quarta-feira, 30 de maio de 2012

Mulheres são feitas de detalhes



Fica um pouco de mim num bilhete perdido propositalmente embaixo da carteira dele, na rubrica daquele memorando, no ritual passo-a-passo do perfume antes de sair (atrás das orelhas, nos pulsos, uma borrifada no colo e pronto: a rua que esteja pronta pra mim), no passo apressado pelas ruas ainda cedo, cor do esmalte escolhido, voz no telefone, nessas pequenas ordens cotidianas e comportamentos singularmente estranhos de cada um de nós.

É simples que alguma coisa soe estranha durante pensamentos aleatórios no meio do dia: se o cabelo não colabora, a roupa parecia boa antes de sair de casa, mas na verdade fora mal escolhida para a ocasião, começa a chover e guarda-chuva é apenas um desejo profundo - assim como tomar café, ler um livro, dormir uma horinha ou todas essas coisas que repicam leveza na existências humana. Mas nada funciona se cada uma dessas pequenas coisas estiverem alinhadas, os 98% de êxito são tão pouco para os outros 2% que podem ser uma mensagem com elogio, promoção no trabalho, aquela proposta que se sonhou por meses, uma viagem relâmpago - sonhamos alto, talvez. Queremos muito e possuímos uma insatisfação feroz, atenta, vivinha da Silva.

Esmiuçamos situações, revemos mentalmente conversas, ensaiamos futuras falas, dizemos frases que querem dizer outras palavras, que na verdade, tem outros sentidos. Um "mais" esquecido depois do "eu te amo" e o surto de desespero e insegurança tem uma presa fácil. A falta de um elogio quando a roupa é nova, o corte de cabelo a estreia da semana ou o feedback de um presente, carta, bilhete, mesmo que tardio ficam tão grudados na nossa mente como um post-it paranoico quanto aquela ofensa em briga irracional, já falsamente superada.

Se somos o casaco descombinado para casar bem com o sapato, o coque mal feito de propósito, um abraço apertado na cozinha, o silêncio contido de quem precisa se expressar e não sabe como, o choro soluçante de quem desaprendeu a viver uma vida que funcione, a cara amassada de acordar, tatuagem escondida em lugar estratégica, jeitinho de beber na xícara, a estabanação ambulante; o olhar fundo de quando o desejo de uma conexão maior ainda, as frases marcantes que são todinhas nossas, gírias improvisadas, alimentos que detestamos, as histórias da infância, todas essas particularidades assumidas que nos fazem além de autoconhecedoras próprias, de identidade; humanas.

Pensa bem quem para por alguns minutos e se permite flutuar como o outro: muito mais que jóias caras, vida de luxo, carro importado, bíceps definido ou um cara de estilo do lado, cuidem dos nossos detalhes. Alimentem nossos sonhos com sinceras - mas ponderadas - opiniões, bilhetes dentro da mala, eu te amos mais gostosos de se escutar ao pé do ouvido para dormir levinha, suave, em paz. Permitam-se navegar nesses nossos baús de memórias lotadas daquilo que a gente planeja esperando que alguém venha com uma lupa paralisadora e, veja. Notem os detalhes, o cuidado das palavras postas na mesa, as unhas e depilação em dia, o que ela diz e prefere não falar. Não precisa ser sempre: sendo de vez em quando a felicidade começa a existir, se torna fácil manter aceso um desejo de melhoria constante (que movimenta o mundo, as relações humanas, nós todos e quem vem a seguir).

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Quem não quiser mais, que deixe: em paz




Uma amiga, quando se sente insegura dentro do próprio relacionamento costuma fazer uma mesma pergunta pra mim, sempre que o barco balança: e se ele não quiser mais saber de mim? Aí, colega, eis que a vida vai continuar, trato de dizer. Segundas-feiras continuarão sendo massantes, por mais que a gente não saia da cama. Pragas de mãe continuarão a ser nossa mais temida assombração, assim como o "eu te avisei" que vem sempre depois e as contas logo que um novo mês se inicia. Os ciclos do amor vão continuar, e convenhamos: se o cara desistiu assim tão fácil no menor sinal de turbulência, talvez fosse um babaca, certo? E se caiu fora mesmo de vez, que cedo se vá.

Livres de sermos deixamos a sós não estamos nenhum de nós, que respeitam um amor ainda em formação ou zelam pelo compromisso firmado. Ele pode se apaixonar na fila do pão hoje mesmo e querer fugir pra Boston, pode mesmo. Assim como você tem alguma mínima chance de esbarrar sem querer no amor da sua vida, na razão da sua existência, ou numa tórrida paixão que a deixe cega, mas enfim, iluda. Meu pai pode deixar minha mãe, sem eira nem beira, nem motivo plausível? Lógico que pode. Angelina Jolie pode seduzir o marido de outra bela atriz e desejar mais do que nunca começar de novo, assim como Brad tem o direito de querer um descanso, uma paz, solteirice ou se apaixonar sem querer, na inconsequência de cometer duas vezes o mesmo "erro". Dizemos sim, usamos alianças douradas, andamos de mãos dadas, mas a loucura humana de alguns segundos é tão sensitiva que foge de explicações plausíveis.

Digo sempre que, sim, ele pode te deixar. Nada impede de uma ligação que toque não somente o telefone mais a mais temível das frases como "andei pensando, e é melhor cada um seguir a sua vida". Nadinha. Ou mensagem. Encontro que começa com "precisamos conversar" e acaba com cada um indo no lado oposto, coração em frangalhos, a dúvida de não saber o que é realmente certo, algumas ou muitas lágrimas pelo aborto indesejado daquilo pra que se tinha tantos planos, uma poupança de sentimento e amor, amor e tanto. Estar preparada é a melhor opção, aconselho. O medo bate na porta de vez em quando apenas pra que a gente não se esqueça da condição vulnerável de todos nós.

