quinta-feira, 29 de março de 2012

Menos eu


Houve um dia que desejei profundo: quero ser menos eu. Um pouco menos essa intensidade que rompe laços, desfaz atritos, afasta pra reaproximar. Mais fácil ser o mínimo possível de toda uma personalidade fortíssima - uma diminuição nos embates, poucas preocupações, maior aceitação, score em ibope recorde. Quem me dera desprezar um tanto de mim, para que muito dessa minha boca que só fala e não pensa, da minha opinião radical e extrema se dissipe junto com suor, exame de sangue, corte de cabelo ou qualquer coisa que me faça diminuta ao invés de assim completa sempre transbordando de anti-heroísmo.

Reduzir tantas reações espasmódicas, incongruentes ao cinismo das pessoas. Fazer com que dessas minhas falhas, dos agudos defeitos, não um poço de preguiça alheia do mundo, mas sim uma chance pra que se adcione tolerância. Não dá pra achar 80% de tudo uma bela droga, porque a massa é crítica, e achar quem se sintonize aos nossos gostos, dificílimo. Não pode pensar diferente e ter princípios, não. Ser imoral é que é a nova moralidade. Nos obrigam a aceitar uma pá de música ruim, filme de mal gosto, e programa de índio, porque conforme a cultura popular "isso é conviver". Tem que ser tudo levinho pra que gente de estômago mais fraco que a cabeça consiga digerir. Tem é que enfiar pela goela abaixo gente força, gente escrota e que não emite opinião nenhuma porque simplesmente não tem porque senão o papel de vilã cai como uma luva. Difícil mesmo é que as máscaras se esvaiam junto.

Chega a dar certa agonia sobreviver submersa em tamanha intensidade. Mas dá pé, sim. Precisa de fôlego também. Só quem vive de sandice é capaz de se aventurar. Parece que ser do jeitinho que a gente sabe é um crime. Conviver com as excentricidades que vem de fábrica, um crime. Precisa ou desde cedo se acostumar com poses, interesses escusos ou qualquer babaquice do gênero. É só você ter alguma atitude nessa vida e um senso crítico apurado que o resto do mundo parece se armar com desconfiança e tratamentos sem nenhum jeito, sinceridade nula. Todos relevam, todos aceitam, todos exploram, todos fingem, todos ignoram. Menos eu. Menos, menos, menos, menina. Bem menos e quase nada que não dá praexpor muito de si. Há corvos por toda a parte e à solta.