segunda-feira, 9 de julho de 2012

Maria Elena, uma possível grande amiga

 


De repente tem eu falando sobre como fui bem na prova graças a Woody Allen, Penélope Cruz, cultura e cinema. Tem o professor dizendo que, muito tentou, mas não consegue apreciar o humor crasso do velhinho mais fofo desse mundo (a meu ver, sim). E a professora argumentando que também adora o diálogo inicial de Annie Hall, e que Maria Elena é engraçadíssima. Digo que adoro a personagem, porque as pessoas precisam dessa intensidade meio turbulenta e irracional que a atriz espanhola desempenhou tão e tão bem. Olhos arregalados, surpresa, polêmica em cima dessa minha declaração, eu voltando pra casa no ônibus vazio com as ideias conectadas: seria uma grande amiga, essa louca que quis matar o marido, retornou pra insatisfação crônica de uma relação com gosto de sucesso, mas fadada ao contrário.

Fico sempre do lado dos permitidos à insanidade, não adianta. Das vozes que ao invés de falar, gritam, gesticulam, quase deixam o coração sair pela boca, incalculadas palavras. Vivem sem meios, nem termos, nem mornos: jogadas na selvageria dessa modernidade de etéreos afetos, insatisfeitas pessoas, confiança abaixo de zero. Dessas mulheres que, autênticas em excesso, amedrontam espaços e situações, abalam certezas e cruzam os braços simplesmente porque fariam muito pior caso o livre arbítrio deixasse de ser visto como crime. Espanto as pessoas toda vez que resolvo defender ciumentas, paranoicas, incansáveis e incontroláveis - também - apaixonantes mulheres. A maioria delas, indomadas numa contemporaneidade onde mulher que quer vida amorosa feliz e o cada dando valor tem que ser fria mesmo e seguir as regrinhas de convivência das "pessoas normais".

Não, não como exemplo: e sim, uma pontinha de identificação. Como é conseguir ser fria quando o sangue ferve, a cabeça parece perdida e lá se vai, e fala. Lá se foi, e fez. Tchau, engole o choro, sua boba. Esquece o drama, sua louca. Pensa e depois age, doentia mania de se jogar só pra então, os caquinhos todos espatifados no chão, chegar a conclusões do tipo "puxa vida, olha o que eu fiz" ou "e se tivesse esperado mais tempo? ou menos? e não feito nada? que ruína". Desconverso sempre pro lado nem sempre tão bom, mas que consegue chance de ser compreendido, se no mínimo fosse avaliado. É assim porque é ingênua. Age dessa maneira por puro medo. Fala demais, mas é espontâneo. Grita somente quando é necessário se fazer ouvir. Dramática, mas criativa. E com certeza tem um jeito tão doce de pimenta nas horas em que resolve ser só sua. Mais certa ainda do que digo, é uma apaixonada convicta que, feito Narciso, fica cega com a beleza estúpida que tem um amor sincero desses. Dona do temperamento difícil mais mamão com açúcar quando elogiado, com massagem nas costas, chocolatinho ou abração de urso. Derrete.

Seja Barcelona, aqui em Vitória, São Paulo, Buenos Aires, Istambul. Minha admiração por possíveis amigas que compreenda essa inquietude, as paranoias furtivas, momentos de encanto, minutos de loucura e caricatas caras e bocas e apelos passionais, desequilíbrios de quem anda na corda bamba e merece o frio na barriga dessa problemática vida. Uma possível grande amiga minha, caso em surto ou TPM não estivéssemos as duas, imagino. Se toda mulher é um pouco Leila Diniz, acredito eu que uma minoria mais feliz ainda é dotada da sorte de ser que seja um pingo do que é Maria Elena. Interessantíssimas, insanas, sedutoras. Insubstituíveis

domingo, 8 de julho de 2012

Despedaço


Podia ser soluço, fenômeno que me ataca com frequência e se instala por quase um dia quando vem. Demora muito pra essa angústia passar? Eu que me pergunto, eu que não sei as respostas mesmo, oras. Enquanto tudo tá lindo & maravilhoso, parece que nunca mais aquele choro fungado que dá dor de cabeça depois enquanto eu digo baixinho "por favor, fala comigo. por favor, por favor". Cansada por um dia inteiro depois dessas batalhas que tempos de crise nos despedaçam aos pouquinhos.

Sei lá, é meio como entrar no mundo das drogas, eu imagino. Viciante. Bola de neve, já que é inverno também (e não a igreja). Mesmo quando um dos lados (quase sempre eu) acorda assustadiço aí pelas 5h40 da manhã pedindo um abraço, dez abraços, cem milhões. E feito criança no berço que não solta o dedo da mãe, adormece sem desgrudar - foda-se o desconforto físico, é o emocional que precisa de calor humano pra se sentir vivo de verdade. Vai se deixando algo mal resolvido ali, no caminho qualquer outra coisa que deveria ser dita e não foi, e ok, a pressa é tanta em ficar bem que daí, depois, o acúmulo de frases não-ditas, sensações mal explicadas, comportamentos condenados.

É fase, todos dizem. Basta o sumiço. Tempo longe. Coisas desse tipo que devem fazer casais naturalmente felizes e tão diferentemente parecidos um com o outro voltarem a valer a pena. Quietinha, quietinha. A causa é nobre: liberdade e paz, e fuga. Pensamentos no lugar, o resgate de um soldado qualquer que um amontoado de brigas irracionais levaram à fuga dos momentos bons.

"A gente se ama, não adianta", num sussurro. "Tu tá quase chorando", debruçada assim no peito onde dói pra depois cair e escutar "Tô nada, jura" - os olhos cheinhos d'água salgada que não cai nunca, claro. Não caia há dez anos e há um fizeram do cara forte nos mais diversos sentidos que é quase minha fortaleza, gurizinho em choque que correu pra lá na praça, tão assustado. Nunca tão lindo.

Sei que vai passar porque toda vez que ensaio ir embora, abandonar a barca, ir pro esconderijo sem a mínima vontade própria, por puro drama mesmo, não consigo: não dá, não quero, me coloco em frente a porta e o vejo tirar os tênis e jogar a chave do carro longe. Anda difícil, mas desistir de nós dois é muito mais.

Clichê, mas amor sobrevive: acorda com preguiça do frio na cama quentinha, enlaça os pés, afaga muito e vê que tem sol. Entre loucura de ser feitos um pro outro e também não, a tempestade. Só passa se dividindo guarda-chuvas, culpa e o mesmo riso fácil dos concursos de quem desenha (pior) melhor; vencida essa fase, feitos pra sempre.

Importada



Essa não é uma história de estrangeirismos, amores clandestinos e nem mesmo de fugas para fora de si. Era uma vez uma menina que se importava demais. Mais ou menos assim: queria, ia atrás, conseguia e depois, mesmo com a conquista na palma das mãos, vestida no corpo, carimbada no coração, que nada: insegura, mãos suando e uma importância descabida a cada pequeno sumiço, tropeço, falta, fala. Frieza? Aqui, nesse pequeno pedaço de carne, sangue, órgãos, veias, fios e sensações, inexiste.

Era um importar tão apegado já a personalidade da criatura que, sendo objeto de afeto da mesma, ficava fácil sentir um pouco de sufoco por entre tão carinho, dengo, preocupação, necessidade por parte dessa mulher que parecia criança, imensurável o apego. Radicalista até mesmo, tão grande a importância de quem figurava no seu altar, trancafiado às sete chaves do íntimo mais lustroso, por entre as preocupações mais aflitas, solitária num desprestígio único - quis ser dona de todas as razões, verdades absolutas e ansiedades de suar mãos, tremer pernas e embrulhar estômagos. Diziam: racionalize, garota. Suma. Vá pra longe. Não responda, não se importe, não queira, esqueça de cuidar. Só assim que os outros continuam vívidos e alertas, sensíveis e atentos: afim.

Fez valer tanto o seu esforço em matutar nas riquezas sentimentais, ouviu muito a opinião alheia de todo mundo que pra ela, importava, e admitiu de cara lavada a falta de comodismo - era difícil disfarçar os impulsos (malignos, complicados, apressados e sempre errôneos), e então, ficou mais fácil admitir que se importava mesmo, talvez fosse louca, com certeza era um pouco paranoica e aflita. Mesmo quando via os outros largarem de mão, com pouca vontade e doação, sem espaço para respirar, exercitar o dorso reflexivo e conseguir demonstrar também o tal sentir, não conseguia distrair e ir a um shopping, assistir a filme sozinha ou comprar com certeza e sem arrependimento sozinha: enquanto sufocava todos e tudo que a ela tinha influência direta no dia, asfixiava a si mesma num masoquismo incompreensível a quem de fora desse mundo caótico estava.

E foi uma vez essa moça que ligou desesperada mil e novecentas vezes, mandou mensagem porque a saudade apertou, quis ver e participar de tudo, leu horóscopo, iching, psicologia comportamental, fez salão completo, compras impensadas e teve uma cabecinha com um furo meio oco que só conseguia deixar entrar falta de atenção ao que deveria de fato importar - trabalho, faculdade, amizades, leituras obrigatórias, enfim - para se abduzir num planeta onde a imaginação, tão fértil, dava diariamente flores cheias de espinhos que a faziam ácida feito limão mesmo depois de um shot de Tequila. Sozinha, se sentia uma pequena princesa com algumas rosas, longe do mundo real onde tudo funciona bem e as pessoas reais menos ainda que sentem. Decidiu: acalmar a mania de cuidado, voltar toda essa força carinhosa, transgressora, importante para si mesma que o retorno era certeiro e quase imediato. De importada a flor, do caos à leveza, do peso, até ser considerada sorte, dádiva, alegria, alegria. Acordou.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Reflexões de um horizonte, por Sarah Kane


 

Há mais de um ano (quase dois, acredito eu), caiu nas minhas mãos, por uma leitora do blog, o curta-metragem mais esplêndido que eu já vi. Sério, sem exagero. Nesse meio tempo, sempre quando preciso me sensibilizar ou quero lembrar o quanto é bonito o amor de verdade, seja ele imperfeito, complicado, confuso ou difícil (e na minha opinião, são mais bonitos ainda os romances que são um pouquinho assim), revejo e revejo e já até mesmo decorei as falas dos dois atores.

