo da continuidade. Sei onde está o freio, mas de repente sinto o pé forçar cada vez mais o acelerador errante em que daqui a pouco voam placas, mais à frente se machucam pessoas, logo depois, eu é quem bato ou voo ou me safo, que já é difícil achar quem capte tamanha pressa.
Porque, moça, você precisa levar as coisas menos a sério. Levar a vida mais leve. Deixar que a vida a leve. Levíssima. Mas não. Coloco minha mão pesada nas tarefas ardilosas que não me tiram nem um sorriso por hora, dou um jeito de meter minha opinião ácida onde o homogêneo tedioso da calmaria dos deveria ficar. Culpada, estrago momentos felizes com brincadeiras impensadas. Sentenciada, permito que minha loucura incansável fure as madrugadas e tape o buraco de resolver mas não voltar ao normal a cada atrito causado.
Já quis ser mais leve, quem disse que deu? Tentei meditar antes do surto, treinei minha fala para que trancafiada no peito permanecesse, e por entre os dentres não penetrasse. A gente fala e atinge o outro feito flecha lançada: igual ao que era, não volta. Permanece talvez um pouquinho de sangue, um outro tanto de sentimento perfurado, o rasgo entre não imaginar o pensamento do outro, e então, agora saber as verdades que o subconsciente do outro inventa da gente.
Pensa um pouco antes de dar essas cabeçadas por aí, senhorita insensata. Quem disse que o mundo deveria ser como você, chefe que acha que manda, instituiu? Quem dera entragássemos roteiros aos outros e que eles seguissem aquilo que nossa criatividade sublima. Queríamos nós que todos sentissem a intensidade do nosso âmago, a existencialidade do nosso peito; acelerado, rítmico: aperta, aperta, aperta, alivia e espera qualquer outra contração em forma de susto preciptado, percepção antravessada, feeling antecipado para que nenhuma dúvida deixe de sanar ou nos enlouqueca uma vez ou outra. Bem quis ir pelo caminho mais fácil, só que quem construiu as pontes elevadas, os abismos perigosos, deixou as pedras no meio da rota de fuga do clichê para o singular.
Andar direitinho na corda bamba era necessário, mas tão apático e monótono que por osmose, me consumia. Deixei de impedir que cada ato que tenho se torne mecânico, porque do que sou composta de inexplicações ilógicas, no lugar de onde atitudes pré-meditadas deveriam surgir. Eu falo mesmo, guardar pra mim apenas aumentaria a quota de bobagens que o diabo arquiteta pra momentos onde a mente deveria esvaziar. Eu ajo mesmo, já que nada é com intenção ruim e o que mira na bondade, em tripo vem até nós mais tarde. É simples, basta que entendam que leva tempo até que com perfeição consiga traduzir pro resto do mundo essas regras que auto me imponho, as condições que me fazem ou infantil ou pura ou genuína ou maldosa. Ser-viva.

Andressa responde: Mas é ciúme


Oi Andressa,
Depois de muito pensar, resolvi escrever para ti. Não apenas como um "pedido de ajuda", mas como um desabafo mesmo. Como você já sabe, sou sua fã de carteirinha, e apesar de não comentar às vezes no blog, leio os post sempre que posso...E quando não posso, dou um jeito de ler, nem que seja no dia seguinte!


Olá, queridíssima. Fico contente que leias o Kawacauimn com frequência, porém, é como digo: ganha meu amor eterno quem aqui põe a cara e comenta. Sempre me deixa mais motivada e contente, cada opinião ou apenas "gostei do texto, continue". Me incentiva! Então, vamos lá.

O fato é que, por incrível que pareça, a maioria dos seus posts condiziam quase sempre com o meu "estado de espírito" na hora que lia. (Calma, já digo onde quero chegar com tudo isso). Agora comecei a namorar, pela primeira vez. E ele, pela quarta!

