segunda-feira, 25 de junho de 2012

A força do silêncio



Tem um tempo que parei de contar tudo pra todos. Como minha boca tão grande quanto o céu que me expulsará num futuro pós-morte tem contribuído, tenho feito bom uso de uma vivência quietinha, o estar pianinho, e mesmo q...uando ansiosa e quase ligeira se torna minha paz de espírito, trato logo de avisar que é na despreocupação que as coisas tem chance de jeito.

Não é que coisas maravilhosas não tem ocorrido. Não. Bem pelo contrário: muito mais aos montes que na época em que, impulsiva, narrava antes mesmo do fato em si um sonho que desenhei por cima, com frágil papel de seda e lápis cinza - achando que não teria muito problema não e que, olho grande, pensamento gordo ou simplesmente inveja branca tinham efeito nenhum sob as circunstâncias a seguir. Teses, fracassos e muito pensar tardio, me dei conta que é melhor que nasça em mim hipóteses, que cresçam conforme os dias e germinem algo bom sem precisar ser dito, esfregado no rosto macilento alheio, por meio de elogios com uma felicidade tão gritante que mal cabia só em mim e precisava ser compartilhada ou na expectativa daquilo que se quer muito e vai pelo caminho, o futuro mesmo incerto: saber só é que é saber demais. Aprende menina falante, aprende.

E aí parei pra ver em quem esse efeito tinha maior ou menos proporção. Eis que quase em todo mundo, e talvez a culpa não fosse os sentimentos ciumentos dos complicados seres humanos e seus recalques, defeitos e preocupações. Que nada. Foi na fragilidade do que ainda não é que me dei conta que uma ansiedade, mais outra e ainda centenas vão afundando aos poucos o caiaque de felicidades possíveis noutros mares, vencendo ondas gigantes, ganhando terras à vista e demais planetas. Resolvi que fechar a boca até que tudo esteja nos trinques, dentro dos conformes imaginados e com um sorriso de orelha a outra, responderia apenas com o básico questionado, narraria banalidades do dia-a-dia, iria a fundo no passado, mas deixaria o futuro como assunto pra daqui um tempo (quem sabe, quando for presente ou pretérito perfeito tiver se tornado - muito melhor, não?).

Iniciei um diário, saí pra caminhar, pensei em mil outras coisas, marquei médicos, liguei para alguns queridos: tudo para preservar a sanidade do que está por vir. Sem manchas, arranhões, outros olhares, e o peso da opinião alheia, fechados a sete chaves todos os meus downloads da alma que estão bem encaminhados e em processo, mas não merecem ainda entrar na ciranda das boas histórias ou das tão perguntadas novidades. Quem sabe um dia, saber ser sozinho e se manter são e salvo da versão prolixa de nós mesmos, tomados pela força de um silêncio que muda ao invés de uma fala que promete. E surpreenda. Felicidade é também um estado contínuo de quietude madura.

domingo, 24 de junho de 2012

Me escreve qualquer dia desses também




Há pessoas que confiem nas fotografias como símbolo de memórias salvas para a posteridade. Outras apaixonadas por vídeo e o movimento de se filmar algo em que já se colocou o olho anteriormente, desd...e momentos marcante a uma manhã inútil e sem data a se lembrar num desses domingos meio gelados, como hoje. Minha paixão é pelo texto. Represento os malucos por bilhetinhos, frases salvas, escritos apressados, cartinhas surpresas e coisas do tipo. É esse o meu recado pra que eu guarde além de lembranças, mais letra e papel daqueles que entopem meu coraçãozinho de um pouco do bom dessa vida.

Me escrevam qualquer dia também, eu peço. Pra que eu deixe numa caixinha dessas cheias de papel de carta, correspondência e fotos antigas. É o desejo mais profundo: larguem na minha bolsa, dentro da mala, no bolso do casaco, ou mesmo em mãos - a emoção de ouvir um "lê quando chegar em casa" quase foge de explicações verossímeis - misto de inquietação com curiosidade, e um quê de adrenalina por apenas até então imaginar o conteúdo em letra script, garrafal, emendada, tremida, lacrimejada, apressada - contudo, solidificado na assinatura de quem descreveu alguns sentimentos, rememorou histórias ou confessou aquilo que ao vivo seria impossível.

