domingo, 10 de abril de 2011

Simbióticos




Ele me tirou para dançar assim que as luzes se apagaram. Coisa que ninguém mais faz, mas dândi moderno e arcaico que é, arriscou comigo - que arisca sou, e confusa me encontrava. Chovia, e parava, e a eletricidade já precária sumia sem avisar se sequer voltaria. Porém quando ele pegou a minha mão macia de unhas vermelhas e disse que era para relembrar a pré-adolescência, clima de reunião dançante, deixei escapar um sorriso no canto da boca. Mesmo com amiga embalando o clima, e insistência do braço estendido à minha frente, em compasso de espera, recuei. Permaneci sentada e divaguei sobre o perigo da vodka junto ao energético. Da embriaguez acelerada. Os corações que pulsam em ritmos descompassados, por vezes enganosos; alcoolicamente sentimentais. Ciente de que havia ali qualquer coisa de encanto, admiração, até mesmo atração, hesitei. Sem motivo plausível, desencontrada de não conseguir ir em frente, mesmo querendo. Comentários extremamente sincronizados, cúmplices da acidez e pertinência, na loucura e manias. Filmes comuns, e bandas de rock, ideologias combinadas. E meu nome tantas vezes chamado, cantadas repetidas incessantemente nos ouvidos, e nada. O medo de querer, e não ir - não conseguir resistir aos convites para a felicidade.
De descer as escadas e ir pra festa por não suportar ficar e saber que ali, alguém com potencial pra ser tão eu mesma se masculina nos decálogos da vida, que pulei de dentro do fascínio antes mesmo de este tomar conta. Enquanto ele comemorava a volta do meu humor ácido, que quando pensativa diminui consideravelmente, a visão do moço que me compreendia e exaltava, logo ali no sofá do lado. O mais babaca dos medos, o de uma alegria possível. Sabia querer, e me negava o desejo que no peito inflamava. Gostava eu de ser dama e cortejada, cetro e decisões na mão, inatingível e nobre, quase rainha. De noites de aproximação natural, e afastamento, forjado; incompreensível. Uma guarda tão baixa frente à minha brincadeira arredia de não conseguir derreter e emitir os sinais de câmbio desengonçado do meu coração escondidinho, quase apertado. Até que não houve mais luta nenhuma, e sim, desistência. Muito pela minha função de ser esquiva e querer e não demonstrar, simplesmente por não saber. Aos poucos, o dândi pegou toda o seu bom gosto e cavalheirismo, e a lentos passos tem se ido. E eu, que não me senti mais lisonjeada realeza, tenho abandonado minha supremacia de estar sempre no controle porque quando o arrependimento bate na porta, a gente tem é que agir logo antes que ele entre e domine. O tempo perdido foge como lebre serelepe, mas a afinidade colossal ainda impera: quando a gente corre atrás, o cara lá de cima apronta, a sorte sorri e a vida se torna obra nossa pintada no destino: muito mais, além.