Acho lindo o 1º namoro.Por mim, caso os namorados queiram ser o único, seria uma dádiva - já disse isso, mas claro, é cedo pra muita coisa e isso é apenas um desejo de que, mesmo nesses tempos tão promíscuos, modernos e onde todos somos de todos e ninguém realmente se pertence, seria bonito construir uma história onde desde novos ficássemos juntos. Contudo, prossigamos.

Nós nos damos super bem e realmente nos amamos, e apesar de morarmos em cidades diferentes - ainda que perto - o amor é o mesmo! (e por enquanto tem sido bom pra mim, pois ando muito ocupada ultimamente e não conseguiria dar a devida atenção pro meu namorado caso ele ficasse na minha cola 24h por dia)...

Entendo. Ando super atarefada, trabalhando o dia inteirinho, faculdade de noite, enfim: é bom que cada um, paralelamente, construa uma vida independente do outro. Senão, acabamos dependentes e vício nenhum faz bem nessa vida, não é mesmo? Até aqui, tudo ok.

Mas tem algo em mim que, não sei se tem feito bem, ou mal: não consigo ser orgulhosa! Pois é, a maioria das minhas amigas falam que eu deveria não ligar, não dar a mínima e me fazer de forte quando ele entra em crises existenciais ou tem seus ciúminhos bobos...Mas não consigo, simplesmente pelo fato de pensar em perdê-lo. Já me disseram que eu me humilho demais, por não conseguir "dizer não", mas me pergunto: é errado a gente lutar pelo que acredita? Por quem amamos? Ou é melhor subir no salto e pisar em cima? (Mesmo que seja o "correto" a se fazer)

Pois então, guria. Sabe, todos somos diferentes uns dos outros. Se vocês se dão bem, se vocês se amam, e esse é seu jeito - de se entregar, de se deixar consumir, e tentar fazer com que as coisas fiquem bem indo atrás do seu namorado quando ele surta - e se o jeito dele, é fazer um drama por quase nada de vez em quando, e vocês tem se dado bem dessa maneira: qual o problema? Quem está no relacionamento é VOCÊ, e não suas amigas. Claro que, pessoas que escolhemos para confidenciar nossas neuras, nossos segredos e afins, vêem de outro ângulo situações que muitas vezes nos cegam. Porém, acho que em primeiro lugar, sua intuição deve ser levada em conta como melhor companheira ao agir nessas horas. É certo que se humilhar demais também não é legal, que amor é fica mesmo é quando os dois, mais do que um satisfazer e obedecer o outro, andam ao lado e conversam, se entendem, ao invés de se submeter ao parceiro. Amor próprio em equilíbrio ao amor por quem nos ama é uma das fórmulas que quase sempre dá certo, em tudo quanto é caso.

Fico sem saber o que fazer em relação ao ciúme, pois há casos em que sinto ciúmes dele e ele fica brabo com isso. Ultimamente, nem tenho mais "demonstrado".

Mas como assim, gente? Brabo por conta disso? Olha, ele pode é se sentir incomodado, e tudo o mais, agora, ficar brabo acho um pouco demais. Fale para ele que isso incomoda, porque se você sente o tal ciúme, melhor que diga a ele, do que guarde para si. Pense racionalmente também, com frieza mesmo, para ver se não é coisa da sua cabeça, antes de qualquer piti. Ajuda. Porém, ficar brabo é demais. Diga para ele relevar, que é só um comentário seu, e não a terceira Guerra Mundial se firmando.

Quando sou eu quem fala algo (que nem é pra provocar discussão, nem mesmo ciúme), ele acha "chifre em cabeça de cavalo" e fica todo Enciumado. Se digo "pare com isso, não tem nada a ver", ele manda algo do tipo "ah, desculpa por ficar chateado sabendo que tem alguém dando em cima da minha namorada. Poxa, não sei o que  fazer. Já deixei de contar várias coisas pra ele afim de evitar essas discussões. Sei lá, eu o amo muito, mas desse jeito, uma hora vai cansar.
Desde já agradeço a atenção e a ajuda, independente se virar um post no blog ou não!
Admiro muito você!
Um grande beijo de sua 'amiga' e fã :}