Muitos planos na cabeça, felicidade profissional, alguns amigos pra se contar e a família por perto como bálsamo e dosagens de equilíbrio; bom senso e uma racionalização que a gente deixa voar sempre que os pés pedem deixar o chão nessas de se ter o peito preenchido, praticamente tatuado por quem a gente acha que é da gente. Não é. Faz bem de vez em quando esses sustos do amor pra não cair na rotina nem considerar garantido aquilo que pulsa e oscila conforme o momento. Quem não quiser saber mais que nos deixe em paz, oras!

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Se for trair, favor não namorar

 



Pela lógica, trai apenas quem namora. Reúne certa coragem em cometer o carnal e libidinoso ato aquele que não só pensa, mas peca por colocar no plano real aquilo que rodou no lado B da vida, nas fantasias e eroticismos. Sem lógica alguma, vai atrás de uma certa adrenalina, do perigo que faltava no dia, da emoção que sumiu de repente por entre a rotina do relacionamento, e erra. Opinião, um recado, mais respeito: se for trair, favor não namorar.

Fechar negócio nesses lances de amor requer muito querer. Parece complexo, só que na verdade é simplíssimo: quer? Quer. Muito? Bastante. É recíproco? Se sim, acordo praticamente assinado: faremos um ao outros felizes o tempo que for pra durar, as DR's não serão constantes, nos veremos tantos dias durante a semana e vamos tentar manter os amigos por perto, sabe como é - às vezes o barco fura, de vez em quando a curva aperta, e vai saber quando não se é necessário queimar todas aquelas palavras do calor de um momento onde um passa a ser do outro, ao menos na teoria. Ou seja: tendo certeza de que o perfume da criatura é o cheiro mais pedido na hora de dormir, raciocinando conforme os pinotes que o peito dá cada vez que chega a hora de se rever após 48h distantes e qualquer outra pessoa interessante se torna magicamente mais uma que passa, ok. Apaixonados, um ao lado do outro, sendo mais que amantes; cúmplices. Bem mais que apenas namorados: melhores amigos. E é por esse pensamento que não passa a ideia de que adultério é algo que se justifique. Que firmar uma parceria requer aceitação com esses pequenos deslizes. Até porque na prática, o concurso engasga quando a trama envolve um de nós, não é mesmo?

Claro que existem brigas, a distância pode incomodar os mais carentes, existem coisas piores que trair dentro de um relacionamento. Sim, tudo verdade. Nada menor que o amor, porém. Motivo nenhum melhor que ser louca pelo cara que, não é perfeito, mas nos cuida como nenhum outro quando a barra pesa. Desculpa nenhuma mais grandiosa que sumir nos finais de semana porque ao lado daquela moça meio maluca o mundo fica apertado, de tão pequeno. Existe espaço pra outra pessoa quando um casal é na íntegra, inteiro? Eu duvido. Como se sentir decente e boa pessoa, conseguir dormir leve e manter a consciência limpa tendo enganado quem nem ao menos imagina a fragilidade frente a uma (ou mais) tentações? Questão que passa longe do meu entendimento. Está infeliz? Falta algo? Termine. Deixe. Acabe. Sem confiança, não há muita chance de futuro próximo. Livre a pessoa de um amor que nasceu torto e mais tarde se tornará um peso morto, mais um dos tantos problemas diários. Vá atrás de uma liberdade digna e que possa ser aproveitada de corpo e alma, se é isso que o grito interno pede.

Se for namorar, favor não trair. São anos e anos de homens achando que podem tudo só porque são sexo forte e todo um discurso babaca que merece o lixo como trono. O mundo cada vez mais igualitário, o amor real, desses de verdade mesmo, cada vez mais escasso. Preservem seus pênis intactos, meninos (assim como a mente sã, por favor). Mulher é sinônimo de alarde, e mais de uma, dor de cabeça. Que a sensação de fazer algo errado se resuma em trabalhar demais, sumir de vez em quando, estar cansado do papo antes de dormir e esses pequenos deslizes. A gente aceita.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Andressa responde: amiga solteira x amigas que namoram




Olá Andressa! Tudo bem? Sou muito fã do seu blog e sempre que tenho tempo, leio todos os seus textos. O que me fez criar coragem, depois de ver como você ajuda e aconselha quem escreve para você, a “dividir” o que está acontecendo comigo.

Olá querida, tudo bem sim, e contigo? Ó, que coisa boa.. Pois vamos ao problema.

Bem, minha vida mudou muito do final do ano passado até agora. Perdi duas das minhas melhores amigas, por pura bobagem e aquele orgulho besta de ambas as partes. Fiquei realmente muito triste com isso, muito mesmo. Não que eu nunca tivesse perdido amigas antes, o que é algo sempre ruim, mas nunca sofri tanto como nesse caso (ainda bem que tinha outras amigas com quem contar).

Putz. Mas sabe, pelo que tenho notado, tem muito acontecendo por aí. Parece que a gente anda num momento meio de triagem, separar o joio do trigo - ou, quem nos é caro, e quem nem tanto. Acontece, né. Entristece sempre.

Eu nunca tive um círculo muito grande de amizades, e isso não me incomodava, porque acredito que amigos verdadeiros a gente conta nos dedos, como dizem por aí. Só que nesse ano tudo ficou pior: minha melhor amiga começou a namorar um cara de uma cidade vizinha.