Escrito por uma genial Sarah Kane que viria a se suicidar logo depois, se tornou curta, virou vídeo pro Youtube e hoje arranca lágrima, arrepia os pelinhos do braço e nos faz ficar mais românticas do que o habitual, sim. Capaz até de emocionar os mais machões dos homens, fazer-nos lembrar do quanto é importante um sentimento lindo desses na nossa vida e levantar as mãos pro céu, sim!

Enfim, Reflections of a Skyline é doce, é terno, é forte e acho incapaz de mexer com quem quer que seja. Na breve vida que teve sua autora, que se enforcou com o próprio cadarço num banheiro público de Londres, criou esse texto magnífico, que é também peça de teatro e merece a apreciação de vocês.


"E eu quero brincar de esconde-esconde, te emprestar minhas roupas, dizer que amo seus sapatos, sentar na escada enquanto você toma banho, e massagear seu pescoço. E beijar seu rosto, segurar sua mão e sair p'ra andar. Não ligar quando você comer minha comida, e te encontrar numa lanchonete p'ra falar sobre o dia. Falar sobre o seu dia e rir da sua, sua paranóia. E te dar fitas que você não ouve, ver filmes ótimos, ver filmes horríveis. E te contar sobre o programa de TV que assisti na noite anterior e não rir das suas piadas. Te querer pela manhã, mas deixar você dormir mais um pouco. Te dizer o quanto adoro seus olhos, seus lábios, seu pescoço, seus peitos, sua bunda. Sentar na escada, fumando, até seus vizinhos chegarem em casa, sentar na escada, fumando, até você chegar em casa. Me preocupar quando você está atrasado, e me surpreender quando você chega cedo. E te dar girassóis e ir à sua festa e dançar. Me arrepender quando estou errado e feliz quando você me perdoa. Olhar suas fotos e querer ter te conhecido desde sempre. Ouvir sua voz no meu ouvido, sentir sua pele na minha pele, e ficar assustada quando você se irrita. Eu digo que você está linda, e te abraçar quando você estiver aflita, e te apoiar quando você estiver magoada, te querer quando te cheiro, e te irritar quando te toco e choramingar quando estou ao seu lado. E choramingar quando não estou. Debruçar-me no seu peito, te sufocar de noite e sentir frio quando você puxa o cobertor e sentir calor quando você não puxa. Me derreter quando você sorri, me desarmar quando você ri. Mas não entender como você pode achar que estou rejeitando você quando eu não estou te rejeitando, e pensar como você pôde pensar que eu te rejeitaria. E me perguntar quem você é, mas te aceitar do mesmo jeito. E te contar sobre o "tree angel", "o menino da floresta encantada" que voou todo o oceano porque ele te amava. Comprar presentes que você não quer e devolvê-los denovo. E te pedir em casamento, e você dizer "não" denovo mas continuar pedindo, porque embora você ache que não era de verdade mas sempre foi sério, desde a primeira vez que pedi. Ando pela cidade pensando. É vazio sem você mas eu quero o que você quiser e penso. Estou me perdendo, mas vou contar o pior de mim e tentar dar o melhor de mim porque você não merece nada menos que isso. Responder suas perguntas quando prefiro não responder, e dizer a verdade mesmo que eu não queira, e tentar ser honesto porque sei que você prefere. E achar que tudo acabou, espera só mais dez minutos antes de me tirar da sua vida. Esquecer quem eu sou e me deixar tentar chegar mais perto de você. E de alguma forma, de alguma forma, de alguma forma compartilhar um pouco do irresistível, imortal, poderoso, incondicional, envolvente, enriquecedor, agregador, atual, infinito amor que eu tenho por você." (KANE, Sarah)


(Não, o texto NÃO é meu e quem compartilhar por aí com o meu nomezinho vai ter seu pé puxado pela real autora quando for dormir. Sim, eu choro todas as vezes que assisto, não consigo me controlar. E é, talvez não seja novidade o vídeo pra muita gente, mas espero ter encantado alguns que infelizmente ainda não conheciam.)

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Desastrosos elogios



Desisti de elogiar as pessoas. Simples. Sempre li por aí nesses livros sobre comportamento humano que, numa briga, momento de fraqueza, ou mesmo grandiosidade alcançada pelo outro, enaltecer as qualidades e falar o que gosta no outro, deixar às claras uma admiração até então não sabida fazia bem. Só que não. Pelo contrário: dava espaço a um relaxamento que nada tem a ver com a atualidade de relacionamentos, profissionalismos e cuidados básicos. Elogiou? Carregue consigo uma certeza que mais tarde se transformará em culpa, pra depois se tornar frustração e quem sabe um dia, arrependimento. Desdenhosos, os elogiados.

Às vezes, não precisa ser diretamente pra pessoa. Percebo que essa tendência no ar a diagnosticar o lado bom, as melhorias, o bônus e a parte boa alheia, por simplesmente comentar com uma amiga, escrever no diário ou cair na real do quanto fulano está sendo generoso, o namorado é o melhor do mundo, a mãe anda uma santa e, pronto: o mor resolve que o namoro não anda lá essas coisas, as pragas maternas voltam com mais força que nunca, e a fase fica complica também no terreno amistoso da coisa. Um nojo. Saída da mente, é como se enviada uma mensagem, sinal, indicativo que informe o outro: "desleixe, está ganho" ou "agora pode parar de se empenhar em ser bom o bastante, vamos ver se ela aguenta o tranco". O que não, porque nem sempre, como diria o sábio Amarante. Fica fácil se sentir idiotíssima por ter cagado tudo ao exaltar um momento positivo que vai tão logo veio e sai de cena depois de representar apenas o primeiro ato.

A gente eleva queridos, terceiros, outrem pra depois cair na conclusão de que as pessoas, assim como o mundo, não giram no lugar e colhem mudanças (desejadas, ou não) de cada situação, embaraço, queda, susto; tudo vira motivo pra aprendizado. É engrandecer o melhor de quem andava se esforçando, andando na linha, agindo conforme o script pra ter a desagradável surpresa de se sentir pequenininha e acuada ao não saber mais como agir e quem é aquele ali que a gente conhecia tão bem e agora não sabe mais? Poxa.
Assim é com relacionamento indo bem no dia-a-dia, relações familiares caminhando em paz, as amizades num otimismo de dar gosto. Só não dá pra elogiar muito. Um carinho aqui, outro mais lá adiante, de vez em quando, alternado e bem dosado, é benéfico, recomendável, totalmente a favor de uma sociedade feliz, mútua. Em conta-gotas, talvez, funcione melhor: o de sempre perde a graça, acaba com o próprio crédito. Pras vezes em que couber, mais crível, surpreendente, aceitável. Só vale é ser nunca, ou o mesmo que creditar o voto pra um mundo onde a frieza consiga instaurar regime e nos faça reféns dessa violação de uma alma mais leve depois de ouvir palavras certas. Peço, encarecidamente: não.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Astronomia



Esqueço rápido as maravilhas de horas atrás, a conversa despretensiosa sobre frutas e comidas favoritas, cenas de infância e sobre ser eu uma boa mãe ou não, Eurocopa, coisas banais e leves que combinam com um sábado cansado co...mo foi o nosso. A culpa não é minha de tanto girar por entre os detalhes e os por vir aí, o medo da efemeridade dos relacionamentos - hoje, líquidos - e toda essa beleza que passa quando a gente se abraça e são recém 22h20. E não se larga, gruda pé no braço, espia pelo espelho o silêncio concentrado, ri do jeitinho (sempre tão unique) do outro, essas coisas de quem é apaixonado e ponto.

Só que eu penso demais, é isso. Dá um medo danado de acordar de manhã e ter um acidente, esses sumiços de vez em quando porque o dia é puxado e quase engole, de se perder e nunca mais se encontrar no abraço apertado onde me sinto tão e sempre em casa, aliviada, mais confortável num mundo que condena essa minha agitação autodestrutiva, algumas vezes em forma de impulsividade constante. Porque é nessas noites de fim de semana onde eu visto uma camisa largona e coloco meias brancas quentinhas, de pernas pro ar, que eu me permito uma autenticidade visitada apenas por quem conhece as constelações de pintinhas da minha barriga - e sabe apreciar.

E depois de amor declarado na surpresa, sono bom enquanto o a hiperatividade se fazia canalizada, escovar os dentes lado a lado, conversar antes de dormir e cair no sono, café da manhã com futebol na temática, leitura conjunta na sala e sol bom antes do almoço, é sair do carro e fechar o dedo na porta pro efeito Cinderela da minha paixão pensante compulsória começar. A falta que eu sinto só porque é domingo e tudo tem registro de quase quase perfeição começa. Assola. Minha paranoia começa a ter um efeito tão desgastante que nem mesmo a criadora - no caso, eu - aguento tanta loucura imaginativa. Às vezes o medo some, noutras vem em dose redobrada e sou sincera, digo logo, demora um pouco, a gente se acerta e passa: é fechar as pupilas e voltar pra calmaria de nós dois entrelaçados que o coração afina e os presságios voam como borboletas para fora dessa minha cabecinha já tão infestada. Assombrosa uma vida que não inclua o calção azul ou a calça molinha. Longe, eu sinto um temor de estimação que alimento com bobagens que não existem e são minúsculas se em combate a esse sentir tão bom, avivador, e completo que a gente sente.

Como é ótimo estar numa fase onde se entende tanto e conhece o outro como a palma da mão e os cantos do corpo, os sinais emitidos entre um olhar e o não-dito, sincronia que funciona de pensamentos e sentidos. Uma das mais maravilhosas fases, quase quinze meses de convívio direto: leveza, lazer, felicidade. Mas que ainda precisa de água, mimo e acalento diários porque quer ter certeza de que não é só sonho e de fato existe, faz raízes e um dia dá flor. Quer tanto mais dessa cumplicidade a dois, do tempo bem gasto juntos, do efeito sorriso imediato assim que se reencontram os olhos de cor praticamente igual, tranquilos. Por isso, reflito tanto e vasculho muito esse meu cérebro que não descansa quase nunca, tenho apreço pelo detalhismo e uma queda pela perfeição.

