quarta-feira, 2 de março de 2011

Cupido

Seu danado, cadê você? Agora que te busco e em mãos não mais se encontra o passe livre para pisar nas nuvens e flutuar pelas ruas, apaixonada: o seu sumiço, então. É férias, porém, mais do que nunca, quero ser acertada, na loteria romântica, uma vitoriosa. Chega dessa sorte no jogo, que nada adianta ser então profissionalmente uma ganhadora e tanto, se com quem gastar das horas em companhia que me estremeça, é o que mais me falta.
Você, menino, e suas armas invencíveis, gladiadoras. Fortificadoras. Jeito moleque e a pirraça de não olhar atentamente ao jogar o tiro, e errar o alvo. Me pergunto se é com flechas que caças, ou simplesmente, com armadilhas. Arapucas sentimentais, que crivadas no peito doem, esfarrapam a alegria de beijos de amor ao pé da cama, debaixo do travesseiro. Iludem em sua maioria, gostam de enganar com sabor: tiram da mão, quando os dedos então tocavam o tão querido afeto. Erro crasso, coração despedaçado. Seguindo então o curso da vida, que mais se assemelha a um rio qualquer, unido em água, sangue e caminhos destinados, na espera de que a então malfeitora farpa saia do peito logo, e sem demasiada dor.
Mal de Parkinson não é, tão jovem é você. Um cândido que da infância não se desprende nunca - praticamente irmão de Peter Pan, apenas mais inconsequente, serelepe. Mira na pessoa exata, naquela correta, e sabe se lá se por força do vento, das intuições ou destino, acaba por errar a pontaria.
Quero seu bem, duvido que se drogue, como dizem. Apronta por puro contentamento, pela diversão. Quem sabe, para fazer com que aprendamos e cresçamos nesses relacionamentos cansativos, pela metade. Disseram que chegaste a talvez, se apaixonar por cada uma das belas damas que de sentimentos vazios, a você recorrem. Primeiramente anjo que és, duvido. Imagino seu sorriso a ver a felicidade de cada casal que formas, e com você o apego não é uma constante - tudo para o maroto muda; os ventos, as ocasiões, os pensamentos. A rapidez das suas asas dá o efeito dos tais arrebatamentos que não sabemos explicar: ostentadores. Para sobrevoar por aí, urgente, elétrico, e esperto, problema de vista sei que não é o que te impede de fazer boas ações. Fico com a opção de poder crescer no que não posso possuir. Esse é o ensinamento que empunha a cada proposital desacerto: amar com liberdade, e sem vaidade, como cantou tantas vezes Raul. Aprender a sentir de um jeito mais sadio e correto, quando sou só loucura e arrebatamento, paixão. Por vezes, imagino que tenhas também uma cota de flechas, destinadas a cada pessoa. E então, as de fazer apaixonar, para minha pessoa já tão penalizada, se esgotaram. Vai que agora os tais dardos duplos e complementares, do amor real, grandioso e destinado à dois, não entram em cena? Não desacredito você, querido Cupido. Pelo contrário, imaculo seu potencial. De estúpido, aliás, nunca o chamei. Sei que és esperto, basta olhar com atenção os tantos casais cúmplices e apaixonantes que gostaríamos de ser, e no fundo, invejamos, tão felizes e completos. Peço apenas que até pare de se esconder, e à cena retorne, em grande estilo: como meu amigo, e no objetivo, a minha felicidade. Apenas, volte. Sem ensaios para atingir de raspão, ou nas periferias que não são nunca o meio. Em sistole ou diástole: bem no meio, no ponto exato onde para todo o corpo se vá o que sente o coração. Venha e, sem me avisar, que a surpresa é ainda mais deliciosa, de repente no meio da rua, supermercado, barzinho à noite ou farmácia pela manhã, algum olhar de outra vivência, aquele arrepio de já conhecer o incógnito. E ainda assim, querer afundar nele.
Dizem que você não cresce, apenas porque o amor é que não envelhece. Talvez seja. E flechas no peito, o que representam então? Que o amor, para cicatrizar, também um pouco deve doer. Sem torturas, o frio na barriga que é essencial para valorizar a grandiosidade de uma afeição.