sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Lisergia pura



Amor é mesmo loucura; lisergia pura. E com toda a razão possível, escondida por trás de cada uma das ações involuntárias que nos tomam o corpo, a mão, os sentidos. Tipo bichinho da maçã que vai corroendo aos poucos, o vício da droga ilícita que bate e deixa cada vez mais a fissura alastrada - quando na falta. Se alienar do mundo, para, aos poucos se dar conta de que paixão era muito pouco perto do efeito que tem sentir a prolongação do coração que não para, do ar que não falta. Da constância com sabor de eternidade. Um cio confortado, presente. Beco que, depois de adentrado, sem saída nenhuma (e sem querer que se encontre qualquer solução para subterfúgio algum). Quase dádiva em se infectar de sentimento, de receber o feedback quietinha e sem jogo, nem culpa, medo ou compulsão. Ali, no braço colado ao outro braço, no riso compartilhado, nos olhos que não conseguem desviar. Alucinar no surrealismo dessa sensação que vai sendo construída, dia após dia, conversa pós vida, vida terrena de lado na viagem entusiasta de embarcar no que não se conhece, mas querer mais e mais, sempre. Estado agudo, intensivo, veemente de uma droga lícita, que felizmente, faz bem. Peso dos dias retirado das costas, trocado pela leveza de pés tão livres e soltos, que quase flutuam - imaginam pisar nas nuvens. Palavras que fogem ao sentido da explicação, se escondem covardes atrás dessa afeição toda que é sentir e nem ao menos conseguir relatar aos meros mortais que disso nunca experimentaram, ou viveram. Uma insanidade que, de tão pura, apenas nos vangloria: não deixa danos, não desgasta; apenas aviva e incendeia. Insensatos, unidos por um mesmo cordão quase umbilical de quem se reconhece por uma vida quase inteira, desses ciclos de amor que mal um termina, no horizonte outro recomeça. Amar é a irreflexão certeira, assertiva, de que a maior sorte se encontra na nossa frente, em carne osso, cabelos e emoções. O delírio do qual nos orgulhamos de ser pertencentes, o contágio alegre de renovação dos dias, mesmo que seja com exatamente a mesma pessoa ao lado. Doido mesmo é amar e aprender, se aperfeiçoar depois de ver que paixão, que nada: o barato que dura e não sai caro é esse de se doar para quem tem onde nos colocar - órgão vital, colo, agenda no celular, programas juntos, vida - e que se doa também, que nos preenche em totalidade. Lisérgicos, sem reabilitação. É isso que somos todos em busca dos arrepios na alma, das certezas no estômago, da claridade dos passos. De amor que nos ensandeça devagarinho, mas que fique. Conforte. Poder e êxito, destino e vontade; amor é curioso e desvairado. Quando vê, o que nunca se imaginou ser é nossa realidade e mais do que nunca as borboletas voam, talvez sinos não toquem, mas o toque do outro na pele feito toalha macia com cheiro de bem me quer é o que salva da loucura diária e nos transporta até a pretendida: amor real, completo e precioso, incomum e vibrante. Completamente utópico e particular, a quimera de sonhar à dois é caminho na rota viciante desse ideal romanesco: amor.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Bula


Indicações:
Dias de sol. Tempo ameno, sensação térmica alta. Compras no shopping. Caminhadas ágeis. Conversas acaloradas. Momentos ímpares de alegrias ainda indescobertas. Desafios em meio ao tédio. Opiniões decisivas. Saídas necessárias de cima de qualquer muro. Maleabilidade. Sinais, intuição, percepção. Desejo do mundo na palma da mão. Chocolate. Flores. Escritos à mão. Cor. Abraços apertados. Beijos intermináveis. Carinhos excessivo. Saudade.

Efeitos colaterais:
Risos histéricos e incontroláveis. Confusão mental, dúvida e contradição de atos. Aceleração de ritmo próprio. Desvio de conduta. Divagações exarcebadas. Vontades impensadas, delírio. Exaltação. Calor no corpo. Sentimentos de cuidado. Mudez ocasional. Ingenuidade. Impulsividade.

Precauções:
Devido ao risco de não haver tédio e sua atividade tanto mental quanto corporal ser estimulada incessantemente, deve-se tomar precaução especial nos pacientes propensos a tédio, silêncios, mudanças de humor repentinas, estagnação e falta de ambição e frieza inexplicada e imediata. Possível deslumbre quanto à realidade ou imprudências. Não recomendado a pessoas apáticas e com falta (ou total ausência) de personalidade.

Apresentação:
Embalagem com 1 moça de idade jovial em constante mudança e processo de evolução. Conteúdo de 1,68 de cintura fina, pernas grossas e ombros e quadris de medidas aproximadas.

Composição:
80 cm de cabelos escuros, olhos amendoados e mel e duas orelhas miúdas, com um furo cada em lóbulo inferior. Uma pintinha acima da boca,  e um risco na texta. Dez unhas bem pintadas e dois pés hipersensíveis, para cosquinhas eficazes. Sangue quente correndo nas veias, voz alta adaptada para fala prolixa e olhos velozes especialmente potenciados para leitura dinâmica. Algumas manias estranhas, um punhado de frases desconexas, sonhos e ideais não realizados.

Contraindicações:
Dias nublados, cinzentos e de temperatura instáveis. Chuva fininha. Ventania e frio. Pó. Gente que fale e escreva errado, gente brega, gente que não olha para a própria vida e critíca a alheia. Com melancia, tomate, ovo cozido ou guizado. Egos enormes. Falta de espelho. Tédio. Sono em demasia. Vergonha alheia. Preguicite aguda. Pés com meia. Indecisão.

Posologia:
De surpresa, de relance, nos momentos necessários - que dependem de cada pessoa e podem ser uma vez ao dia, três na semana, a cada cinco horas. Quando precisa se fizer a faísca em meio ao caos que apenas esta profilaxia possibilita. Para os que não aguentam fortes emoções: uma vez na semana é o suficiente. Para aqueles que buscam aventura em meio à subalterna vida urbana: pela manhã para começar o dia, é o recomendável. Três vezes ao dia para excessivos é o essencial para evitar futuros enjoos.

