sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Andressa responde: Entrega, medo e importância da camisinha.




Oi Andressa. Sou soropositivo, descobri isso em janeiro do ano passado, e em setembro comecei a terapia com antirretrovirais.
Putz, que barra.

Namorei por 4 anos com um garoto soropositivo. Ele me contou na primeira semana em que nos conhecemos e nao pensei duas vezes, continuei com ele. Em nenhum momento considerei esse motivo algo suficiente para terminar com ele.
Deve ser complicado mesmo. A gente, que está de fora, num primeiro pensamento julga. Mas e se no lugar do outro? E se o sentimento for maior que qualquer coisa e explodir dentro da gente a cada vez que vemos a pessoa, sentimos a pele dela na nossa, enfim. Complicado.

Não me arrependo e não o culpo por isso, apesar de todas as nossas diferenças, de nossas picuinhas, nunca joguei na cara dele que ele tinha me transmitido o vírus, e apesar de ter sofrido durante esse relacionamento que foi bastante conturbado, se voltasse no tempo faria tudo de novo.
Ok, vamos com calma. Você sabia do vírus, e aceitou a condição do seu namorado. Agora, a pergunta: por que não se cuidou, poxa? A aids é um assunto tão recorrente na mídia hoje em dia, todo mundo menos o Papa quase nos obriga a usar camisinha, e tendo conhecimento da disposição do seu amor, era só se cuidar direitinho que a sua saúde ficaria intacta. Tantos e tantos casais por aí em que um dos dois tem a imunidade comprometida e até filhos conseguem ter. Faltou usar a razão da sua parte, meu amigo. O amor é incondicional, mas a vida deve também ser, se com saúde nos cuidarmos.

Fomos irresponsáveis e em algumas ocasiões acabamos transando sem preservativo, às vezes bebados.
Bebida e sexo também são perigosos. Outra consequência se chama gravidez, que se não interrompida, evolui para "bebê", sinônimos de "ser humano" e "vida". Continuo não querendo julgar, até porque conheço pouco demais o mundo de quem é soropositivo. Mas poxa, faltou cuidado.

O que provavelmente tenha ocasionado a transmissão - não digo isso com certeza por que posso sim ter pego de outra pessoa, pois em meu outro relacionamento não tinhamos o hábito do preservativo.
Meu Deus, guri. Seu louco. Enfim, então talvez você já estivesse com Aids e não soubesse? E exames, não costuma fazer? Usar preservativo notei que não, mas é tão importante se cuidar e se colocar em primeiro lugar. Esse foi o pior e mais brutal erro na história toda. E como você não usava a camisinha antes, como vai ter certeza ou culpar seu último namorado? Também não rola.

É realmente incrível como isso ainda acontece, em plena era da informação.
Pera lá, que você também sempre foi informado e não usou. Não tem motivo nem desculpa plausível. Você se contradiz nessa frase, infelizmente. Sabia dos riscos, e agiu com imprudência. Como consequência, carregará para a vida toda (ou até que achem ou liberem alguma cura) uma doença que debilita a pessoa aos poucos, ainda também na era da informação.

Mas enfim, não adianta chorar pelo leite derramado. Minha questão é: como voltar a acreditar num outro relacionamento? Como contar para a pessoa que eu tiver me envolvendo que eu sou HIV positivo?
É algo por que não passo, nem espero passar, mas que você terá que aceitar e usar de cautela e delicadeza para adentrar o assunto aos poucos no relacionamento. Não será fácil, mas será essencial. Mostrará que você é honesto, e gosta e se preocupa com o outro.

Tô com medo da rejeição. Sei que posso procurar entre pessoas que tambem são, mas não queria ter de limitar minha escolha de um parceiro a soropositivos.
Também discordo nesse ponto. Apenas tem que achar alguém que entenda e não se assuste com a sua condição. E não, não será fácil. Infelizmente. Porém, se limitar é erro e forçar uma situação. Nunca saudável em nada.

Isso significaria que não tenho direito de me apaixonar por um soronegativo?
Você tem o direito de se apaixonar por quem quiser. Ser correspondido são outros milhões. A questão está justamente aí.

Como uma grande amiga minha me fala: o amor vai bem além de umas celulazinhas com deficiência de imunidade, e se tem preconceito não me serve pra parceiro na vida mesmo.
Talvez. O que há também são pessoas que não estão prontas para lidar com a situação. A cabeça de todos ainda é muito fechada, é essa a realidade.

Mas a insegurançaa me persegue. E gostaria de uma forma de abordagem. Eu tenho um discurso pronto. Mas não sei se vai adiantar alguma coisa. Nunca sei o alcance do preconceito das pessoas. Meu discurso inclui a informação de que com a terapia antirretroviral meu vírus fica indetectável, não causando assim nenhum risco de transmissão, e sempre usaria preservativo.
Acho justo, porém não ensaie nada. Se você saiba as informações, apenas seja sincero, olhe nos olhos, e repasse-a. É simples. E você ganha mais credibilidade ao invés de parecer um robô pré-programado.

A única diferença é que a pessoa saberia da minha situação. Apesar de tudo isso, o medo se instalou, e não sei como agir em relação a isso.
Deve ser complicado mesmo. Se eu disser que entendo e dar vários conselhos, seria tudo falso e não teria nem cabimento responder a sua pergunta. Você me enviou ela algumas vezes, e há algum tempo. Pensei bastante no que dizer, discorri sobre o assunto com uma amiga próxima. Acredito que sinceridade, no seu caso, em tudo e na vida, é bem importante. Não se apegue a esse medo da vida, do que vem pela frente, de amar. Apenas se cuide, e repasse a sua informação à frente. Parece difícil, mas é só o começo. Aperte start, deixe fluir e esqueça as preocupações. Você sabe quem você é e não tem o que temer. Boa sorte!

P.s.1 - Lembrando sempre que, a aids hoje em dia possui tratamento e não é transmitida por saliva, abraços, beijos ou suor. Apenas pela troca sanguínea ou sexo. Preconceito é burrice, todos sabemos.

P.s.2 - Quer enviar sua pergunta também? O e-mail, como todos sabem é simples e está disponível sempre: dessagoncalves_@hotmail.com

 Um beijo, seus lindos!