Sim, amigos mesmo, a gente aprende que se conta nos poucos dedos de uma mão só. E, como habitual, o drama da amiga que namora, o relacionamento entre as duas que muda, uma parte fica ressentida enquanto a outra não entende e corre atrás enlouquecidamente, essas coisas. É bizarro e nem mesmo deveria existir esse abismo entre quem já foi tão importante pra nós e quem está sendo então (o namorado). Falo como parte de namorada, pois também tenho uma melhor amiga e, sim, mudam algumas coisas mesmo. Quem não vê, se engana direitinho.

Não entenda mal, eu gosto dele e fico realmente feliz por ela ter achado alguém que a faça bem. Mas o problema é que ela começou a se afastar de mim, por sair com ele e mais uma amiga dela que namora o amigo dele. Programa de casais.

Ah, daí complica mesmo. Vocês passaram a continuar se vendo como antes, quase todo dia, se ligando de vez em quando? O assunto dela passou a ser só o cara e coisas do tipo? Acho que você pode ter se sentido um pouco "excluída", o que é normal, mas na maioria das vezes tem como conciliar o momento de estar com uma melhor amiga e outros de se reservar só pro boy. A gente vai aprendendo. Mas se, ela passou a fazer SÓ coisas de casal, mudou contigo e etc, fica complicado.


Outra amiga minha também namora, e a outra está indo pelo mesmo caminho. O que acontece é que eu nem vejo mais elas, não saímos juntas e estamos todas meio que afastadas.

Alguns chamam de vida de adulto, e que aí pelos vinte e poucos anos, começa a acontecer. Se a amizade era forte mesmo, passa por momentos ruins, como qualquer relacionamento (mãe e filha, irmãos, e namorados, também), mas retoma. Volta. Às vezes, até mais fortalecida que antes. Fazer outras amigas, conhecer gente e se ocupar geralmente tem o efeito de despertar em quem anda afastado uma vontade incontrolável de tentar voltar a ser como era antes. Geralmente.

Eu que já namorei enquanto elas estavam solteiras, sempre saia com meu namorado e com elas. Acho pura bobagem quem se fecha no namoro e esquece que existem outras pessoas. Até porque, o namoro não vai durar para sempre, e quando estiverem solteiras vão procurar as amigas que deixaram para trás.

Pois é, verdade. Como eu disse antes: tem como conciliar, sim. Chame essas amigas suas que estão um pouco ceguinhas para programas de dia, de tarde, leves, pra dormir na sua casa, coisas do tipo, que são as mais recomendáveis quando a gente tá comprometida e louca pelo cara. A maioria dos homens não curte que a menina vá em balada com as amigas, como antes (aqui no ES, em Vitória e, os casos que conheço). Barzinho, deixam com aquele pé atrás de não voltar tão tarde e ligar às vezes, perguntar como está e tal. Tente fazer dar certo, sabe. Não se emburre pelo fato de só você não estar comprometida. Como já esteve, sabe bem que tem como dar atenção a todos e ser amada por vários.

Agora me vejo sozinha, sem nem ter com quem ir em alguma festa e ainda tenho que escutar delas coisas do tipo: “Por que você não arruma um namorado?” “Por que você anda sumida?”

Que triste. Acho que, tu pode continuar tendo essas amigas, claro. Mas sempre tem aquela colega da faculdade que é bacana e poderia muito bem sair pra balada. Ou aquela amiga de infância que ficou esquecida, a vizinha de prédio, enfim, quem possa sair conosco e ser uma ótima parceira de noite, de bar, de vida noturna para solteiras. Se você não quer um namorado e nem pintou ninguém interessante, relaxe. Não é porque todas estão compromissadas que se torna obrigação sua achar um cara decente às pressas.

E o pior é que elas não entendem o meu lado... Eu sou bem tímida, não sou daquelas que vão a alguma festa e já saem de lá com um cara. Na minha cidade as pessoas que vão a festas só querem curtição, e nada mais sério. Agora fico nessa vida patética, esperando minha faculdade começar, vendo minhas amigas duas vezes ao mês e sem nem ao menos ter companhia pra sair. Não sei se ficando mais na minha eu estou agindo da forma correta... Não sei mesmo! Me ajuda Andressa?
Obrigada desde já! Sou uma grande fã sua e me identifico muito com seus textos.
Beijos.

Então. Disse antes, mas não custa repetir. É tímida? Vá se despindo disso aos poucos (conselho pra vida, a gente perde muito tempo ficando só com a gente mesma). Sem forçar, mas com vontade mesmo. Arrisque uma frase, um sorriso no ponto de ônibus, conversar com futuros colegas da faculdade que daqui uns dias começa - junto com a vida nova e a possibilidade de conhecer gente interessante e que tem a ver com você. Até é válido tentar uma retomada com as amigas que namoram. Mas aos poucos, com cuidado, e sem muita expectativa (uma hora elas se tocam). A gente vê a solidão como algo assustador, mas nada é melhor do que não depender da vontade, opinião e capacidade dos outros, nadinha nesse mundo. Como a gente, só nós. A forma fica no lixo. Boa sorte, e espero ter ajudado, guria. Um beijo!

Quer enviar também o seu dilema, pergunta, desabafo? Escreve bonitinha pra dessagoncalves_@hotmail.com e aguarde!

