Ficar vermelha é meu escudo para não deixar escapulir todo o oceano que eu
sinto, a fauna que eu penso, a biodiversidade interna e que nem sempre fica mole
e facinho esconder assim, sem encontros num meio de tarde. É o amanhecer que
troca do sereno da noite o estado emocional, ainda na aurora, até quase explodir
nas bochechas da gente, laranja, mistura de amarelinho, branco, bege; vermelho.
Quase cena de cinema e a gente, espectadores - rádio conectado, e então,
entrevista: nunca parece ser real, passa sempre muito rápido os instantes de
vermelhidão do rosto, palpitação acelerada e mãos que suam. É o roquenrol das
sensações etéreas, um tanto da infância no íntimo conservada, a vergonha que
sorri boba, leve, profana. Existente.
Dona de unhas quase sempre pedidas de bom grado à manicure cor de carmim,
sim, é cândido mas também irracional essa sanguinária toda que sobe e quase me
faz levitar, tamanho o acanhamento a assuntos que para mim tem a urgência de uma
vida, o preço do incalculável, estima profunda: caríssimos. Meus. Fácil me
deixar da cor das paredes que pintei o quarto ainda adolescente, aos onze ou
doze anos, quando questionam o impublicável, se atrevem a arriscar qualquer
pergunta de cunho pessoal escancarada, sem direito a prévia ou preparação. Eu
rubro mesmo porque vibrar é atentado à falta de felicidade alheia. E diz
tudo.