quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Mergulho


Vale a pena, pegar uma lotação qualquer que dê no shopping, com sacola pra um dia e um calor absurdo, mesmo tendo que esperar uns bons doze minutos dentro do ar condicionado central das lojas bem distribuídas em meio à tantos pas...santes. Mesmo sendo um intervalo entre alguns dias, não sei querer desgrudar de você quando contigo. É uma perna que fica no meio do caminho, um braço que volta sempre para dar um último apertãozinho, aquele beijinho de quem volta depois da academia que causa em mim uma saudade inescrupulosamente dócil. E assistindo a um filme, emaranhada no secador de cabelo ou passeando pela avenida vazia para matar um pouco desse tempo que, se não juntos, passa feito um borrão, revivo aquele trailer que repete o apertado de mim contra o seu peito, a mão repousada na perna enquanto toma café, frases recontadas de anedotas de um dia que poderia ter sido qualquer, mas começou a valer a pena só dali em diante.

Um mergulho nessas horas ímpares e capazes de redescobrir aquele estalinho que dá na gente de que, quando a vida resolve ser ela, ela consegue mesmo ser maravilhosa. O seu sorriso estampado ao longo da minha diretriz, o pé que encontra o meu por um pouco de agitação e consegue em troca, além da minha risada mais fluente, o ápice das cócegas, a mão dada que gruda na minha e me guia casa afora, os tapinhas e puxões, que de tão levinhos são interprete dessa intensidade mergulhada em que nem de mãos envelhecidas e fôlego no fim dá vontade de sair. Feliz e tanto, estremeço por dentro toda vez que, além de abraçar satisfeito a minha espontaneidade bipolar que vai de "quietinha e pensativa, por que você está assim?" a cabeça - mais falante que pensante - com direito a frases memoráveis de brinde, ou minha pose ao beber água na garrafinha de água que nunca está gelada justo quando deveria, mas mesmo assim sugo com vontade. E você ri, e eu paro, porque senão começo também e me engasgo. É de momentos assim que a vida deveria ser feita, com pequenas pausas para recobrar a sanidade, uma burocracia aqui, obrigação ali e todos sendo felizes e dando o devido valor a esses encantamentos de mil vezes em quando.

Mentalizo muito enquanto na mesma cidade, mas longe, pra que mesmo que os dias corram, os meses voem, e o tempo se arraste, o grande lance continue sendo achar bonitinho enquanto escovo os dentes ou lavo uma louça, hiperativa. Enquanto, eu continue vendo em você, desenvolto ao telefone ou cozinha interessado alguma carne na churrasqueira todo o clímax de beleza possível e um certo charme de quase homem que há certo tempo cansou de ser guri. Porque é merecido o exercício de ter mais paciência enquanto, indiretamente, a gente sente devagarzinho o amor se alastrar latejando por dentro. Pro que não vale a pena, um jeito a gente acha. De alguma maneira, enquanto a gente estaciona para se olhar fundo, bem dentro da íris e vê mais além, nasce de repente um fôlego para impedir que nada quebre a delicadeza de um instante desse calibre. Nesse salto em que, decidida e intensa, eu resolvi submergir. Nesse mar todo de felicidades instantaneamente agudas, eu me nego a sair. Dispenso boia ou colete, porque no fortinho do seu braço eu já encontro salvação. Me aceito até mesmo de biquíni, porque se você gosta, eu dou jeito de me achar nem tão ruim assim. E bem mais que um companheiro de barco quebrado, ele é quem sabe ser racional e se manter firme enquanto eu desatino por segundos. Porto seguro, cais, um beijo e o mundo paralisado, calmaria. Aqui, felicidade.