segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Bichinho do ciúme

Pode ser numa manhã ensolarada, mas com frio na sombra. Ou nos dias em que me obrigo a pegar a lotação úmida com cheiro de cachorro molhado, guarda-chuva no chão, sapatilhas encharcadas. Nos chega sem pedir licença, nos toma a mente e entorpece sem que a gente perceba. Delírio, sangue pulsante, voracidade. E eis que por pensar em ideias inexistentes, ou mesmo por visualizar malí...cia onde não existe, nhac. Imprudente aos tentadores segundos de fúria e imaginação exacerbada, cega da fantasia de nem mesmo saber bem o que, mas ainda assim, ter medo de que, quem a gente pensa que nos pertence, esteja se auto emprestrando por aí: enciumamos.
Toda e qualquer mulher que se aproxima - e não for da família (ou mesmo sendo uma prima distante e de idade aproximada) - se torna alvo. Passamos a desacreditar a amizade entre homem e mulher. Silenciamos frente à alguns amigos com quem conversávamos bastante, preferimos que nossa melhor amizade, seja também quem nos possibilite amor. Fervorosamente, nosso desejo secreto é de que, qualquer piranha que pense em chegar perto do que (pensamos nós, é claro), nos pertence, tenha seus cabelos queimados, sua voz emudecida e o corpo paralizado. Até morte, em casos gravíssimos, cogitamos. E nós, mulheres, quase damos início à 3ª Guerra Mundial. Atiramos indiretinhas cheias de mensagens confusas nas entrelinhas. Temos o dom de fazer com que a acidez de ironias premeditadas nos tragam a lerdeza das respostas que já sabemos quais são. Como assistir a quem tente um contato, a quem tenha participado de quando a gente ainda nem existia dentro da vida do outro, sem deixar que nosso alerta vermelho pisque, fazendo com que flamejemos não só de ciúme, mas raiva e ódio e zelo? Invejamos quem vê o dia inteiro quem queríamos nós, admirar. Nos sentimentos fiéis proprietárias do que nos pertence, do que ainda não é nosso, daquilo que um dia desejamos que seja do que nunca foi e nem mesmo será. Basta que nosso instinto alerte e naturalmente, feras paranóicas.
De repente, nos vemos contaminadas logo após entrar na veia o veneno desse sentimento obscuro e que, munidas de segurança e boa autoestima, nem deveria infeccionar. Se vai o bichinho, tão logo nos hostilizou. E enfraqueceu. Fez ruir a imagem maravilhosa que tínhamos de nós mesmas, instaurou o caos no relacionamento, precipitou opiniões fortes em palavras impensadas, de ambos os lados. Batalha travada, vitória de lado nenhum. Some novamente, para dentro do lugar indefinido de onde brotou, o animal minúsculo em comparação ao tamanho do amor que a gente sente. E no fim das contas, quem ganha mesmo é quem deixa que num abraço apertado, num braço dado a se torcer, na visualização de que, como é minúsculo essa teimosa besta que habita na gente e mesmo que por pouco tempo nos faz irracionais e assustadiços. Afinal, o que os olhos não vem, esse incômodo bichinho que se chama ciúme, inventa.