Superdosagem:
A superdosagem intencional ou acidental não representa perigo. Manifesta- se por extrema intensificação dos efeitos do produto: pensamento acelerado, ações impensadas, ideias estimuladas, fala incontida, radicalismo, força de opinião. Cuidar apenas vício e surto ocasional, logo relevado pela própria medicação.

Laboratórios Gonçalves&Pereira LTDA.

domingo, 25 de setembro de 2011

Primaveril



E então, é primavera. Minha vontade era telefonar apenas para dizer: é primavera. Bem provável que você nem saiba, e não se importe. Só que a partir de hoje, as flores vão começar a surgir nas árvores, por entre os canteiros da cidade, nas saias e vestidos rodados das moças que passam, e defloram, sorridentes, coradas e harmoniosas. Sei que você sempre me achou um tanto mística, e talvez não compreendesse toda a entrada desse novo ciclo, dessa estação que aflora, e promete nos fazer mais complacentes, esperançosos. Talvez você me ache ainda mais doida e insana, mas vi numa dessas minhas ilusões coloridas aquilo que queria para o momento de agora, enquanto o céu cinzento se esvaía por entre os dias, semanas que passam - quem sabe você e porventura eu, sentados conversando na grama tão naturalmente verde e viva. Idílico, perfeito, divino. Mas, não. Nada disso aconteceria hoje, nem mesmo amanhã, porque você nem existe aqui no meu cotidiano, e talvez nem saiba da minha existência dramática, insistente em tentar furar o seu habitual viver sofisticado, transitório. Com alguma mágoa resguardada quem sabe, mas com algum carinho e amor escondido, imagino, apenas esperando o momento.
Poderíamos ver animais se engraçando, e deixando a pouca racionalidade que têm de lado, enquanto comeríamos do fruto, e conversaríamos sobre qualquer coisa vã, como nossos futuros ideais destraçados, nossas frequentes dúvidas em existir e estarmos vivos, no momento presente. Juntos. Embalados por qualquer bossa nova docinha e cautelosa, como deveríamos aprender a ser os dois. No entanto, apenas outros casais também desiguais deixando se consumir atrás de amores incertos, desqualificados. Quando eu nem sei se você ainda existe, olho para a estante do quarto, e lembro do meu silêncio matutino, tão incômodo, eu vivo pedindo e querendo, calada e em pensamento que você também sinta a minha falta assim, laceando, e venha com  uma flor para os meus cabelos negros segurar, atrás da orelha. Ou quem sabe, se a gente apenas tomasse sorvete, e dançasse por entre a chuva de verão, qualquer coisa. Em contrapartida, nada acontece. Você ainda inerte, inatingível. Eu talvez cansada, descrente. Querendo apenas te contar que, finalmente, é primavera. Desejando que você não se apaixone tão cedo, e não se arrependa tão tarde também. E você não está aqui, o amor está no ar, e as flores nos jardins. Aposentaremos casacos, calças e blusões, e voltaremos a usar apenas camiseta, vestido, chinelo de dedo. Tiraremos o corpo também do armário, e de volta a cor do pecado. Como quando naquele verão que ia embora, e daqui uns dias chega; num piscar de olhos, passou meio ano, e logo um se completa, inteiro. Hoje começam as amenidades, que comece então pelo meu coração quietinho e calado, apenas te enviando mentalmente esse mantra entoado de que: é primavera, finalmente, é primavera.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Andressa responde: Entrega, medo e importância da camisinha.




Oi Andressa. Sou soropositivo, descobri isso em janeiro do ano passado, e em setembro comecei a terapia com antirretrovirais.
Putz, que barra.

Namorei por 4 anos com um garoto soropositivo. Ele me contou na primeira semana em que nos conhecemos e nao pensei duas vezes, continuei com ele. Em nenhum momento considerei esse motivo algo suficiente para terminar com ele.
Deve ser complicado mesmo. A gente, que está de fora, num primeiro pensamento julga. Mas e se no lugar do outro? E se o sentimento for maior que qualquer coisa e explodir dentro da gente a cada vez que vemos a pessoa, sentimos a pele dela na nossa, enfim. Complicado.

Não me arrependo e não o culpo por isso, apesar de todas as nossas diferenças, de nossas picuinhas, nunca joguei na cara dele que ele tinha me transmitido o vírus, e apesar de ter sofrido durante esse relacionamento que foi bastante conturbado, se voltasse no tempo faria tudo de novo.
Ok, vamos com calma. Você sabia do vírus, e aceitou a condição do seu namorado. Agora, a pergunta: por que não se cuidou, poxa? A aids é um assunto tão recorrente na mídia hoje em dia, todo mundo menos o Papa quase nos obriga a usar camisinha, e tendo conhecimento da disposição do seu amor, era só se cuidar direitinho que a sua saúde ficaria intacta. Tantos e tantos casais por aí em que um dos dois tem a imunidade comprometida e até filhos conseguem ter. Faltou usar a razão da sua parte, meu amigo. O amor é incondicional, mas a vida deve também ser, se com saúde nos cuidarmos.

Fomos irresponsáveis e em algumas ocasiões acabamos transando sem preservativo, às vezes bebados.
Bebida e sexo também são perigosos. Outra consequência se chama gravidez, que se não interrompida, evolui para "bebê", sinônimos de "ser humano" e "vida". Continuo não querendo julgar, até porque conheço pouco demais o mundo de quem é soropositivo. Mas poxa, faltou cuidado.

O que provavelmente tenha ocasionado a transmissão - não digo isso com certeza por que posso sim ter pego de outra pessoa, pois em meu outro relacionamento não tinhamos o hábito do preservativo.
Meu Deus, guri. Seu louco. Enfim, então talvez você já estivesse com Aids e não soubesse? E exames, não costuma fazer? Usar preservativo notei que não, mas é tão importante se cuidar e se colocar em primeiro lugar. Esse foi o pior e mais brutal erro na história toda. E como você não usava a camisinha antes, como vai ter certeza ou culpar seu último namorado? Também não rola.

