sábado, 23 de abril de 2011

Não Posso



Quero. Agora, poder é sempre mais complexo e fantasioso. É quando imagino que posso possuir, que vejo o aumento significativo dessas minhas expectativas um tanto irreais para a podridão que se tornou o mundo. Quando o olhar indiscreto do outro lado da mesa de madeira afaga em cheio esses meus olhos distraídos e tenazmente, atentos, é que penso: não. Preciso fugir, necessito ir pra longe, que me impeçam de cair nesse buraco quase túnel que é sentir tudo de novo outra vez, jurando para si mesma que é a única. A última. A especialíssima dentre as tantas outras. E então se ele resolve sorrir o mundo parece novamente um lugar habitável e seguro, as pessoas em volta soam amáveis, o barulho da cidade, até mesmo, quase se cala. Pena que não dá. Que se envolver é risco alto demais pra deixar minha liberdade assim, em cheque - mate? sem fundos? Se devolvido, quase caridade: quero alguém de vontades tão intensas e impulsivas como essas minhas, tão incompreendidas - porém, doces. Juro, quase carameladas.
Se me pego solucionando problemas que nem ao menos existem, me puno. Hesito. Não, não posso. O mundo dos apaixonados não decodifica meu cartão magnético, e fico sempre meio penetra, assistindo a festa ao lado de fora. Até mesmo dançando desajeitadamente, porque o ritmo que toca nunca é o que acompanho - frenética, agitada, enquanto a atmosfera de quem sabe jogar com paixão é estrategista e sutil, sucinta e vagarosa. Principalmente, essa limitação que me freia e prende, estanca movimentos. Desejar dessa minha maneira tão ferrenha e credora, quietinha, para que não explane, somente para que não me roubem o sentir isso que ainda não denomino, mas aprecio. A pele na outra, e o corpo estremecido. O frio na barriga, os olhares de compreensão. Quando toca a minha mão com a maciez dos seus dedos, dorso, pulso, e um orgulho de me esvoaçar pelas ruas à fora, pelas festas lotadas de gente, por carregar a morena louca que diz que faz porque quer e nem pensa, que vai atrás de quem cobiça e nem liga, que se joga e apenas depois do salto avalia a própria performance. Quem sabe eu, essa fujona que se atira com sutileza e pára-quedas em viver algo até então adormecido no mundo dos sonhos de princesas infantis.
Vou sem saber até que ponto o jogo me é favorável, a sorte me tem como presa (ou o azar se distancia). Me impossibilito sem saber até quando segurarei a corda de ser altiva e racional, fortificada e frente à esse turbilhão de acontecimentos que me pedem cada vez mais terna e esperançosa, aberta ao panorama bonito que vem se desenhando e de braços abertos, sem amarra qualquer. Deu, talvez, de me inibir essa recompensa a que tanto penei, e quando menos esperei, me vi no colo, no celular alheio, no sorriso cúmplice retornado ao sorriso livre, leve, solto e meu; o que é proibido nos tempos de agora, amar sem medo e com pouca loucura é que nos dá ainda mais curiosidade para quem sabe, tentar em silêncio sorver a serenidade desses dias que passam correndo, de tão divinos. O destino vai decidindo que, quem sabe, eu possa sim. Contradiz a mim e ao muro rochoso que construí para que não invadam meu castelo de conto de fadas. O bom é que o príncipe porventura venceu tudo quanto é barreira e tem me encontrado. Que seja assim enquanto dure.