Reviso conversas, volto em momentos cruciais, checo bem minhas certezas e faço questão de baixar toda e qualquer expectativa. Seja em praia, noite fresquinha, festa lotada, choro compulsivo e o abraço mais performático desse mundo, te encontro cheiroso desse perfume que gruda sempre nas minhas roupas e beberia de canudinho, de possível. Com a cara de levado, de sono, de mau - que o amor é por todas, todinhas. Assim em paz, novamente certa de que é de dias assim que a memória matéria prima, toda feita. Ainda bem.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

A força do silêncio



Tem um tempo que parei de contar tudo pra todos. Como minha boca tão grande quanto o céu que me expulsará num futuro pós-morte tem contribuído, tenho feito bom uso de uma vivência quietinha, o estar pianinho, e mesmo q...uando ansiosa e quase ligeira se torna minha paz de espírito, trato logo de avisar que é na despreocupação que as coisas tem chance de jeito.

Não é que coisas maravilhosas não tem ocorrido. Não. Bem pelo contrário: muito mais aos montes que na época em que, impulsiva, narrava antes mesmo do fato em si um sonho que desenhei por cima, com frágil papel de seda e lápis cinza - achando que não teria muito problema não e que, olho grande, pensamento gordo ou simplesmente inveja branca tinham efeito nenhum sob as circunstâncias a seguir. Teses, fracassos e muito pensar tardio, me dei conta que é melhor que nasça em mim hipóteses, que cresçam conforme os dias e germinem algo bom sem precisar ser dito, esfregado no rosto macilento alheio, por meio de elogios com uma felicidade tão gritante que mal cabia só em mim e precisava ser compartilhada ou na expectativa daquilo que se quer muito e vai pelo caminho, o futuro mesmo incerto: saber só é que é saber demais. Aprende menina falante, aprende.

E aí parei pra ver em quem esse efeito tinha maior ou menos proporção. Eis que quase em todo mundo, e talvez a culpa não fosse os sentimentos ciumentos dos complicados seres humanos e seus recalques, defeitos e preocupações. Que nada. Foi na fragilidade do que ainda não é que me dei conta que uma ansiedade, mais outra e ainda centenas vão afundando aos poucos o caiaque de felicidades possíveis noutros mares, vencendo ondas gigantes, ganhando terras à vista e demais planetas. Resolvi que fechar a boca até que tudo esteja nos trinques, dentro dos conformes imaginados e com um sorriso de orelha a outra, responderia apenas com o básico questionado, narraria banalidades do dia-a-dia, iria a fundo no passado, mas deixaria o futuro como assunto pra daqui um tempo (quem sabe, quando for presente ou pretérito perfeito tiver se tornado - muito melhor, não?).

Iniciei um diário, saí pra caminhar, pensei em mil outras coisas, marquei médicos, liguei para alguns queridos: tudo para preservar a sanidade do que está por vir. Sem manchas, arranhões, outros olhares, e o peso da opinião alheia, fechados a sete chaves todos os meus downloads da alma que estão bem encaminhados e em processo, mas não merecem ainda entrar na ciranda das boas histórias ou das tão perguntadas novidades. Quem sabe um dia, saber ser sozinho e se manter são e salvo da versão prolixa de nós mesmos, tomados pela força de um silêncio que muda ao invés de uma fala que promete. E surpreenda. Felicidade é também um estado contínuo de quietude madura.

domingo, 24 de junho de 2012

Me escreve qualquer dia desses também




Há pessoas que confiem nas fotografias como símbolo de memórias salvas para a posteridade. Outras apaixonadas por vídeo e o movimento de se filmar algo em que já se colocou o olho anteriormente, desd...e momentos marcante a uma manhã inútil e sem data a se lembrar num desses domingos meio gelados, como hoje. Minha paixão é pelo texto. Represento os malucos por bilhetinhos, frases salvas, escritos apressados, cartinhas surpresas e coisas do tipo. É esse o meu recado pra que eu guarde além de lembranças, mais letra e papel daqueles que entopem meu coraçãozinho de um pouco do bom dessa vida.

Me escrevam qualquer dia também, eu peço. Pra que eu deixe numa caixinha dessas cheias de papel de carta, correspondência e fotos antigas. É o desejo mais profundo: larguem na minha bolsa, dentro da mala, no bolso do casaco, ou mesmo em mãos - a emoção de ouvir um "lê quando chegar em casa" quase foge de explicações verossímeis - misto de inquietação com curiosidade, e um quê de adrenalina por apenas até então imaginar o conteúdo em letra script, garrafal, emendada, tremida, lacrimejada, apressada - contudo, solidificado na assinatura de quem descreveu alguns sentimentos, rememorou histórias ou confessou aquilo que ao vivo seria impossível.

Pode ser postal, em folha de caderno, até mesma escrita por máquina tipo Olivetti ou no computador. O que conta é a disposição em fazer parte do meu baú de retalhos do que já se passou. Pelo correio, debaixo da porta, após uma crise ou em formato de dedicatória de livro (aceito, não nego). Se for tamanha a dificuldade, que se comece com um bilhete curto, pedaço de música, palavras desconexas, trechos de boa literatura. Escritas no horário de almoço, ou acompanhada de um saboroso café, na mais completa companhia de uma solidão que coloca na força da mão que imprime na celulose aquilo que merece ser dito, porque é de atitudes pequenas, detalhes ínfimos e delicadezas do tipo que o amor se suplementa.

Me escreve qualquer dia desses também, vai. Pra aumentar a minha coleção daquilo que eu mereço mostrar pra filhos, netos, imprensa, meus medos infantis e desconfianças quase sempre paranoicas, de tão infundadas. Ajuda na fuga pra um espaço onde dê pra se lembrar sem cair no clichê de salvar em pen drive e HD o que merece, antes de qualquer coisa, espaço especial na nossa nem sempre bem treinada memória, berço de uma velhice louvável. Contribui para o clarão de felicidade ao reviver, mesmo que em pensamento, aquilo que um dia brilhou de maneira tão forte e que sempre quando aberto o envelope é capaz de dar estalinhos de luz, sorrisos de reconhecimento e peito feliz sempre que os olhos passarem a grafia única e borrada, meio torta, de forma e bonita porque sentimental é aquilo que corre no sangue: da simplicidade de uma carta de amor (ou não), se alimentam sonhos, uma cidade, a fome da gente - inesquecíveis reciprocidades.

sábado, 23 de junho de 2012

Quando a bondade é demais, a mulher desconfia

 





Certo, partamos do princípio: homens querem se apaixonar. Ter alguém, encontrar a mulher certa, aquela que dê um colorido mais romântico à uma boa parcela de alguns dos melhores momentos da vida. Saem, conhecem garotas, se apaixonam - nem sempre dá certo, até que pinta: ela olhou bem pra ele, e deu o sinal vermelho. Ele sentiu atração, e ultrapassou as barreiras que limitam o contato. E então toque, química, papo bom, beijo tímido, beijo ardente, sexo, encontros frequentes, horas maravilhosas gastas em conjunto, afinidades mil e pronto, nasce um amor que pode durar cinco semanas, oito meses, ou até mesmo, anos e anos. Se não houver uma bondade dessas de tão ensaiadas, teatrais. De quem comete erro e tenta colocar pra debaixo do tapete porque não sabe muito bem o que fazer com uma impulsividade que outra mal canalizada. Aí, então, um desses amores feitos um pro outro quando em multidão que nos fazem pensar que o nosso pode ser sem graça, sem sal, rotineiro e simples demais. Só que não, gente.

Conhecia um casal em comum. O cara viaja bastante, trabalhava em horário comercial, parecia um pai de família exemplar. Adorava presentear com itens carésimos, ligava de hora em hora para se certificar que sua senhorita estava ali, e fugia de qualquer suspeita de ser um traidor barato, desses que deixam estampado na cara que não valem lá muita coisa. E traia. Enquanto fazia super bem sua personagem de marido dedicado, deixou alguns rastros que fizessem com que a mulher descobrisse e, depois de algumas taças de vinho, foi intimado a confessar. Assim como um ou outro que vive deixando recadinho de amor perfeito em mural de rede social, entope o perfil do casal de fotos dos momentos bons, mas oprime, xinga de barbaridades, dá em cima de outras quando sozinho entre outras ridiculices. Por essas e outras que, quando a bondade (assim como a esmola, e a felicidade) são demais, natural é que a mulher desconfie.

A raça masculina cai de amores também, só que é diferente: nos detalhes minúsculos, nas declarações de uma frase numa noite em que se menos espera, nos cuidados quando adoecemos, na preocupação se chegamos bem ao trabalho, ou em aparecer uma vez que seja durante o ardiloso dia onde trabalho, academia, faculdade, jogos de futebol, camaradas para nos deixar bem, ouvir a voz, soltar um elogio qualquer porque a gente precisa de amor diária e para nós (mulheres) é importantíssimo. Porém, enquanto sentem e tudo está bom, não reclamam, assim como nem sempre nos enchem de mimos. Portanto, segue a minha teoria: homem bonzinho demais é mais ou menos como Papai Noel: a gente quer muito, muito acreditar. Mas e tem como não suspeitar de tanto presentinho sem ocasião, jantar caro, mil ligações por dia e tamanha perfeição? Como integrante do sexo frágil, possuidora de uma intuição dessas que raramente falham, eu acredito que não. A pulga atrás da orelha logo se transforma em minhoca filha de uma paranoia que não cansa nunca de suspeitar de tudo e todos. Logo, prefiro um atrapalhado apaixonado de vez em quando que siga a sua natureza de homem e demonstre quando convir, ao invés de a cada hora.

