segunda-feira, 18 de junho de 2012

Tudo uma questão de reciprocidade




Converso com amigas, recebo e-mails de leitoras, observo os relacionamentos de quem me rodeia. E constato cada vez mais: elas estão insatisfeitas. E cheias de ricos motivos que, uma hora ou outra ou fazem largar de mão, ou ter um acesso de raiva, ou simplesmente sumir. Porque a vontade é exatamente essa: de uma falta sentida, nem que fosse. De voltar a ser protagonista onde, tornou-se de musa, para nomeada namorada e agora então, quase fantasma nos dias do homem.

Estariam as moçoilas de tempos como os nossos se doando em demasia? Não. repito e digo: não. Noto uma tendência cada vez maior ao amor, amor bom, amor sincero, amor real e duradouro e diminuições drásticas de piriguetismos ou libertinagem - claro, a geração dos filmes Disney dos 90's fizeram nascer um bocado de meninas cheias de sentimento pra se tecer. Elas querem ter alguém. Sempre quiseram, mas a vergonha em admitir que ser sozinha não é tão legal como parece diminui num cenário geral onde é feliz quem compartilha a felicidade (a dois). E quando aparece o príncipe encantado, o cara dos sonhos, o amor da vida, se jogam numa entrega louca onde, mais tarde, veem um sapo acomodado enquanto se sentem culpadas e se perguntam: mas aonde foi que eu errei?

É, ela errou. Porque os dois foram muito rápido e quiseram muito ficar o tempo que desse juntos e no começo era maravilhoso, no meio das contas era bom, e no final, acabou sendo acusada de sufocamento - a última das intenções, saibam vocês. O que era recíproco, foi se tornando vagarosamente papel dela no relacionamento que era dos dois: não mando mensagem pois estou ocupado. Não te liguei porque o dia foi cheio. Amanhã não dá porque quero descansar. Hoje não tem sexo, tô morto. Você não tem amigas, não? Carinhoso? Eu sou homem, não preciso dessas coisas. Para de chorar, chega de drama, sai lágrima de ti por tudo. Faltou um pouco de amor próprio da parte da cega apaixonada, sem dúvida nenhuma. Mas a vertigem de um sentimento até então novo, profundo, arrebatador faz dessas coisas mesmo, e o que gosto de ver é que não existe pudor em admitir que errou mesmo, que a paixão é meio culpada, mas ela é também, oras (assim como é ele, que não admite também, é obvio).

E vai doendo. São muitas: basta escutar histórias no ônibus a caminho da faculdade, a mulher da limpeza no meu trabalho, ou minha própria chefe. Colegas de aula, amigas de anos, eu mesma de vez em quando. Elas querem fazer durar enquanto eles não fazem a mínima questão. Detestam discutir a relação, é chato. Se abrem menos que que um furo mínimo de agulha, os machões. Acham que se esforçar, minimamente que seja para resgatar os ares de começo de amor não é necessário, é coisa de mulherzinha e que, se tudo anda desandando, a culpada é aquela louca, ciumenta, pegajosa - quando não dizem coisa pior...

Cansa remar sozinha numa maré de desfortúnios onde a culpa pertence sempre ao lado feminino. Nada justo se conformar em estar no lixo junto às outras tantas baixas prioridades numa vida onde já se teve destaque. E ela chora, e pede, implora e tenta; em vão. É clichê, mas de tanto amar, morre o sentimento pelo coração: muita água pra pouco adubo. Esforço demais para planta que se recusa a dar flor. E espinha, espinha, espinha (podendo apenas renascer se por vontade própria, muita luz, sombra, e doses homeopáticas de água fresca).