segunda-feira, 6 de junho de 2011

Tranquilidade

Milagre é que você me veja como pessoa calma. Eu, que desde sempre fui acometida pelos caprichos do imediato, que satisfazia aos mais urgentes desejos próprios, de cabeça baixa - porém, sem graça -  concordo. Puro aprendizado, ou quem sabe manha, feitiço, veneno, algum toque seu? Vai saber. Bem verdade que tenho deixado que a paz se instale. Quase não a dirijo a palavra ou detalho sua estadia; a dei o vasto espaço que ser transitória e ver de tudo mas nada possuir ocupava aqui, internamente. Se veio esse estado de serenidade atual, chegou ao mesmo tempo seu. Ou será que é mesmo você esse lugar pra onde eu quero que as horas corram e eu encontre de uma vez; e se arrastem, enquanto beijo tua nuca, me sinto protegida com o seu braço em torno da minha cintura, compartilho silêncios que não ferem nem agitam, apenas compreendem? Só pode ser.
Caminho pelas ruas captando cada cena exata, em stop motion, desse pouco que a gente tem um do outro, mas que deixa sorrir quase uma semana inteira. Com aquela saudadezinha que sufoca e incinera por dentro, mas afogamos do jeito que dá. Por mim, todo dia captar um pouco dessa sua tranquilidade linear - como não são as ruas da cidade, já te disse (e minhas meias-calças bem conhecem) tomaria para si o significado da palavra perfeição. Exata. Que é assim que tem sido, e nunca comigo antes foi: espero por saber que virá, vou por saber sem medo nem culpa, muito menos dúvidas, de que é recíproco. De que planeta veio você, que mesmo tão diferente de mim pensa parecido, trouxe a tão ambicionada paz de espírito e me faz querer ficar admirando por momentos intermináveis, quem sabe para sempre? De longe, de certo. Mas que tem tatuado um pouco de azul espraiado, tranquilo, por cima da minha maneira selvagem de querer tudo pra ontem, pra já. Arquitetado comigo, além de planos de fuga, conversas sinceras e sentimentos semelhantes para que se solidifiquem, enraizem, no mais seguro dos caminhos se perca. Para ganhar.
Por isso moço, continua, vai. Falo enquanto durmo, me machuco com frequencia maior que as pessoas normais, de vez em quando me torno mesmo uma fera dócil de domar. Não me tira esse segredo de ser simples e desejar com calma, que é o DNA vivo seu dentro da minha existência. Rega essa harmonia sua agora já plantada aqui, só para quando florescer ter alguma chance de ser seu sossego também. Fica. De meia, de cara, com gripe e comigo. Que te cuido enquanto você desse seu poder sobre mim, me aquieta, sossega. Prossegue sendo a parte bonita em que eu esqueço o mundo dos instantes mágicos que a gente não pode deixar passar: valem mais que qualquer momento de charme em vão, já tão notável e descarada essa paixão que segue e cada vez é mais um pouco da gente. Mesmo com direito a todos os obstáculos do mundo, cada vez maior. Intangível.