quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Stalkers, o virtual exacerbado e a falta do real


Todo mundo tem um crazy stalker. Ou é totally-absolutely-crazy stalker de alguém. A verdade é que a privacidade no mundo atual inexiste. Você espirra, e a amiga da ex do seu namorado vê. E já repassa a informação com aquele aumento básico de que você estava com pneumonia e passou isso pra todos que estavam em volta. Você se abaixa rapidinho, e sem querer aquele seu colega pervertido visualiza uma calcinha vermelha que na imaginação fértil, desocupada e suja do indivíduo era pequena e transparente também. A vida do outro deixou de ser meramente interessante para se tornar uma prioridade em termos de conhecimento, informação e detalhes.
Falta tanto cuidar de dentro, da gente, das flores e jardins internos que acabamos pisoteando a própria grama sem nem notar - de tanto que zanzamos e borboleteamos por aí para subir os muros e olhar por entre as frestras o quintal desses tantos vizinhos que as redes sociais possibilitam. Amores platônicos se multiplicam. Exemplo (como os que dei até agora, diga-se de passagem - se me perseguem, noto que são poucas as criaturas): você vê o cara. Acha ele gato, e aquela coisa toda. Descobre que estuda isso e aquilo, com aquele não sei outro que você conhece de vista e com a sua prima de 2º grau. Logo depois, vem a saber o nome do moço. Sem nem nunca ter conversado ou qualquer contato maior que apenas dois pares de olhos, se sabe que o gosto musical bate, ele costuma ir em algumas festas que você vai, e detesta sorvete (é tudo exemplo, não existe quem deteste sorvete - embora, eu mesma seja estranha e tenha um pavor danado de melancia).
E a mesma coisa ocorre conosco. Podem nos ver, ir atrás da informação, conseguir com alguém o furo e enfim, sabem até que nosso avô esteve no hospital semana passada e do desejo gritante de morar sozinha. Estamos todos nós plantados em gramas e com muros desfalecidos, tamanha a curiosidade alheia que fazemos nós questão de alimentar. Fulaninho e cicraniha acabaram. Mesmo? Ontem vi eles juntos. Tantas fotos e frases e redes sociais e mensagens de celular que fica complicado até mesmo sentir saudade. Falta do que? O espírito virtual está ali; embora não virtuoso, presente. Abraço de dia dos pais hoje em dia é SMS. Cartão Postal há muito tempo é e-mail, e atualmente, tá mais pra foto postada no Facebook (com direito à marcaçãozinha escrota nos amigos).
Ser stalker atualmente anda facílimo. Quer-se descobrir, basta ir atrás. Algumas clicadas depois, lá está você sabendo que aquela quenga que detesta conhece o seu ex e mira no mesmo cara que você (como sempre, óbvio). Se querem descobrir se aquele seu amigo vai ao local X, passam a seguir (algumas vezes, literalmente) você - quando não se fazem de amiguinhas. A superficialidade anda grande, o que apenas agrava o online e nos corta possibilidades de construir o que é real, com gosto de gente e toque de carne, osso, e sangue nas veias. Beijos de boa noite andam em falta. Abraços apertados no meio do aperto das obviedades insuportáveis do dia-a-dia, escassos. Mãos dadas se tornaram o falar o dia inteiro, seja por computador ou telefone celular. Sabendo ainda assim que nada substitui o olho do outro infiltrado na gente, os dedos geografando cada pedacinho de pele que eriça os pelos, as unhas de leve nas costas, insistimos na praticidade dessa conexão limitada que se intensifica quando o ao vivo entra em cena. Prefiro mil vezes ser observada pelos estranhos na rua e sentir outro peito que pula ao meu lado ao texto que parte do cérebro que pensa na gente e do corpo que produz tal ação. Brechas no meio do caos urbano: necessárias para que não se deixe falhar ou subestimar as tão importantes ligações humanas sentimentais. Ainda que espiados e à espreita, em cores. E caras e bocas e o jeito único das pessoas com o sutil poder de nos encantar.