É, complicado mesmo. Se você tem ciúme, ele fica brabo. Se você conta algo (imagino que seja algum cara que vem dar em cima, coisas desse tipo), ele também enfurece. Isso não deixa que você se sinta à vontade para ter conversar abertas e nem construir confiança nenhuma com ele. E não é culpa sua, que tem tentado. Acredito muito em diálogos onde, as duas pessoas do relacionamento se escutam e, de forma aberta, contam o que ocorre. Quando um dos dois deixa de fazer isso, mais tarde dará problema. Evita muitos mal entendidos futuros, essa é a verdade. Continue contando o que deve ser contado a um namorado (pessoa em que, em primeiríssimo lugar, devemos confiar para firmar um namoro), e pergunte se ele tem contado tudo a você também. Se ele disser que sim, acredite nele. Não devem haver motivos para que ele minta, quanto à isso. Tentem evitar as brigas, pois se seguidas, acabam desgastando o grande amor que sentem um pelo outro. Espero ter ajudado! Um beijo, e grata aos tantos elogios,
Andressa Gonçalves

Quer enviar seu dilema, desabafo ou dúvida também? Escreve bonitinho e send it pro dessagoncalves_@hotmail.com que é só esperar!

domingo, 16 de outubro de 2011

Enquanto ele dorme


Nossa diferença, em tese, é básica. De fácil resolução. Na prática, porém, é que se torna complicada. Enquanto o mais tardar da noite se aproxima, sinto o sono se esvair às vezes num rompante, noutras, lentamente é que me escapa: mas me sai. Foge. Totalmente ao contrário do mecanismo que em você é acionado: o cansaço dos dias que voam arrastado nas costas, as pálpebras fechando pesadas, e então abrindo para fechar novamente por mais tempo, até que o silêncio se instaure, e o sono, com rapidez, o atinja. De repente, você morre dormindo e me vejo falando frases inconclusivas e tendo como resposta palavras monossilábicas, arrastadas. Já houve surto, já nos incompreendemos, mas talvez tenhamos conseguido encontrar então, soluções viáveis para que esses momentos de solidão do outro e companhia própria sejam desfrutados, ao invés de bagunçar a certeza da grandiosidade que sentimos um pelo outro - o que tem feito parte também da lição de se partilhar com o outro, porque é essa a matéria prima que alicerça as bases mais sólidas no amor.
Ontem, depois de dormir cedo e acordar no meio da manhã, conhecendo a superficialidade de meu sono como bem tenho ciência, sabia que dormir de tarde seria complicado. Ele, que como eu, trabalha tanto, aproveita feriados e finais de semana para descansar o corpo, renovar as ideias, e desapertar o nó complicado que a rotina dos cinco dias de batalhas dão na gente. Certo ele, aliás. Minha bateria - ao contrário da que faz viver meu telefone celular, já debilitado - quase sempre não se esgota o suficiente, quando mais deveria. Falha de fabricação, pane no sistema, tilt: bem verdade que superativo quando deveria sossegar. Escolher os momentos errados parece acaso, mas é pura sina. E tenho vontade de fazer bolos, sair pra rua, assistir ao futebol na televisão, conversar por horas, ver a cidade lá do andar de cima: qualquer coisa que tenha a chance de acertar direto e reto nessa possibilidade de me fazer cair no sono também. Só que é difícil. Dois ritmos tão dispares, se adequarem assim, só tendo muito gostar como municação.
Gosto de o assistir enquanto dorme. Leio um pouco, me concentro nas linhas de Beauvoir, ou Miller, e acompanho o trocar de posições que o calor, ou os sonhos, ou algum resquício de agitação que fagulha por entrar em contato com meu radar ligado, ao lado. Se fala algo, perdido na intrepidez da própria letargia, tento captar apenas para contar mais tarde, quando desperto e rir um pouco pois já muito escutei as próprias frases loucas que balbucio enquanto adormeço. Me freio para não incomodar, deixar o toque para deixar, a vontade de não estragar a inocência do momento sereno onde desacelero meu ritmo - habitualmente - tenaz de encarar o passar dos minutos. A felicidade se completa ao ver você despertar novo em folha (ou cama) e me abrançando apertado, mesmo sem nem ter aberto ainda os olhos pro resto de dia que nos aguarda. Decidi que preciso dessa paz dos dias que podemos ficar juntos, e ao mesmo tempo descansar, então, que seja no travesseiro ao lado do seu - e fico feliz que, a única pessoa no mundo capaz de me aquietar, mesmo que seja por um pouco de tempo.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Aprendiz

