Fica difícil saber quando esse processo - agora
doloroso - de diferenças, sumiços da vida da outra e cronograma em comum errôneo
começou. Vai saber se foi você quem se fechou primeiro por causa da minha falta
de tempo, do comportamento grosseiro de vez em quando, das intrigas que me
fizeram inexperiente, culpada e vilã, ou se fui mesmo eu quem, aos pouquinhos,
escolhi viver com quem tem mais a ver, botar a boca cheia de sinceridades no
trombone ou me recusar a aceitar as críticas, os maçantes comportamentos, a tudo
não ser mais tanto como é. A gente pensa sempre que é importante na vida dos
outros, mas é quando eles silenciam, ao invés de defender, que o pensamento para
por alguns instantes e avalia que talvez nada fosse mais tão bom assim.
Como fazer durar uma amizade que já se
encaminhava pra um afastamento, com tão pouca coisa a ver, fases extremamente
diferentes, assuntos que mal batem e acabam sendo quase sempre sobre as gentes
alheias e o supérfluo, roupas, emprego, faculdade, nada de útil? Sinto como se,
mais ou menos como aqueles chicletes vendidos por metro de quando a gente era
pequenas, cada uma foi puxando para o seu lado. Vagarosamente. Na lentidão de
quem não quer perceber que a força motriz da companhia de outros tempos já
perdeu o sabor e deve estar beirando já o lixo. Puxando lá, eu caminhando rumo
às novidades da vida, os problemas de mim, tentando preencher as faltas que em
cada um de nós já nasce e: de repente, fraquinho. Pega o desfibrilador, tenta
reanimar o sorriso de noites bêbadas e sôfregas, baladas decadentes, confissões
sem nojo nem pena nem dor - assim como também a sinceridade - só que não. Nada
acontece. Ver um negócio de ano respirar por aparelhos é de cortar o coração. Ou
as relações. Enfim.
É o choque de se dar conta que o nosso muito,
talvez fosse pra outra amiga, tão pouco. O medo de não saber daqui pra frente
como vai ser, se sozinha é melhor assim, ou daqui um tempo talvez, tudo se
resgate lá na frente. Por enquanto, muito vai sendo deixado pelo caminho: as
coisas boas da vida que precisariam ser contadas, fofocas que vão surgindo
semana após semana, as incontáveis lembranças sem espaços de rir junto ao se
maquiar, dividir uma mesma chapinha, chiclete antes de festa, faculdade reunida
e outras mais que não cabem em uma só. Mas compõe memórias, fazem volume. Uma
certeza (a única): guardadas com carinho. Já que as dúvidas são milhões, a mágoa
grande e o futuro incerto, que seja. Pequeno o sentido, menor ainda a
predisposição. Passa o tempo, mudam as pessoas, que se conserve pelo menos, além
das recordações, carinho e qualquer respeito bom. Um dia, se encontrando por aí,
conversa descontraída e remorso já digerido, a gente aprende.