Pode ser postal, em folha de caderno, até mesma escrita por máquina tipo Olivetti ou no computador. O que conta é a disposição em fazer parte do meu baú de retalhos do que já se passou. Pelo correio, debaixo da porta, após uma crise ou em formato de dedicatória de livro (aceito, não nego). Se for tamanha a dificuldade, que se comece com um bilhete curto, pedaço de música, palavras desconexas, trechos de boa literatura. Escritas no horário de almoço, ou acompanhada de um saboroso café, na mais completa companhia de uma solidão que coloca na força da mão que imprime na celulose aquilo que merece ser dito, porque é de atitudes pequenas, detalhes ínfimos e delicadezas do tipo que o amor se suplementa.

Me escreve qualquer dia desses também, vai. Pra aumentar a minha coleção daquilo que eu mereço mostrar pra filhos, netos, imprensa, meus medos infantis e desconfianças quase sempre paranoicas, de tão infundadas. Ajuda na fuga pra um espaço onde dê pra se lembrar sem cair no clichê de salvar em pen drive e HD o que merece, antes de qualquer coisa, espaço especial na nossa nem sempre bem treinada memória, berço de uma velhice louvável. Contribui para o clarão de felicidade ao reviver, mesmo que em pensamento, aquilo que um dia brilhou de maneira tão forte e que sempre quando aberto o envelope é capaz de dar estalinhos de luz, sorrisos de reconhecimento e peito feliz sempre que os olhos passarem a grafia única e borrada, meio torta, de forma e bonita porque sentimental é aquilo que corre no sangue: da simplicidade de uma carta de amor (ou não), se alimentam sonhos, uma cidade, a fome da gente - inesquecíveis reciprocidades.

sábado, 23 de junho de 2012

Quando a bondade é demais, a mulher desconfia

 





Certo, partamos do princípio: homens querem se apaixonar. Ter alguém, encontrar a mulher certa, aquela que dê um colorido mais romântico à uma boa parcela de alguns dos melhores momentos da vida. Saem, conhecem garotas, se apaixonam - nem sempre dá certo, até que pinta: ela olhou bem pra ele, e deu o sinal vermelho. Ele sentiu atração, e ultrapassou as barreiras que limitam o contato. E então toque, química, papo bom, beijo tímido, beijo ardente, sexo, encontros frequentes, horas maravilhosas gastas em conjunto, afinidades mil e pronto, nasce um amor que pode durar cinco semanas, oito meses, ou até mesmo, anos e anos. Se não houver uma bondade dessas de tão ensaiadas, teatrais. De quem comete erro e tenta colocar pra debaixo do tapete porque não sabe muito bem o que fazer com uma impulsividade que outra mal canalizada. Aí, então, um desses amores feitos um pro outro quando em multidão que nos fazem pensar que o nosso pode ser sem graça, sem sal, rotineiro e simples demais. Só que não, gente.

Conhecia um casal em comum. O cara viaja bastante, trabalhava em horário comercial, parecia um pai de família exemplar. Adorava presentear com itens carésimos, ligava de hora em hora para se certificar que sua senhorita estava ali, e fugia de qualquer suspeita de ser um traidor barato, desses que deixam estampado na cara que não valem lá muita coisa. E traia. Enquanto fazia super bem sua personagem de marido dedicado, deixou alguns rastros que fizessem com que a mulher descobrisse e, depois de algumas taças de vinho, foi intimado a confessar. Assim como um ou outro que vive deixando recadinho de amor perfeito em mural de rede social, entope o perfil do casal de fotos dos momentos bons, mas oprime, xinga de barbaridades, dá em cima de outras quando sozinho entre outras ridiculices. Por essas e outras que, quando a bondade (assim como a esmola, e a felicidade) são demais, natural é que a mulher desconfie.