A saúde anda ótima, já que tudo, além estar sendo correspondido, consegue de vez em quando enviar também correspondência com a racionalidade, esse freio que apenas o cérebro consegue manejar quando o peito insiste na aceleração. Sem medidas, apenas com a gritante e submersa sensação dos dias que correm, das semanas que se atropelam, dos meses que se acumulam enquanto eu, humana, errante e talvez por este mesmo motivo, adorável, observo a fermentação e o crescimento disso que sinto na dimensão de quem nunca viveu nadinha disso antes.
Com paciência e discernimento que você tem, deve ser complicado assistir aos erros de quem antes se negava a dividir a vida com qualquer um. Nenhuma pessoa que fosse. Amigas, mãe e só. Eis que surgiu, então, quem além de me fazer sorrir em boa parte do tempo, saber conversar sobre uma vasta gama de assuntos, se vista decentemente e corte o próprio cabelo, e num passe de mágica ou numa manha adquirida, fez ruir o muro que ergui para todos os seres comuns que teimavam em me aparecer. E eu, sempre tão incontrolável, me vi domada pela calma que alguém mais interessante que um mundo inteiro se dedicava a me mostrar, para que quisesse ser assim também. Para quem nunca havia confessado a ninguém além de membros da família, foi fácil esplanar a certeza de sentir algo mais forte que gostar, e que corre além de apenas ter respeito. Amor.
Tenho aprendido tanto a vedar meus impulsos, a desclassificar minha onipotência, que deixa de ser um aprendizado doloroso como naquelas vezes em que somos menores, caímos e choramos. Ou então, insistimos no erro, afim de qualquer dia, por mera sorte, acertar também. Dói um pouquinho dar essas cabeçadas no lugar do que deveriam ser apenas delicados gestos e doces palavras, para depois escutar ainda alguns defeitos notados no meio do caos. Porém, vejo que tudo isso seja necessário, talvez. Passar por essas fases de ajuste um ao outro, ao se conhecer cada vez mais a fundo, é efeito colateral para um futuro onde já sei saiba como proceder quando a loucura iminente tomar conta. Na minha inconstância de viver, deixar que a letargia de um relacionamento bom, aconchegante e valoroso me atinja tem sido fácil, aliás. Primeiro em tantas - e importantes - coisas, fatos, gestos e dizeres, desejo eu, tão diferentes que somos e evidente que, para estar juntos, muito nos gostamos, fosse você o único.
Difícil encontrar por aí quem se preste a encontrar todas as tantas pintinhas pelo meu corpo - e que goste em especial da que fica acima dessa minha boca que se cala apenas quando muito cansada ou realmente abatida. Esse alguém que ri do meu espirro trancado e agudo, mas que beija às vezes mais o risco que separa meu nariz e até mesmo desconheço porque existe - tamanho o sentimento. Ou, mesmo com sono e cansado, aceita meu desvario hiperativo. Tão bom aprender com quem, sabe dessas maturidades da vida, mas ao invés de lecionar passo a passo, acaba ensinando só de agir assim terno. Porque se eu escolho ser boa, é por saber depois de cada dia cansativo, tenho para quem deixar que, por telepatia, minha mente corra e a parte boa dos meus melhores pensamentos corra atrás. Mesmo que não ao vivo, juntos.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Prezados tarados


