terça-feira, 27 de março de 2012

Toque dele



Coloca um armário abaixo para achar possíveis peças para passar um final de semana. Nada parece servir, tudo é figurinha repetida onde se é quase a boneca de papel montada sempre na esperança de conseguir o impecável, parecer a...inda linda e sem perder a pose e o possível brilho nos olhos sem maquiagem alguma ao acordar ou antes mesmo de dormir. A arrumação é quase sempre detalhada: pijama, biquíni, blusas e saias, shorts e vestidos, alguma meia-calça. Sapatilha, rasteirinha, às vezes salto alto. E, pronto: tudo combinado para que as crises de falta de roupa e aparência desprezível não se façam presentes. Praticamente todas as peças num comum acordo onde cores, cortes e tecidos assinaram contrato de garantia ao bem sentir com qualquer mistura de panos e texturas sob o corpo por dois ou três dias. Ou não.

Mas é nas roupas dele que se encontra um conforto mais para viver cheia de uma espontaneidade contagiante. Incrível como pijama nenhum faz ter melhor noite de bons sonhos como a camiseta macia dele, mesmo às vezes usada. Ou o de mangas compridas e calça no começo do outono, porque sempre se gripa assim que muda a estação e ainda assim ouvir o quanto estou “bonitinha”. É colocar um cinto emprestado para segurar o short, devido ao meu esquecimento de sempre e me sentir tão segura quando abraçada depois de dois ou três dias de saudade. Vestir os chinelos brancos de ficar em casa e praticamente pisar nas nuvens – não tem vestido sensual, sapatão poderoso e nem mesmo roupa curinga que me faça sentir tão melhor que qualquer outra mulher no planeta, mais magra que top model de ponta, mais bonita que capa de revista.


Um toque em mim e não é preciso anel no dedo, colar com inicial ou tatuagem: estando quentinha dentro do moletom grande demais, ou protegida com o tênis emprestado de última hora porque não levamos os calçados adequados. É quase vestir a capa do nosso super herói favorito, ou pegar no ar a lembrancinha de algum famoso que todo mundo sempre quis e, finalmente, a gente com orgulho carrega por aí. Mania boyfriend que a moda adotou, e nós mulheres, nem tanto adoramos em função da modernidade que agrega, mas sim muito mais pelo cheirinho do outro que fica. Um escudo contra a inveja alheia, um pedacinho do outro que fazemos uso, acessório do mais alto luxo nessas sentimentalidades do mundo moderno. Um passar de cabeça pelo moletom fofinho, fantasiada do masculino que se escolheu pra chamar de seu, e sentir-se gata com direito a dono e uma constante sensação de segurança que só quem veste (literalmente) a camisa do relacionamento possui.
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