Conselhos nem tão sensatos pra vocês homens



Queridos, prezados, rapazes, homens. Tão difícil assim nos entender? Vejam bem, aqui do nosso lado do cabo de guerra é tudo tão transitório que é só fazer sim com a cabeça e não surtar quando a gente explode que tá quase tudo sempre certo: a gente se desespera, mas passa. Guardem os desaforos venenosos e as críticas dentro do saco da raiva e jogue bem longe, no próximo córrego, numa lata de lixo que faça possível reciclar o discurso. Dificilmente somos a parte sensata na hora que o fight pega fogo e cabe a vocês saber que, assim como adoramos os pets pequenininhos, não passamos de um pincher raivoso ou poodle equivocado que mais ladra que morde - pequenas no tamanho mas gritantes na urgência do viver.

Chame pra uma caminhada no parque ao invés de gorda, quando nos questionar sobre o passado, acredite de imediato e não solte nossa mão na rua sem motivo, ainda mais em tempo frio (a cabecinha começa a funcionar à milhão atrás de motivos que expliquem a talvez falta de orgulho ou quem sabe ex que passou no meio das árvores do outono). Expressem de vez em quando algum ciúme, que é pra gente ter certeza de que está tudo no devido lugar, falem nossa língua quando sabem que a chance é grande de magoar e abracem sem medida e nem freio, apertado. Tudo que a gente mais deseja é se sentir necessária porque o dia fica meio torto e incompleto se não tem o coração aos pulos quando está chegando perto de passo apressado. Ou, no lugar de criticar nossas roupas "estranhas", vocês notem quando a lingerie é nova ou a gente fica gostosa mesmo só de pijamão. Por favor, ou é mesmo assim tão difícil?

Ah, se soubessem vocês que tem algo entre as pernas o quanto ser carinhoso com nós, mulheres, na frente dos amigos causa inveja nos solteiros de plantão, tivessem qualquer noção do quanto roda na nossa mente uma frase, um cheiro, palavras rudes de uma briga desnecessária ou elogios no fim de tarde enquanto a louça era lavada, quem dera ao menos a noção do quanto importam os pequenos detalhes como flores vermelhas em datas especiais (é hipócrita a feminina que diz que não gosta), um SMS no meio do dia, chegar no horário porque saber esperar pra nós é arte sem domínio e essas coisas. Bem que podia.

Saiam com os amigos de vez em quando, mas não nos esqueçam pelo resto do dia. Falem de sexo e não deixem cair a peteca (ou, trocadilho, em fim) na rotina. Nos imitem no telefone pra descontrair um pouco, que a distância vai sufocando ao longo dos dias. Detestem aquelas nossas amigas, só que apenas de vez em quando. Sirvam nossos pratos, puxem as cadeiras às vezes e não esqueçam do beijinho assim que fecha o sinal. As broncas, sempre quando a sós, que a gente cuida e se controla muito mesmo para deixar pra lavar a roupa suja em casa e de portas trancadas. Em resumo: nos cuidem. Se é pra ser delicado, que seja com quem a reciprocidade permite - somos a rainha das meiguices, vocês sabem. Tolerem nossa TPM com muito chocolatinho, não nos encarcerem dentro de casa, que precisamos ver a rua, elogiem nosso perfume: nos amem que não existe fórmula mágica, mas sim, tentativa sincera.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Bons filmes para assistir sozinha

 Nem sempre ver filmes acompanhada é possível. Tem dias em que a solidão bate, o friozinho aumenta, e tudo que a gente deseja é uma xícara cheia e quente, cobertas e uma boa história para acalentar o dia. Ficar jogada de humor pro ar num sofá, ás vezes é também uma das melhores sensações do mundo - com roupa de mendiga, a despreocupação soltinha e horas a serem bem gastas. Me pedem muitas sugestões de filmes, então, aí vai alguns dos melhores moldados pelo meu gosto e filtrados na minha singular opinião:


Vicky Cristina Barcelona


Woodt Allen e mais esse filme ótimo que se passa na cidade espanhola e envolve loucura, paixões, acontecimentos inesperados e que nos tumultuam internamente nesse quadrilátero amoroso cheio de artes, conversas pretensiosas e aprendizados que as duas americanas acabam levando de um verão em Barcelona quando de volta aos EUA. Musicalmente, é uma delícinha.



Breakfest at Tiffany's (Bonequinha de Luxo)


Um clássico. Nova York na década de 60, o charme das roupas e da cidade praticamente incorporados em Audrey Hepburn e o épico vestido preto, a pequena coroa na cabeça e o olhar delicado de Holly, a sutil garota de programa que acaba atraindo o vizinho escritor vivido por Truman Capote - enquanto tudo que a moça deseja é o casamento com um milionário da sociedade. Fotografia linda, a cena em que Audrey canta é fantástica, maravilhosa e doce. Sempre ótimo de rever.
 
Clueless (As Patricinhas de Beverly Hills)


Outro clássico que fica no pódio do meu coraçãozinho pré-adolescente e que paro SEMPRE para assistir quando posso - e quando não resolvo locar, sim. Como não amar Cher e sua inexistente habilidade no volante? Alicia Silverstone me encantou pra sempre como a menina mimada do papai que vê que o mundo é muito mais e resolve doar roupas, namorar o meio irmão e fazer os dois professores se tornarem um casal. Assim como a amiga Dione e o relacionamento complicado com o namorado meio maloqueiro, tudo. 90's na veia!




My week with Marilyn (Minha semana com Marilyn)


Atualmente nos cinemas, o filme não retrata a vida da diva, como muitos pensam, mas sim, uma das tantas semanas em sua vida que se envolveu com um jovem britânico, em viagem para a Inglaterra. O filme é muito bom. Assisti sozinha mesmo, já que é considero "de mulherzinha" e coisa e tal. Tem sido bem elogiado pela crítica, mostra como, no auge de sua carreira, tantos conheciam Marilyn Monroe, mas pouquíssimos de fato, Norma Jean. Pra assistir, meninas.



