sexta-feira, 1 de junho de 2012

Agonia





Estava ela agora sentada se balançando, os braços entrelaçando as pernas, dobradas. Inquieta, vai e vem enquanto espera ele vir. Um beliscãozinho pra ver se não passa do pior pesadelo em meses. Doeu, ou seja: é real, não. Esperar dentro de casa no choro compulsivo se tornou insustentável, precisava do ar da rua, de alguma ilusão que fizesse os minutos correr e ver ele logo, desabar nas palavras toda agonia que escutar um "estou confuso" gera na cabeça já um tanto conturbada de uma mulher.

Era preciso que entre o apertão no braço que dirige uma conversa tudo fosse extirpado da boca de quem precisa mesmo, e não tem vergonha de pedir, até porque, veja bem: meu momento é o pior já existente, não nos deixa assim a troco de nada, por favor, esquece a ideia de ser capaz de me largar à mercê na vida de lágrimas escorridas e peito quebrado. Que tinha feita para, em poucos dias, algumas horas, esmorecer de certeza a mera dúvida? Não entendia, não entendia; suplicava: diz que é um pesadelo, me acorda disso onde a gente errou de forma tão cega que não percebeu transformar prazer em obrigação.

E no caminho ele apertava forte, beijava o rosto úmido do pranto torrencial, reacendia as luzes de que por mais que a vida estivesse difícil, o tempo apertado, a rotina massante, era impossível abandonar aquela que a tirava do tédio toda vez que simplesmente aparecia, feito milagre pequeno que bate na porta e a gente escanteia para o vizinho, algum orfanato, qualquer outra pessoa. Eu preciso de ti, ela dizia, porque eu sei que aumentei demais o pedestal, me perdi dentro da própria vida, só que não sei seguir sozinha. Tá tudo bem, ele respondia. Fica calma, para de chorar, pô. É só uma fase, a gente consegue atravessar isso, só disse o que tava sentindo, sabia que você ia ficar assim, não fica mal por favor mas eu precisava falar, se não nunca ajustaríamos o que anda de errado, não teríamos chance de melhorar.

Quase calma, ela sorriu um pouco. Voltava a chorar de vez em quando. Era TPM, e com certeza, todo o drama explodiu na semana errada, menos propícia entre outras tantas. Que ela era assim mesmo, já transitória entre os vários sentires por dia, mudando muito mais o humor que a roupa antes de sair. Como única convicção, todo amor do mundo, capaz de teletransportar pra um planeta distante, plantar duzentas mil árvores de felicidade e oxigenação, germinar nela a mais bonita de todas as felicidades que já se permitiu. Agora já um pouco desmatado, nublado de incerto, confuso pra quem nunca nem imaginou pensar de tal forma. Medo no meio da noite, abraço apertado, "eu te amo" mais sincero nunca escutado antes. Alguns maus sentidos devem vir para bem também, refletiu. Ainda sem saber se compra uma passagem e muda a vida pra Buenos Aires, seguirá a conviver não com um homem, mas sua forma emotiva e irracional em ponto de interrogação, ou tudo fará bem, repete: vai passar e tudo ficar bem, seja o jeito que for, da maneira que der, como conseguir. É só o que pode. Deve.