sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Lisergia pura



Amor é mesmo loucura; lisergia pura. E com toda a razão possível, escondida por trás de cada uma das ações involuntárias que nos tomam o corpo, a mão, os sentidos. Tipo bichinho da maçã que vai corroendo aos poucos, o vício da droga ilícita que bate e deixa cada vez mais a fissura alastrada - quando na falta. Se alienar do mundo, para, aos poucos se dar conta de que paixão era muito pouco perto do efeito que tem sentir a prolongação do coração que não para, do ar que não falta. Da constância com sabor de eternidade. Um cio confortado, presente. Beco que, depois de adentrado, sem saída nenhuma (e sem querer que se encontre qualquer solução para subterfúgio algum). Quase dádiva em se infectar de sentimento, de receber o feedback quietinha e sem jogo, nem culpa, medo ou compulsão. Ali, no braço colado ao outro braço, no riso compartilhado, nos olhos que não conseguem desviar. Alucinar no surrealismo dessa sensação que vai sendo construída, dia após dia, conversa pós vida, vida terrena de lado na viagem entusiasta de embarcar no que não se conhece, mas querer mais e mais, sempre. Estado agudo, intensivo, veemente de uma droga lícita, que felizmente, faz bem. Peso dos dias retirado das costas, trocado pela leveza de pés tão livres e soltos, que quase flutuam - imaginam pisar nas nuvens. Palavras que fogem ao sentido da explicação, se escondem covardes atrás dessa afeição toda que é sentir e nem ao menos conseguir relatar aos meros mortais que disso nunca experimentaram, ou viveram. Uma insanidade que, de tão pura, apenas nos vangloria: não deixa danos, não desgasta; apenas aviva e incendeia. Insensatos, unidos por um mesmo cordão quase umbilical de quem se reconhece por uma vida quase inteira, desses ciclos de amor que mal um termina, no horizonte outro recomeça. Amar é a irreflexão certeira, assertiva, de que a maior sorte se encontra na nossa frente, em carne osso, cabelos e emoções. O delírio do qual nos orgulhamos de ser pertencentes, o contágio alegre de renovação dos dias, mesmo que seja com exatamente a mesma pessoa ao lado. Doido mesmo é amar e aprender, se aperfeiçoar depois de ver que paixão, que nada: o barato que dura e não sai caro é esse de se doar para quem tem onde nos colocar - órgão vital, colo, agenda no celular, programas juntos, vida - e que se doa também, que nos preenche em totalidade. Lisérgicos, sem reabilitação. É isso que somos todos em busca dos arrepios na alma, das certezas no estômago, da claridade dos passos. De amor que nos ensandeça devagarinho, mas que fique. Conforte. Poder e êxito, destino e vontade; amor é curioso e desvairado. Quando vê, o que nunca se imaginou ser é nossa realidade e mais do que nunca as borboletas voam, talvez sinos não toquem, mas o toque do outro na pele feito toalha macia com cheiro de bem me quer é o que salva da loucura diária e nos transporta até a pretendida: amor real, completo e precioso, incomum e vibrante. Completamente utópico e particular, a quimera de sonhar à dois é caminho na rota viciante desse ideal romanesco: amor.