A raça masculina cai de amores também, só que é diferente: nos detalhes minúsculos, nas declarações de uma frase numa noite em que se menos espera, nos cuidados quando adoecemos, na preocupação se chegamos bem ao trabalho, ou em aparecer uma vez que seja durante o ardiloso dia onde trabalho, academia, faculdade, jogos de futebol, camaradas para nos deixar bem, ouvir a voz, soltar um elogio qualquer porque a gente precisa de amor diária e para nós (mulheres) é importantíssimo. Porém, enquanto sentem e tudo está bom, não reclamam, assim como nem sempre nos enchem de mimos. Portanto, segue a minha teoria: homem bonzinho demais é mais ou menos como Papai Noel: a gente quer muito, muito acreditar. Mas e tem como não suspeitar de tanto presentinho sem ocasião, jantar caro, mil ligações por dia e tamanha perfeição? Como integrante do sexo frágil, possuidora de uma intuição dessas que raramente falham, eu acredito que não. A pulga atrás da orelha logo se transforma em minhoca filha de uma paranoia que não cansa nunca de suspeitar de tudo e todos. Logo, prefiro um atrapalhado apaixonado de vez em quando que siga a sua natureza de homem e demonstre quando convir, ao invés de a cada hora.

A vida amorosa provinda do planeta de Marte é simples: sem apertar muito nem afrouxar, com bastante espaço para criatividade, falta sentida e mimos ocasionais, sobrevive. Cresce. A conquista precisa ser sempre um componente vivo e inalcançável para que a atenção masculina centre em nós (ao menos de vez em quando, ou melhor, nas vezes em que o video game não funcionar ou estiver longe). Quem gosta de detalhes, amor incondicional e 24 horas, romance de cinema somos nós, as meninas criadas assistindo Disney e suas princesas em fica cassete. Pura esperteza de rapazes que aprontam e conhecem bem o perfil de ladies femininas como nós para tentar camuflar o erro. Meu alerta não é uma inveja mal exposta para casais apaixonadamente felizes, até porque, isso também sou eu. E sim, para que o olho esteja sempre aberto a demasias despropositais que não cabem geralmente no comportamento habitual de todos esses homens magníficos, queridos e adoráveis e que erram mas, que não deixamos de amar em hipótese quase nenhuma. Direto, mas cordial, e nunca esquecido: se simples, mas sincero, muito melhor que cheio de floreios falsos que nos enganem. Na medida certa da pieguice dos amantes, não existe não preferir.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Tudo uma questão de reciprocidade




Converso com amigas, recebo e-mails de leitoras, observo os relacionamentos de quem me rodeia. E constato cada vez mais: elas estão insatisfeitas. E cheias de ricos motivos que, uma hora ou outra ou fazem largar de mão, ou ter um acesso de raiva, ou simplesmente sumir. Porque a vontade é exatamente essa: de uma falta sentida, nem que fosse. De voltar a ser protagonista onde, tornou-se de musa, para nomeada namorada e agora então, quase fantasma nos dias do homem.

Estariam as moçoilas de tempos como os nossos se doando em demasia? Não. repito e digo: não. Noto uma tendência cada vez maior ao amor, amor bom, amor sincero, amor real e duradouro e diminuições drásticas de piriguetismos ou libertinagem - claro, a geração dos filmes Disney dos 90's fizeram nascer um bocado de meninas cheias de sentimento pra se tecer. Elas querem ter alguém. Sempre quiseram, mas a vergonha em admitir que ser sozinha não é tão legal como parece diminui num cenário geral onde é feliz quem compartilha a felicidade (a dois). E quando aparece o príncipe encantado, o cara dos sonhos, o amor da vida, se jogam numa entrega louca onde, mais tarde, veem um sapo acomodado enquanto se sentem culpadas e se perguntam: mas aonde foi que eu errei?

É, ela errou. Porque os dois foram muito rápido e quiseram muito ficar o tempo que desse juntos e no começo era maravilhoso, no meio das contas era bom, e no final, acabou sendo acusada de sufocamento - a última das intenções, saibam vocês. O que era recíproco, foi se tornando vagarosamente papel dela no relacionamento que era dos dois: não mando mensagem pois estou ocupado. Não te liguei porque o dia foi cheio. Amanhã não dá porque quero descansar. Hoje não tem sexo, tô morto. Você não tem amigas, não? Carinhoso? Eu sou homem, não preciso dessas coisas. Para de chorar, chega de drama, sai lágrima de ti por tudo. Faltou um pouco de amor próprio da parte da cega apaixonada, sem dúvida nenhuma. Mas a vertigem de um sentimento até então novo, profundo, arrebatador faz dessas coisas mesmo, e o que gosto de ver é que não existe pudor em admitir que errou mesmo, que a paixão é meio culpada, mas ela é também, oras (assim como é ele, que não admite também, é obvio).