The Help (Histórias Cruzadas)


Mississípi, anos 60. Baseada no homônimo bestseller literário de Kathryn Stockett, trata sobre a forma como eram tratadas as serviçais negras por suas patroas de elite, brancas, nos Estados Unidos da época. Muitas vezes tendo criado as crianças desde bem pequenas, eram desvalorizadas pelas patroas, não podendo até mesmo utilizar o mesmo banheiro de seus superiores. Emma Stone está ótima na pele de uma escritora que resolve contar a história dessas tantas negras praticamente exploradas logo que consegue uma vaga no jornal local. Surpreendente, maravilhoso.

The dutchess (A Duquesa)


Imagine se casar a força. Numa época onde isso é considerado normal, a jovem Georgiana Spencer é nada mais que uma aristocrata que se casa com o Duque de Devonshire, na promessa de lhe dar um filho homem para seguir no comando. Não rola, não consegue. Se vê então, presa num casamento infeliz, com um homem que não ama, e numa sociedade que a julga. O filme é bom, eu adoro esse cinema que mostra a época antiga. O figurino, divino. Vale a assistida, gurias.



Marie Antoinette (Maria Antonieta)


Maria Antonieta de All Star e dançando rock dos anos 80. Nunca viu? Então, assista. Kirsten Dunst num dos seus melhores papéis na famosa história da jovemzinha vienense que veio a se tornar rainha da França. Às vésperas da Revolução Francesa, ela ficou conhecida entre a população por seu desinteresse político, um dos fatores que culminaram na violenta revolta popular contra a família real francesa. Música ótima, doces que dão água na boda, figurino impecável, muito bom. Muito bom MESMO.



Annie Hall (Noivo nervoso, noiva neurótica)


Mais uma vez, Woody Allen. Num de seus primeiros, atua com seus monólogos inteligente e reflexivos nos mostrando as fases de um amor à beira de vários ataques de nervos, ainda antes de se casar. Conhece Annie Hall e seu mundo muda. O filme é de 1977, e rendeu a Woody 4 Oscars, entre eles o de melhor direção (para o próprio, sim). Sendo gênio, com bom humor e ironia, Allen retrata as dores e memórias de um romance que, infelizmente, não vingou. Diane Keaton também está ótima. Assistam!

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Cara de braba

 


Sentei decidida na maca macia. Mole de tanto sono e calor e cansaço. Disse: me tira essa cara de braba se der, por favor. Até quando falo normalmente as pessoas se assustam como se eu estivesse dando sermão. As sobrancelhas, vocês sabem: moldam o rosto, expressa aquilo que dizemos e que não contamos enquanto o protagonismo é da fala, dão sensualidade em algumas ocasiões e também brabeza, quando tão marcadas. O meu caso. Com o ar mais leve, pelos menores e a menos, a alma livre de um semblante de brabeza constante, cara cerrada até mesmo quando o sorriso é interno. Que sina.

Faz mais de dois antes estava emburrada numa dessas festas chatas onde a gente encontra sempre algum insuportável bêbado da faculdade que te aluga a noite inteira, mesmo com os exatos cortões e idas ao banheiro, sumidas no mar de gente. Sentei e fiquei de bode, porque a música era horrível, as pessoas, nada atraentes, papos chatos, lugar péssimo - arrependida: eu, com certeza, poderia estar dormindo. Até que chega sempre outro chato que merece ser chutado, mas com uma frase que me marcou por tempo suficiente que dizia "tu seria a mais bonita daqui se não fosse tão braba". É? É. Mole? Que nada. Continuei na minha pose blasé, vestido preto, sapato vermelho, um copo na mão, bolsa na outra. Você é sempre assim, tão séria? Quando tô na companhia de gente decente, não. Eu, na verdade, só queria sumir dali o mais rápido possível. Enquanto isso o cara que eu (graças a deus) nunca mais vi, o chato da faculdade e o resto daquelas pessoas estranhamente desmotivadoras achavam que eu fazia pose de insuportável, por puro masoquismo ou sabe-se lá o que. Só que não, gente.

Com o tempo, venho me acostumando a escutar frases do gênero. Que pareço xingar quando apenas argumento, tamanha a veemência que gesticulo. Meu gênio forte e olhar observador fazem intrépida, ao invés de sisuda. Daí surgem as variações daquilo que quem mal conhece, juga como arrogância, imperativa, petulante e demais sinônimos que adjetivem minha feição que nem sempre tem a ver com o real estado de espírito interno. Nem mesmo meu silêncio é bem tolerado. Dias ruins se tornam maus entendidos só porque os monossílabos são minha proteção frente a chatices que acumulem ainda mais nuvem cinza sob a minha cabecinha confusa de ovelha negra dessa humanidade. Tudo porque eu tenho cara de braba. E sou mesmo quando o motivo vale a pena, a luta é boa, ou minhas convicções se conservam intactas. Algumas vezes também, verdade, por puro impulso - mas logo o carneirinho teimoso que deu cabeçadas e quebrou a prataria volta a ser facilmente domado, o poço de carinho, afago e um pouco de arrependimento de pouco antes.

