domingo, 8 de julho de 2012

Despedaço


Podia ser soluço, fenômeno que me ataca com frequência e se instala por quase um dia quando vem. Demora muito pra essa angústia passar? Eu que me pergunto, eu que não sei as respostas mesmo, oras. Enquanto tudo tá lindo & maravilhoso, parece que nunca mais aquele choro fungado que dá dor de cabeça depois enquanto eu digo baixinho "por favor, fala comigo. por favor, por favor". Cansada por um dia inteiro depois dessas batalhas que tempos de crise nos despedaçam aos pouquinhos.

Sei lá, é meio como entrar no mundo das drogas, eu imagino. Viciante. Bola de neve, já que é inverno também (e não a igreja). Mesmo quando um dos lados (quase sempre eu) acorda assustadiço aí pelas 5h40 da manhã pedindo um abraço, dez abraços, cem milhões. E feito criança no berço que não solta o dedo da mãe, adormece sem desgrudar - foda-se o desconforto físico, é o emocional que precisa de calor humano pra se sentir vivo de verdade. Vai se deixando algo mal resolvido ali, no caminho qualquer outra coisa que deveria ser dita e não foi, e ok, a pressa é tanta em ficar bem que daí, depois, o acúmulo de frases não-ditas, sensações mal explicadas, comportamentos condenados.

É fase, todos dizem. Basta o sumiço. Tempo longe. Coisas desse tipo que devem fazer casais naturalmente felizes e tão diferentemente parecidos um com o outro voltarem a valer a pena. Quietinha, quietinha. A causa é nobre: liberdade e paz, e fuga. Pensamentos no lugar, o resgate de um soldado qualquer que um amontoado de brigas irracionais levaram à fuga dos momentos bons.

"A gente se ama, não adianta", num sussurro. "Tu tá quase chorando", debruçada assim no peito onde dói pra depois cair e escutar "Tô nada, jura" - os olhos cheinhos d'água salgada que não cai nunca, claro. Não caia há dez anos e há um fizeram do cara forte nos mais diversos sentidos que é quase minha fortaleza, gurizinho em choque que correu pra lá na praça, tão assustado. Nunca tão lindo.

Sei que vai passar porque toda vez que ensaio ir embora, abandonar a barca, ir pro esconderijo sem a mínima vontade própria, por puro drama mesmo, não consigo: não dá, não quero, me coloco em frente a porta e o vejo tirar os tênis e jogar a chave do carro longe. Anda difícil, mas desistir de nós dois é muito mais.

Clichê, mas amor sobrevive: acorda com preguiça do frio na cama quentinha, enlaça os pés, afaga muito e vê que tem sol. Entre loucura de ser feitos um pro outro e também não, a tempestade. Só passa se dividindo guarda-chuvas, culpa e o mesmo riso fácil dos concursos de quem desenha (pior) melhor; vencida essa fase, feitos pra sempre.