segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Cadente.


- Que horas você nasceu?
- E eu sei lá...Sei só o dia, o mês, o ano.
- Hm. Deveria saber.. Quase todo mundo sabe.
- Não sei mesmo. Você sabe que horas nasceu?
- Sei, né.
- Tá, e que diferença isso faz?
- Pra mim, ou pra ti?
- Pro mundo. Brincadeira, mas sério, o que isso tem de mais? É só um horário.
- Se tu acredita em destino, deveria pensar melhor nisso também. Naquilo que faz o dia ser claro, e a noite, fosca. E nos faz dormir, acordar, malhar cedo, e amar o pôr-do-sol. No mundo que roda, entende.
- Acredito em destino, mas ainda continuo não entendendo aonde você quer chegar, com tudo isso...
- Eu nasci meio-dia, e meia-hora. E sou metade apenas nisso, não é curioso?
- Sim. Que mais?
- Sabe, na metade diurna, é quando o sol encontra o ponto mais alto no céu, e brilha, aquece. Você sabe, me bronzeio por horas, porque gosto. Também talvez seja por isso, que eu goste de altura, de me jogar assim desses precipícios da vida, leviana. Sem medo nenhum. Tô lá, tão alto, que quase ninguém me pega. Inalcançável.
- Ou quem sabe, que você seja assim, sozinha e intangível, por pura opção. Inconstante, e temperamental, feito a lua. Fica vendo as estrelas brilharem, e deixa passar, preocupada apenas com o íntimo próprio, sumindo às vezes, e reaparecendo cheia de luz, revigorada.
- Posso ser também, uma filha da lua, e uma amante do sol. Imagina, só...A descrição perfeita talvez.
- E onde fico eu, nisso tudo?
- Você é a minha estrela predileta. Cadente.

(E enquanto ele mudou o canal, e o assunto também pulou para outro barco, pude pensar e sentir, que a cadência ali era recíproca, ou quem sabe, real. Enraizada. Por entre silêncios, e olhares furtivos. Sem falas decoradas, e humores maquiados. Porque cadente mesmo, só essa estrela que passa, e a gente deseja que fique; corre procurando por onde se perdeu os vestígios da explosão. Sábios de que se encontrarmos, pra sempre serão nossos.)