Esses tempos, a hostess de uma festa badalada olhou bem para minha identidade (essa sim, seríssima) e disse bem pausadamente, como só as pessoas que tem certeza do que estão fazendo falam que tenho cara de gato. Felina, o animal mesmo. Desses que miam baixinho e são auto-suficientes, de uma independência quem sabe estampada na mania arisca de aparecer apenas quando bem entendem, pra um carinho ou outro, um oi uma vez ao dia, coisas do tipo. Um persa que nem sempre está mas parece exibir o mau humor constante na cara achatada de quem só quer comer do bom e do melhor para depois descansar no solzinho saudável cheio de vitamina D do meio-dia. Se tiver as sete vidas incluídas no pacote, até aceito. Numa dessas vai ver que muda a forma como o resto do planeta me encara e acabo vendo a tudo e todos diferente. Quem sabe.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Vida de gente grande

 



Confesso que ainda não sei usar a máquina de lavar roupas. Os tantos botões, onde jogar o sabão em pó? Programa de lavagem a ser escolhido, tempo, potência, sei lá: tudo complexo demais. As mais delicadas vai a mão mesmo. Desse caminho de níveis elevados a cada um vencido, dos obstáculos de correr contra o tempo, fica na paisagem o verde indo pra trás, com tanta coisa caindo por terra: tá tudo quase quase quase maduro. Demora pra aceitar, mas o ruim pinta na vida como um alerta pro quanto não cabemos mais dentro dessa versão praticamente ultrapassada nossa que merece reajustes.

Sinônimo da palavra amigos torna-se "poucos e bons" no dicionário próprio. Desperdiçar confiança por aí com quem não merece nem ao menos um pingo se torna lei. Afinal, os monstros estão a solta, e muitas vezes possuem pele, osso, nome, sobrenome e uma maldade assustadora - debaixo da cama, apenas algum sapato esquecido e só. Até o abajur a gente aposenta. Trocar a tranquilidade de um barzinho, jantar, cinema pelas antes recorrentes necessárias baladas, uma boa opção. Decidir, e ter planos, mesmo ainda não tendo, de viver sob um teto todo seu, pequeno e apertadinho, mas onde possa pintar uma parede de carmim, outra de lilás, fazer o que bem entender e levar quem quiser. Tem a ver também com começar a escolher a própria comida e se, a oferecida não satisfizer, estar disposta a pagar por isso. Aliás, dinheiro é um tema que muda bastante na nossa cabecinha antes, tão oca. Contas e mais contas com nosso nome sobrenome começam a brotar no correio. Cartões de magazines e crédito, internet, celular. Dói ver o dinheiro indo praticamente pelo cano. É terrível ficar em filas todo santo começo de mês. A vida de gente grande nos suga todo dinheiro, pede orçamento e nos faz atentos ao que comprar ou não, qual a melhor data, e, às vezes, pesquisar preços. Pra quem antes achava fácil ir lá e querer sapato novo, exigir maquiagem da melhor qualidade, uma roupa nova por semana, a mudança é grande. Gritante.

Os horários passam a ficar apertados. O trabalho vira algo que, além de nos sustentar, nos faz aprendizes - e é, então, essencial. Conciliar família, faculdade, namorado, estágio, exercícios físicos, loucuras próprias, projetos paralelos e cuidados de beleza é o grande desafio. Economizar, cada vez mais, é preciso. Amadurecer é ver menininha chorando por cada bobagem fútil e, por dentro, rir. Ter pena do vazio de uma vida onde se acha que sabe de tudo, mas que, logo mais se verá que nem mesmo o máximo que se pensava saber, não passa de um mínimo para sobreviver sozinha. É ir ao médico sozinha, se virar pela cidade também na própria companhia, catando enlouquecida ruas e bairros, avenidas e locais pedindo informação. A gente se torna também um pouco mais zen e deixa a serenidade, amiga esta, não só bater na porta, mas também entrar: se está tudo uma merda, que foda-se mesmo, mais ali na frente a gente sabe que melhora. Sentir o amor, cada vez mais próprio, na fala mansa que é cada vez menos eloquente e burra, para ser então pensante: ao invés de surtar e causar briga desnecessária, briga. Antes mesmo de ser a louca de até então, pensa. A ordem dos fatores muda, o resultado é melhor ainda: a luz no fim do túnel, cada vez mais próxima, tão claro na gente aquilo que é bom e importa: crescer dói, devem ter esquecido de contar as vantagens de uma vida mais libertária e independente a Peter Pan, só pode ser.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Promoção: Ele simplesmente não está a fim de você,

 


My ladies: como eu também simplesmente ganho e possuo livros em excesso, mais um sorteio para fazer vocês felizes. Acredito que estou pegando o espírito da coisa e, dar um agradinho a vocês de vez em quando não é pecado nenhum, certo?

Dessa vez, o livro que já me fez aprender um pouquinho numa primeira lida e que, agora repasso a quem interessar se chama "Ele simplesmente não está a fim de você", do ótimo Greg Berehdt e Liz Tuccilo. Humor, elevação da auto-estima e compreender que todas aquelas desculpas ridículas que inventamos nós mesmas para as cagadas do cara são sinônimo de burrice. Pareceu interessante? Então, participe!

Como? Me responda, bem linda: Por que é que ele DEVERIA estar a fim de você? É. Isso mesmo. Quero ver personalidade, confiança e salto alto nessas respostas, hein.
Comente nesse post com seu nome completo, a resposta da pergunta e aguarde. Daqui uma semana (ou seja, na próxima terça-feira, dia 15/05), enviarei pela manhã as frases na Fan Page Kawacauimn por Andressa Gonçalves- ou seja, se ainda não segue por lá, é bacana que comece já! A frase mais votada leva o livro com dedicatória minha e tudo mais. Que tal? Passo a passo:

1 - Responda nos comentários deste post com seu nome completo a pergunta (Por que é que ele DEVERIA estar a fim de você?)
2 - Aguarde até o dia 15/05 (uma semana), pela manhã e acompanhe a votação das frases pela fan page
3 - Siga o blog e curta e compartilhe, tudo ajuda e faz com que cada vez mais, mais sorteios bacanas como esse surjam!

