quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A louca aqui de dentro


Apenas depois no caminho ensolarado de volta é que peno: que dizer agora, depois do drama todo? Que fazer então, depois de cruzar o shopping de ponta a ponta e não encontrar uma mísera sapatilha preta em couro e no meu numero? Quinze minutos no cinema, choro escaldando a maquiagem, ligações para amigas. A louca me tomou conta por minutos inconsequentes que deveriam ser de aconchego. Culpa, remorso, cuidado; que fique essa faceta descontrolada longe de mim, meu deus.
Acontece quando seleciono "remoer" ou "relevar" ao invés de simplesmente "falar e ser direta aos poucos". Ou libertar, aos pouquinhos, essa minha mania em opinar deliberadamente no que quer que seja. Incansável, lá vai a louca que aqui dentro desperta ocasionalmente de todas as maneiras possíveis tentar expurgar a colheita vagarosa de resguardos, silêncios e maus-entendidos que engole de vez em quando, afim de parecer correta, decente, forte ou decidida. Incontrolável, deixa escapar um pouquinho - quem sabe no suor, pela saliva da fala, por meio da aura explanada - em cada gesto impensado, pergunta direta ou movimento fora do ritmo habitual e acomodado a que a vida (normal) deve seguir. Entre ser irônica, dramática ou obssessiva, acabo mesmo é - por minutos, segundos ou, no máximo, horas - enlouquecendo.
Insaciável, se entope das mais inexplicáveis neuras, dos mais desconexos pensamentos que vibram uma vez que outra sem aviso prévio ou recomendação. Insana, aparece quando menos deveria. Me atinge quando fraca de mim mesma, submersa em baixa autoestima e dias ruins seguidos um do outro. Nem camisa de força ou remédio tarja preta adormece essa terrorista por tempo suficiente. Vive nesse largo espacinho entre ser banal e tentar ser blasé, para sobreviver dentro da crueldade que a sociedade pede. Sem medo de altura, brinca de atirar do mais alto prédio da cidade meu denso e carregado coração, só para me ver aflita e medrosa, tamanha agonia. Minha parte alienada deseja companhia e pelos tremores dos órgaõs, pelo frio na barriga, nota que feliz sou eu quando consigo ser tranquila: rodeada de gente que me gosta. Daí começa a plantar uma sementinha de que não, não pode estar tudo tão bem. Capaz que o curso dos acontecimentos seria assim, tão fantástico. Tem algo errado, e caso não fareje, ela o faz. Tá tudo uma droga de repente, porque comecei a notar coisas que nem existem e brotaram na minha cabeça - culpa da desvairada, saibam vocês.
Então, sentenciada, foge. Fico eu - comigo mesma - e um arrependimento em ser impulsiva no colo, pesado e inerte. Estatática sob os escombros, repensando fatos e revisando falas para saber como começar a correção que a insensata fez, antes de se esconder novamente aqui dentro, perdida e pequenininha. Aguardando até que infle e me fuja do controle, para uma próxima vez deixar que jorre o rio de lágrimas de cada TPM (as duas se adoram, é incrível) ou a fúria tenaz de, teimosa, dar cabeças que mais tarde não adiantarão de nada. Nem mesmo eu que quando calma tenho sido um doce suporto tanta acidez inconsequente. Maior prova de amor do mundo: sobreviver em meio ao caos de quando eu desatino. Que bom que tem quem passe no teste.

- Texto escrito há um ano atrás, não refleti o meu momento atual que é exatamente o oposto, estou super bem e resolvida comigo mesma e tudo a minha volta. Achei ele perdido entre minhas anotações reeditei e achei uma boa postar gosto muito dele e acho que muitas pessoas possam se identificar com ele como eu mesma me identifiquei um dia. Apenas um esclarecimento

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