É realmente incrível como isso ainda acontece, em plena era da informação.
Pera lá, que você também sempre foi informado e não usou. Não tem motivo nem desculpa plausível. Você se contradiz nessa frase, infelizmente. Sabia dos riscos, e agiu com imprudência. Como consequência, carregará para a vida toda (ou até que achem ou liberem alguma cura) uma doença que debilita a pessoa aos poucos, ainda também na era da informação.

Mas enfim, não adianta chorar pelo leite derramado. Minha questão é: como voltar a acreditar num outro relacionamento? Como contar para a pessoa que eu tiver me envolvendo que eu sou HIV positivo?
É algo por que não passo, nem espero passar, mas que você terá que aceitar e usar de cautela e delicadeza para adentrar o assunto aos poucos no relacionamento. Não será fácil, mas será essencial. Mostrará que você é honesto, e gosta e se preocupa com o outro.

Tô com medo da rejeição. Sei que posso procurar entre pessoas que tambem são, mas não queria ter de limitar minha escolha de um parceiro a soropositivos.
Também discordo nesse ponto. Apenas tem que achar alguém que entenda e não se assuste com a sua condição. E não, não será fácil. Infelizmente. Porém, se limitar é erro e forçar uma situação. Nunca saudável em nada.

Isso significaria que não tenho direito de me apaixonar por um soronegativo?
Você tem o direito de se apaixonar por quem quiser. Ser correspondido são outros milhões. A questão está justamente aí.

Como uma grande amiga minha me fala: o amor vai bem além de umas celulazinhas com deficiência de imunidade, e se tem preconceito não me serve pra parceiro na vida mesmo.
Talvez. O que há também são pessoas que não estão prontas para lidar com a situação. A cabeça de todos ainda é muito fechada, é essa a realidade.

Mas a insegurançaa me persegue. E gostaria de uma forma de abordagem. Eu tenho um discurso pronto. Mas não sei se vai adiantar alguma coisa. Nunca sei o alcance do preconceito das pessoas. Meu discurso inclui a informação de que com a terapia antirretroviral meu vírus fica indetectável, não causando assim nenhum risco de transmissão, e sempre usaria preservativo.
Acho justo, porém não ensaie nada. Se você saiba as informações, apenas seja sincero, olhe nos olhos, e repasse-a. É simples. E você ganha mais credibilidade ao invés de parecer um robô pré-programado.

A única diferença é que a pessoa saberia da minha situação. Apesar de tudo isso, o medo se instalou, e não sei como agir em relação a isso.
Deve ser complicado mesmo. Se eu disser que entendo e dar vários conselhos, seria tudo falso e não teria nem cabimento responder a sua pergunta. Você me enviou ela algumas vezes, e há algum tempo. Pensei bastante no que dizer, discorri sobre o assunto com uma amiga próxima. Acredito que sinceridade, no seu caso, em tudo e na vida, é bem importante. Não se apegue a esse medo da vida, do que vem pela frente, de amar. Apenas se cuide, e repasse a sua informação à frente. Parece difícil, mas é só o começo. Aperte start, deixe fluir e esqueça as preocupações. Você sabe quem você é e não tem o que temer. Boa sorte!

P.s.1 - Lembrando sempre que, a aids hoje em dia possui tratamento e não é transmitida por saliva, abraços, beijos ou suor. Apenas pela troca sanguínea ou sexo. Preconceito é burrice, todos sabemos.

P.s.2 - Quer enviar sua pergunta também? O e-mail, como todos sabem é simples e está disponível sempre: dessagoncalves_@hotmail.com

 Um beijo, seus lindos!

Me and The Drums

Nova York, foi berço da banda de indie pop The Drums, uma das que menos canso de escutar e que refletem sempre minha felicidade nos bons momentos dessa vida. Comparados ao The Smiths - ícone do gênero musical nos anos 80 e conhecida principalmente pelo destaque dado no filme "500 Days Of Summer" - teve seu início em 2009 já com o reconhecimento da BBC como uma das cinco bandas a despontar no ano de 2011. E não é que foi? Conheci a banda ano passado com a gostosa "Let's go surfing", e me apaixonei instantaneamente. Ainda em 2010, saíram em turnê pelo Reino Unido com Bombay Bicycle Club, Florence & The Machine, Kings Of Leon, e Maccabees,Após o desastre no Japão, os guris criaram a música "The New World", em abril de 2011. Lançaram este ano também o álbum Portamento (que eu achei ótimo, que alguns criticaram, que ficou mesmo mais dançante ainda, mesmo tendo poucas musicas disponíveis para áudio). Vale lembrar também que algumas das influências musicais (e até mesmo referenciais) do pessoal são Joy Division/New Order, Beach Boys e The Legends.

Estilo retrô, som autêntico e comentário na terra do Tio Sam e no resto do mundo, eu posto na banda idem. Para o povo de SP, os moços estiveram na capital paulista em março deste ano - e eu perdi, e quem não foi também, um ótimo show, dizem as sortudas línguas e corpinhos que compareceram. Algumas das melodias que gosto bastante são "Me and the moon", "Forever&Amen", "How it ended" e o novo single, "Money". Confiram aqui o vídeo, espero que gostem:





quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Essa tal de intuição

Dentre todos os artefatos, todas as manhas, todas as táticas femininas, nada supera a eficácia e eficiência que a praga da intuição feminina alerta internamente. Tá tudo bem, o mundo anda maravilhoso, até que bip bip e nem tudo continua cor-de-rosa como embelezado estava. É um embrulho no estômago que chega e nem avisa, um banho de água-fria no que acalorado e positivo, agora encharcado em desconfiança, não é mais. Porém, nem sempre. Há os dias em que floreia por trás desse plano cartesiano, real e imediato da vida que algo bom a caminho está; coceira na mão e dinheiro, todos os sinais em verde e vida aberta, felicidade fácil, alguma notícia boa ainda não extraviada.
Como explicar, estar pronta, e não conseguir descer a escada, nem abrir a porta, trancafiar-se ao lado de fora já na rua e com inúmeras possibilidades no bolso? Escuto tanto essas minhas sensações anormais que desviam do curso premeditado e normal em que todos se encaminham. Requer coragem, confiar tanto numa percepção futura de avisos e sinais que nos sopram verdades absolutas nos ouvidos, mas sem provas para contestar, no presente. Às vezes, essa nossa amiga se torna a melhor possível: e tira de frias, e coloca em boas, sonhadas e então, saciáveis situações. Um momento de silêncio, uma conexão com o indefinível, instantes de meditação capazes de desviar do perigo, mirar na satisfação e certeiro, fazer nascer um sorriso.
Há pressentir um amor, e com atitudes cautelosas e delicadas, tranquilizar-se sem pressa de agir por já saber que lá na frente, talvez daqui a pouquinho, laço feito, braços dados, um beijo, algumas noites e a certeza ainda em pé, viva em saber que fez seu papel de isolar ruídos alheios e aumentar o próprio volume interno. Diante das milhares de possibilidades e escolhas, opções e opiniões, escolher a si mesmo e à própria bagagem, para que, mesmo que o erro seja resultado de uma primeira reação, na fidelidade do próprio ego acertar pode ser a consequência final. Em frente ao que é tranquilo, mas banal; ao lado de quem não é bem aquilo que apresenta, mas sim, pior; na escolha de apostar num cheiro, num gesto, numa indefinição que nos foge de explicar, mas que, em qualquer momento da vida, sentir basta.
Da visão mais ampla e límpida, mesmo que emabaraçada e errônea até que não se explique o tal feeling responsável por conturbar a vida, remexer os sentidos, embaralhar os acontecimentos de um dia, a sorte de contar com essa opinião sem cara, raça, feição ou voz ativa (uma opção). Ecoa no fundo da gente, paraliza ainda mais nós mulheres quando funde-se a razão com a emoção para que se aponte algo que até então não havíamos notado. E muda um mundo, apenas movendo-se do lugar. E gira a roda azul com mais velocidade e maior intensidade, uma peça colocada ou sem. Farejamos tanto, que intuimos.
Graças a nós mesmo, deixamos de ir a uma festa que estava horrível, de comprar aquele sapato que sua amiga desembolsou e quebrou o salto, ou de não ligar justo quando ele estava sem telefone celular. Captamos o invisível, detalhamos o esboço inanimado de cada momento que passa e merece atenção, pois quando vê já foi e mudar só na próxima parada. Além de sermos as escolhas de fazemos, boa parte do que somos se resume na interligação de cada intuição que ousamos ter. A mágica de acertar é, com certeza, a melhor recompensa.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Andressa responde: Insaciavelmente carente e comprometido e eu


Andressa, primeiro quero agradecer pelo espaço que você disponibiliza para os desabafos das suas leitoras.
Sou eu quem agradeço a confiança, obrigada.
Pois bem vou direto ao ponto: conheci um garoto no auge dos meus 15 anos, naquela época, encantador aos meus olhos. Ficamos bem amigos. Ele tinha uma namorada de algum tempo e às vezes desabafava comigo algumas coisas do relacionamento deles. A “amizade” foi ficando tão forte que minhas amigas ficavam dizendo que ali tinha um "quê" além de amizade, sendo que eu não conseguia enxergar isso!
Vamos lá, então. Primeira coisa: cara que namora e quer fazer futuras amizades é quase sempre cilada. Eu disse quase sempre. Porra, se o cara é comprometido e fica dando papo pra outra guria que mal conhece (e deseja conhecer melhor, pelo visto), se algum dia ele vir a se comprometer com você, será igual. Ou seja, é aquela velha teoria: se o cara trai a oficial com você, se algum dia você vir a ser a oficial, não se surpreenda caso seja traída. Enfim, vocês se aproximaram, e onde é que estava a namorada desse cara o tempo inteiro? Fazendo amigos também. Outra coisa bem estranha é cara desabafar com "amiguinha" sobre o relacionamento. Dos homens que conheço, a maioria mal desabafa com outros homens. Tudo bem suspeito. Ou no fundo, você já sabendo onde daria, não? A gente se trai, e na maioria das vezes, gosta de se enganar. É realmente incrível.

Dois anos depois em um carnaval ele veio atrás de mim. Fiquei com muito medo de ficar com ele e isso acabar com a nossa amizade, mas a carne é fraca e o coração é vagabundo, e acabei cedendo, ficamos.
Detalhe um: dois anos e vocês sendo amigos e ele namorando? É tempo demais. Ele deveria estar querendo um pouquinho de adrenalina e emoção de fora do relacionamento, mas não traia ela com você. Ou vai ver queria uma atenção a mais da que a patroa disponibilizava. Pois então, num carnaval (e todas aqui somos grandinhas e sabemos que, carnaval é carnaval e é difícil levar algo que comece na época adiante), vocês deram um start no que sempre ficou só no quase. Como eu disse, você desde o princípio, queria no inconsciente, subconsciente - tanto faz - mas fingia ignorar o fato.

Dito e feito: acabou com o nosso elo de cumplicidade. Desse dia em diante apenas brigamos, e ele fica em um namoro iô- iô (some por uns tempos e depois volta reacendendo todo o amor que eu julgava não existir mais).
Ou que você sempre soube existir, mas como eu disse, fingia não sentir, ver, notar. Não me surpreendo com o ocorrido. Desde a possível "amizade" de vocês, era bem notável que o mocinho não se contentava apenas com a namorada e ciscava por aí. Talvez, você não tenha nem mesmo sido a única. Eu não me surpreenderia caso soubesse. Fico com pena é da tal namorada (ou não sei como designar) desse rapaz. Imaturidade, esse é o nome.