Boa sorte, meninas!

domingo, 6 de maio de 2012

Eu quero a sorte desse amor tranquilo

 


Precisar de paz é não precisar de muito: uma tarde praticamente vazia, gasta em descansar sob as horas e florir sorrisos, apertar abraçando, ficar compressos, quietinhos com aquele papo de o que você quer fazer? Ah, o que te fizer feliz. Dormir uma horinha no sol, dar uma volta de carro e vidro aberto, redescobrir a força do seu cabelo enquanto o toque é muito mais cafuné que perícia. Repousar as malucas das minhas ideias no colo de quem acha tudo muito bonitinho enquanto falo em parar depois que o chocolate penetra no organismo e eu vasculho as novidades do mundo pelo computador enquanto você assiste televisão. Essa é a sorte de um amor, tranquilo, fazendo tanto eu, pessoa energética ver o quanto é bom esses tempos de paz onde, burra e inadaptável, corria atrás de mudanças - desnecessárias.

Ou lavar uma louça em água morna enquanto você acende a lareira, maratona de filmes, alimentar os peixes, silêncio sadio enquanto leio e ele dirige: tudo pacifismo puro onde antes a minha mania impetuosa doente via problemas, o meu estado de espírito irrequieto complicava sem cerimônia, pudor, pedido; agia sem uma fagulha de pensamento durável, o desejo de permanecer no embalo da rede, matando a sede na saliva. Sorrir sem cansar e, ao se dar conta, ver no sorriso do outro a única figurinha repetida que a gente não cansa de arquivar na coleção. Viver de bandeira branca amarrada no peito, muito melhor acordar sem caber no espaço de tempo que passamos juntos espaço para mau humor, chatices já conhecidas e melindres totalmente desnecessários. Rir com as imitações ao telefone, agora gostar dos antes tão detestáveis domingos, quase voar quando junto, tamanha a leveza que com erros, ganhos, situações e a mesma vontade de que não quebre nunca e dure pra sempre (ampliada, gigantesca, gritante) de sempre fizeram chegar até a parte mais doce e segura, até então.

De olhar a vista nebulosa do friozinho da noite e lembrar momentos de um passado ainda próximo, e gargalhar um pouco, se proteger do sereno e fazer a dancinha. Ser pão, comida e todo o amor de uma vida enquanto durar, conseguir ultrapassar árduo do inferno até chegar a esse céu de alguns dias - assim, limpinho e azul, sem ventos que nos enrolem as ações, nem o frio de palavras impensadas, atitudes intempestivas. De um colorido tão clarinho que nos ilumina e do tanto de bem que tem, nos faz querer ser pessoas cada vez melhores. Porque é dessa calma aguda que preciso sempre, de pés de meia que roçam e esquentam os meus, da fortaleza de sossego que são dois braços fortes que me envolvem, sólidos. Serenos. Tranquilos. Felizes.

sábado, 5 de maio de 2012

Ser feliz incomoda muita gente

 


Expor isso incomoda, incomoda muito mais. Tem que ficar quietinha, conter o sorriso, frear as palavras, engavetar os detalhes todos daquilo que nos compõe livres, leves e soltas. Porque, lá no fundo, a gente sabe - só não se segura e comenta com amiga linguaruda de vez em quando pra desafiar o perigo, tirar dos ombros o peso de um segredo que nos faz feliz, desses que aumentam os decibéis da inveja de quem escuta e nos vê pairando ruas a dentro.

Ser feliz incomoda pela abstrata diferença entre quem considera todos os dias de merda e, quem nem liga tanto se pisa em poça molhada, recebe mijada de chefe, escuta barbáries ou tem a conta bancária muito mais estancada que corrente, parada no vermelho do limite do cheque especial. Ache um amor pra vida e seja objeto do resto de mal amados e cotovelos doloridos. Trabalhe naquilo que ame, com afinco, sucesso, dinheiro e tempo livre: terão os odiosos prazer em detestar alguém assim, contente naquilo que pro resto de todos é pura parte responsável de vida. Ter um corpo bacana, viajar sempre que quiser, puder e sem parar, adquirir o carro do momento ou simplesmente, ter talento e um pouco de sorte para conseguir sobreviver a um bufê de olhos gordos, línguas grandes e afiadas e cabeças quentes de olhos furados pelo seu espírito de paz. Tão fácil compreender o mood alegria que, a maioria se nega.

Receita não existe, conselho é tudo furada. Portanto: sejamos insuportáveis, de tão felizes. Claro que nem tudo está sempre uma maravilha. A gente às vezes pega ônibus errado, taxista oportunista, esquece pertences e dá um puta azar quando menos poderíamos. Ou ficamos doentes e temos a visão do mundo em slow motion, perdemos dinheiro, somos vítimas de uma chuvas daquelas desprevenidos. Porém, foda-se. Lembra daquele sorriso bom trocado no carro? Das frases curtas de amor antes de dormir? Do abração tamanho GG daquela amiga? Do elogio daquele professor difícil e carrasco? Incrível mesmo como a sorte passa pela gente e, distraídos num muro de lamentações sem saída, toca de leve e ninguém sente.

