sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Prezados tarados


Ocupados demais em êxtase, choque, ou admiração, você deixam de notar o quão ridículo é a posição nojenta, escrota e pedante em agir como quem nunca viu mulher na vida. Detestamos os sussurros largados numa passada que quase nos atravessa no meio da rua, ojerizamos as palavras de baixíssimo calão que escolhem para usar como "elogio", os assobios agoniantes que por vezes assustam, e em outras nos geram no âmago um desprezo abissal pela existência de homens desse tipo vulgar que existem no mundo.
Da nossa possível beleza, bem sabemos: espelhos e superfícies refletoras nos mostram se a pele está boa, o cabelo de bem com o dia e a roupa nos caiu bem. Há dias em que a autoestima baixa mais que ação da bolsa de valores, óbvio. Porém, o olhar medíocre de quem vê apenas corpo em quem também tem alma, inteligência e valores, por mais feia que se sinta, não melhora a autoimagem própria que fazemos umas das outras. Nos sentimos ainda mais gordas, se inchadas e na TPM. Feias, se com aquele sapato que acabou combinando com a bolsa por mero descuido na hora de sair. Damas fáceis pra uma sociedade machista onde nem revidar ou repreender com os olhos podemos, tamanha a violência e agressividade que a cultura implantou nas mentes masculinas. Ou seja: não sentimos prazer algum, se por acaso temos que passar na frente de uma obra e todos os serventes, pedreiros e até mesmo engenheiros, param para olhar.
É instinto do homem, dizem alguns. Não há como evitar, e mulher bonita está aí para ser mostrada. Até compreendo. Gostamos de nos sentir sensuais, por mais que admitir seja difícil. Contudo, para os seletos em nossa lista: não é qualquer um que está valendo a pena atualmente. Encontramos então, e o resto dos caras do Universo passa a ser nojento por si só (salvo familiares e amigos, que claro, não tentam sensualizar conosco quando sozinhas, indefesas, em ruas vazias e afins). Se é um impulso de macho, que seja discreto. Olhar, assim como não tira pedaço, ofende menos. Parem e notem que, o sutil nos atiça o sentido de caça e conquista, nos deixa a par do desafio de querer também. E que antes de sexo, vem amor, vem romance, vem paixão e toda e qualquer atenção ao que se pode sentir, à firmeza de terreno, à observação.
De cada uma dessas situações, saímos quase sempre nos sentindo fáceis, sujas, férteis mas nunca deusas ou maravilhosas como talvez pensem vocês, tarados. Pois então, prezados tarados, se resguardem. Não nos atinjam, segurem para si suas olhadelas safadas, seus ímpetos sexuais, suas frases repelentes. De nada servem, e ao invés de aplaudir, quase sempre ofendem. Vale lembrar: hoje é a moça com corpão que passou por você, e lógico, nem olhou e se sentiu apenas um pedaço de carne. Amanhã, pode ser sua filha. Ontem, pode ter sido sua mãe. Respeito, nesses casos, se não vem de berço, acaba chegando pela percepção do apreço de que pode ou poderia se passar por quem prezamos. Para desafogar a tensão do dia, que procurem imagens, vídeos ou profissionais do ramo; nós, mulheres de carne e ossos, precisamos é de flores, chocolates e cafuné na cabeça, isso sim. O tiro sai pela culatra de quem mira apenas o culote.