segunda-feira, 23 de maio de 2011

Espelho: não dividimos



Nós, mulheres, podemos estar verdadeiros bichos da goiaba, mas uma atração é instantânea: a do próprio reflexo. Meio narcisistas, totalmente preocupadas com a aparência, nos olhamos em superfícies metálicas, vitrines das ruas passadas, espelhinhos portáteis, e enorme, de carros alheios e afins. O desejo de se estar bela, e bem - e de, se não estiver, dar uma ajeitada básica para o melhor possível mostrar ao mundo - é uma constante: a mídia nos alimenta como quem substantiva: tem que ser linda. Sejam divas. Arrasem não só quarteirões, como quadras, ruas e esquinas. Lá vamos nós atrás de malhação pesada, alimentação balanceada, e os cosméticos mais eficazes. Tudo em prol da concorrência, que sabemos, anda apertada (tire os gays, os compromissados e os pilantras; sobrará a se contar nos dedos as opções decentes).
Então que, nesses espelhos todos, um conforto, quem sabe. Fazemos tudo certinho, vamos à manicure sempre que dá, sofremos tirando sobrancelha e buço, caçamos roupas e sapatos em centros urbanos para que sejam nossos, e de nenhuma outrazinha. Entendam, homens, que é tudo questão de investimento, também: tempo, dinheiro, espaço na agenda, e uma vontade que você notem a superprodução hollywoodiana feita para vocês, embrulhada logo à frente.
Como compreender então, quando logo pela manhã, o cara vem ao seu lado, e limpa a pele? Passa hidratante no corpo, depila as costas com cera, usa mousse no cabelo. Faz as unhas, chapinha nos cabelos. Corretivo em espinhas, nem pensar. Pesadelo dos pesadelos: tira a sobrancelha também - pior é quando pede o contato da sua profissional. É deixar ir por água abaixo toda admiração máscula exercida até então. Ótimo que vocês se cuidem, homens. Que usem um bom perfume, cortem as unhas, os cabelos a mais. Perfeito. Porém, quando ele pergunta se você tem algum "creminho" para olheiras, antes de dormir, ou seca o cabelo com secador, não há ato afrodisíaco que faça retornar aquele boom de masculinidade do começo.
Falo por mim, e pelas mulheres e tias, moças inseridas no meu cotidiano: além de se conservarem "ao natural", sejam mesmo rústicos. Homens. Anda faltando tanta virilidade, tanta coragem nesse mercado. O que eu já vi de artigo estragado ficar anos na prateleira sem saber bem por que, acabam os dedos das mãos; inúmeros. Há ainda o prazo de validade, que esperamos condizer com a realidade e demais explicações do rótulo: não queremos levar gato por lebre. Ou nesse caso, um cara que tem mil e outras preocupações antes de se embonecar, por um verdadeiro Ken. Ser um bom representante da espécime masculina é muito mais que falar grosso e dirigir bem. Tem muito a ver com não temer sentimentos, se mostrar como é, conservar até um certo mistério que nos instigue cada vez mais a desvendar o que há por trás dessa paz de espírito toda.
Agora, meninos, sejamos breves e diretas: deixem a sedução de ser mulherzinha conosco. Deixem a barba por fazer, e que a vaidade se infiltre em escolher as nossas roupas, do que as de vocês próprios. Se mantenham simples, que é o segredo de continuar nos fazendo vibrar dentro dessa geração andrógina com possíveis homens de antigamente. E ah, não esqueçam de nos devolver as blusas justas e calças skinny e sarouel. Fiquem com o básico, que assim, vocês ficam ótimos. E fazem sucesso. Nos dêem o gostinho de ser meninas que precisam ser conquistadas por fortes cavalheiros do mundo moderno. A arte de tentar, como desafio, estar quase sempre linda e pronta a ser feminina sem nada de errado ter nisso. Sigam matando baratas, nos abraçando quando os barulhos estranhos lá de fora se fizerem presentes e fazendo o fogo do churrasco. A gente pode fazer o sacrifício de lavar a louça (ainda que de luvas), cozinhar de vez em quando, e pensar em todos os detalhes. Como era nas épocas de antigamente: sem muita frescura, cheio de simplicidade. Um homem, uma mulher, e um espelho. Preferencialmente, dela.