O fato é que gente naja vai estar sempre a solta e à espera de um tropeço, da baixa imunidade da sua auto-estima, do dedinho preso na porta do carro e o uivo de dor com a codificação da sua voz. Elixir, remédio, prevenção: sorria, meu bem. Sempre que possível. Não é falso sempre, porque por mais que decline um dos lados da vida, há outro em primeiríssimo em cima de um pedestal do bom dessa vida. Basta que não deixemos de olhar pra fita no dedo, pro balanço final momentâneo da existência, mensagem bonita salva no celular, visita inesperada num final de tarde com sol se pondo, é olhar pra cima e encontrar motivos coerentes para agradecer. As najas que saiam feridas com o próprio veneno, quem veio pra esse mundo que faça o favor a si mesmo de sorrir!

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Mulheres e listas


 

Mania de organização, ócio puro ou efeito colateral do cérebro que, mesmo depois de um dia cansativo não consegue desativar os mecanismos e descansar? O fato é que mulheres e listas acabam sempre marcando encontro ao deitar no travesseiro, no final da noite.

Dos mais variados tipos e sistemas, listar mentalmente ou num papel, em ordem ou apenas como lembrete é mania feminina, sim. Pode ser a dos afazeres logo após o trabalho, do que fazer no próprio local onde se ganha o pão, daquilo que precisa-se dizer ao namorado - e não pode, de jeito nenhum, maneira existente, esquecer - lugares para ainda conhecer, acessórios, roupas e calçados que o armário pede, de como foi o dia, daquilo que precisa se esquecer, de quem fugir, do supermercado. Até disso a gente faz questão de lembrar. Lista negra, de doação de inverno, das amigas mais queridas, discos que precisamos escutar, dos familiares que merece uma ligação, qualidades que precisam ser floreadas, defeitos que requerem maior atenção.

Mesmo quentinhas sobre uma coberta ou duas, pegamos o papel e nos damos o trabalho de anotar, rabiscar, numerar, colocar no pódio aquilo que precisa de realce para não se esquecer após uma boa noite de sono, do que pela manhã, ainda bêbada de sono, possa não fazer o menor sentido - mas no calor das horas noturnas passadas, tinha urgência quase que cirúrgica, anotado com letra feia de quem escreve no escuro e com pressa apenas para se livrar do peso de ser um pouco desligada mesmo e, ao mesmo tempo, ter tanta coisa a se fazer em apenas 24 horas.

Imaginárias, na caderneta, numa agenda, em pedaço de jornal: mulheres gostam de listas. Se fascinam por rankings - a mais bem paga, a mais gostosa, a melhor mãe, o corpo mais em dia, o gato mais sarado, a colocação dos best-sellers, apreciam ter um rol de possibilidades, poder ver por meio de uma lista (ou linha) fatos históricos, memórias descuidadas, desejos que precisam de saciedade, alternativas para sobreviver com a mente bem arquitetada e um plano de rota, de fuga, de escape de si mesma, para se manter vivas. No melhor sentido que o verbo emprega, claro. Livres.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Cuidado: frágil



Diz ao lado de caixas, mas poderia vir escrito no peito de cada um de nós: cuidado, é frágil. O vermelho vivo das letras retratando toda a nossa urgência em viver, sendo também a mais bonita estampa possível daquilo tudo que - internamente - tanto nos incomoda. Fugaz demais a felicidade que um olhar feio, uma atitude brusca, um atraso, mensagem nunca antes nem mesmo imaginada por nossa fértil mente. Andar nas pontas dos pés, mover atitudes e palavras com cuidado e zelo, porque a vida só é grande de tanto que, simultaneamente, é leviana.

Somos frágeis e precisamos de doses regadas de abraços apertados, beijos em canto da boca, ver o sol, a rua, ao menos uma vez o dia. Elogiar sempre que estiver saindo na ponta da língua uma possível felicidade do outro, pensar no bom e fazer o bem: lembrar de tratar com cuidado quem a nós é caro para não quebrar, mesmo quando a raiva ativa o sinal vermelho. Um carinho nos fortalece tanto, pessoas boas presentes na vida são também flores que brotam em meio ao concreto - necessitam de um pouquinho de atenção, morrem da indiferença e no esquecimento, atropeladas pela pressa, estresse cotidiano, as tentações maléficas e invejosas por aí a solta.

Pouquíssimo tem a ver a força que a gente aparenta, o tanto que se esforça, o poder que ostenta, a autoconfiança tão falsamente estampada. Por dentro, mil e uma desconfianças, desilusões, problemas que cada um carrega no íntimo. Impossível prever as quedas, os estragos, as cicatrizes e até onde dói cada ferida que nem mesmo sabe existir por trás dos dentes salientes e conversas descontraídas. A porcelana de todos nós, enfeitada sempre de pinturas rebuscadas e cores vibrantes, mostra arranha com facilidade e quebra a cara, os sonhos, e ideais quase sempre, como o estourar de um balão, o soprar do vento num anjinho do campo, uma hora depois no mesmo dia: em segundos, noutro trânsito dessas curvas e vias da vida humana.

Humor bipolar, pouso de borboleta, o passar apressado das nuvens: tudo transitório, assim como as pessoas na nossa vida, as tantas vestes de nossos humores, elevadas e baixas temperaturas dentro do cotidiano. Tem que se guardar na malinha que a gente é mas não reconhece mesmo, porque nem sempre ser exatamente como gostaríamos é o recomendável pro momento. O coração em melhor estado num potinho, bem guardado pelos milhares de anos que o vidro demora a se decompor com a pressa que a gente passa por aí. Embalados em plástico bolha, levados com delicadeza até o altar dos sentimentos. Cuidado: somos frágeis.