Ele alega que é o meu temperamento frio às vezes que me afasta dele (detalhe: apenas ele me acha fria).
Se antes a amizade funcionava legal, o que mudou? Não entendo.
Ele viu você de forma mais íntima e, quem sabe, apaixonada ou em amor, e desmotivou, quem sabe. Idealizou uma pessoa que você não é (felizmente, porque se for isso, você deve ser melhor do que ele pensou), e enfim, ainda acho que é aquilo: a contentação incontente de não saber curtir e explorar o universo de apenas uma pessoa. Algum dia, quem sabe. Mas suponho que esperar não seja bem o que você deseja, então, o negócio é cair fora o quanto antes - e mais difícil seja - e achar quem realmente mereça carinho, atenção e sentimentos reais por apenas uma pessoa. Você.

Nesse meio tempo tento ficar com outros caras, mas não consigo me empolgar com nenhum, não sinto absolutamente nada por nenhum deles. UMA LUZ, ANDRESSA, PLEASE!

É o que falei: enquanto você não sair de uma vaga, dificilmente verá as tantas outras a serem descobertas mundo à fora. Vá em frente, se jogue, desamarre de algo que a deixa tão presa em frustrações. Se está essa confusão e apenas você deseja arrumar, saia o quanto antes e procure a vida sentimental organizada de alguém, em que você seja bem-vinda e bem quista, para entrar. Boa sorte, guria!
Quer enviar sua pergunta também? Se joga no dessagoncalves_@hotmail.com e se sua questão for boa e bem estruturada, é só esperar a resposta no blog. Beijoca!

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Andressa responde: Não, você não é psicopata.



 Olá Andressa, tudo bem? Bom, vamos logo ao que interessa, sem muitos rodeios.
Peço-lhe perdão, desde já, se a deixar muito confusa, mas eu sou mesmo assim, um poço de dúvidas.

Pergunto eu então: e quem de nós não é? Quem vive de certezas acaba deixando a emoção totalmente pra trás. Está mais que perdoada!

A minha pergunta é sobre amor, ou um não amor, um amor que eu não consigo sentir. Sabe, eu sempre vejo pessoas apaixonadas, fazendo juras, se declarando, sorrindo à toa, reparando em pequenos detalhes de seus amantes e achando-os um máximo por dizer uma palavrinha errada ou certa demais. Eu cresci vendo as minhas amigas se apaixonarem, e descobrir que estavam amando, enquanto eu só conseguia pensar em mim, nos estudo, nas milhares de viagens que pretendo fazer.

Cuidando do seu sucesso futuro. Até aí, compreensível. Somos todos diferentes, e se ninguém ainda te tocou lá no fundo, a fez ficar boba e apaixonada, então relaxe: uma hora aparecerá. Vá por mim.

Elas estavam sempre derretidas por algum menino, e a principio eu também estava, mas só até conquistá-lo, depois perdia a graça entende?!

Completamente. Já fui assim. Depois de um tempo, passei dessa fase.
Eu sempre arrumava uma desculpa e me afastava, dizia que só podíamos ser amigos, ou que eu tinha coisas demais para fazer, ou que eu ia mudar de cidade - e muitas vezes, mudava mesmo, não por eles, claro, mas mudava.

Bom, não cheguei a tanto. Algum medo seu, alguma desilusão forte quando ainda novinha? Puxa, terá que vir alguém que derrube mesmoe ssa fortaleza que você construiu em volta de si para que nenhum sentimento te atinja.

Hoje uso a desculpa de que preciso conhecer 13 países diferentes antes de me apaixonar. É infantil, eu sei, mas ao dizer isso espero que eles entendam e se afastem por si só, sem que eu precise me esforçar demais, e magoá-los mais.

Acontece que, geralmente, homens adoram desafios. E bingo: eles podem se motivam justo por você se fazer tão inatingível. Cuidado, mocinha!

Às vezes fico pensando se não tenho nenhum problema, se não sou meio psicopata. Mas não, eu não posso ser, amo o meu pai mais do que a mim mesma, tenho poucas mas ótimas amigas, adoro os meus avós e toda a minha família, então, acho que não posso ser tão fria assim, né?! A ponto de ser psicopata não, eu acho!

Ah, acho que não. Acredito eu que não, guria. Se você tem carinho por pessoas da tua família, e amigos, é só porque o cupido talvez ainda não tenha te flechado. Mas fica como dica minha, tentar se abrir a quem aparece ao invés de se reclusar com medo ou coisa do tipo.

Bom, a questão é que eu não consigo me apaixonar, não por pessoas reais, por personagens de livros sim, o tempo todo, de filmes então nem se fala, mas por pessoas que existem não, não ainda, e às vezes tenho medo de que nunca possa.
Desde já, agradeço a atenção!
Beijos

Felizmente, pessoas são reais. Personagens, que são ou vilões ou bonzinhos, só existem na ficção, nas tramas criadas para deslumbrar as mentes fracas e pequenas de quem assiste, se identifica e tenta copiar comportamentos. Somos reais, de carne, osso, sangue, sentimentos, ideias e percepções. Dê essa chance a si mesma. Quem não arrisca, não sai do lugar. Há chance de você se machucar, se ferir, claro. Mas quem é que escapa do risco, quando sonha alto? Ainda não conheci.