A vida amorosa provinda do planeta de Marte é simples: sem apertar muito nem afrouxar, com bastante espaço para criatividade, falta sentida e mimos ocasionais, sobrevive. Cresce. A conquista precisa ser sempre um componente vivo e inalcançável para que a atenção masculina centre em nós (ao menos de vez em quando, ou melhor, nas vezes em que o video game não funcionar ou estiver longe). Quem gosta de detalhes, amor incondicional e 24 horas, romance de cinema somos nós, as meninas criadas assistindo Disney e suas princesas em fica cassete. Pura esperteza de rapazes que aprontam e conhecem bem o perfil de ladies femininas como nós para tentar camuflar o erro. Meu alerta não é uma inveja mal exposta para casais apaixonadamente felizes, até porque, isso também sou eu. E sim, para que o olho esteja sempre aberto a demasias despropositais que não cabem geralmente no comportamento habitual de todos esses homens magníficos, queridos e adoráveis e que erram mas, que não deixamos de amar em hipótese quase nenhuma. Direto, mas cordial, e nunca esquecido: se simples, mas sincero, muito melhor que cheio de floreios falsos que nos enganem. Na medida certa da pieguice dos amantes, não existe não preferir.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Tudo uma questão de reciprocidade




Converso com amigas, recebo e-mails de leitoras, observo os relacionamentos de quem me rodeia. E constato cada vez mais: elas estão insatisfeitas. E cheias de ricos motivos que, uma hora ou outra ou fazem largar de mão, ou ter um acesso de raiva, ou simplesmente sumir. Porque a vontade é exatamente essa: de uma falta sentida, nem que fosse. De voltar a ser protagonista onde, tornou-se de musa, para nomeada namorada e agora então, quase fantasma nos dias do homem.

Estariam as moçoilas de tempos como os nossos se doando em demasia? Não. repito e digo: não. Noto uma tendência cada vez maior ao amor, amor bom, amor sincero, amor real e duradouro e diminuições drásticas de piriguetismos ou libertinagem - claro, a geração dos filmes Disney dos 90's fizeram nascer um bocado de meninas cheias de sentimento pra se tecer. Elas querem ter alguém. Sempre quiseram, mas a vergonha em admitir que ser sozinha não é tão legal como parece diminui num cenário geral onde é feliz quem compartilha a felicidade (a dois). E quando aparece o príncipe encantado, o cara dos sonhos, o amor da vida, se jogam numa entrega louca onde, mais tarde, veem um sapo acomodado enquanto se sentem culpadas e se perguntam: mas aonde foi que eu errei?

É, ela errou. Porque os dois foram muito rápido e quiseram muito ficar o tempo que desse juntos e no começo era maravilhoso, no meio das contas era bom, e no final, acabou sendo acusada de sufocamento - a última das intenções, saibam vocês. O que era recíproco, foi se tornando vagarosamente papel dela no relacionamento que era dos dois: não mando mensagem pois estou ocupado. Não te liguei porque o dia foi cheio. Amanhã não dá porque quero descansar. Hoje não tem sexo, tô morto. Você não tem amigas, não? Carinhoso? Eu sou homem, não preciso dessas coisas. Para de chorar, chega de drama, sai lágrima de ti por tudo. Faltou um pouco de amor próprio da parte da cega apaixonada, sem dúvida nenhuma. Mas a vertigem de um sentimento até então novo, profundo, arrebatador faz dessas coisas mesmo, e o que gosto de ver é que não existe pudor em admitir que errou mesmo, que a paixão é meio culpada, mas ela é também, oras (assim como é ele, que não admite também, é obvio).

E vai doendo. São muitas: basta escutar histórias no ônibus a caminho da faculdade, a mulher da limpeza no meu trabalho, ou minha própria chefe. Colegas de aula, amigas de anos, eu mesma de vez em quando. Elas querem fazer durar enquanto eles não fazem a mínima questão. Detestam discutir a relação, é chato. Se abrem menos que que um furo mínimo de agulha, os machões. Acham que se esforçar, minimamente que seja para resgatar os ares de começo de amor não é necessário, é coisa de mulherzinha e que, se tudo anda desandando, a culpada é aquela louca, ciumenta, pegajosa - quando não dizem coisa pior...

Cansa remar sozinha numa maré de desfortúnios onde a culpa pertence sempre ao lado feminino. Nada justo se conformar em estar no lixo junto às outras tantas baixas prioridades numa vida onde já se teve destaque. E ela chora, e pede, implora e tenta; em vão. É clichê, mas de tanto amar, morre o sentimento pelo coração: muita água pra pouco adubo. Esforço demais para planta que se recusa a dar flor. E espinha, espinha, espinha (podendo apenas renascer se por vontade própria, muita luz, sombra, e doses homeopáticas de água fresca).

domingo, 17 de junho de 2012

Toda mulher é um pouco muito de Leila Diniz

 




Conheço de Leila muito pouco pra quem é jovem da época de agora: alguns poucos filmes, entrevistas assistidas em várias e várias partes, depoimentos sobre e coisas que disse a icônica atriz antes de vir a falecer, numa dessas viagens da vida, voltando da Austrália, na Índia.

Jovem, se foi pensando ser imortal para viver muito ainda de amores – que em morrer, Leila não queria nem pensar. Quebrou a barreira de anos e anos de preconceitos, com seu barrigão grávido em plena praia, suas frases enraizadas de acidez e sinceridade, na falta de dom ao tão defasado (hoje) matrimônio. Foi uma das amantes do cafuné, estrelas do amor livre, simples, honesto, e sem os clichês, tabus e fantasias que nós, as pessoas, injetamos em boas doses no cerne do relacionamento.

Por isso que reafirmo a letra de Rita Lee, com um pequeno reforço: toda mulher é um pouco do muito que foi Leila Diniz. É aquela sozinha, que de solitária não tem quase nada, tão bem que se dá consigo mesma. Apaixonada pela arte do sexo e dos benefícios do fazer amor, de se compreender a carne como um desses desejos urgentes, a labareda fulminante que capta a fome da alma. Professorinha na arte de quebrar a cara e não fugir da raia, nunca arrependida daquilo que abandonou no meio do caminho por problema, neurose ou preconceito. Leila, assim como todas nós que não negamos a raça, sabia que o amor é uma coisa que depende muito da gente: requer cuidado e limpeza diária, é um desses objetos que a gente gosta muito e morre de medo que quebre.

Receitava ela própria muito mais ginecologista que psicanalista – numa alusão de que a trava feminina antiga era, na verdade mesmo, as mulheres dividindo a mesma cama com a vontade própria e a opinião da sociedade e alheia. Sobre seu modo de vida, nunca fez o menor segredo: foi livre. Com a saúde mental perfeita de quem não evitava o amor nunca, nunquinha. Porque Leila era mais carne que osso, atitude que silêncio, autenticidade ao invés da regrada vida bem indicada pra moças em época de ditadura. Abriu portas por onde hoje a gente desfila, trajou vontades impetuosas; mas também estupendas. Pra época, extravagantes.

Quatro décadas mais tarde, estamos aqui nós imaginando na senhorita Diniz uma boa amiga, a meio louquinha que nos daria conselhos insensatos que fariam o maior sentido apenas quando levados em consideração. Libertina, transgressora, mulher de muitas verdades incontestáveis que hoje a gente quase aplaude, tamanhas. O Brasil aprendeu: porque as "leis" tem que ser próprias. Cada uma território, ilha ou mar de si. Uma aula de ser única e como fazer história, mesmo a trajetória interrompida de quem ainda muito bem faria à cena tanto passada como atual.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Os dodóis




Quando eu era pequena, lembro que antes de dormir precisava sempre de uma histórinha pra embalar o sono. E o abajur ligado. Vez ou outra, interrompia o pai ou a mãe, ou o vô ou a vó e dizia: olha, tem um dodói ali. Dodói na verdade era o reflexo da luz que batia na parede e formava quase sempre ou um ovo, uma bolinha, alguma forma que parecia um machucado no concreto pintado. E sumia. Dodóis hoje são pra mim todos os homens quando adoecem: quase morrem, esfalecem no sofá e clamam a dor, murmúrios no lugar da fala, pilhas de roupas, chinelos felpudos e todas essas coisas que os fazem parecer de novo criancinha como era eu quando acreditava que os muros da minha casa tinham alguma doença e como passava rápido na manhã seguinte.

Porque são assim os homens doentes: praticamente param a vida. A gente vai lá, toma um remédio, outro, dois, e segue o baile do dia: trabalho, terapia, faculdade, depilação, trânsito, às vezes filhos, janta, limpeza, compras e tudo bem; descansamos o corpo de noite, que estará podre e se obriga a melhorar para ter saúde já no outro dia. A voz pode estar rouca, a febre, altíssima: não diminuímos o ritmo. Queremos colo, sim. Nos cuidem, enlacem quentinhos, mimem com mãos passando entre as mechas do cabelo e comprimidos dados antes do jantar.

Igual, ainda assim, nada se compara à enfermidade masculina: quase faltam o trabalho, se preciso. Nos desejam como enfermeiras ao pé da cama - sabe se lá se numa fantasia de serem bem tratados quando não conseguem carregar em si a culpa por não ser super herói por um único dia (e são em quase todos). Precisam de horas e horas de sono, quem tire a febre, faça comidinha, e permita que voltem à infância por um curto período que seja, tapados até a cabeça, pézinhos com meia e com a gente sentadas na cama esperando que coloquem a capa de volta e voem pra salvar a parte do nosso mundo que ficou meio em slow motion durante o período de doença.

Nessas épocas mais geladas, outono agora e inverno mais tarde é que os dodóis aparecem: feito aqueles que iluminavam os quatro cantos do meu quarto de menina. Rasteiros, chamativos, aclamadores, sem ter como ignorar. Mas passageiros. E confesso: que até certo ponto, gostamos de dar carinho e fazer massagem, remediar, fazer compressa, indicar médico e todas essas coisas porque salvar de vez em quando acaba sendo bom também; se sentir útil é um mar de rosas, e médica de plantão, ou qualquer que seja a denominação desses caras tão fortes pra matar barata, abrir pote de vidro, subir em telhado e arrumar eletrônicos, porém frágeis quando doentinhos, vale quase por salvar uma cidade do grande vilão desses tempos: que a indiferença, já à solta, permaneça longe dos poros que nos fazem transpirar de tanto amor e compaixão.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Feliz

 
Toda vez que vou escrever seu nome e, sem querer, digito a palavra feliz dou um desses sorrisos bobos de quando a gente a recém se aproximou e não sabe ainda o que sente. E já durava mais de anos essa história nunca completada, a ansiedade de esperar a cara de felicidade recíproca assim que a gente se encontra, a efusividade de acordar num dia que já promete já ter valido a pena por começar - só pelos minutos matinais onde a gente se arruma, toma café e se vai pra vida tendo noção da sorte gigante de ter um ao outro indendente do relacionamento que só se firma agora, se divertir na maioria das vezes, ser amigos além de enfim namorados, confidentes, uma bela dupla de dois, um desses tantos casais que tenta deixar na tangente rotina, problemas, maus entendidos e essas coisas chatas que tentam sempre destruir aquilo que tem dado tão certo e quase sempre ganha nota máxima: esse sentimento enorme, incongruente, cúmplice e que a cada dia ganha mais uns pontinhos, centímetros, estrelinhas e um tantão de mim.

