domingo, 10 de junho de 2012

Doa-se intensidade (nesse guichê)


Primeiro, que dói mesmo - em mim, quem convive, quem é diferente, naqueles que não sentem a fundo e no mesmo pique elétrico. Segundo, que por aqui anda transbordando (e que preencha essa minha sobra a vida daqueles regrados, céticos, frívolos ou racionais que precisam de uma pitada de emoção pra colorir os traços do dia-a-dia.

Choro sempre, desde uma inexistência de motivos que me façam sentir um vazio ilusório, até com propaganda de dia das mães. É sentar, e pensar, pra então sentir e se ver emocionada ou porque o momento é lindo e meus olhos enchem d'água, ou as ligações mentais me fazem ver o lado nem tão bonito assim, e dão o start num pranto que soluça, para, volta e sofrega de novo. Travesseiro úmido, roupa também, rosto inchado e uma dor de cabeça do cão que só passa se remediada. Ou seja: choro muito, penso pouco, sinto como se tudo transbordasse. É assim, sem farsas nem travas - eu permito mesmo parecer frágil de vez em quando, pena que por esses dias tem me acometido com frequência.

Uma ofensa banalizar a minha tristeza. Recorrente, sim, mas nem por isso também menos dolorosa (ou valorosa, enfim). É tudo tão quente que no calor do momento às vezes a dor, a grosseria, ou a indiferença recebem em troco um choro quase infantil. A vida anda difícil, e o povo sabe. Eu só queria um abraço pra desacelerar essa loucura que é a mente maquinando a mil pelo Brasil, o coração tum tum tum tum - quase virando do avesso - a água salgado que cai dos olhos, e cai e pinga por tudo (e não me faz mais menina e menos mulher, como alguns dizem e muitos outros pensam: faz de mim humaníssima. pessoa em estado puro, à flor da pele que fica quase rosa, tanto que se lava).

Sinto muito, mas eu choro. Porque se intensa é assim mesmo: só quem é também reconhece de longe a importância de cada momento como se fosse o último. O ódio de hoje à noite, que adormece febrio para na manhã seguinte acordar cheinho do mesmo amor de antes. Viver de momentos. Segmentar a vida em horas ruins, tardes maravilhosas, noites inesquecíveis (outras nem tanto). Seria bom se esse negócio de guardar mágoa, rancor ou prologar as pazes feitas fosse esquecidos dos mecanismos da mente de todos. Passassem então a sobreviver no now or never, no love ou leave pra sentir como é querer muito e querer agora, pra daqui a pouco se aquietar, numa autonálise das cabreiras ou embravecer com ação fora do roteiro que invade a tela da vida da gente.

Poderia ser tão mais simples se aceitassem a troca de um pouco de razão por um punhado cintilante daquilo que pulsa as veias e intensifica os dias, dá vazão ao sentimento e faz dos atos nobreza, de um abraço apertado o final da choradeira toda, de elogios, um refúgio contra crises e pormenores que a gente aumenta de dimensão, dos relacionamentos, preciosidade: o amor é mesmo o objetivo da vida. Da forma que for, do jeito que existir, entre quem florescer. Doa-se um pouco dessa intensidade, porque antes de querer enfeitar a vida, é preciso sobreviver. Ou endurecer.