Quer enviar seu dilema, pergunta, ou desabafo também? Mande para dessagoncamailto:dessagoncalves_@hotmail.com, bonitinho, bem esclarecido e bem pontuado, que a chance de aparecer aqui dobra.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A louca aqui de dentro


Apenas depois no caminho ensolarado de volta é que peno: que dizer agora, depois do drama todo? Que fazer então, depois de cruzar o shopping de ponta a ponta e não encontrar uma mísera sapatilha preta em couro e no meu numero? Quinze minutos no cinema, choro escaldando a maquiagem, ligações para amigas. A louca me tomou conta por minutos inconsequentes que deveriam ser de aconchego. Culpa, remorso, cuidado; que fique essa faceta descontrolada longe de mim, meu deus.
Acontece quando seleciono "remoer" ou "relevar" ao invés de simplesmente "falar e ser direta aos poucos". Ou libertar, aos pouquinhos, essa minha mania em opinar deliberadamente no que quer que seja. Incansável, lá vai a louca que aqui dentro desperta ocasionalmente de todas as maneiras possíveis tentar expurgar a colheita vagarosa de resguardos, silêncios e maus-entendidos que engole de vez em quando, afim de parecer correta, decente, forte ou decidida. Incontrolável, deixa escapar um pouquinho - quem sabe no suor, pela saliva da fala, por meio da aura explanada - em cada gesto impensado, pergunta direta ou movimento fora do ritmo habitual e acomodado a que a vida (normal) deve seguir. Entre ser irônica, dramática ou obssessiva, acabo mesmo é - por minutos, segundos ou, no máximo, horas - enlouquecendo.
Insaciável, se entope das mais inexplicáveis neuras, dos mais desconexos pensamentos que vibram uma vez que outra sem aviso prévio ou recomendação. Insana, aparece quando menos deveria. Me atinge quando fraca de mim mesma, submersa em baixa autoestima e dias ruins seguidos um do outro. Nem camisa de força ou remédio tarja preta adormece essa terrorista por tempo suficiente. Vive nesse largo espacinho entre ser banal e tentar ser blasé, para sobreviver dentro da crueldade que a sociedade pede. Sem medo de altura, brinca de atirar do mais alto prédio da cidade meu denso e carregado coração, só para me ver aflita e medrosa, tamanha agonia. Minha parte alienada deseja companhia e pelos tremores dos órgaõs, pelo frio na barriga, nota que feliz sou eu quando consigo ser tranquila: rodeada de gente que me gosta. Daí começa a plantar uma sementinha de que não, não pode estar tudo tão bem. Capaz que o curso dos acontecimentos seria assim, tão fantástico. Tem algo errado, e caso não fareje, ela o faz. Tá tudo uma droga de repente, porque comecei a notar coisas que nem existem e brotaram na minha cabeça - culpa da desvairada, saibam vocês.
Então, sentenciada, foge. Fico eu - comigo mesma - e um arrependimento em ser impulsiva no colo, pesado e inerte. Estatática sob os escombros, repensando fatos e revisando falas para saber como começar a correção que a insensata fez, antes de se esconder novamente aqui dentro, perdida e pequenininha. Aguardando até que infle e me fuja do controle, para uma próxima vez deixar que jorre o rio de lágrimas de cada TPM (as duas se adoram, é incrível) ou a fúria tenaz de, teimosa, dar cabeças que mais tarde não adiantarão de nada. Nem mesmo eu que quando calma tenho sido um doce suporto tanta acidez inconsequente. Maior prova de amor do mundo: sobreviver em meio ao caos de quando eu desatino. Que bom que tem quem passe no teste.

- Texto escrito há um ano atrás, não refleti o meu momento atual que é exatamente o oposto, estou super bem e resolvida comigo mesma e tudo a minha volta. Achei ele perdido entre minhas anotações reeditei e achei uma boa postar gosto muito dele e acho que muitas pessoas possam se identificar com ele como eu mesma me identifiquei um dia. Apenas um esclarecimento

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quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Oh Land e o bonitinho "White Nights"


Hoje, farei algo diferente. Na verdade, nem tanto. Será um post rápido (até porque, o tempo corre de tão curtinho que anda), mas sobre uma música que tem me deixado mais feliz a cada vez que escuto, e uma banda que tem músicas bem mulherzinhas e atuais pra nós, meninas - claro, há homens que gostem também. Mas o gênero é bem bonequinha mesmo. Eu defino assim, ao menos.
Conheci a Oh Land apenas no início desse ano. Como toda viciada em músicas novas e bandas que ainda estão surgindo, consumi o som da loirinha que canta em poucos dias. Viciei. No Youtube, há vídeos bem bacanas com efeitos marcantes e quase que hipnóticos. Nascida e criada em Copenhagen, o primero álbum da mocinha (Fauna, 2008 - Fake Diamond Records) não foi tão aclamado pela crítica, nem conceituado. Já o disco gravado e produzido este ano (Oh Land, 2011 - também pela dinamarquesa Fake Diamond Records) teve repercursão vasta tanto nos EUA, como no continente americano e na Europa.
Sou uma fãzinha desse electropop que tem surgido na cena musical alternativa, não sei agrada a todos que aqui leem, mas a mim: muito. Pelo menos curtam o clip que é todo bonitinho, com a moça que canta, Nanna Øland Fabricius, que é uma linda de gestos delicados e aparência européia extasiante. Indico também as músicas Rainbow, que traz no clip muito glitter, arte e glamour e Sun Of A Gun, que é toda ritmada e tem cenas bastante futurísticas e efeitos visuais (e foi sucesso nos Estados Unidos, segundo a MTV americana).
Espero que gostem, seus lindinhos!

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Entrevistada por C. Araújo


Entrevista com uma escritora que conheci por indicação e que fui percebendo a grandeza do seu trabalho. Sabe quando você lê um texto e se vê nele? Pois é, isso acontece entre os textos da Andressa e eu. Me vejo em cada linha, cada situação, me vejo com as mesmas dúvidas e dilemas. O Kawacauimn é um blog onde me divirto, interajo e descubro que tem, no país, mais uma dezena de garotas que vivem situações parecidas com a minha. A autora, Andressa Gonçalves, estudante de RI, mora do ES e trabalha em uma agência bancária. Seu blog tem como leitoras, garotas da mesma idade que ela, criando um espaço onde todas possam encontrar, ou quase encontrar, as respostas para suas cruéis dúvidas! A entrevista está maravilhosa e espero que curtam o tanto que eu curti! :D

 C. Araújo: Então Andressa, os teus textos têm um teor de realidade neles, o que faz com que nós nos vejamos em cada linha, cada situação. A inspiração é realmente de momentos que aconteceram, e com você? Ou, você consegue escrever só em ter um tema

Andressa Gonçalves: Alguns dos textos são situações que vivo e acabo absorvendo, outros, apenas realidade inventada pela minha própria mente. Como gostava muito de redação no colégio, se me propõe um tema, até consigo desenvolver. Porém, claro: é muito mais saboroso, real e inspirador escrever sobre algo que já nos ocorreu e temos como explorar, vastamente, o tema.

