segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O romântico

Esqueçam o loiro de olhos azuis e pele bronzeada, nem sequer imaginem o moreno alto, bonito e sensual. Sabe quem é o objeto de desejo feminino, o afrodisíaco essencial, o alvo que eu, a moça da locadora de filmes, minhas amigas e até mesmo da irmãzinha menor que ainda nem sabe o que é o amor, em silêncio? O romântico.
Sim, parece clichê, soa idiota, quem sabe até, previsível. Mas falo daquele cara que vive o romance de forma tão fantasiosa que não tem relógio pra cuidar a hora, nem vergonha de desejar tanto e que todos vejam, e que o mundo sinta essa imensidão caótica que é atravessar os dias dentro de um sentimento poderoso qualquer (que valha a pena, claro).
Todo homem já fez o papel do tal moço romântico algum dia. Então, basta resgatar a memória, ler por entre sinais, ou simplesmente fazer com que fale: houve trauma, ou aceitação? Observar é importante, calar e deixar a voz esvair quando em períodos propícios, idem. Se as flores foram bem aceitas, as mensagens foram respondidas, e as cartas de amor, surpreendidas positivamente: bravo! - há chances de se renascer o romantismo que já brotou ali, e pela dita cuja outra qualquer morreu, murchou; há possibilidade de salvação do mundo de meros mortais que ainda se alimentam de superficialidades insatisfeitas.
O problema é quando o contrário se fez presente e agora fica o medo tremendo de um passado em que se pareceu bobo e apaixonado, pra nada. Um romântico tão sensível e enrustido que demorará até voltar a acender velas para o jantar ou ver a lua na janela do quarto, em dupla, em conjuntos: dois. Cabe ir aos poucos e sem pressão. Valorizar cada pequeno gesto, que sim, é um avanço. Até mesmo comemorar. Porque o romântico incurável é todo ele, é sempre ele, é com você, as ex-namoradas, e quem sabe, as futuras. Já o romântico com cura mas que anda perdido pelo mundo de ficar por entre várias e não ser realmente nunca de nenhuma só espera, mas não diz, no silêncio dos papos sem propósito e nem cabimento das vadiazinhas dessas festas qualquer que a gente vai pra quando quer rir um pouco.
Contudo, é o romântico o homem capaz de nos despertar a inveja daquela amiga que anda com um cara que tá bem afim dela e não nega, nem esconde, nem nada por aí. A total falta de desprendimento, o ato de andar do lado de fora da rua, emprestar casaco, aquecer as mãos, demonstrar afeto em público com orgulho - e não vergonha ou medo de opinião alheia furada, como quase sempre é. O olho do romance plantado no centro do olho masculino que mira apenas como alvo ela, a musa, a gata, a linda, a sua: mulher única, que todas nós, em segredo, queremos demais ser. Porque o romântico esse, valoriza. Perder é fora de cogitação. Tanto amor de forma bem canalizada (esqueça o babacas e os melosos, falo de quem surpreende com aquela declaração ou mensagem no fim de noite. De quem se preocupe caso você suma um dia inteiro sucumbida pelo mundo do business) que se dá graças a Deus de hoje em dia ver homem assim desfilar por aí. Tendência é ser apaixonado, ser machão e negar sentimento já caiu por terra e hoje em dia é o caminho mais curto para solidão e afastamentos. Quer conquistar? Dê de sim, demonstre, surpreenda. Tem faltado tanto amor no mundo, que custa um pouco de intensidade que deixe os outros se roendo de tanta inveja? Qual o medo de se abrir a quem, mulher que é, já deve estar tão afim e ansiosa para saber se o gostar do outro é mesmo bastante e vale a pena investir ali todas as emoções encouraçadas e de nobreza que é ter em quem pensar no final do dia, como refúgio de paz, mesmo que longe, do outro lado da cidade, do mundo.
Mas não apenas diga. As atitudes importam. Os sumiços inexistem. Se quer estar junto, mesmo que numa mesma tela de computador. Se envia flores ou mesmo liga-se por motivo nenhum, porque a voz é um pedacinho do ao vivo que o telefone nos possibilita.
Sejam românticos, por favor. Pra que a gente não tenha que notar nos casais alheios, em volta na praia ou no meio do supermercado porque tanta ostentação ali, tanto sentimento, e aqui a dúvida de se sentir sozinha pode existir. Mesmo que esporadicamente, mesmo que, de vez em quando. Contudo, prepare aquele piquenique no qual ela tanto acha brega, mas gostaria de fazer no próximo domingo. Faça uma serenata com violão na mão, mesmo que não cante e seja ela, a única espectadora. Leve a lugares que nunca foi, escreva um bilhetinho qualquer para que veja ela perdido na bolsa, mais tarde. Aniquile a insegurança, não dê espaço ou vácuo para que paranóias se estabeleçam. Trace rotas, sonhem em dobro, durma abraçado. Do seu jeito, que a faça sentir única, ainda que não a primeira. Tímido, extravagante, talvez piegas (um pouco só, bem pouco pra que não haja enjoo ao longo do percurso). Abrace forte, adentrem juntos o tal inferno que é mesmo gostar do outro e entregar não só o corpo, mas mesmo a alma, pra que haja um cuidado dobrado ali. Ser o romântico é um aprendizado que a cada relacionamento, se há mesmo sentimento, vale a pena ser aprendido. Aprendam, de uma vez por todas!