E vai doendo. São muitas: basta escutar histórias no ônibus a caminho da faculdade, a mulher da limpeza no meu trabalho, ou minha própria chefe. Colegas de aula, amigas de anos, eu mesma de vez em quando. Elas querem fazer durar enquanto eles não fazem a mínima questão. Detestam discutir a relação, é chato. Se abrem menos que que um furo mínimo de agulha, os machões. Acham que se esforçar, minimamente que seja para resgatar os ares de começo de amor não é necessário, é coisa de mulherzinha e que, se tudo anda desandando, a culpada é aquela louca, ciumenta, pegajosa - quando não dizem coisa pior...

Cansa remar sozinha numa maré de desfortúnios onde a culpa pertence sempre ao lado feminino. Nada justo se conformar em estar no lixo junto às outras tantas baixas prioridades numa vida onde já se teve destaque. E ela chora, e pede, implora e tenta; em vão. É clichê, mas de tanto amar, morre o sentimento pelo coração: muita água pra pouco adubo. Esforço demais para planta que se recusa a dar flor. E espinha, espinha, espinha (podendo apenas renascer se por vontade própria, muita luz, sombra, e doses homeopáticas de água fresca).

domingo, 17 de junho de 2012

Toda mulher é um pouco muito de Leila Diniz

 




Conheço de Leila muito pouco pra quem é jovem da época de agora: alguns poucos filmes, entrevistas assistidas em várias e várias partes, depoimentos sobre e coisas que disse a icônica atriz antes de vir a falecer, numa dessas viagens da vida, voltando da Austrália, na Índia.

Jovem, se foi pensando ser imortal para viver muito ainda de amores – que em morrer, Leila não queria nem pensar. Quebrou a barreira de anos e anos de preconceitos, com seu barrigão grávido em plena praia, suas frases enraizadas de acidez e sinceridade, na falta de dom ao tão defasado (hoje) matrimônio. Foi uma das amantes do cafuné, estrelas do amor livre, simples, honesto, e sem os clichês, tabus e fantasias que nós, as pessoas, injetamos em boas doses no cerne do relacionamento.

Por isso que reafirmo a letra de Rita Lee, com um pequeno reforço: toda mulher é um pouco do muito que foi Leila Diniz. É aquela sozinha, que de solitária não tem quase nada, tão bem que se dá consigo mesma. Apaixonada pela arte do sexo e dos benefícios do fazer amor, de se compreender a carne como um desses desejos urgentes, a labareda fulminante que capta a fome da alma. Professorinha na arte de quebrar a cara e não fugir da raia, nunca arrependida daquilo que abandonou no meio do caminho por problema, neurose ou preconceito. Leila, assim como todas nós que não negamos a raça, sabia que o amor é uma coisa que depende muito da gente: requer cuidado e limpeza diária, é um desses objetos que a gente gosta muito e morre de medo que quebre.

Receitava ela própria muito mais ginecologista que psicanalista – numa alusão de que a trava feminina antiga era, na verdade mesmo, as mulheres dividindo a mesma cama com a vontade própria e a opinião da sociedade e alheia. Sobre seu modo de vida, nunca fez o menor segredo: foi livre. Com a saúde mental perfeita de quem não evitava o amor nunca, nunquinha. Porque Leila era mais carne que osso, atitude que silêncio, autenticidade ao invés da regrada vida bem indicada pra moças em época de ditadura. Abriu portas por onde hoje a gente desfila, trajou vontades impetuosas; mas também estupendas. Pra época, extravagantes.