C. Araújo: Os escritores geralmente têm o problema do plágio. As pessoas acham que só porque vocês tornam públicos certos textos, significa que eles podem pegar os textos e simplesmente não colocar os devidos créditos. Como você conseguiu lidar com isso?

Andressa Gonçalves: Foi e ainda é complicado. Resolvi desencanar do karma. Não que não continue acessando e até mesmo, quando sobra um tempo na rotina, buscando pra ver o que andam copiando e como. Bloqueei o cursor para copiar e colar no Kawacauimn, o que ajudou. Mas tem gente que, infelizmente, recebe por e-mail. Ou sabe técnicas de computação avançadas. Há pessoas doentes, há pessoas maldosas. A gente tem que se munir de muitas boas vibrações e coisas boas pra aguentar sem surtar, ser copiado e não ter muito o que fazer, já que as leis brasileiras não dão suporte.

C. Araújo: O Andressa responde foi um dos meios que você achou de transformar seu blog num blog interativo, onde você pode ajudar o leitor em seus “casos amorosos”. De onde surgiu a ideia dessa coluna, que consegue ser divertida e interessante ao mesmo tempo?

Andressa Gonçalves: Sempre recebi e-mails, já que meu contato é bem acessível e fácil de descobrir (dessagoncalves_@hotmail.com). Apenas quis ter um contato maior com quem me lê, ver por que passam algumas meninas e meninos que gostam do que lêem. Adoro esse lance de analisar pessoas e comportamentos. Sou uma detalhista incurável.

C. Araújo: Como somos mais destinados à livros, gostaríamos de saber quais seus livros preferidos? E como é a escolha deles? Temas, escritores...

Andressa Gonçalves: Adoro literatura introspectiva. Tenho me interessado bastante por biografias e poesias de boa qualidade, brasileiras mesmo. Os últimos que li: Clarice, do biógrafo Benjamin Moser, A Vida Secreta de Marilyn Monroe, do americano J. Randy Taraborrelli, e um da Adélia Prado, poetisa de mão cheia nossa, que se chama A Faca no Peito.

C. Araújo: Você é bancária, certo? Como a escrita não sai prejudicada na divulgação dos seus textos, e do próprio blog?

Andressa Gonçalves: Na verdade, estudo para. Curso de Relações Internacionais na UVV-ES. E é curioso que, quando criei e comecei na divulgação do  Kawacauimn, cursava meu primeiro e único semestre de Publicidade e Propaganda. Me senti presa demais, e me mandei para algo também amplo, e que me disponibilizasse prazer em trabalhar, e ter uma boa escrita ajuda muito também.

C. Araújo: O Kawacauim está com quase 2000 visitantes por dia, e eu que sou do interior de Alagoas cheguei aos seus textos por indicação de amigos. Quando você começou a publicar seus textos você pensou que um dia eles seriam tão famosos e comentados na web?

Andressa Gonçalves: Pode achar arrogância ou presunção minha, mas ainda acho pouco. Sem ambição, não sei como não se vive. Talvez, a dimensão que os textos tenham para mim seja muito menor, já que o reconhecimento do que escrevo aqui no Espirito Santo é bem pequeno. Gosto do pessoal aí de cima, pois me valoriza muito mais (será que é por que estou longe? Hahaha). Por exemplo, no local onde trabalho, poucas pessoas sabem que escrevo tais textos. Duas vezes apenas me reconheceram na rua. Para mim, ainda sou anônima. Apenas o que escrevo, muito mais importante, é que tem essa tal “relevância”. Não quero fama. Nunca quis, não saberia lidar. Meu maior e único desejo seria me sustentar, e a meus vícios, futilidades, mulherzices, com o que escrevo. É minha meta.

C. Araújo: Em sua opinião quais os melhores textos que você já escreveu? E por quê?

Andressa Gonçalves: Tudo depende. É uma pergunta tão atemporal. Por mais que tenham textos que são bastante comentados e elogiados pelas leitoras, posto só o que realmente gosto. Tenho curtido bastante essa minha fase em alta no amor. Preciso aproveitar, não se sabe quando ou se termina. Incrivelmente, é o que mais tem me impulsionado, mexido mesmo com a tal inspiração e colocado a criatividade no lugar certo: funcionando.

C. Araújo: Os textos fazem mais sucesso com as mulheres, obviamente, uma vez que o foco principal de quase todos os textos é esse. É comum ler comentários do tipo: “Ah, comigo foi exatamente assim” ou “Nossa, estou passando por tal momento”? E é por aí que você acaba vendo os temas de alguns textos?

Andressa Gonçalves: Depende. Escrevo, literalmente, o que sinto. Somos todos muito diferentes, da maneira mais igual possível. Há padrões que tentamos seguir, sociedade a dentro. Mas enfim, saindo um pouco da filosofia – que adoro, e se posso, vou a fundo – a maioria das leitoras, além de serem do sexo feminino, tem idade que regula com a minha. É bom ser porta-voz de quem não sabe muito bem como expressar o que sente. Quase uma dádiva

C. Araújo: Bem, pra terminar, quais as músicas que você costuma ouvir na hora de escrever um texto?

Andressa Gonçalves: Gosto de músicas que me toquem. E claro, tudo depende muito do meu momento, que depende do meu humor. The XX ajuda muito, Adele também.


Pensa Rápido:

Música Preferida? Como nossos pais, escrita por Belchior mas na versão de Elis Regina
Filme? A Origem
Ator e Atriz? Gerard Butler e Scarlett Johanson
Livro que mais curtiu? Complicado. Mas fiquemos com “O perigo do dragão”, de Bruna Lombardi
Série? Sex And The City, eterna.
Bandas? Adele, CSS, Kings Of Leon, Chico Buarque e Lobão.