Ocupados demais em êxtase, choque, ou admiração, você deixam de notar o quão ridículo é a posição nojenta, escrota e pedante em agir como quem nunca viu mulher na vida. Detestamos os sussurros largados numa passada que quase nos atravessa no meio da rua, ojerizamos as palavras de baixíssimo calão que escolhem para usar como "elogio", os assobios agoniantes que por vezes assustam, e em outras nos geram no âmago um desprezo abissal pela existência de homens desse tipo vulgar que existem no mundo.
Da nossa possível beleza, bem sabemos: espelhos e superfícies refletoras nos mostram se a pele está boa, o cabelo de bem com o dia e a roupa nos caiu bem. Há dias em que a autoestima baixa mais que ação da bolsa de valores, óbvio. Porém, o olhar medíocre de quem vê apenas corpo em quem também tem alma, inteligência e valores, por mais feia que se sinta, não melhora a autoimagem própria que fazemos umas das outras. Nos sentimos ainda mais gordas, se inchadas e na TPM. Feias, se com aquele sapato que acabou combinando com a bolsa por mero descuido na hora de sair. Damas fáceis pra uma sociedade machista onde nem revidar ou repreender com os olhos podemos, tamanha a violência e agressividade que a cultura implantou nas mentes masculinas. Ou seja: não sentimos prazer algum, se por acaso temos que passar na frente de uma obra e todos os serventes, pedreiros e até mesmo engenheiros, param para olhar.
É instinto do homem, dizem alguns. Não há como evitar, e mulher bonita está aí para ser mostrada. Até compreendo. Gostamos de nos sentir sensuais, por mais que admitir seja difícil. Contudo, para os seletos em nossa lista: não é qualquer um que está valendo a pena atualmente. Encontramos então, e o resto dos caras do Universo passa a ser nojento por si só (salvo familiares e amigos, que claro, não tentam sensualizar conosco quando sozinhas, indefesas, em ruas vazias e afins). Se é um impulso de macho, que seja discreto. Olhar, assim como não tira pedaço, ofende menos. Parem e notem que, o sutil nos atiça o sentido de caça e conquista, nos deixa a par do desafio de querer também. E que antes de sexo, vem amor, vem romance, vem paixão e toda e qualquer atenção ao que se pode sentir, à firmeza de terreno, à observação.
De cada uma dessas situações, saímos quase sempre nos sentindo fáceis, sujas, férteis mas nunca deusas ou maravilhosas como talvez pensem vocês, tarados. Pois então, prezados tarados, se resguardem. Não nos atinjam, segurem para si suas olhadelas safadas, seus ímpetos sexuais, suas frases repelentes. De nada servem, e ao invés de aplaudir, quase sempre ofendem. Vale lembrar: hoje é a moça com corpão que passou por você, e lógico, nem olhou e se sentiu apenas um pedaço de carne. Amanhã, pode ser sua filha. Ontem, pode ter sido sua mãe. Respeito, nesses casos, se não vem de berço, acaba chegando pela percepção do apreço de que pode ou poderia se passar por quem prezamos. Para desafogar a tensão do dia, que procurem imagens, vídeos ou profissionais do ramo; nós, mulheres de carne e ossos, precisamos é de flores, chocolates e cafuné na cabeça, isso sim. O tiro sai pela culatra de quem mira apenas o culote.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Keep calm and carry on.


