domingo, 24 de junho de 2012

Me escreve qualquer dia desses também




Há pessoas que confiem nas fotografias como símbolo de memórias salvas para a posteridade. Outras apaixonadas por vídeo e o movimento de se filmar algo em que já se colocou o olho anteriormente, desd...e momentos marcante a uma manhã inútil e sem data a se lembrar num desses domingos meio gelados, como hoje. Minha paixão é pelo texto. Represento os malucos por bilhetinhos, frases salvas, escritos apressados, cartinhas surpresas e coisas do tipo. É esse o meu recado pra que eu guarde além de lembranças, mais letra e papel daqueles que entopem meu coraçãozinho de um pouco do bom dessa vida.

Me escrevam qualquer dia também, eu peço. Pra que eu deixe numa caixinha dessas cheias de papel de carta, correspondência e fotos antigas. É o desejo mais profundo: larguem na minha bolsa, dentro da mala, no bolso do casaco, ou mesmo em mãos - a emoção de ouvir um "lê quando chegar em casa" quase foge de explicações verossímeis - misto de inquietação com curiosidade, e um quê de adrenalina por apenas até então imaginar o conteúdo em letra script, garrafal, emendada, tremida, lacrimejada, apressada - contudo, solidificado na assinatura de quem descreveu alguns sentimentos, rememorou histórias ou confessou aquilo que ao vivo seria impossível.

Pode ser postal, em folha de caderno, até mesma escrita por máquina tipo Olivetti ou no computador. O que conta é a disposição em fazer parte do meu baú de retalhos do que já se passou. Pelo correio, debaixo da porta, após uma crise ou em formato de dedicatória de livro (aceito, não nego). Se for tamanha a dificuldade, que se comece com um bilhete curto, pedaço de música, palavras desconexas, trechos de boa literatura. Escritas no horário de almoço, ou acompanhada de um saboroso café, na mais completa companhia de uma solidão que coloca na força da mão que imprime na celulose aquilo que merece ser dito, porque é de atitudes pequenas, detalhes ínfimos e delicadezas do tipo que o amor se suplementa.

Me escreve qualquer dia desses também, vai. Pra aumentar a minha coleção daquilo que eu mereço mostrar pra filhos, netos, imprensa, meus medos infantis e desconfianças quase sempre paranoicas, de tão infundadas. Ajuda na fuga pra um espaço onde dê pra se lembrar sem cair no clichê de salvar em pen drive e HD o que merece, antes de qualquer coisa, espaço especial na nossa nem sempre bem treinada memória, berço de uma velhice louvável. Contribui para o clarão de felicidade ao reviver, mesmo que em pensamento, aquilo que um dia brilhou de maneira tão forte e que sempre quando aberto o envelope é capaz de dar estalinhos de luz, sorrisos de reconhecimento e peito feliz sempre que os olhos passarem a grafia única e borrada, meio torta, de forma e bonita porque sentimental é aquilo que corre no sangue: da simplicidade de uma carta de amor (ou não), se alimentam sonhos, uma cidade, a fome da gente - inesquecíveis reciprocidades.