Bem, eu queria agradecer a Andressa pela entrevista, e dizer que pra quem quiser dar uma olhadinha no blog, eu super recomendo, ou no twitter! @dessagoncalvess

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

"Intensidade é um diferencial": entrevista com Andressa Gonçalves @dessagoncalvess

NAVEGAI
Ela segue o mesmo caminho de escritoras que vem fazendo sucesso como Martha Medeiros e Tati Bernardi, mas com uma diferença importante: se as outras são mulheres maduras que fazem de um tudo para entender a cabeça das adolescentes, Andressa Gonçalves é tão jovem como a maioria de suas leitoras. Capixaba de Vitória, Andressa estuda Relações Internacionais e trabalha em uma agência Bancária. E ainda assim fugindo totalmente do seu ambiente de trabalho e estudos encontra tempo para se dirigir a corações adolescentes sedentos de uma palavra amiga. Aliás, “amiga” talvez seja a palavra que melhor defina Andressa onçalves entre suas leitoras: meninas de todas as idades a procuram em busca de um conselho, de um comentário, ou simplesmente em busca dos textos postados semanalmente em seu blog pessoal, o Kawacauimn. É quase impossível não se identificar com um blog que desde o título já deixa claro que tem como objetivo compartilhar crises e trocar experiências.

Blog Novas Ideias: Muitas de suas leitoras te tratam como mais do que uma blogueira. Algumas têm em você uma amiga. Como é sentir isso?
Andressa Gonçalves: É gratificante. Escrever e saber que, pessoas te lêem, literalmente, e se identificam é um dos motivos que me faz continuar.


Percebi que garotos visitam seu blog. O que você acha que os leva a visitar um blog feminino?
Acredito que, a maioria do meu público "masculino" é trazido até o Kawacauimn por suas amigas, namoradas, confidentes. Muitos meninos querem ler o que a garota compartilhou no Facebook ou Twitter, e diz ser perfeito para ela, ou que se enquadrou completamente. Alguns outros, são garotos que também, de alguma forma, se identificam. Acho as duas vertentes bárbaras.


Acha que as adolescentes de agora são mais românticas do que foram nossas mães?
Acho que o romantismo mudou sua face, talvez. Nossas mães (a minha, ao menos) escrevia em diários onde recortava, colava e fazia o que dava na telha afim de ficar bonitinho e sentimental. Esperavam ligações sentadas no sofá, não beijavam cinco caras numa festa. Tudo isso, de certa forma, influenciou o romantismo, sim - na minha opinião. Quem é romântico no dia de hoje, é com convicção, com intensidade (o que acho mágico, delicioso). No meio de tanto sentimento banalizado, quem ainda consegue amar e exprimir isso se torna quase especialista.


Algumas pessoas dizem que as adolescentes de hoje são muito “dramáticas”, pois lidam com experiências simples como se fosse “o fim do mundo”: um namoro que não deu certo, um ‘não’ que ouviu de alguém. Você sente isso nas suas leitoras?
Sinto, e sou também. Sei que dramatizo e dou uma importância indevida a fatos pequenos, situações que deveriam ser tratadas racionalmente e com cautela. A verdade é que quando algo importa para gente, é difícil anular a parte que nos faz sentir na pele o aperto e a loucura. O drama hoje é quase uma bengala para que a sociedade pare um pouquinho e olhe atentamente essas moças que sentem demais, amam demais e choram demais. Intensidade também é outro grande diferencial nesse mundo de superficialidades.


Um dos livros da escritora Tati Bernardi se chama “A Menina que Pensava Demais”. Você acha que as meninas de hoje pensam demais?
Falo por mim, que com certeza, penso demais. E graças a Deus, consigo exprimir toda essa minha obssessão pensativa em forma de palavras. Alivia.


Como você define o “homem perfeito”? Acha que os homens de hoje estão mais atentos ao que as mulheres pensam?
Difícil falar, quando estou comprometida por exemplo. Acho tudo tão maravilhoso que poderia dizer que é ele, mas seria um equívoco, talvez. Todos temos nossas diferenças. Por fim, não existe homem perfeito, na minha opinião. O que existe é cara bacana, momento ideal, duas vontades parecidas e sinceridade no olhar. Não sei se atualmente há esse olhar direto masculino sobre as necessidades da mulher. Acredito que nós, meninas, é que andamos mais sinceras e diretas, sem medo de dizer o que queremos, precisamos ou desejamos.


Quando surgiu a idéia de criar o Kawacauimn?
Não surgiu, apenas criei. No início, era mais um diário com desabafos sinceros e minha identidade preservada. A coisa foi tomando uma tal dimensão que, um certo dia, resolvi investir no que pessoas que nem ao menos sabiam meu nome ou viam meu rosto admiravam. E tem dado certo.


Você teve alguns problemas com plágios em seu blog. Conseguiu resolver?
Ainda é complicado falar de plágio no Brasil. É triste. As leis brasileiras não prometem, não preservam e nem fazem jus aos ótimos escritores, blogueiros, criativos e afins maravilhosos que o país possui. É complicado você sentir tudo que está escrito ali, colocar pro papel (ou no meu caso, no rascunho do Word ou Blogger) e do nada, vir um indivíduo que acha tudo aquilo lindo mas em momento algum o venera a tal ponto de creditar suas idéias e sensações.


Pensa em lançar algum livro?
Sim, já estou com projeto em editora e tudo. Não só um, as ideias que possuo para publicar mais além são diversas. Complicado é parar, ter tempo e de fato redigir. Depois disso, só falta plantar uma árvore e ter um filho para meu legado pro mundo ser completo.


Pra encerrar, gostaria de deixar alguma mensagem aos leitores do Blog Novas Ideias?
Amem, amem com vontade e sem medo. É do que o mundo mais tem precisado. Vários beijos!