sexta-feira, 10 de junho de 2011

Dos afastamentos



Sei que de minha parte não se iniciou esse processo de separação já anteriormente nem imaginado. Bem verdade que o tempo, de tão apertado, anda corrido e tanto minha disposição, quanto momentos disponíveis não são mais os mesmos. Aliás, diminuem gradativamente: acumulações se atribulam, alguns percalços pedem ajuste, gente gritando daqui, sentimento puxando do lado de lá - tem sido mesmo difícil satisfazer, mesmo com todo meu amor imenso e coração errante, as demandas daqueles que figuram como favoritados depois das sete chaves, do lado esquerdo, quase no meio do tronco. Os dias tem ficado cada vez mais frios, e me congelado junto, será? Cansei de correr atrás, só tenho suportado quem me compreende sem aquele esforço descomunal (e sim, simples), porque tudo que mais desejava é que, no momento em que o ritmo apertasse e o fôlego começasse a cessar, eu tivesse a quem olhar apenas de rabo de olho, sucinta e prosseguir na maratona que tem sido a vida.
Daí, que desses dias de sol no meio do quase inverno que tem perpetuado, mesmo com essa minha felicidade estável (surpreendente), algumas decepções. No profissional, não mais aquela gangorra de se dar bem de um lado, e mal do outro: é admirável o equilíbrio que tenho me esforçado pra manter. Na saúde, ando bem. Estética, todos os cuidados possíveis para melhorar, cada dia mais (eu, que tenho a ambição como uma aliada, sempre). Do lado romântico da coisa, tudo cada vez mais florido e contemplado; aquele sossego que eu, mesmo mulher e menina, até mesmo desprezei em outros tempos. Ou observava com certa desconfiança: não existe, quanta sem-gracice. Que nada. Tanto existe, como faz bem. Veja a melhoria em meu humor, a seda que anda meu cabelo, as tantas sensibilidades a que tenho me permitido. Tem sido maravilhoso, tem cada vez mais eu contente, e claro, tem gente que se afasta. Seria alegria à essa alegria alheia? Ah, agora você está em boas mãos, tchau. Pronto, já que você anda leve quase como um fantasma, farei que não a vejo. Cadê aquela cumplicidade toda, as milhares conversas madrugadas à dentro, regadas de cerveja ou espumante? Os segredos partilhados, o bom alinhamento da convivência? Foram pra baixo do tapete as fotos de quase dez anos, os laços fortificados que tanto já tentaram romper, e nós, mesmo quase completamente diferentes, seguíamos acreditando? Já se tornara mesmo tão frágil e quase morto isso de deixar falir o que um dia foi amizade, e num último estágio se transformou sem qualquer olhar atento a apenas mais uma associação, cheia de interesses e comodidades por trás? Desacreditava em amizade que qualquer ciúme derrubava. E parte, assim como consciência, estão comigo e em bons estágios: uma feita, a outra tranquila. Há erro em vivenciar da vida o melhor, e tentar, feito equilibrista conciliar companhias de anos, e simultaneamente, o sorriso dos meus dias? Pecado pode ser isso, de condenar com severidade quem abusa de certa inocência em viver, quase descabido de si próprio.
Se de um lado há quem se afugente desse meu estado sublime de conduzir dias corriqueiros e finais de semana, existe uma parte de mim que quer correr sabe-se lá pra onde; pra longe. E acaba ferindo quem, com cuidado e proteção sustentou por uma vida. Desse meu desejo de crescimento instantâneo, de impor maturidade onde ainda vêem a garotinha de dentes muito separados pedindo um pouco de atenção. Gente que foge dali, eu escapando sem rumo pra um único refúgio descoberto recentemente. Como cantam os fados portugueses, tão familiares a mim que sou descendente direta, e como Maysa contestou naquele episódio em que morre seu primeiro marido: dão de um lado, e fazem questão de tirar do outro. Dos cortejos e mimos de amor a que me baixei a cabeça e agora recebo, alguma perca do que antes me era essencial também: certa fraternidade que não me satisfazia, mas apaziguava. E daquelas que, não me compreendem os silêncios ou as tentativas de ressureição daquilo que numa memória não tão longínqua foi coisa viva e me quis bem assim, atônita de tanto bem. Quebra-cabeça essa nossa vida, onde com tempo e paciência, as peças e pessoas, situações, fatos e atos se acumulam e resolvem; quando não por nós, por si mesmos. Adultos e sábios da importância vital de se resgatar aquilo que compartilhado, faria multiplicação. De felicidade.