sábado, 21 de maio de 2011

Diferente



Olha, o que te falo é aquilo que poderia ser clichê, mas se tratando de mim, é totalmente real: nunca foi assim. Em boa parte, porque eu nunca quis. Qualquer sensação maior de alegria possível, de comodidade cordial, ânimos quentes, e a minha fuga. Sei que não lido bem com essas sensações profanas de se confundir naquilo que ainda se desconhece. E o medo de arriscar? Enorme. Queria eu que gostar de você fosse naquela paz simples onde não enfiaram os alheios uma porção de minhocas, ideias e teorias dentro do que a gente tinha. Naquela simplicidade de, quero te ver, eu também, então vamos. E íamos. O cerco vai apertando, os dias, exigindo ainda mais que sejamos responsáveis, e adultos, profissionais e acadêmicos. Do outro lado da cidade, vamos dormir? Vamos. Vem. Não dá. Não posso. Tanto pela infinidade de bairros que nos separam, quanto pelas infinidades de locomoção, o dia seguinte cedo que nos exigirá disposição para não cair dentro do sono numa hora qualquer de bobeira. Perigo isso de plantar fantasia onde já há a conformidade. A vontade imensa, aumentada ali, sempre aguardando as oportunidades dos dias de glória e liberdade - final de semana . E que se adcione os dias das fugas dentro de horários que deveriam ser de seriedade, mas aos quais - fugitivos, clandestinos, transgressores - escapamos; para nos reencontrar, sem deixar de se perder porque é meio da semana. Da nossa fuga, todo um roteiro já planejado. Los Angeles, Fernando de Noronha, Paris e estabilidade, então, em Nova York: enquanto escrevo em casa, no maior estilo Carrie Bradshaw e ganho o mundo em viagens a trabalho,  você ganha muito dinheiro. Um mês, cinco; um ano.
Me paraliso na dúvida entre o passo a se dar, e o congelamento de ficar onde estou. Se arrisco, e não petisco? Se me dou, e, em mesma moeda, nada recebo? É essa confusão toda que corrói. Desconhecer até que se ponto a doação é ganha como dádiva, ou puro desperdício. Imagina se, justo na vez em que sinto tão forte que mal me aguento, a negativa vem grande e em troco por todos aqueles a que me recusei perder tempo. Os nós aqui dentro se embaraçam e afirmam cada vez mais, e aquilo que poderia salvar quem sabe essa minha insegurança em ter tudo, e ao menos tempo, nada de palpável, concreto, tem se reafirmado. Claridade, peço. Diga o que quer, seja direto. Me ferir está fora de cogitação. Se não passar de mera brincadeira essas horas em que rimos e compartilhamos nosso melhor, que aqui se encerre. Fiquem os bons momentos fotografados na memória, antes que se desmanchem admiração e cumplicidade, essa infinidade de afeto que me veio, surpreendente, e cada vez mais tem se feito presente.
Contudo, da única vez em que há diferenciação sincera no que sinto, mais do que sempre, desejo tanto que a realidade faça parte também do sonho. Adicta dessas vivências todas, insaciada como qualquer contaminada, quero é mais. Noites mal dormidas, filmes de enredos precários, um silêncio colado no outro, apenas para olhar depois e concluir num sorriso descabido, finalizador: cara de braba. Que não é assim que me pretendo, irrascível, arisca; imperativo seja o estado leve e descomplicado de querer e ser ter, com reciprocidade, mãos dadas e beijos no queixo. Diferente dos rabiscos todos que eu deixei no caminho, dessa vez o que almejo tem sido destaque nessas alegorias do coração.