Quatro décadas mais tarde, estamos aqui nós imaginando na senhorita Diniz uma boa amiga, a meio louquinha que nos daria conselhos insensatos que fariam o maior sentido apenas quando levados em consideração. Libertina, transgressora, mulher de muitas verdades incontestáveis que hoje a gente quase aplaude, tamanhas. O Brasil aprendeu: porque as "leis" tem que ser próprias. Cada uma território, ilha ou mar de si. Uma aula de ser única e como fazer história, mesmo a trajetória interrompida de quem ainda muito bem faria à cena tanto passada como atual.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Os dodóis




Quando eu era pequena, lembro que antes de dormir precisava sempre de uma histórinha pra embalar o sono. E o abajur ligado. Vez ou outra, interrompia o pai ou a mãe, ou o vô ou a vó e dizia: olha, tem um dodói ali. Dodói na verdade era o reflexo da luz que batia na parede e formava quase sempre ou um ovo, uma bolinha, alguma forma que parecia um machucado no concreto pintado. E sumia. Dodóis hoje são pra mim todos os homens quando adoecem: quase morrem, esfalecem no sofá e clamam a dor, murmúrios no lugar da fala, pilhas de roupas, chinelos felpudos e todas essas coisas que os fazem parecer de novo criancinha como era eu quando acreditava que os muros da minha casa tinham alguma doença e como passava rápido na manhã seguinte.

Porque são assim os homens doentes: praticamente param a vida. A gente vai lá, toma um remédio, outro, dois, e segue o baile do dia: trabalho, terapia, faculdade, depilação, trânsito, às vezes filhos, janta, limpeza, compras e tudo bem; descansamos o corpo de noite, que estará podre e se obriga a melhorar para ter saúde já no outro dia. A voz pode estar rouca, a febre, altíssima: não diminuímos o ritmo. Queremos colo, sim. Nos cuidem, enlacem quentinhos, mimem com mãos passando entre as mechas do cabelo e comprimidos dados antes do jantar.

Igual, ainda assim, nada se compara à enfermidade masculina: quase faltam o trabalho, se preciso. Nos desejam como enfermeiras ao pé da cama - sabe se lá se numa fantasia de serem bem tratados quando não conseguem carregar em si a culpa por não ser super herói por um único dia (e são em quase todos). Precisam de horas e horas de sono, quem tire a febre, faça comidinha, e permita que voltem à infância por um curto período que seja, tapados até a cabeça, pézinhos com meia e com a gente sentadas na cama esperando que coloquem a capa de volta e voem pra salvar a parte do nosso mundo que ficou meio em slow motion durante o período de doença.

Nessas épocas mais geladas, outono agora e inverno mais tarde é que os dodóis aparecem: feito aqueles que iluminavam os quatro cantos do meu quarto de menina. Rasteiros, chamativos, aclamadores, sem ter como ignorar. Mas passageiros. E confesso: que até certo ponto, gostamos de dar carinho e fazer massagem, remediar, fazer compressa, indicar médico e todas essas coisas porque salvar de vez em quando acaba sendo bom também; se sentir útil é um mar de rosas, e médica de plantão, ou qualquer que seja a denominação desses caras tão fortes pra matar barata, abrir pote de vidro, subir em telhado e arrumar eletrônicos, porém frágeis quando doentinhos, vale quase por salvar uma cidade do grande vilão desses tempos: que a indiferença, já à solta, permaneça longe dos poros que nos fazem transpirar de tanto amor e compaixão.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Feliz

 
Toda vez que vou escrever seu nome e, sem querer, digito a palavra feliz dou um desses sorrisos bobos de quando a gente a recém se aproximou e não sabe ainda o que sente. E já durava mais de anos essa história nunca completada, a ansiedade de esperar a cara de felicidade recíproca assim que a gente se encontra, a efusividade de acordar num dia que já promete já ter valido a pena por começar - só pelos minutos matinais onde a gente se arruma, toma café e se vai pra vida tendo noção da sorte gigante de ter um ao outro indendente do relacionamento que só se firma agora, se divertir na maioria das vezes, ser amigos além de enfim namorados, confidentes, uma bela dupla de dois, um desses tantos casais que tenta deixar na tangente rotina, problemas, maus entendidos e essas coisas chatas que tentam sempre destruir aquilo que tem dado tão certo e quase sempre ganha nota máxima: esse sentimento enorme, incongruente, cúmplice e que a cada dia ganha mais uns pontinhos, centímetros, estrelinhas e um tantão de mim.

