terça-feira, 5 de julho de 2011

Da prolixidade irrefletida à quietude reflexiva

 Das malcriações de quando era criança, lembro bem da voz da minha mãe no repeat: ó, menina, não responde. Lá ia eu ouvir sermão sem nem retrucar, deixando escorrer na decepção de não ser adulta qualquer chance de me defender as artes que inventava? Capaz, bem capaz. Das peripécias na escola, dos motivos que me levavam a agir sempre do mesmo jeito cheio de erros graciosos de quem é impulsiva e pensa só depois que o estrago já era rabisco na realidade, e a língua solta, sem freios antes de conectar o pensamento. A boca grande e com os dentões de até hoje em dia, não se continha: falava, e debatia, porque briga histórica tinha que ter bate-bocas acalorados e manifestações, tanto de um lado como de outro, que justificasse estar de mal quando a paz é quem deveria ser conservada.

Com o tempo, cresci e continuei uma respondona nata. Aliás, agradeço ao HD da minha mente, que roda em velocidade quase recordista de maratona e já sabe a maioria das réplicas que devo dar, os momentos fatídicos para se fazer uso daquela memória que a gente perdoa, mas não esquece. Gostava de sair como vencedora de embates furiosos com aqueles que me causassem qualquer ira momentânea. Poderia ser meus pais, o amor da minha vida, a minha melhor amiga - lá ia eu despejar um monte de impressões desfiguradas e depois morrer de dó, de arrependimento. Pois então, notei de repente que feria as pessoas com essas minhas devassas ofensivas. Sim, na minha pressa e loucura em ir falando (prolixa que sou, é só dar corda que vou e titubeio em parar, na maioria das vezes sem notar o timing de cessar fogo - ou voz). E que assim, mesmo sem querer, dessas minhas cabeçadas muita gente acabava guardando mágoa e ressentimento mesmo sendo essa a última das intenções quando com alguém brigo, ou discuto. A verdade é que com força e frases muitas vezes já arquitetadas antes para atingir justo no meio, no ponto inimaginável onde ninguém tem coragem de tocar, eu desmanchava um tanto do bom sentimento das pessoas por mim, desnecessariamente, falando e falando demais no ápice das minha revoltas. Por se saber a capacidade de deixar em prantos, destruir boas lembranças e fazer rair um ódiozinho assim pequeno, mas potente da petulância dos que falam demais quando combatem e se arrependem em dobro, mais tarde é que resolvi parar. De alguma forma, costurar mesmo que imaginativamente as palavras no cérebro ou mesmo dentro da boca; que saltassem os olhos, dos gestos tomassem conta, mas à tona não viessem, até porque feito flecha: não voltam.

Ultimamente, de tanto que já falei e me vi obrigada no papel de Madalena arrependida a pedir desculpas mesmo quando a razão se encontrava do meu lado, pousada no meu ombro feito papagaio e pirata (porém quieta) eu calo quando por dentro incendeio em pontadas de cólera, raiva e aversão; às vezes até, desprezo. Me aquieto pois é a maneira mais simples de responder a quem tanto diz, e realmente não se escuta, cego, surdo e mudo no transe de quem enlouquece de indignação. Tem sido melhor, pois me dou tempo para refletir sobre ocorrido, ponderar atitudes e após certo tempo até o mute aciono - já nem me dou ao trabalho de decifrar a escuta de discursos cheios de repetição onde geralmente, uma única coisa se quer dessas batalhas todas: que a pessoa volte ao ringue das sílabas e letras proferidas e após alguém se sagrar vencedor, desculpas sejam pedidas, para logo em seguida, aceitas também serem. Fácil assim? Depende. Quando me atingem, é sempre sério e bastante doloroso, tão fina a sensibilidade desses escudos que fingem me proteger, mas mal conseguem cobrir a fragilidade que há em mim e também existe.

Dou menos pane, me sinto mais forte e me estresso num grau muito menor. Simplesmente silencio. E espero a  tormenta baixar, a poeira ir pra longe, os ânimos desejarem estar de volta às boas, de bem. Tenho escutado mais pedidos de perdão que anos atrás, esbravejo de vez em quando apenas para não perder de vez o velho habito e me sentido muito melhor por guardar para mim pensamentos mal elaborados, ideais ainda pré-moldadas, selecionando e esperando a hora certa do que deve ir à tona, e daquilo que pede resguardo quase que eterno. Uma vitória e tanto pra garotinha que batia o pé, colocava a mão na cintura e aumentava a voz fininha, que não se calava quase nunca, conseguir a serenidade quando o caos se instaura no ambiente, nas veias pulsantes, entre duas pessoas. Pra quem sempre falou demais e se culpou tardiamente pelo erros crassos cometidos, nenhum pio é elogio.