Ela me disse: com amor tudo se entende, seja paciente. É, talvez seja isso mesmo. Eu é que não o sou. Quem sabe essa minha falta de persistência ao planejado e vontade em ser diferente do cronograma já traçado, e o meu pavio - tão curto, tão altamente tóxico - sejam o que me faça sempre me apaixonar, amar como de fato o amor merece ser vivenciado e construído: em estado de paz.Fico imaginando e pensando se não foi o momento certo me envolver com tantos conflitos ainda a se desencadiar,  mas não há momento certo e sim muito sentimento.
Eu, que ou explodo, ou esfrio. Que mordo, para depois assoprar. Caio de amores, ou fujo às pressas. Porque o tempo é curto, é agora e amanhã, e a cada dia perdido sinto como se fosse menos um na memória, e mais um na pilha desses tantos, desinteressantes. O preço que a pressa me custou: deixar tudo pela metade, e aprender no cuidado das feridas próprias a exercer o pensamento amplificado. Aquela muito dita, e nunca antes por aqui erguida: a calma.
A inabilidade para mensurar bases sólidas para que os queridos que tanto desejei se abrigassem, seguros. Sãos, salvos. Correndo tão louca pra cá, pra lá, pra onde nem sei, pra algum abismo, afim de entender tudo que se passa no peito. Sem encontrar respostas nunca, aumentar o passo. Ritmar os fatos. Cadenciar acontecimentos. E nunca realmente conseguir a paz que desejo, que pode ser de espírito ou do corpo, e que nem ao menos conheço, porque nunca obtive. Se hoje te amo, é natural. Meus processos são tão intensos, que duram muito mais do que apenas frações de segundos que pedem para ficar, e se escorrem nos cálculos inexatos do meu peito acelerado. No susto dessa minha verdade, sempre tão dita e ao mesmo tempo escondida que chega a passar por confusa. Se não sair como o esperado, não há plano B ou segunda intenção por trás de nada. Há um impulso por trás deste que já foi e aguardo o retorno: o feedback veloz é essencial e alimenta aqueles que vivem e deixam morrer, um dia após o outro; se consomem na própria intrepidez.
A urgência, uma companheira de vida, de células e DNA, de tropeços e falhas, de êxitos e condecorações, tem agora se ausentado de seu trono. Por vezes vazio, quem tem me dado um bocado de atenção é sua substituta contrária, a qual sempre desprezei: calmaria. Que no nome carrega nome de santa, e tem sido até mesmo um remédio. Sobrenome: pasmaceira. Com movimentos tão lentos, acalma o que passou, sossega o que virá. 
Faz acalmar as tão agitadas expectativas, os pensamentos já exaustivamente rodados e frenéticos, para que então pincelem-se aquarelas de tons pastéis, de vivência registrada, concentrada e também (por que não?) marcante. Redecoro antigos padrões, velejo a navegação íngreme por oceanos até então anônimos. Respiro perfumes antes desprezados, na correria vivaz a que me submetia. Observo, calo e consinto: vejo velhos conceitos se confirmarem, e alguns intuitos se irem por água. A renovação da pequena mudança de compasso tem que ser melhor que o recomendado - antes por mim, nunca seguido.
A grande corrida a que vivia, pelas brandas manobras de tai chi: contornadas com tanto cuidado, que a margem de erro é praticamente inexistente. Uma troca e tanto. A visão atual de detalhes e ideias prolongadas, refeitas e atualizadas, antes encobertas pela névoa mal vista que era o reflexo de estar sempre tão alucinada em busca do que quer que fosse - descobertas.
Pinto hoje o que desejo para amanhã. Trabalho no que penso, antes de sair realizando com projetos capengas, e planos mal ajambrados. Dou à duração dos fatos o genérico tempo: para que amadureçam, para que me surpreendam, para que com consciência e alguma faísca impetuosa as realizações sejam uma realidade, e do livro dos sonhos se retirem. A boa dosagem de um tanto do que traz serenidade, com a outra parte que de mim nunca sairá, que ateia chama e manivela ações: o impulso.
O que nos recusamos a aprender por bem, a vida nos faz conhecer na marra. Ter calma tem sido a recuperação mais vagarosa e sábia que me sentenciaram todos os furtivos erros que cometi na vontade louca de acertar. Levo o kit de fósforos, fogo e rapidez no fundo falso da bolsa diária: nunca se sabe quando se reencontrar com a essência que já muito flamejou e hoje é usada em ocasiões especiais se torna também uma alternativa de caminho, um desvio interessante.