Mesmo tão e tão diferentes, é inegável o quão enriquecedora se tornou a minha vida desde que eu decidi entregar os pontos, que eu queria, muito e que era você e deu, e eu perguntei se era o seu número, e sim, e sempre foi desde lá o grude a cada final de semana, as poucas horas (às vezes minutos) pra se ver nos dias de folga da vida burocrática, o que eu posso chamar de, as melhores noites existente, até então – muito mais divertidas que qualquer festa, jantar, cinema, teatro e chocolates suíços: também ótimos, mas se pudesse, a escolha seria sempre você e o empurrãozinho pra sair do elevador. Você e o abraço apertado porque sinto muito frio no inverno, o sono infantil que tenho adoração em admirar, a paciência maior de todas com essa minha energia que não cansa, impulsividade que não desaparece, a brabeza de vezenquando.

Eu quero mais, lindo: mais de a gente na frente da lareira, pra fugir do frio. Dando pipoca pros peixes, tartarugas e pombas do Parcão, rindo das figuras que nos aparecem nos festivais, imitando um ao outro sempre pra descontrair, discordando de vez em quando pra saber que tá tudo certo, dando beijinho pra sarar quando o outro se machuca, passeando de carro quando o tédio ataca, caminhando pelo bairro enquanto a gente conversa, secando as minhas lágrimas quando aparecem, com beijo pra comemorar gol do time, colo e mimo e esses detalhes tão pequenos de nós dois que fazem boa parte da minha vida feliz (continua nela sempre, por favor mesmo que não haja mais um relacionamento sério que nos una, que fique a cumplicidade de anos de convivencia sem saber o que nos guardaria no futuro e agora é presente. Esse é o humilde pedido de uma orgulhosa praticamente incurável). É o meu resumo, que eu corrijo sempre pelo celular ou no computador: feliz. Por ter alguém tão maduro, adorável e irresistível ao meu lado. E ser recíproco, mesmo que cada um da sua maneira (a minha, exagerada, porque afirmo e não nego meu lado brega e apaixonada; a sua racional, masculina, mas tão surpreendente e discreta, quando também forte e que eu tanto gosto). Feliz dia de nós dois. Meu lindo.

domingo, 10 de junho de 2012

Doa-se intensidade (nesse guichê)


Primeiro, que dói mesmo - em mim, quem convive, quem é diferente, naqueles que não sentem a fundo e no mesmo pique elétrico. Segundo, que por aqui anda transbordando (e que preencha essa minha sobra a vida daqueles regrados, céticos, frívolos ou racionais que precisam de uma pitada de emoção pra colorir os traços do dia-a-dia.

Choro sempre, desde uma inexistência de motivos que me façam sentir um vazio ilusório, até com propaganda de dia das mães. É sentar, e pensar, pra então sentir e se ver emocionada ou porque o momento é lindo e meus olhos enchem d'água, ou as ligações mentais me fazem ver o lado nem tão bonito assim, e dão o start num pranto que soluça, para, volta e sofrega de novo. Travesseiro úmido, roupa também, rosto inchado e uma dor de cabeça do cão que só passa se remediada. Ou seja: choro muito, penso pouco, sinto como se tudo transbordasse. É assim, sem farsas nem travas - eu permito mesmo parecer frágil de vez em quando, pena que por esses dias tem me acometido com frequência.

Uma ofensa banalizar a minha tristeza. Recorrente, sim, mas nem por isso também menos dolorosa (ou valorosa, enfim). É tudo tão quente que no calor do momento às vezes a dor, a grosseria, ou a indiferença recebem em troco um choro quase infantil. A vida anda difícil, e o povo sabe. Eu só queria um abraço pra desacelerar essa loucura que é a mente maquinando a mil pelo Brasil, o coração tum tum tum tum - quase virando do avesso - a água salgado que cai dos olhos, e cai e pinga por tudo (e não me faz mais menina e menos mulher, como alguns dizem e muitos outros pensam: faz de mim humaníssima. pessoa em estado puro, à flor da pele que fica quase rosa, tanto que se lava).

Sinto muito, mas eu choro. Porque se intensa é assim mesmo: só quem é também reconhece de longe a importância de cada momento como se fosse o último. O ódio de hoje à noite, que adormece febrio para na manhã seguinte acordar cheinho do mesmo amor de antes. Viver de momentos. Segmentar a vida em horas ruins, tardes maravilhosas, noites inesquecíveis (outras nem tanto). Seria bom se esse negócio de guardar mágoa, rancor ou prologar as pazes feitas fosse esquecidos dos mecanismos da mente de todos. Passassem então a sobreviver no now or never, no love ou leave pra sentir como é querer muito e querer agora, pra daqui a pouco se aquietar, numa autonálise das cabreiras ou embravecer com ação fora do roteiro que invade a tela da vida da gente.