Mesmo tão e tão diferentes, é inegável o quão enriquecedora se tornou a minha vida desde que eu decidi entregar os pontos, que eu queria, muito e que era você e deu, e eu perguntei se era o seu número, e sim, e sempre foi desde lá o grude a cada final de semana, as poucas horas (às vezes minutos) pra se ver nos dias de folga da vida burocrática, o que eu posso chamar de, as melhores noites existente, até então – muito mais divertidas que qualquer festa, jantar, cinema, teatro e chocolates suíços: também ótimos, mas se pudesse, a escolha seria sempre você e o empurrãozinho pra sair do elevador. Você e o abraço apertado porque sinto muito frio no inverno, o sono infantil que tenho adoração em admirar, a paciência maior de todas com essa minha energia que não cansa, impulsividade que não desaparece, a brabeza de vezenquando.

Eu quero mais, lindo: mais de a gente na frente da lareira, pra fugir do frio. Dando pipoca pros peixes, tartarugas e pombas do Parcão, rindo das figuras que nos aparecem nos festivais, imitando um ao outro sempre pra descontrair, discordando de vez em quando pra saber que tá tudo certo, dando beijinho pra sarar quando o outro se machuca, passeando de carro quando o tédio ataca, caminhando pelo bairro enquanto a gente conversa, secando as minhas lágrimas quando aparecem, com beijo pra comemorar gol do time, colo e mimo e esses detalhes tão pequenos de nós dois que fazem boa parte da minha vida feliz (continua nela sempre, por favor mesmo que não haja mais um relacionamento sério que nos una, que fique a cumplicidade de anos de convivencia sem saber o que nos guardaria no futuro e agora é presente. Esse é o humilde pedido de uma orgulhosa praticamente incurável). É o meu resumo, que eu corrijo sempre pelo celular ou no computador: feliz. Por ter alguém tão maduro, adorável e irresistível ao meu lado. E ser recíproco, mesmo que cada um da sua maneira (a minha, exagerada, porque afirmo e não nego meu lado brega e apaixonada; a sua racional, masculina, mas tão surpreendente e discreta, quando também forte e que eu tanto gosto). Feliz dia de nós dois. Meu lindo.

domingo, 10 de junho de 2012

Doa-se intensidade (nesse guichê)


Primeiro, que dói mesmo - em mim, quem convive, quem é diferente, naqueles que não sentem a fundo e no mesmo pique elétrico. Segundo, que por aqui anda transbordando (e que preencha essa minha sobra a vida daqueles regrados, céticos, frívolos ou racionais que precisam de uma pitada de emoção pra colorir os traços do dia-a-dia.

Choro sempre, desde uma inexistência de motivos que me façam sentir um vazio ilusório, até com propaganda de dia das mães. É sentar, e pensar, pra então sentir e se ver emocionada ou porque o momento é lindo e meus olhos enchem d'água, ou as ligações mentais me fazem ver o lado nem tão bonito assim, e dão o start num pranto que soluça, para, volta e sofrega de novo. Travesseiro úmido, roupa também, rosto inchado e uma dor de cabeça do cão que só passa se remediada. Ou seja: choro muito, penso pouco, sinto como se tudo transbordasse. É assim, sem farsas nem travas - eu permito mesmo parecer frágil de vez em quando, pena que por esses dias tem me acometido com frequência.

Uma ofensa banalizar a minha tristeza. Recorrente, sim, mas nem por isso também menos dolorosa (ou valorosa, enfim). É tudo tão quente que no calor do momento às vezes a dor, a grosseria, ou a indiferença recebem em troco um choro quase infantil. A vida anda difícil, e o povo sabe. Eu só queria um abraço pra desacelerar essa loucura que é a mente maquinando a mil pelo Brasil, o coração tum tum tum tum - quase virando do avesso - a água salgado que cai dos olhos, e cai e pinga por tudo (e não me faz mais menina e menos mulher, como alguns dizem e muitos outros pensam: faz de mim humaníssima. pessoa em estado puro, à flor da pele que fica quase rosa, tanto que se lava).

Sinto muito, mas eu choro. Porque se intensa é assim mesmo: só quem é também reconhece de longe a importância de cada momento como se fosse o último. O ódio de hoje à noite, que adormece febrio para na manhã seguinte acordar cheinho do mesmo amor de antes. Viver de momentos. Segmentar a vida em horas ruins, tardes maravilhosas, noites inesquecíveis (outras nem tanto). Seria bom se esse negócio de guardar mágoa, rancor ou prologar as pazes feitas fosse esquecidos dos mecanismos da mente de todos. Passassem então a sobreviver no now or never, no love ou leave pra sentir como é querer muito e querer agora, pra daqui a pouco se aquietar, numa autonálise das cabreiras ou embravecer com ação fora do roteiro que invade a tela da vida da gente.

Poderia ser tão mais simples se aceitassem a troca de um pouco de razão por um punhado cintilante daquilo que pulsa as veias e intensifica os dias, dá vazão ao sentimento e faz dos atos nobreza, de um abraço apertado o final da choradeira toda, de elogios, um refúgio contra crises e pormenores que a gente aumenta de dimensão, dos relacionamentos, preciosidade: o amor é mesmo o objetivo da vida. Da forma que for, do jeito que existir, entre quem florescer. Doa-se um pouco dessa intensidade, porque antes de querer enfeitar a vida, é preciso sobreviver. Ou endurecer.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Presentes que namorada nenhuma quer ganhar dia 12


Balança - Ainda mais se ela não estiver em boa forma. Fica fácil levar um presente desses como ofensa ou indireta, mulheres quase sempre estão instáveis e insatisfeitas com o peso, ou seja: dê uma balança só se ela for BEM magrinha, sarada, ame academia, frequente muito e o objeto for bem delicado e feminino. Daí, quem sabe, sai de um dos piores presentes para se tornar um tanto faz. Livros costumam ser uma boa pedida.

Roupas no tamanho errado - A não ser que você saiba muito bem o número que sua namorada use de sutiã, calça, vestido. Porque é fácil ir no olhômetro e errar, muito fácil. Se presentear com o tamanho menor, ela vai sentir que precisará emagrecer - a indireta, mais uma vez - se for de numeração maior do que a que ela usa, vai pensar que você a vê gorda. O impasse é grande. Por isso, fique sempre com maquiagens.

Meias - O que passa o namorado que presenteia com um par de meias? Que, um: não conhece bem a mulher que tem ao lado. E dois, faltou tempo, faltou vontade e pode ter faltado até dinheiro (mas gente, uma flor é melhor que uma meia. Juro!). Bem melhor dar alguma bijouteria (observando, claro, as que ela costuma usar. eu, por exemplo, não uso prateado e sou alérgica ao que não for folhado ou ouro).

Utensílios de cozinha - Mesmo que vocês morem juntos, é uma péssima pedida. Vão por mim. É um sinal nítido de que, para você, ela é quem deve pilotar o fogão sempre - e não, não achamos isso sensual. Pior ainda caso o casal viva separado. Não tem como não se sentir mãe ao rasgar o pacote e se dar de cara com uma batedeira, grill, luva e avental. Péssimo. Que deem sapatos então, oras!

Qualquer coisa parcelada - Vale para ambos os sexos. Porque nunca se sabe o dia de amanhã e, dar presente carésimo em mil vezes no cartão não costuma ser uma boa ideia pois, hoje em dia, os relacionamentos acabam num piscar de olhos (ou melhor, num click) e você é quem vai ficar bancando aquele celular bacanão, notebook ou joia. Dá pra dar algo de preço razoável, de coração, e simples.

Vale-presente - Tava tão sem ideias assim? Acho terrível e não gostaria de receber. Pô, a ideia de se presentear alguém carrega a tarefa de achar algo que lembre a pessoa, o seu jeito, a própria autenticidade. Portanto, se tá sem ideais, até uma caixa de chocolate é melhor que R$50 ou R$100 reais em uma loja qualquer.

Joguinhos eróticos - Desses que tem pra vender em lojas criativonas ou sex shop. Sei lá, eu acho cafona pra caralho. Acho que pra sentir prazer, sinceridade basta. Tesão ajuda muito. Esses jogos, pra mim, são pra casais adolescentes que não sabem ainda muito bem o que o outro curte ou não no sexo e acha aí uma tentativa de descobrir. Baralhos, jogos com dado e coisas do tipo, com tapa-olhos e pena ficam bem over na minha lista. Que fiquem então com kama sutra divertido ou alguma fantasia bacana pra surpreender o gato, essas coisas (como complemento do presente, claro).

Um par de chifres - Trair, ou escolher algo com "a outra" nessa época do ano é imperdoável. Por mais que não descubramos na época - nessas semanas ou daqui um mês - um dia, podem ter certeza, rapazes: a gente sempre descobre. Porque mulher é bocuda e conta pra uma outra, que fala pra uma amiga que conhece uma parente nossa e nos diz. Entendeu? Nunca vai ficar só entre os dois, nunca mesmo. Aliás, esse é o pior presente que qualquer mulher espera na data comemorativa (ou não) que for. Se está há infelicidade, DEIXE, íntegro e antes de cometer coisa pior, por favor. A gente agradece.

Nada - Não dar nada é a pior coisa. A data é muito mais celebrada pelo comércio que por quem namora mesmo, isso é verdade. Mas mulheres ligam pra essas coisas, e não adianta, não tem muito papo, não. Até as que se fingem de duronas e superiores na verdade se não receberem nenhum mimo ficarão sentidas, sim. Flor não é coisa tão cara, nem uma carta ou cartãozinho com várias coisas que o cara sente. Passar a noite juntos também, pode ser uma grande coisa. O que não vale, para quem é comprometido, é deixar passar em branco

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Agonia





Estava ela agora sentada se balançando, os braços entrelaçando as pernas, dobradas. Inquieta, vai e vem enquanto espera ele vir. Um beliscãozinho pra ver se não passa do pior pesadelo em meses. Doeu, ou seja: é real, não. Esperar dentro de casa no choro compulsivo se tornou insustentável, precisava do ar da rua, de alguma ilusão que fizesse os minutos correr e ver ele logo, desabar nas palavras toda agonia que escutar um "estou confuso" gera na cabeça já um tanto conturbada de uma mulher.

