Certo, partamos do
princípio: homens querem se apaixonar. Ter alguém, encontrar a mulher certa,
aquela que dê um colorido mais romântico à uma boa parcela de alguns dos
melhores momentos da vida. Saem, conhecem garotas, se apaixonam - nem sempre dá
certo, até que pinta: ela olhou bem pra ele, e deu o sinal vermelho. Ele sentiu
atração, e ultrapassou as barreiras que limitam o contato. E então toque,
química, papo bom, beijo tímido, beijo ardente, sexo, encontros frequentes,
horas maravilhosas gastas em conjunto, afinidades mil e pronto, nasce um amor
que pode durar cinco semanas, oito meses, ou até mesmo, anos e anos. Se não
houver uma bondade dessas de tão ensaiadas, teatrais. De quem comete erro e
tenta colocar pra debaixo do tapete porque não sabe muito bem o que fazer com
uma impulsividade que outra mal canalizada. Aí, então, um desses amores feitos
um pro outro quando em multidão que nos fazem pensar que o nosso pode ser sem
graça, sem sal, rotineiro e simples demais. Só que não, gente.
Conhecia um casal em
comum. O cara viaja bastante, trabalhava em horário comercial, parecia um pai de
família exemplar. Adorava presentear com itens carésimos, ligava de hora em hora
para se certificar que sua senhorita estava ali, e fugia de qualquer suspeita de
ser um traidor barato, desses que deixam estampado na cara que não valem lá
muita coisa. E traia. Enquanto fazia super bem sua personagem de marido
dedicado, deixou alguns rastros que fizessem com que a mulher descobrisse e,
depois de algumas taças de vinho, foi intimado a confessar. Assim como um ou
outro que vive deixando recadinho de amor perfeito em mural de rede social,
entope o perfil do casal de fotos dos momentos bons, mas oprime, xinga de
barbaridades, dá em cima de outras quando sozinho entre outras ridiculices. Por
essas e outras que, quando a bondade (assim como a esmola, e a felicidade) são
demais, natural é que a mulher desconfie.
A raça masculina cai
de amores também, só que é diferente: nos detalhes minúsculos, nas declarações
de uma frase numa noite em que se menos espera, nos cuidados quando adoecemos,
na preocupação se chegamos bem ao trabalho, ou em aparecer uma vez que seja
durante o ardiloso dia onde trabalho, academia, faculdade, jogos de futebol,
camaradas para nos deixar bem, ouvir a voz, soltar um elogio qualquer porque a
gente precisa de amor diária e para nós (mulheres) é importantíssimo. Porém,
enquanto sentem e tudo está bom, não reclamam, assim como nem sempre nos enchem
de mimos. Portanto, segue a minha teoria: homem bonzinho demais é mais ou menos
como Papai Noel: a gente quer muito, muito acreditar. Mas e tem como não
suspeitar de tanto presentinho sem ocasião, jantar caro, mil ligações por dia e
tamanha perfeição? Como integrante do sexo frágil, possuidora de uma intuição
dessas que raramente falham, eu acredito que não. A pulga atrás da orelha logo
se transforma em minhoca filha de uma paranoia que não cansa nunca de suspeitar
de tudo e todos. Logo, prefiro um atrapalhado apaixonado de vez em quando que
siga a sua natureza de homem e demonstre quando convir, ao invés de a cada
hora.
A vida amorosa
provinda do planeta de Marte é simples: sem apertar muito nem afrouxar, com
bastante espaço para criatividade, falta sentida e mimos ocasionais, sobrevive.
Cresce. A conquista precisa ser sempre um componente vivo e inalcançável para
que a atenção masculina centre em nós (ao menos de vez em quando, ou melhor, nas
vezes em que o video game não funcionar ou estiver longe). Quem gosta de
detalhes, amor incondicional e 24 horas, romance de cinema somos nós, as meninas
criadas assistindo Disney e suas princesas em fica cassete. Pura esperteza de
rapazes que aprontam e conhecem bem o perfil de ladies femininas como nós para
tentar camuflar o erro. Meu alerta não é uma inveja mal exposta para casais
apaixonadamente felizes, até porque, isso também sou eu. E sim, para que o olho
esteja sempre aberto a demasias despropositais que não cabem geralmente no
comportamento habitual de todos esses homens magníficos, queridos e adoráveis e
que erram mas, que não deixamos de amar em hipótese quase nenhuma. Direto, mas
cordial, e nunca esquecido: se simples, mas sincero, muito melhor que cheio de
floreios falsos que nos enganem. Na medida certa da pieguice dos amantes, não
existe não preferir.
