quarta-feira, 22 de junho de 2011

Nem santas, nem vadias: livres


Que consentimento carrega uma saia mais justa ou blusa decotada de, um mero cidadão desconhecido, além de infringir o meu corpo, se achar capaz de passar por cima das minhas próprias regras? O que denuncia o desejo feminino de se sentir bela como indicio de que, está pronta e afim de ceder ao sexo justo naquele momento, sem conversa ou permissão? A roupa que vestia, o estado alcoolico em que se encontrava, o caminhar sozinha em horário tardio são algumas das baixas desculpas que uma sociedade retrógrada expõe às questões de estupro ao mesmo tempo que tolera um humorista que declara, infelizmente que "homem que estupra mulher feia não merece cadeia, e sim, um abraço". É por essas e inúmeras outras questões que mulheres, esguias ou fora dos tão exigentes padrões, realmente vadias ou púdicas (por que não frígidas?), solteiras, casadas, mães, homossexuais e de todas as possíveis e mais diversas características tem se unido com trajes provocantes e alguns cartazes igualmente apimentados e questionadores mundo à fora em forma de manifesto para execer livremente o direito de se produzir como bem entender sem serem codificadas por machos sedentos e inapropriados como um convite silencioso e obrigatório para o que deveria ser "o amor em sua forma prática", ou "reprodução de vida" (quando na verdade, muitas quase é se vão nesse atentado agressivo a qualquer pudor feminino).

O movimento, que se deu início no Canadá com a revolta gerada ao comentário de um policial local que orientou universitários dizendo: "Se a mulher não se vestir como uma vadia, reduz-se o risco de ela sofrer um estupro". Expor tal visão machista e errônea a uma platéia composta por jovens damas que assistiram desde pequenas à tomada de poder de suas mães tanto em chefiar lares e fogões, como possuir também uma maestria até então indescoberta em não só pilotar panelas e fogões, mas também carros e grandes empresas. Depois de sutiãs queimados e tantas voltas que o mundo deu, uma igualdade adquirida à duras penas por figuras corajosas que não se impuseram e deram a cara à tapa afim de, mesmo com traços delicados e cabelos compridos, ter os mesmos direitos de seres do sexo masculino. Que talvez hoje, nem muita coisa adiante às moças que são praticamente obrigadas a escutar palavras de baixão calão, sussuros empapados em saliva tarada e olhares maldosos e maliciosos que se acham e supõe cheios de razão em o fazer? Mulher que revida é tida como ultrajante, inconsequente - até mesmo mal amada, feminista, "sapatona". Quando na verdade, o desgosto maior é ter que andar olhando para o chão e com a maior discrição possível para não tentar chamar atenção daquele tipo de macho que pensa que só por estar produzida ou bem arrumada, se deseja um "elogio" grosseiro e mal colocado. Das independências conquistadas ao longo dos anos, a de não poder dizer um "não" que soe e seja realmente uma negativa aceita. Esse cárcere de não poder escolher, dizer ou até mesmo obter quantos e quais parceiros bem desejar, por ser tomada não como um ser em um corpo com vontades e impulsos, mas sim, apenas uma vagabundas, sem direito à revisão de alma e motivos, e muito menos, compreensão.

Por que rotular e seccionar mulheres entre "vadias" e "santas", quando deixá-las livres é melhor negócio tanto para sua própria expressão (e não repressão, leia-se bem) sexual e emocional, quanto de escolhas e opiniões? É ganho tanto para as moças de saia, quanto para o lado masculino da população. Quer dar uma relaxada? Beba uma cerveja, procure os amigos, vá jogar sinuca ou no sagrado futebol de quarta-feira à noite. Anda precisando de sexo? Caso não tenha parceira, companheira, ou alguém disponível, desembolse; pague. Agora não pense que apenas por ser vaidosa toda mulher é fútil ou idiota e merece ser prevalecida de uma força a qual não pode lutar contra.