quarta-feira, 29 de junho de 2011

Quando até o menos é soma

Uma vez, e não faz tanto tempo, alertaram como quem tenta salvar antes da inundação: ó, desse jeito vão enjoar. De novo ele? Mais uma vez? Vai cansar de você. Dá um tempo, respira longe, liberdade pro outro. Mas minha parte eu faço, oras. Fico um tantinho longe, faço mistério, trago novidades. Se a vontade de ficar juntos é uma constante e só aumenta -e nenhuma culpa nos chega, nenhum aviso é motivo plausível para briga qualquer coisa do tipo maléfico que tente uma separação precoce - que se há de fazer? Matar o tédio em conjunto, desmistificar o lado ainda não trajado do outro, deixar no seu colo as minhas horas para que você usufrua com apetite voraz os dias que nos são brindados em acabar com qualquer resquício de saudade nascida dentro das burocracias da semana atribulada.

Sei que, ao invés do tédio, uma vontade de ser assim pra sempre, não ter que largar nunca esse princípio de coisa que nasceu já certa e mesmo quando aperta, até quando ocasionalmente discorda, é um pedacinho perfeito de céu estrelado no meio de tanta nuvem escura. É muito querer pra um mais do mesmo - e que tem assim sido há semanas - em que não canso, nem desejo que pare: numa conta exata onde sobra muito pouco, e tanto se soma, acredito que quem sai ganhando somos os dois. E mesmo cheia de lucros e aprendizados, um sinalzinho de adição qualquer martela a cabeça, uma voracidade violenta qualquer não de pertencer ou estancar, mas sim dessa forma que tem sido continuar agregando até mesmo quando parece que se perdeu. E se encontrar até quando o menos, se torna de repente mais um pouco de nós. Dois.

Mais de você me cuidando para não sentir frio demais, esquentando minhas mãos quase sempre congeladas e me dando o chinelo felpudo porque é mais quentinho. Mais de nós dois nos olharmos até que o outro se desarme e sorria (ou eu pergunte "o quê?" e estrague a fascinação que, internamente, tilinta o momento). Mais a gente apertados num mesmo sofá e tapados num único cobertor - imergindo a preguiça um do outro e comentando com um humor de recém acordados os filmes ruins e seriados mal dublados. Menos gente se metendo e opiniando com velhos conceitos e novidades "bombásticas" por nós dois já conhecidas - e tão cúmplices somos, nem imaginam. Mais carne para você, e vinho para mim. Menos as ruas disformes e minhas meias-calças rasgadas ocasionalmente, mais de a gente torcendo um pelo outro, e se achando as criaturas mais lindas da face risonha da Terra, e querendo um ao outro que tá mais que ótimo. Mais você me buscando, e eu entrando no carro com a carinha de quem respira aliviada por tem algum refúgio dessa vida assoladora. Menos responsabilidades e aulas inúteis, mais nós dois pelos bancos da faculdade. Menos os dias de semana, mais os dias que a finalizam. Mais bergamota, menos tomate cereja (para mim) e cebola (para você). Mais o seu pé sem meia, menos eu quase caindo - e você avisando - da cama. Mais fotos de quando éramos pequenos e a vontade de se conhecer desde sempre, menos por não poder voltar no tempo e arquitetar algo que fizesse isso acontecer. Mais do seu perfume que me tira os sentidos, menos ele na minha pele e você já pelas ruas, distante. Mais de todas as carinhas que faço, e você se diverte; menos por não poder assistir nenhuma delas. Mais a medida das mãos, uma na outra. Mais deixar você livre e ainda assim, ver que assim como é você pra mim, muito mais que opção: uma escolha. Consciente, tranquila, bem-feita, contente e cada vez mais acertada, essa coisa de pecar por se querer assim perto quando dá, esquecer o mundo por ter nas mãos algo muito mais interessante. Uma porção de nós dois, por favor. Sempre.