segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Menos músculo, mais cérebro


As academias cada vez mais lotadas. Em compensação, as livrarias, praticamente vazias. Me admira o pensamento ignorante de alguns seres masculinos em acreditar, realmente, que uma mulher decente que se preze prefere músculos definidos a uma conversa inteligente, descontraída daquele jeito cheio de sacadas rápidas e bem pensadas ou charmosa e progressiva, onde o que se tem a falar não termina nunca e palavra sob palavra, quase constitui-se um vício. Colocam todo o peso possível e nos aparelhos de ginástica, enquanto a concentração para ler um livro, assistir um documentário ou discutir filosoficamente assuntos que envolvam maior rotatividade e atenção cerebral recebem o menor esforço possível. Saúde é importante, legal é ter quem se cuide e se goste ao lado, porém um pedido, quase uma súplica: homens, desenvolvam mais  o cérebro e menos os músculos.
Não precisa usar óculos, basta ver o mundo pela ótica racional e às vezes - por que não? - emocional das situações. Talentos especiais, primorosos e até mesmo únicos são dispensáveis: curiosidade já é o bastante para que, com coragem o conhecimento se alastre. Ler o mínimo que for, e ter estudado o suficiente para querer ser alguém com bagagem nessa vida, essencial também (para que o português continue vivo e longe de qualquer assassinato - e que seja a linguaguem composta por suas conjugações, sílabas fônicas e pontuações, e não o dono da padaria. Possuir o mínimo de inteligência emocional para não ser ignorante ao ponto de tentar caçar o primeiro bumbum lustroso e bem administrado que passar. Muito mais bacana estar com quem não se aliena e sabe discorrer sobre todos os assuntos em pauta mundo à fora do que quem se restringe à academias, complementos, suplementos e alimentação para ficar bombado. Aliás, um segredo: nós mulheres nos interessamos muito pouco por caras extremamente musculosos. Muito pouco mesmo. Vale mais o charme do rapaz com corpo saudável-normal que a camiseta colada-querendo-estourar de quem se preocupa mais com o próprio bíceps do que em conversar algo além das amenidades de vida de cada um.
Inteligência é afrodisíaco sim, saibam os fortões. Bem mais que barriga de tanquinho ou panturrilha enrijecida. Querer estar bem com o próprio corpo, se manter saudável e com uma boa aparência, algo que num primeiro momento ajuda bastante. Contudo, de que adianta uma embalagem tão apetitosa, fortalecida e embelezada, se o conteúdo, quando avaliado mais a fundo prende apenas por poucos minutos? O exibicionismo de camisetas apertadas, golas V e horas e horas na academia não equivalem à um bom filme, um bom livro ou um ótimo diálogo de bases bem fundamentadas e argumentos sólidos, onde os dois saem vencedores de informação - mesmo que a opinião tenha se rendido à do outro. Ser bonito ajuda, mas é ser interessante que define o score final. Há esforços mais compensadores que ganhar um gomo a mais na barriga já definida ou conseguir puxar mais cinco quilos no supino: o olhar dela brilhando, fascinada, em como você pode ser tão lindo de inteligente, e tão salvador de qualquer pátria por se esforçar para não ser apenas um corpinho apreciado que logo também acaba no descarte.