domingo, 21 de agosto de 2011

Saudade, a falta e a hora de dar tchau

 Na hora de dizer "tudo bem, tá na hora de eu ir pra casa", no caminho de volta, pelas sinaleiras que fecham e abrem e tem ele trocando de marcha e os dedos brincando na minha perna quando eu não estou com a mão apoiada na perna dele enquanto dirige, é que já começo a sentir saudade. Ainda estando junto, sem nem ter a missão complicada que é dar tchau com as frases de sempre e prontas sobre o que cada um vai fazer depois dali, sozinhos, é que tento fugir de deixar que entre a nostalgia do fim do dia - que quase sempre, ainda é domingo.
Acho sempre pouco o tempo que temos juntos, mesmo que seja pra respirar, e fechar os olhos, dormir ou não sentir tanto frio, um do lado do outro. Ou ir ao shopping com o intuito de ir ao cinema, e não filme nenhum porque em 3D é mesmo uma porcaria, acabando cada um com uma sacola e um livro jantando comida trash. Revendo, desde sexta-feira à noite, é tudo parte de um filme acelerado onde as situações e coisas, e felicidades e diálogos foram todo completamente por nós bem aproveitados, mesmo agora tendo a rapidez de uma flecha ou raio e carregando a vontade de voltar ali. Em nós pegando o pouco sol que se escondia sobre as nuvens, tapados num único cobertor, e em cadeiras de praia diferentes; assistindo futebol, ou correndo pelas curvas da cidade com você representando a reencarnação do Ayrton Senna.
O que acontece quando tenho que ir embora é que as coisas, sempre tão embelezadas e ainda assim praticamente ofuscadas pela sua (sim) grandessíssima lindeza e charme começam a se tornar simplórias como na verdade são e fico eu desolada e perdida porque não sei me despedir da semana que fecha com você sendo a chave de ouro para que outra comece já brilhando, mesmo que em monotonia. Fico com ciúmes de tudo que vai poder te assistir assim, com desprendimento e autenticidade, tocando violão ou lendo, ou em frente ao computador, sendo a pessoa única que me olha bem dentro dos nossos olhos de cor igual para rir depois, irresistível. Invejo a janela que você toca para abrir e não sou eu, a camiseta que me emprestou para dormir e às vezes você veste, o tigrinho de pelúcia que deve cair às vezes da estante e cai do seu lado, na cama. Eu, que detesto e não sei dar tchau por ter essa imensa fome, sede e necessidade do que me faz bem, chorei aquele dia depois de ver o filme de mulherzinha e ter que voltar pra casa, fingindo ser só rinite ou uma possível gripe. Que nada. Não sei me despedir mesmo, não acho justo que a parte que tem sido melhor da minha vida passe por mim assim tão fugaz, enquanto os dias burocráticos e funcionais se arrastam hora a hora à dentro.
E ter você um pouquinho durante a semana, daquele jeito que apenas aumenta ainda mais a ansiedade para que a gente não se desgrude. Dá um pouquinho de medo da rotina, a última coisa que quero no mundo é que você de mim enjoe - tenho tentado fazer com que não aconteça, mas sendo fiel à mim mesma também. Mas ainda assim, domingo final do dia é a hora fatídica, que desde a sua casa, até o tchau para os seus pais, a descida no elevador e o caminho do carro até que eu pegue as chaves na bolsa, sinto a saudade até então adormecida despertar e feito colchão de ar inflar devagarzinho, para que eu note aos poucos e não enlouqueça (nem surte, nem chore, para que você não se assuste). Se vale? Não, não é válido. Mas acontece. O bom é que as ocupações tem sido grandes e tenhamos nos conseguido encontrar, mesmo em meio aos tantos compromissos, ocupações e responsabilidades. Para que então cheia e completa, imensa, a gente fure essa falta que dá, conserte mas mate de uma vez por todas quando é hora. Eu, que sinto falta do seu dedo mindinho, do seu abraço apertado, dos beijos na ponta do nariz, acho também que te amo. Sim.