Era preciso que entre o apertão no braço que dirige uma conversa tudo fosse extirpado da boca de quem precisa mesmo, e não tem vergonha de pedir, até porque, veja bem: meu momento é o pior já existente, não nos deixa assim a troco de nada, por favor, esquece a ideia de ser capaz de me largar à mercê na vida de lágrimas escorridas e peito quebrado. Que tinha feita para, em poucos dias, algumas horas, esmorecer de certeza a mera dúvida? Não entendia, não entendia; suplicava: diz que é um pesadelo, me acorda disso onde a gente errou de forma tão cega que não percebeu transformar prazer em obrigação.

E no caminho ele apertava forte, beijava o rosto úmido do pranto torrencial, reacendia as luzes de que por mais que a vida estivesse difícil, o tempo apertado, a rotina massante, era impossível abandonar aquela que a tirava do tédio toda vez que simplesmente aparecia, feito milagre pequeno que bate na porta e a gente escanteia para o vizinho, algum orfanato, qualquer outra pessoa. Eu preciso de ti, ela dizia, porque eu sei que aumentei demais o pedestal, me perdi dentro da própria vida, só que não sei seguir sozinha. Tá tudo bem, ele respondia. Fica calma, para de chorar, pô. É só uma fase, a gente consegue atravessar isso, só disse o que tava sentindo, sabia que você ia ficar assim, não fica mal por favor mas eu precisava falar, se não nunca ajustaríamos o que anda de errado, não teríamos chance de melhorar.

Quase calma, ela sorriu um pouco. Voltava a chorar de vez em quando. Era TPM, e com certeza, todo o drama explodiu na semana errada, menos propícia entre outras tantas. Que ela era assim mesmo, já transitória entre os vários sentires por dia, mudando muito mais o humor que a roupa antes de sair. Como única convicção, todo amor do mundo, capaz de teletransportar pra um planeta distante, plantar duzentas mil árvores de felicidade e oxigenação, germinar nela a mais bonita de todas as felicidades que já se permitiu. Agora já um pouco desmatado, nublado de incerto, confuso pra quem nunca nem imaginou pensar de tal forma. Medo no meio da noite, abraço apertado, "eu te amo" mais sincero nunca escutado antes. Alguns maus sentidos devem vir para bem também, refletiu. Ainda sem saber se compra uma passagem e muda a vida pra Buenos Aires, seguirá a conviver não com um homem, mas sua forma emotiva e irracional em ponto de interrogação, ou tudo fará bem, repete: vai passar e tudo ficar bem, seja o jeito que for, da maneira que der, como conseguir. É só o que pode. Deve.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Mulheres são feitas de detalhes



Fica um pouco de mim num bilhete perdido propositalmente embaixo da carteira dele, na rubrica daquele memorando, no ritual passo-a-passo do perfume antes de sair (atrás das orelhas, nos pulsos, uma borrifada no colo e pronto: a rua que esteja pronta pra mim), no passo apressado pelas ruas ainda cedo, cor do esmalte escolhido, voz no telefone, nessas pequenas ordens cotidianas e comportamentos singularmente estranhos de cada um de nós.

É simples que alguma coisa soe estranha durante pensamentos aleatórios no meio do dia: se o cabelo não colabora, a roupa parecia boa antes de sair de casa, mas na verdade fora mal escolhida para a ocasião, começa a chover e guarda-chuva é apenas um desejo profundo - assim como tomar café, ler um livro, dormir uma horinha ou todas essas coisas que repicam leveza na existências humana. Mas nada funciona se cada uma dessas pequenas coisas estiverem alinhadas, os 98% de êxito são tão pouco para os outros 2% que podem ser uma mensagem com elogio, promoção no trabalho, aquela proposta que se sonhou por meses, uma viagem relâmpago - sonhamos alto, talvez. Queremos muito e possuímos uma insatisfação feroz, atenta, vivinha da Silva.

Esmiuçamos situações, revemos mentalmente conversas, ensaiamos futuras falas, dizemos frases que querem dizer outras palavras, que na verdade, tem outros sentidos. Um "mais" esquecido depois do "eu te amo" e o surto de desespero e insegurança tem uma presa fácil. A falta de um elogio quando a roupa é nova, o corte de cabelo a estreia da semana ou o feedback de um presente, carta, bilhete, mesmo que tardio ficam tão grudados na nossa mente como um post-it paranoico quanto aquela ofensa em briga irracional, já falsamente superada.

Se somos o casaco descombinado para casar bem com o sapato, o coque mal feito de propósito, um abraço apertado na cozinha, o silêncio contido de quem precisa se expressar e não sabe como, o choro soluçante de quem desaprendeu a viver uma vida que funcione, a cara amassada de acordar, tatuagem escondida em lugar estratégica, jeitinho de beber na xícara, a estabanação ambulante; o olhar fundo de quando o desejo de uma conexão maior ainda, as frases marcantes que são todinhas nossas, gírias improvisadas, alimentos que detestamos, as histórias da infância, todas essas particularidades assumidas que nos fazem além de autoconhecedoras próprias, de identidade; humanas.

Pensa bem quem para por alguns minutos e se permite flutuar como o outro: muito mais que jóias caras, vida de luxo, carro importado, bíceps definido ou um cara de estilo do lado, cuidem dos nossos detalhes. Alimentem nossos sonhos com sinceras - mas ponderadas - opiniões, bilhetes dentro da mala, eu te amos mais gostosos de se escutar ao pé do ouvido para dormir levinha, suave, em paz. Permitam-se navegar nesses nossos baús de memórias lotadas daquilo que a gente planeja esperando que alguém venha com uma lupa paralisadora e, veja. Notem os detalhes, o cuidado das palavras postas na mesa, as unhas e depilação em dia, o que ela diz e prefere não falar. Não precisa ser sempre: sendo de vez em quando a felicidade começa a existir, se torna fácil manter aceso um desejo de melhoria constante (que movimenta o mundo, as relações humanas, nós todos e quem vem a seguir).

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Quem não quiser mais, que deixe: em paz




Uma amiga, quando se sente insegura dentro do próprio relacionamento costuma fazer uma mesma pergunta pra mim, sempre que o barco balança: e se ele não quiser mais saber de mim? Aí, colega, eis que a vida vai continuar, trato de dizer. Segundas-feiras continuarão sendo massantes, por mais que a gente não saia da cama. Pragas de mãe continuarão a ser nossa mais temida assombração, assim como o "eu te avisei" que vem sempre depois e as contas logo que um novo mês se inicia. Os ciclos do amor vão continuar, e convenhamos: se o cara desistiu assim tão fácil no menor sinal de turbulência, talvez fosse um babaca, certo? E se caiu fora mesmo de vez, que cedo se vá.

Livres de sermos deixamos a sós não estamos nenhum de nós, que respeitam um amor ainda em formação ou zelam pelo compromisso firmado. Ele pode se apaixonar na fila do pão hoje mesmo e querer fugir pra Boston, pode mesmo. Assim como você tem alguma mínima chance de esbarrar sem querer no amor da sua vida, na razão da sua existência, ou numa tórrida paixão que a deixe cega, mas enfim, iluda. Meu pai pode deixar minha mãe, sem eira nem beira, nem motivo plausível? Lógico que pode. Angelina Jolie pode seduzir o marido de outra bela atriz e desejar mais do que nunca começar de novo, assim como Brad tem o direito de querer um descanso, uma paz, solteirice ou se apaixonar sem querer, na inconsequência de cometer duas vezes o mesmo "erro". Dizemos sim, usamos alianças douradas, andamos de mãos dadas, mas a loucura humana de alguns segundos é tão sensitiva que foge de explicações plausíveis.

Digo sempre que, sim, ele pode te deixar. Nada impede de uma ligação que toque não somente o telefone mais a mais temível das frases como "andei pensando, e é melhor cada um seguir a sua vida". Nadinha. Ou mensagem. Encontro que começa com "precisamos conversar" e acaba com cada um indo no lado oposto, coração em frangalhos, a dúvida de não saber o que é realmente certo, algumas ou muitas lágrimas pelo aborto indesejado daquilo pra que se tinha tantos planos, uma poupança de sentimento e amor, amor e tanto. Estar preparada é a melhor opção, aconselho. O medo bate na porta de vez em quando apenas pra que a gente não se esqueça da condição vulnerável de todos nós.

Muitos planos na cabeça, felicidade profissional, alguns amigos pra se contar e a família por perto como bálsamo e dosagens de equilíbrio; bom senso e uma racionalização que a gente deixa voar sempre que os pés pedem deixar o chão nessas de se ter o peito preenchido, praticamente tatuado por quem a gente acha que é da gente. Não é. Faz bem de vez em quando esses sustos do amor pra não cair na rotina nem considerar garantido aquilo que pulsa e oscila conforme o momento. Quem não quiser saber mais que nos deixe em paz, oras!

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Se for trair, favor não namorar

 



Pela lógica, trai apenas quem namora. Reúne certa coragem em cometer o carnal e libidinoso ato aquele que não só pensa, mas peca por colocar no plano real aquilo que rodou no lado B da vida, nas fantasias e eroticismos. Sem lógica alguma, vai atrás de uma certa adrenalina, do perigo que faltava no dia, da emoção que sumiu de repente por entre a rotina do relacionamento, e erra. Opinião, um recado, mais respeito: se for trair, favor não namorar.

Fechar negócio nesses lances de amor requer muito querer. Parece complexo, só que na verdade é simplíssimo: quer? Quer. Muito? Bastante. É recíproco? Se sim, acordo praticamente assinado: faremos um ao outros felizes o tempo que for pra durar, as DR's não serão constantes, nos veremos tantos dias durante a semana e vamos tentar manter os amigos por perto, sabe como é - às vezes o barco fura, de vez em quando a curva aperta, e vai saber quando não se é necessário queimar todas aquelas palavras do calor de um momento onde um passa a ser do outro, ao menos na teoria. Ou seja: tendo certeza de que o perfume da criatura é o cheiro mais pedido na hora de dormir, raciocinando conforme os pinotes que o peito dá cada vez que chega a hora de se rever após 48h distantes e qualquer outra pessoa interessante se torna magicamente mais uma que passa, ok. Apaixonados, um ao lado do outro, sendo mais que amantes; cúmplices. Bem mais que apenas namorados: melhores amigos. E é por esse pensamento que não passa a ideia de que adultério é algo que se justifique. Que firmar uma parceria requer aceitação com esses pequenos deslizes. Até porque na prática, o concurso engasga quando a trama envolve um de nós, não é mesmo?

