segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Giz.


Quis escolher uma cor qualquer, que combinasse com verão, que contrastasse com essa paz leviana que tem me ocorrido. Fiquei com o branco. Que desenhado por cima, clareia as demais tonalidades. Os tons pastéis que me acalmam, fazem sentir mais confortável, delicada. Pintar sobre as calçadas sujas e cinzentas um pouco de grama que amacie os pés, flores para embelezar a vista. Deixar sair de boeiros pássaros de origami, libertados. Rabiscar sorrisos em quem de cara fechada por mim passa. Redesenhar roupas onde as faltam - seres (promíscuos) humanos. Trocar os tons que em desarmonia estão, justíssimo. Construir com lápis e borracha laços que não desamarrem tão facilmente, tão precisos somos uns aos outros; necessitados. Apagador em mãos e extinguir todo vestígio de pichação - substituir por versos de um poema impactante e singular, que marque a quem passa, intrigue o dia alheio. Retrato nuvens tão vivazes que nos dêem o impulso de querer tocar o céu, e comer algodão doce. Se o sol não sair, prometo tacar o amarelo que está dentro do avental e fazer que brilhe muito, que as pessoas tenham vontade de sair pra rua e vivenciar todas as restantes horas dessas vinte-e-quatro, até o último segundo. Estar abraçadas, em companhia, enquanto o astro rei se põe, e o laranja chega, itinerante,  facilmente substituído pelo azul límpido, penetrante. Caso as estrelas se escondam também, respingo um pouco de glitter para que estas queiram usufruir de todo o brilho, e se maquiem com tanto glamour que deitados num mesmo cobertor, eu e você possamos de cima do morro tentar contar a infinitude dessas que no dia seguinte se escondem e voltam sempre - tantas. Mesmo que sejam os corpos celestes que até podem ser os nossos, mas que estão no teto do seu quarto.
Recortar com bravura os engarrafamentos, a poluição, o caos em forma de som que a cidade nos presenteia. Para abafar as buzinas ensurdecedoras na hora do rush, final de tarde, em seus ouvidos faço existir dois grandes fones, com aquele som que só a gente conhece, para que você se transfira dessa loucura toda. Estampar no rio que desagua da nossas mil vontades quem sabe um bote, iate, ou barco à vela, para que a gente encontre qualquer rumo impossível e fuja da banalidade, ostentada. Em teu pescoço, pincelo meu enorme desejo que por você tanto brilha, em forma de beijos, e sussurros desavisados. É no meu abraço acalorado que te pinto (a)tinjo meu coração, apertado. Corada, sem jeito, e te reproduzindo cada vez mais nesse rascunho que guardo, e não jogo fora nunca. Com a câmera fotográfica que, sonhadora que sou, desenho, afim de captar todo e qualquer momento de todo essa alucinação que criamos, e com tanta criatividade, suportamos sem querer que termine. Se sujamos, nos delineamos, não tanto coloridos, mas com lápis, giz, borracha, canetinha, papel crepom, cola, glitter e afins pintamos uma realidade que não é nossa, e que num borrão, tentamos agora voltar ao branco, à paz, ao quadro limpo. Eu, uma desenhista que ainda tenta, mesmo fracassada de nascença. Qualquer tela em branco pra mim é possibilidade, e a mente vasculha atrás atrás de uma nova arte, alguma novidade.