Poderia ser tão mais simples se aceitassem a troca de um pouco de razão por um punhado cintilante daquilo que pulsa as veias e intensifica os dias, dá vazão ao sentimento e faz dos atos nobreza, de um abraço apertado o final da choradeira toda, de elogios, um refúgio contra crises e pormenores que a gente aumenta de dimensão, dos relacionamentos, preciosidade: o amor é mesmo o objetivo da vida. Da forma que for, do jeito que existir, entre quem florescer. Doa-se um pouco dessa intensidade, porque antes de querer enfeitar a vida, é preciso sobreviver. Ou endurecer.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Presentes que namorada nenhuma quer ganhar dia 12


Balança - Ainda mais se ela não estiver em boa forma. Fica fácil levar um presente desses como ofensa ou indireta, mulheres quase sempre estão instáveis e insatisfeitas com o peso, ou seja: dê uma balança só se ela for BEM magrinha, sarada, ame academia, frequente muito e o objeto for bem delicado e feminino. Daí, quem sabe, sai de um dos piores presentes para se tornar um tanto faz. Livros costumam ser uma boa pedida.

Roupas no tamanho errado - A não ser que você saiba muito bem o número que sua namorada use de sutiã, calça, vestido. Porque é fácil ir no olhômetro e errar, muito fácil. Se presentear com o tamanho menor, ela vai sentir que precisará emagrecer - a indireta, mais uma vez - se for de numeração maior do que a que ela usa, vai pensar que você a vê gorda. O impasse é grande. Por isso, fique sempre com maquiagens.

Meias - O que passa o namorado que presenteia com um par de meias? Que, um: não conhece bem a mulher que tem ao lado. E dois, faltou tempo, faltou vontade e pode ter faltado até dinheiro (mas gente, uma flor é melhor que uma meia. Juro!). Bem melhor dar alguma bijouteria (observando, claro, as que ela costuma usar. eu, por exemplo, não uso prateado e sou alérgica ao que não for folhado ou ouro).

Utensílios de cozinha - Mesmo que vocês morem juntos, é uma péssima pedida. Vão por mim. É um sinal nítido de que, para você, ela é quem deve pilotar o fogão sempre - e não, não achamos isso sensual. Pior ainda caso o casal viva separado. Não tem como não se sentir mãe ao rasgar o pacote e se dar de cara com uma batedeira, grill, luva e avental. Péssimo. Que deem sapatos então, oras!

Qualquer coisa parcelada - Vale para ambos os sexos. Porque nunca se sabe o dia de amanhã e, dar presente carésimo em mil vezes no cartão não costuma ser uma boa ideia pois, hoje em dia, os relacionamentos acabam num piscar de olhos (ou melhor, num click) e você é quem vai ficar bancando aquele celular bacanão, notebook ou joia. Dá pra dar algo de preço razoável, de coração, e simples.

Vale-presente - Tava tão sem ideias assim? Acho terrível e não gostaria de receber. Pô, a ideia de se presentear alguém carrega a tarefa de achar algo que lembre a pessoa, o seu jeito, a própria autenticidade. Portanto, se tá sem ideais, até uma caixa de chocolate é melhor que R$50 ou R$100 reais em uma loja qualquer.

Joguinhos eróticos - Desses que tem pra vender em lojas criativonas ou sex shop. Sei lá, eu acho cafona pra caralho. Acho que pra sentir prazer, sinceridade basta. Tesão ajuda muito. Esses jogos, pra mim, são pra casais adolescentes que não sabem ainda muito bem o que o outro curte ou não no sexo e acha aí uma tentativa de descobrir. Baralhos, jogos com dado e coisas do tipo, com tapa-olhos e pena ficam bem over na minha lista. Que fiquem então com kama sutra divertido ou alguma fantasia bacana pra surpreender o gato, essas coisas (como complemento do presente, claro).

