sábado, 2 de abril de 2011

Expressa



Eu não ensaio nada porque ser já me é um grande ato. E dividida, meu fim é breve. Atuo e sou tantas, que nem explico: mudo. De manhã, esportista dedicada. No almoço, a que come minuciosamente, de forma balanceada. À tarde, após tanto afinco, necessito solidão: me fecho inteirinha, para me abrir apenas quando proveitoso for. Dizer que falo pelos cotovelos é erro dos graves: da minha boca palavras saem, filtradas pelo mínimo de pensamento e o máximo de instinto. Falo, então, pela espontaneidade; num jogo tão aberto, que chega a ser considerado escancarado em demasia. É difícil que dê o braço a torcer, sim. Dói mais estar errada que fraturar o membro. Em sopapos, engulo os sapos que a vida põe em meu caminho por meio de beijos errôneos, negativas inesperadas, pessoas desmerecidas. A cabeça, que vive nas nuvens, visa deduzir o céu: cada vez mais alto, em torno desse infinito todo que é mistério e dúvida, fascínio e alucinação.
Tiro a corda do pescoço, que pro pecado há o perdão, e a minha hora é qualquer outra, que não essa. Antes as mãos abanando, que atadas: preferencialmente, livres. Sempre. Meus desatinos são eufemizadas tempestades em copo d'água: tsunamis, maremotos. Me invadem inteira, ultrapassam a borda alheia, inquietam. Meto os pés pelas mãos, e logo depois, o rabo entre as pernas: o arrependimento frente aos tantos impulsos é de berço e marca registrada, quase assinatura. A bruxa tá solta, e de soslaio, sei que me persegue; só não chuto, porque pode ser macumba e pegar no meu pé, já frio e azarado. As cartas estão sempre postas à mesa, e na mesma claridade exacerbada, os dados rolam sempre que necessário - o importante é o movimento. Agarro com unhas, dentes e força tudo aquilo que me faz perder o sono, perder de vista a paz, desacertar meu relógio biológico de intensas emoções. Perco a cabeça, e assim que faço as pazes com a razão, redescubro a esperteza fácil que imperava antes das cabeçadas distribuídas, impensadas. Sem tirar nem pôr, perco de um lado para ganhar do outro: me acrescento sem perceber. Piso na bola, e logo depois, dou passe pra gol; faço uma série de cagadas, porém, recompenso (e bem). Tiro de letra aquilo que a vida me tira sem pedir licença - escrevo,as vezes para aliviar as perdas incompreensíveis e outras para expressar os sentimentos que em mim transbordam, intensa por natureza como sempre fui. Ocasionalmente, entro em frias: apenas para logo depois sentir no calor das mãos, no inferno da pressão, a alma quente e viva. Só não rodo a baiana porque sou capixaba, e nem dou mole porque a vida me deu um punhado de motivos para endurecer: na marra. Fico na minha, para que quem realmente me queira, daqui me tire: o necessário, somente o necessário. O extraordinário é demais!