Claro que existem brigas, a distância pode incomodar os mais carentes, existem coisas piores que trair dentro de um relacionamento. Sim, tudo verdade. Nada menor que o amor, porém. Motivo nenhum melhor que ser louca pelo cara que, não é perfeito, mas nos cuida como nenhum outro quando a barra pesa. Desculpa nenhuma mais grandiosa que sumir nos finais de semana porque ao lado daquela moça meio maluca o mundo fica apertado, de tão pequeno. Existe espaço pra outra pessoa quando um casal é na íntegra, inteiro? Eu duvido. Como se sentir decente e boa pessoa, conseguir dormir leve e manter a consciência limpa tendo enganado quem nem ao menos imagina a fragilidade frente a uma (ou mais) tentações? Questão que passa longe do meu entendimento. Está infeliz? Falta algo? Termine. Deixe. Acabe. Sem confiança, não há muita chance de futuro próximo. Livre a pessoa de um amor que nasceu torto e mais tarde se tornará um peso morto, mais um dos tantos problemas diários. Vá atrás de uma liberdade digna e que possa ser aproveitada de corpo e alma, se é isso que o grito interno pede.

Se for namorar, favor não trair. São anos e anos de homens achando que podem tudo só porque são sexo forte e todo um discurso babaca que merece o lixo como trono. O mundo cada vez mais igualitário, o amor real, desses de verdade mesmo, cada vez mais escasso. Preservem seus pênis intactos, meninos (assim como a mente sã, por favor). Mulher é sinônimo de alarde, e mais de uma, dor de cabeça. Que a sensação de fazer algo errado se resuma em trabalhar demais, sumir de vez em quando, estar cansado do papo antes de dormir e esses pequenos deslizes. A gente aceita.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Andressa responde: amiga solteira x amigas que namoram




Olá Andressa! Tudo bem? Sou muito fã do seu blog e sempre que tenho tempo, leio todos os seus textos. O que me fez criar coragem, depois de ver como você ajuda e aconselha quem escreve para você, a “dividir” o que está acontecendo comigo.

Olá querida, tudo bem sim, e contigo? Ó, que coisa boa.. Pois vamos ao problema.

Bem, minha vida mudou muito do final do ano passado até agora. Perdi duas das minhas melhores amigas, por pura bobagem e aquele orgulho besta de ambas as partes. Fiquei realmente muito triste com isso, muito mesmo. Não que eu nunca tivesse perdido amigas antes, o que é algo sempre ruim, mas nunca sofri tanto como nesse caso (ainda bem que tinha outras amigas com quem contar).

Putz. Mas sabe, pelo que tenho notado, tem muito acontecendo por aí. Parece que a gente anda num momento meio de triagem, separar o joio do trigo - ou, quem nos é caro, e quem nem tanto. Acontece, né. Entristece sempre.

Eu nunca tive um círculo muito grande de amizades, e isso não me incomodava, porque acredito que amigos verdadeiros a gente conta nos dedos, como dizem por aí. Só que nesse ano tudo ficou pior: minha melhor amiga começou a namorar um cara de uma cidade vizinha.

Sim, amigos mesmo, a gente aprende que se conta nos poucos dedos de uma mão só. E, como habitual, o drama da amiga que namora, o relacionamento entre as duas que muda, uma parte fica ressentida enquanto a outra não entende e corre atrás enlouquecidamente, essas coisas. É bizarro e nem mesmo deveria existir esse abismo entre quem já foi tão importante pra nós e quem está sendo então (o namorado). Falo como parte de namorada, pois também tenho uma melhor amiga e, sim, mudam algumas coisas mesmo. Quem não vê, se engana direitinho.

Não entenda mal, eu gosto dele e fico realmente feliz por ela ter achado alguém que a faça bem. Mas o problema é que ela começou a se afastar de mim, por sair com ele e mais uma amiga dela que namora o amigo dele. Programa de casais.

Ah, daí complica mesmo. Vocês passaram a continuar se vendo como antes, quase todo dia, se ligando de vez em quando? O assunto dela passou a ser só o cara e coisas do tipo? Acho que você pode ter se sentido um pouco "excluída", o que é normal, mas na maioria das vezes tem como conciliar o momento de estar com uma melhor amiga e outros de se reservar só pro boy. A gente vai aprendendo. Mas se, ela passou a fazer SÓ coisas de casal, mudou contigo e etc, fica complicado.


Outra amiga minha também namora, e a outra está indo pelo mesmo caminho. O que acontece é que eu nem vejo mais elas, não saímos juntas e estamos todas meio que afastadas.

Alguns chamam de vida de adulto, e que aí pelos vinte e poucos anos, começa a acontecer. Se a amizade era forte mesmo, passa por momentos ruins, como qualquer relacionamento (mãe e filha, irmãos, e namorados, também), mas retoma. Volta. Às vezes, até mais fortalecida que antes. Fazer outras amigas, conhecer gente e se ocupar geralmente tem o efeito de despertar em quem anda afastado uma vontade incontrolável de tentar voltar a ser como era antes. Geralmente.

Eu que já namorei enquanto elas estavam solteiras, sempre saia com meu namorado e com elas. Acho pura bobagem quem se fecha no namoro e esquece que existem outras pessoas. Até porque, o namoro não vai durar para sempre, e quando estiverem solteiras vão procurar as amigas que deixaram para trás.

Pois é, verdade. Como eu disse antes: tem como conciliar, sim. Chame essas amigas suas que estão um pouco ceguinhas para programas de dia, de tarde, leves, pra dormir na sua casa, coisas do tipo, que são as mais recomendáveis quando a gente tá comprometida e louca pelo cara. A maioria dos homens não curte que a menina vá em balada com as amigas, como antes (aqui no ES, em Vitória e, os casos que conheço). Barzinho, deixam com aquele pé atrás de não voltar tão tarde e ligar às vezes, perguntar como está e tal. Tente fazer dar certo, sabe. Não se emburre pelo fato de só você não estar comprometida. Como já esteve, sabe bem que tem como dar atenção a todos e ser amada por vários.

Agora me vejo sozinha, sem nem ter com quem ir em alguma festa e ainda tenho que escutar delas coisas do tipo: “Por que você não arruma um namorado?” “Por que você anda sumida?”

Que triste. Acho que, tu pode continuar tendo essas amigas, claro. Mas sempre tem aquela colega da faculdade que é bacana e poderia muito bem sair pra balada. Ou aquela amiga de infância que ficou esquecida, a vizinha de prédio, enfim, quem possa sair conosco e ser uma ótima parceira de noite, de bar, de vida noturna para solteiras. Se você não quer um namorado e nem pintou ninguém interessante, relaxe. Não é porque todas estão compromissadas que se torna obrigação sua achar um cara decente às pressas.

E o pior é que elas não entendem o meu lado... Eu sou bem tímida, não sou daquelas que vão a alguma festa e já saem de lá com um cara. Na minha cidade as pessoas que vão a festas só querem curtição, e nada mais sério. Agora fico nessa vida patética, esperando minha faculdade começar, vendo minhas amigas duas vezes ao mês e sem nem ao menos ter companhia pra sair. Não sei se ficando mais na minha eu estou agindo da forma correta... Não sei mesmo! Me ajuda Andressa?
Obrigada desde já! Sou uma grande fã sua e me identifico muito com seus textos.
Beijos.

Então. Disse antes, mas não custa repetir. É tímida? Vá se despindo disso aos poucos (conselho pra vida, a gente perde muito tempo ficando só com a gente mesma). Sem forçar, mas com vontade mesmo. Arrisque uma frase, um sorriso no ponto de ônibus, conversar com futuros colegas da faculdade que daqui uns dias começa - junto com a vida nova e a possibilidade de conhecer gente interessante e que tem a ver com você. Até é válido tentar uma retomada com as amigas que namoram. Mas aos poucos, com cuidado, e sem muita expectativa (uma hora elas se tocam). A gente vê a solidão como algo assustador, mas nada é melhor do que não depender da vontade, opinião e capacidade dos outros, nadinha nesse mundo. Como a gente, só nós. A forma fica no lixo. Boa sorte, e espero ter ajudado, guria. Um beijo!

Quer enviar também o seu dilema, pergunta, desabafo? Escreve bonitinha pra dessagoncalves_@hotmail.com e aguarde!

Conselhos nem tão sensatos pra vocês homens



Queridos, prezados, rapazes, homens. Tão difícil assim nos entender? Vejam bem, aqui do nosso lado do cabo de guerra é tudo tão transitório que é só fazer sim com a cabeça e não surtar quando a gente explode que tá quase tudo sempre certo: a gente se desespera, mas passa. Guardem os desaforos venenosos e as críticas dentro do saco da raiva e jogue bem longe, no próximo córrego, numa lata de lixo que faça possível reciclar o discurso. Dificilmente somos a parte sensata na hora que o fight pega fogo e cabe a vocês saber que, assim como adoramos os pets pequenininhos, não passamos de um pincher raivoso ou poodle equivocado que mais ladra que morde - pequenas no tamanho mas gritantes na urgência do viver.

Chame pra uma caminhada no parque ao invés de gorda, quando nos questionar sobre o passado, acredite de imediato e não solte nossa mão na rua sem motivo, ainda mais em tempo frio (a cabecinha começa a funcionar à milhão atrás de motivos que expliquem a talvez falta de orgulho ou quem sabe ex que passou no meio das árvores do outono). Expressem de vez em quando algum ciúme, que é pra gente ter certeza de que está tudo no devido lugar, falem nossa língua quando sabem que a chance é grande de magoar e abracem sem medida e nem freio, apertado. Tudo que a gente mais deseja é se sentir necessária porque o dia fica meio torto e incompleto se não tem o coração aos pulos quando está chegando perto de passo apressado. Ou, no lugar de criticar nossas roupas "estranhas", vocês notem quando a lingerie é nova ou a gente fica gostosa mesmo só de pijamão. Por favor, ou é mesmo assim tão difícil?

