quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O interessado dá um jeito

Ah, então um combinado é rapidamente desfeito (culpa do trânsito), uma vontade parece voraz assim que exposta (mas não pode ser saciada, culpa da rotina), desiste de declarar o que realmente pensa por pura preguiça. Vocês conhecem e a gente tem é quase alergia às frases ridiculamente prontas, ao comportamento mais babaca - e covarde - ainda: puxa, minha avó adoeceu. Nossa, hoje vai ser impossível, preciso fazer rancho no super mercado. Ando doente, minha rotina é só cansaço, moramos longe e a gasolina é cara. Querer sincera e desesperadamente, sem medidas ou objeções, que tem a ver com isso? Acho que, além de no lugar da fuga, uma urgente aproximação, mais nada.

Já viram um cara quando algo é realmente importante? Chega a ser chato do tanto que tentam. Alguma brecha no meio do seu dia, alguma atenção - foda-se que pareça louco por você ou desesperado, ele quer e pronto - e age. Daí que fica fácil diagnosticar quando estão ou nos levando em banho maria, ou nem tão afim assim quanto imaginam. Ou simplesmente pertencem ao tipo que não se permite, não se solta, esquece de viver a pleno (o que é bem triste também, verdade). Aparecem para almoçar, enviam flores para o trabalho, fazem questão de deixar à mostra em tudo quanto é rede social que possuem o tal interesse, a vontade de você que não cessa (e que no seu íntimo, pede que só aumente). Quer ver você nem que seja tarde da noite, no intervalo da faculdade, depois da tal da academia. Mas quer, oras. Nem que te busque. Nada daquilo de "hoje não dá" ou "combinamos outro dia" ou, "já ficamos bastante juntos o final de semana, é bom dar um tempo". Isso, com certeza, desmancha a olho nu nossa admiração pelo tal. O afeto pega carona às vezes também, aos poucos. É como disse Nelson Rodrigues e a fila é grande de mulheres afim de assinar embaixo: toda falta num homem é perdoada, menos a de atitude. Corretíssimo.

Enquanto, do lado de cá do barco, homens se fazem de bananas pra não vestir a carapuça das nossas más vontades e programas adiados, notamos toda e qualquer ausência que poderia ser suprida. Com o tempo, passamos a não tolerar de jeito nenhum quem não saia de casa por estar o mundo desabando em chuva ou calor excessivo, quem não quer ansiosamente nossa presença como desejamos estar junto, quem brigue e consiga dormir assim mesmo, simplesmente porque "amanhã é outro dia". A vida vai se tornando intolerante a quem não escolha o tempero da intensidade para sazonar as áreas prediletas - ou achar, uma meia horinha que seja, para adocicá-las. Mesmo debaixo de todos os problemas possíveis, anda raro encontrar quem se interesse e dê um jeito, mesmo que seja apenas à noite, de ônibus e num lugar público. Mas a gente precisa. Nos surpreendam, nos cansem, nos tirem do sério (por favor!), nos deem um pouco de loucura para descarrilhar em adrenalina, esqueçam como se desculpa esfarrapadamente e apenas vivam. Com vontade, conosco, sem subterfúgios, máscaras ou lentes. Se interessa, o jeito é encontrar - fugir é desperdício.