quinta-feira, 3 de novembro de 2011

E assim, se origina mais uma biscate

Lá está ela, com o coração estilhaçado. Em mínimos pedacinhos que, nem que tente pegar a todos eles assim tão destituídos, no chão da sala, no vão entre a cama e a parede, por entre todas as roupas já vestidas, de fato conseguiria. Mal se move, tamanha a vontade de chorar e permanecer imobilizada na própria dor de ser o que se é, e que o outro desatenta as qualidades - tão únicas -, as características - tão peculiares -, aquele bem que só a gente sabe que gostaria de fazer, caso aceita fosse, dentro da vez que mais valia: a que se amou sozinha, e acabou por receber em troca uma dor de cabeça de quem não consegue silenciar o choro, um punhado de desconfianças quanto à si própria e um buraco no meio do peito, por entre a velocidade oscilante do coração atingido.
Ressentida, incompreende. Por que ela, e não eu? Que ela tem que em mim falta? Que diabos qualquer uma outra possui que se recusa de projetar em mim? Questionamentos, vários. Horas acordada dentro da madrugada solitária onde a atenção não consegue desfocar da desilusão de não ser suficiente pro amor de quem a gente escolhe. Por semanas, vive submersa dentro de uma tristeza tão profunda que ameniza até a pior das tepêemes.
Do aborrecimento, aos poucos vê a raiva tomar conta. Dominar o que antes era azul, e agora escureceu ideias e demais fofurinhas femininas que tanto adorava. De repende, fúria com o mundo. Ódio da sociedade, e dessa hipocrisia deslavada. Nojo da falsidade das pessoas, o dia cinza por dentro, mesmo o sol estando radiante lá fora. Gélida, descrê de todo outro relacionamento, afim de vingar a frustração do seu que não deu certo ou acabou por nem mesmo a ocorrer. Se enclausura numa infelicidade que vê apenas como a única saída possível para extinguir o pouco de sentimentos bons que guardou para momentos perfeitos que vieram a não existir.
E sai pra abstrair. Encontra com as amigas que sempre foram da noite, bebe mais para esquecer que pro prazer de ingerir o alcool. Em frente, dois caminhos: ou mantém seus princípios vivos, sua conduta ereta e a cabeça erguida, e por mais que beba e aproveite, não caia na vulgaridade. Ou, apela para o caminho menos indolor e com maior rapidez para que o bem estar momentâneo se aproxime, o de aproveitar sem nem pensar em consequência nenhuma. Ela, que nunca foi depravada, se vê fazendo coisas que antes nunca cogitou. Não é disso que os caras gostam? Então. Afim de ser desejada, vulgariza seu comportamento aos poucos; um olho nas demais biscates da balada, que beijam vários e saem com algum deles - geralmente o que tem o carro mais bacana, ou a carteira cheia da grana - noite à fora.
Pega o cara que uma conhecida é apaixonada, faz sexo em banheiro de festa lotada, beija outras garotas apenas porque é moda, e claro, pra acender a loucura masculina. Abusa da maquiagem carregada, nas roupas curtíssimas e no comportamento medíocre. Deixa-se filmar quando em privacidade, usa da promiscuidade como um escudo para se proteger de possíveis, porém maturadoras, frustrações. A moça procura a atenção que não recebe da família, o desgosto por perder ou nunca ter tido a reciprocidade no amor numa das únicas tentativas possíveis. Podia ter se conservado um tanto ingênua, e racionalmente, sentimental. Um pouco de cada coisa daria na mistura sensata de pessoa viva com afetos e vivências. Talvez, mais cedo que esperasse, alguém que valeria as lágrimas jorradas e o âmago de se sentir sozinha, mesmo com sete bilhões de pessoas habitando um único e extenso planeta. Ao tomar o rumo de ser assunto das mil e uma más línguas, de jogar fora junto com o bom senso um tanto de amor próprio, deita antes de dormir e, sem ter em quem pensar, vê que mesmo com alguns tantos sentindo desejo em tê-la na cama, porém por outros motivos, não há em quem pensar, ou ligar para desejar um simples (porém motivador do sono pacífico) boa noite.
Originada e sem sentimentos, segue a então biscate com seus saltos altíssimos, unhas afiadas e cores extravagantes destruindo corações de rapazes emocionalmente fracos, ou casais bem estruturados em que lança seu olhar ferino e atiça o veneno no pobre rapaz. Ou pobre de nós, que precisamos aguentar tanta menina vadia pelo mundo por pura desestruturação emotiva.