Ah, se soubessem vocês que tem algo entre as pernas o quanto ser carinhoso com nós, mulheres, na frente dos amigos causa inveja nos solteiros de plantão, tivessem qualquer noção do quanto roda na nossa mente uma frase, um cheiro, palavras rudes de uma briga desnecessária ou elogios no fim de tarde enquanto a louça era lavada, quem dera ao menos a noção do quanto importam os pequenos detalhes como flores vermelhas em datas especiais (é hipócrita a feminina que diz que não gosta), um SMS no meio do dia, chegar no horário porque saber esperar pra nós é arte sem domínio e essas coisas. Bem que podia.

Saiam com os amigos de vez em quando, mas não nos esqueçam pelo resto do dia. Falem de sexo e não deixem cair a peteca (ou, trocadilho, em fim) na rotina. Nos imitem no telefone pra descontrair um pouco, que a distância vai sufocando ao longo dos dias. Detestem aquelas nossas amigas, só que apenas de vez em quando. Sirvam nossos pratos, puxem as cadeiras às vezes e não esqueçam do beijinho assim que fecha o sinal. As broncas, sempre quando a sós, que a gente cuida e se controla muito mesmo para deixar pra lavar a roupa suja em casa e de portas trancadas. Em resumo: nos cuidem. Se é pra ser delicado, que seja com quem a reciprocidade permite - somos a rainha das meiguices, vocês sabem. Tolerem nossa TPM com muito chocolatinho, não nos encarcerem dentro de casa, que precisamos ver a rua, elogiem nosso perfume: nos amem que não existe fórmula mágica, mas sim, tentativa sincera.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Bons filmes para assistir sozinha

 Nem sempre ver filmes acompanhada é possível. Tem dias em que a solidão bate, o friozinho aumenta, e tudo que a gente deseja é uma xícara cheia e quente, cobertas e uma boa história para acalentar o dia. Ficar jogada de humor pro ar num sofá, ás vezes é também uma das melhores sensações do mundo - com roupa de mendiga, a despreocupação soltinha e horas a serem bem gastas. Me pedem muitas sugestões de filmes, então, aí vai alguns dos melhores moldados pelo meu gosto e filtrados na minha singular opinião:


Vicky Cristina Barcelona


Woodt Allen e mais esse filme ótimo que se passa na cidade espanhola e envolve loucura, paixões, acontecimentos inesperados e que nos tumultuam internamente nesse quadrilátero amoroso cheio de artes, conversas pretensiosas e aprendizados que as duas americanas acabam levando de um verão em Barcelona quando de volta aos EUA. Musicalmente, é uma delícinha.



Breakfest at Tiffany's (Bonequinha de Luxo)


Um clássico. Nova York na década de 60, o charme das roupas e da cidade praticamente incorporados em Audrey Hepburn e o épico vestido preto, a pequena coroa na cabeça e o olhar delicado de Holly, a sutil garota de programa que acaba atraindo o vizinho escritor vivido por Truman Capote - enquanto tudo que a moça deseja é o casamento com um milionário da sociedade. Fotografia linda, a cena em que Audrey canta é fantástica, maravilhosa e doce. Sempre ótimo de rever.
 
Clueless (As Patricinhas de Beverly Hills)


Outro clássico que fica no pódio do meu coraçãozinho pré-adolescente e que paro SEMPRE para assistir quando posso - e quando não resolvo locar, sim. Como não amar Cher e sua inexistente habilidade no volante? Alicia Silverstone me encantou pra sempre como a menina mimada do papai que vê que o mundo é muito mais e resolve doar roupas, namorar o meio irmão e fazer os dois professores se tornarem um casal. Assim como a amiga Dione e o relacionamento complicado com o namorado meio maloqueiro, tudo. 90's na veia!




My week with Marilyn (Minha semana com Marilyn)


Atualmente nos cinemas, o filme não retrata a vida da diva, como muitos pensam, mas sim, uma das tantas semanas em sua vida que se envolveu com um jovem britânico, em viagem para a Inglaterra. O filme é muito bom. Assisti sozinha mesmo, já que é considero "de mulherzinha" e coisa e tal. Tem sido bem elogiado pela crítica, mostra como, no auge de sua carreira, tantos conheciam Marilyn Monroe, mas pouquíssimos de fato, Norma Jean. Pra assistir, meninas.



The Help (Histórias Cruzadas)


Mississípi, anos 60. Baseada no homônimo bestseller literário de Kathryn Stockett, trata sobre a forma como eram tratadas as serviçais negras por suas patroas de elite, brancas, nos Estados Unidos da época. Muitas vezes tendo criado as crianças desde bem pequenas, eram desvalorizadas pelas patroas, não podendo até mesmo utilizar o mesmo banheiro de seus superiores. Emma Stone está ótima na pele de uma escritora que resolve contar a história dessas tantas negras praticamente exploradas logo que consegue uma vaga no jornal local. Surpreendente, maravilhoso.

The dutchess (A Duquesa)


Imagine se casar a força. Numa época onde isso é considerado normal, a jovem Georgiana Spencer é nada mais que uma aristocrata que se casa com o Duque de Devonshire, na promessa de lhe dar um filho homem para seguir no comando. Não rola, não consegue. Se vê então, presa num casamento infeliz, com um homem que não ama, e numa sociedade que a julga. O filme é bom, eu adoro esse cinema que mostra a época antiga. O figurino, divino. Vale a assistida, gurias.



Marie Antoinette (Maria Antonieta)


Maria Antonieta de All Star e dançando rock dos anos 80. Nunca viu? Então, assista. Kirsten Dunst num dos seus melhores papéis na famosa história da jovemzinha vienense que veio a se tornar rainha da França. Às vésperas da Revolução Francesa, ela ficou conhecida entre a população por seu desinteresse político, um dos fatores que culminaram na violenta revolta popular contra a família real francesa. Música ótima, doces que dão água na boda, figurino impecável, muito bom. Muito bom MESMO.



Annie Hall (Noivo nervoso, noiva neurótica)


Mais uma vez, Woody Allen. Num de seus primeiros, atua com seus monólogos inteligente e reflexivos nos mostrando as fases de um amor à beira de vários ataques de nervos, ainda antes de se casar. Conhece Annie Hall e seu mundo muda. O filme é de 1977, e rendeu a Woody 4 Oscars, entre eles o de melhor direção (para o próprio, sim). Sendo gênio, com bom humor e ironia, Allen retrata as dores e memórias de um romance que, infelizmente, não vingou. Diane Keaton também está ótima. Assistam!

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Cara de braba

 


Sentei decidida na maca macia. Mole de tanto sono e calor e cansaço. Disse: me tira essa cara de braba se der, por favor. Até quando falo normalmente as pessoas se assustam como se eu estivesse dando sermão. As sobrancelhas, vocês sabem: moldam o rosto, expressa aquilo que dizemos e que não contamos enquanto o protagonismo é da fala, dão sensualidade em algumas ocasiões e também brabeza, quando tão marcadas. O meu caso. Com o ar mais leve, pelos menores e a menos, a alma livre de um semblante de brabeza constante, cara cerrada até mesmo quando o sorriso é interno. Que sina.

Faz mais de dois antes estava emburrada numa dessas festas chatas onde a gente encontra sempre algum insuportável bêbado da faculdade que te aluga a noite inteira, mesmo com os exatos cortões e idas ao banheiro, sumidas no mar de gente. Sentei e fiquei de bode, porque a música era horrível, as pessoas, nada atraentes, papos chatos, lugar péssimo - arrependida: eu, com certeza, poderia estar dormindo. Até que chega sempre outro chato que merece ser chutado, mas com uma frase que me marcou por tempo suficiente que dizia "tu seria a mais bonita daqui se não fosse tão braba". É? É. Mole? Que nada. Continuei na minha pose blasé, vestido preto, sapato vermelho, um copo na mão, bolsa na outra. Você é sempre assim, tão séria? Quando tô na companhia de gente decente, não. Eu, na verdade, só queria sumir dali o mais rápido possível. Enquanto isso o cara que eu (graças a deus) nunca mais vi, o chato da faculdade e o resto daquelas pessoas estranhamente desmotivadoras achavam que eu fazia pose de insuportável, por puro masoquismo ou sabe-se lá o que. Só que não, gente.

Com o tempo, venho me acostumando a escutar frases do gênero. Que pareço xingar quando apenas argumento, tamanha a veemência que gesticulo. Meu gênio forte e olhar observador fazem intrépida, ao invés de sisuda. Daí surgem as variações daquilo que quem mal conhece, juga como arrogância, imperativa, petulante e demais sinônimos que adjetivem minha feição que nem sempre tem a ver com o real estado de espírito interno. Nem mesmo meu silêncio é bem tolerado. Dias ruins se tornam maus entendidos só porque os monossílabos são minha proteção frente a chatices que acumulem ainda mais nuvem cinza sob a minha cabecinha confusa de ovelha negra dessa humanidade. Tudo porque eu tenho cara de braba. E sou mesmo quando o motivo vale a pena, a luta é boa, ou minhas convicções se conservam intactas. Algumas vezes também, verdade, por puro impulso - mas logo o carneirinho teimoso que deu cabeçadas e quebrou a prataria volta a ser facilmente domado, o poço de carinho, afago e um pouco de arrependimento de pouco antes.

Esses tempos, a hostess de uma festa badalada olhou bem para minha identidade (essa sim, seríssima) e disse bem pausadamente, como só as pessoas que tem certeza do que estão fazendo falam que tenho cara de gato. Felina, o animal mesmo. Desses que miam baixinho e são auto-suficientes, de uma independência quem sabe estampada na mania arisca de aparecer apenas quando bem entendem, pra um carinho ou outro, um oi uma vez ao dia, coisas do tipo. Um persa que nem sempre está mas parece exibir o mau humor constante na cara achatada de quem só quer comer do bom e do melhor para depois descansar no solzinho saudável cheio de vitamina D do meio-dia. Se tiver as sete vidas incluídas no pacote, até aceito. Numa dessas vai ver que muda a forma como o resto do planeta me encara e acabo vendo a tudo e todos diferente. Quem sabe.