Um par de chifres - Trair, ou escolher algo com "a outra" nessa época do ano é imperdoável. Por mais que não descubramos na época - nessas semanas ou daqui um mês - um dia, podem ter certeza, rapazes: a gente sempre descobre. Porque mulher é bocuda e conta pra uma outra, que fala pra uma amiga que conhece uma parente nossa e nos diz. Entendeu? Nunca vai ficar só entre os dois, nunca mesmo. Aliás, esse é o pior presente que qualquer mulher espera na data comemorativa (ou não) que for. Se está há infelicidade, DEIXE, íntegro e antes de cometer coisa pior, por favor. A gente agradece.

Nada - Não dar nada é a pior coisa. A data é muito mais celebrada pelo comércio que por quem namora mesmo, isso é verdade. Mas mulheres ligam pra essas coisas, e não adianta, não tem muito papo, não. Até as que se fingem de duronas e superiores na verdade se não receberem nenhum mimo ficarão sentidas, sim. Flor não é coisa tão cara, nem uma carta ou cartãozinho com várias coisas que o cara sente. Passar a noite juntos também, pode ser uma grande coisa. O que não vale, para quem é comprometido, é deixar passar em branco

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Agonia





Estava ela agora sentada se balançando, os braços entrelaçando as pernas, dobradas. Inquieta, vai e vem enquanto espera ele vir. Um beliscãozinho pra ver se não passa do pior pesadelo em meses. Doeu, ou seja: é real, não. Esperar dentro de casa no choro compulsivo se tornou insustentável, precisava do ar da rua, de alguma ilusão que fizesse os minutos correr e ver ele logo, desabar nas palavras toda agonia que escutar um "estou confuso" gera na cabeça já um tanto conturbada de uma mulher.

Era preciso que entre o apertão no braço que dirige uma conversa tudo fosse extirpado da boca de quem precisa mesmo, e não tem vergonha de pedir, até porque, veja bem: meu momento é o pior já existente, não nos deixa assim a troco de nada, por favor, esquece a ideia de ser capaz de me largar à mercê na vida de lágrimas escorridas e peito quebrado. Que tinha feita para, em poucos dias, algumas horas, esmorecer de certeza a mera dúvida? Não entendia, não entendia; suplicava: diz que é um pesadelo, me acorda disso onde a gente errou de forma tão cega que não percebeu transformar prazer em obrigação.

E no caminho ele apertava forte, beijava o rosto úmido do pranto torrencial, reacendia as luzes de que por mais que a vida estivesse difícil, o tempo apertado, a rotina massante, era impossível abandonar aquela que a tirava do tédio toda vez que simplesmente aparecia, feito milagre pequeno que bate na porta e a gente escanteia para o vizinho, algum orfanato, qualquer outra pessoa. Eu preciso de ti, ela dizia, porque eu sei que aumentei demais o pedestal, me perdi dentro da própria vida, só que não sei seguir sozinha. Tá tudo bem, ele respondia. Fica calma, para de chorar, pô. É só uma fase, a gente consegue atravessar isso, só disse o que tava sentindo, sabia que você ia ficar assim, não fica mal por favor mas eu precisava falar, se não nunca ajustaríamos o que anda de errado, não teríamos chance de melhorar.

Quase calma, ela sorriu um pouco. Voltava a chorar de vez em quando. Era TPM, e com certeza, todo o drama explodiu na semana errada, menos propícia entre outras tantas. Que ela era assim mesmo, já transitória entre os vários sentires por dia, mudando muito mais o humor que a roupa antes de sair. Como única convicção, todo amor do mundo, capaz de teletransportar pra um planeta distante, plantar duzentas mil árvores de felicidade e oxigenação, germinar nela a mais bonita de todas as felicidades que já se permitiu. Agora já um pouco desmatado, nublado de incerto, confuso pra quem nunca nem imaginou pensar de tal forma. Medo no meio da noite, abraço apertado, "eu te amo" mais sincero nunca escutado antes. Alguns maus sentidos devem vir para bem também, refletiu. Ainda sem saber se compra uma passagem e muda a vida pra Buenos Aires, seguirá a conviver não com um homem, mas sua forma emotiva e irracional em ponto de interrogação, ou tudo fará bem, repete: vai passar e tudo ficar bem, seja o jeito que for, da maneira que der, como conseguir. É só o que pode. Deve.