quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Essa tal de intuição

Dentre todos os artefatos, todas as manhas, todas as táticas femininas, nada supera a eficácia e eficiência que a praga da intuição feminina alerta internamente. Tá tudo bem, o mundo anda maravilhoso, até que bip bip e nem tudo continua cor-de-rosa como embelezado estava. É um embrulho no estômago que chega e nem avisa, um banho de água-fria no que acalorado e positivo, agora encharcado em desconfiança, não é mais. Porém, nem sempre. Há os dias em que floreia por trás desse plano cartesiano, real e imediato da vida que algo bom a caminho está; coceira na mão e dinheiro, todos os sinais em verde e vida aberta, felicidade fácil, alguma notícia boa ainda não extraviada.
Como explicar, estar pronta, e não conseguir descer a escada, nem abrir a porta, trancafiar-se ao lado de fora já na rua e com inúmeras possibilidades no bolso? Escuto tanto essas minhas sensações anormais que desviam do curso premeditado e normal em que todos se encaminham. Requer coragem, confiar tanto numa percepção futura de avisos e sinais que nos sopram verdades absolutas nos ouvidos, mas sem provas para contestar, no presente. Às vezes, essa nossa amiga se torna a melhor possível: e tira de frias, e coloca em boas, sonhadas e então, saciáveis situações. Um momento de silêncio, uma conexão com o indefinível, instantes de meditação capazes de desviar do perigo, mirar na satisfação e certeiro, fazer nascer um sorriso.
Há pressentir um amor, e com atitudes cautelosas e delicadas, tranquilizar-se sem pressa de agir por já saber que lá na frente, talvez daqui a pouquinho, laço feito, braços dados, um beijo, algumas noites e a certeza ainda em pé, viva em saber que fez seu papel de isolar ruídos alheios e aumentar o próprio volume interno. Diante das milhares de possibilidades e escolhas, opções e opiniões, escolher a si mesmo e à própria bagagem, para que, mesmo que o erro seja resultado de uma primeira reação, na fidelidade do próprio ego acertar pode ser a consequência final. Em frente ao que é tranquilo, mas banal; ao lado de quem não é bem aquilo que apresenta, mas sim, pior; na escolha de apostar num cheiro, num gesto, numa indefinição que nos foge de explicar, mas que, em qualquer momento da vida, sentir basta.
Da visão mais ampla e límpida, mesmo que emabaraçada e errônea até que não se explique o tal feeling responsável por conturbar a vida, remexer os sentidos, embaralhar os acontecimentos de um dia, a sorte de contar com essa opinião sem cara, raça, feição ou voz ativa (uma opção). Ecoa no fundo da gente, paraliza ainda mais nós mulheres quando funde-se a razão com a emoção para que se aponte algo que até então não havíamos notado. E muda um mundo, apenas movendo-se do lugar. E gira a roda azul com mais velocidade e maior intensidade, uma peça colocada ou sem. Farejamos tanto, que intuimos.
Graças a nós mesmo, deixamos de ir a uma festa que estava horrível, de comprar aquele sapato que sua amiga desembolsou e quebrou o salto, ou de não ligar justo quando ele estava sem telefone celular. Captamos o invisível, detalhamos o esboço inanimado de cada momento que passa e merece atenção, pois quando vê já foi e mudar só na próxima parada. Além de sermos as escolhas de fazemos, boa parte do que somos se resume na interligação de cada intuição que ousamos ter. A mágica de acertar é, com certeza, a melhor recompensa.