quinta-feira, 12 de abril de 2012

Abracinho




O abracinho nasceu do medo dos bois. Dois. Ex-bezerros fofinhos do sítio. Eles estão vindo, eu tô com medo, tira eles daqui, sai, sai pra lá, me protege. E o abracinho. Sucinto. Subvertido. Quieto. Mas protetor. Nunca mais quis... sair da vista bonita do alto da colina, do momento dos braços envoltos quente contra a brisa do final da tarde. Resume em tudo que poderia valer meu dia, sintetiza milhões de palavras sussurradas, acompanha o ritmo acelerado dessa batida perfeita. Que se passem trinta e cinco minutos, duas horas, três dias. Tem dias que, todo cuidado é pouco: me torno capaz de mortes atrozes, impunidades indecentes, o pior possível em troca de apenas um abracinho. Ou melhor, em busca. Só sabe quem se torna adicta da mistura entre perfume, encaixe, força e carinho trocado de um pra outro, somados e que tem, no ato, a beleza de se sentir plena.

Longe, sofro da síndrome de abracinhos no ar. Me prendo em mil e uma roupas. Compresso o celular, quase ser ar, na mão. Apego forte no peito o caderno das aulas, que é frio e de noite. Porque só um abracinho embalado dá o conforto de um colo em pé, a vontade de não largar nunca mais, boa noite e assim dormir. Ou, na metade da noite, depois de um pesadelo macabro ou insônia repentina, apertar forte pro mundo parecer um lugar mais aceitável. Meio de lado, ao caminhar na praia, pra dormir um pouquinho no sofá, passar um domingo: o abracinho varia de tamanhos e formas, de horários e jeitos, mas ainda é a melhor pedida seja pra culpa que fica depois de alguma bobagem dita, pra momentos de ócio no meio do dia, surpresas de uma frase espontânea que soa aos ouvidos, maravilhosa ou alimento para a criatividade sensitiva.

Se tornou quase vício: é "inho" de vez em quando pela delicadeza da chegada, pelo aperto exato do corpo no outro. Mas bom também quando bem apertado, depois de uma discussão chorosa. Melhor ainda se cheio de saudade, dias sem se ver e minutos retidos no ar, e vazio depois dessa angústia (entope-se depois do inconfessável, dos beijos na nuca, dos ronronos tipo gostando do ato: vício). O que importa é que, quase sempre, tem final com sorriso e a fortaleza segura pra todos esses meus medos desvalidos. E o que era apenas um gesto de afeto, se tornou o meu lugar preferido para permanecer. Parece beijo, só que às vezes, é até mais eficaz. Mimo que às vezes vem com dancinha de brinde, frase bonitinha ao pé do ouvido ou cola temporária que não faz querer desgrudar nunca mais. Enquanto os bois engordam, o abracinho ganha destaque entre os acessórios de maior uso, maior consumo, melhor qualidade. Insubstituível, inestimável, único.