segunda-feira, 21 de março de 2011

Homem quando quer


A questão é tão simples que a gente finge complicar, para dar mais emoção. No fundo, sabemos realmente as verdades nuas, cruas e cruéis que fazemos questão de deixar passar, despercebidas. Despejamos as mais chatas das perguntas de se o cara tá afim ou não, analisando minuciosamente comportamentos e atitudes, falas e movimentos, com as amigas mais próximas (coitadas) e mentimos para nós mesmas tão bem, que quase nos enganamos - mas mulher sabe, e quando comete o delito de se transformar na louca carente desenfreada, sente na espinha a corrosão do erro cometido, do desacerto na ponta da língua, ao procurar quando não devia. Sem esquecer do jogo; e da comemoração, só feita quando os acréscimos terminaram e o abraço corrido já se deu por ocorrido. Vitória, para ambos.
Até então, na escalação, dois times: os caras que estão afim, e os que não. No primeiro time, estão aqueles que podem ir até o babão que corre atrás de você desde a infância, ao cara que você também tá afim, mas dá aquele tempo, disfarça e se segura. Enquanto ele não some por mais de três dias - é a regra universal, todos conhecemos - quer saber mais sobre a sua vida, ao invés do seu rebolado e te leva para jantar, aonde quer que seja. Apenas os bons moços, desse lado da rivalidade. Bons moços, e caras espertos (no ótimo sentido, pra todo efeito e nesses casos). Jogam aqui os que combinam com horários certos, procuram você sem ser insistentes (porque se forem em excesso, merecem ser ignorados para compreender com êxito o real sentido da sua negativa), convidam para programas legais e sentem o maior orgulho em estar ao seu lado. E a valorizam. Fazem dias comuns se tornarem inesquecíveis. Ligam mesmo após um dia cansativo, porque simplesmente gostam de você. E mesmo sutis, são perceptíveis. Surpreendem com pequenos atos, mesmo sendo caladões. Se tímidos, com você, fluentes. E raros, com o tempo fazem você perceber cada vez mais, o quanto valem a pena. Sem pressa, mas com atitudes - sim, eles tem - precisas, tem a sede de vitória que só você mata. Na maioria das vezes, se sagram campeões.
Do outro lado do campo, o time oposto. Bad boys, e cafajestes. Imaturos, inexperientes, ou aprendizes que não sobem nunca de nível - embora tentem. Lembra daquele cara que te fazia esperar sentada, maquiada e bonitona, pra nem aparecer? Ou aquele outro que mentia e inventava desculpas, tinha uma em cada canto da cidade e horror a compromisso? Então, também é veterano nessa equipe de derrotados. Moços que não ligam quando devem, e reaparecem apenas quando bem entendem. Telefonemas que não chegam. Relacionamentos instantâneos, fugazes e incertos. Intenções talvez nem más, contudo: inexistentes. Vão no banheiro e opa, quando você vai, passa por ele no caminho, debruçado no pescoço alheio (feminino). Mil promessas de amor não cumpridas, voltas e reviravoltas, egos imensos. Querer quando convém. Medo de qualquer intimidade que apareça com o tempo, ou intensidade sua, que escape num dos choros e guerras, cessar-fogos e bandeiras brancas por esses caminhos tortuosos e indesejáveis. Entram em campo com estigma de campeões em pé, e são derrubados no menor piscar de olhos: na corrida da vida que é esses relacionamentos que se entrelaçam e são sorte e azar, se confundem entre momento ideal, pessoas corretas ou não e afinidades em comum. Fatores decisivos, todos.
De fora de qualquer sentimentalidade, tenho acompanhado e visto mulheres cair na dúvida do que, de tão simples, complicam pelo prazer de também transgredir. Toda essa cegueira da qual tenho nojo e pavor, tamanha a simplicidade dos fatos que rodeiam. Chega a doer assistir ao desvario de companheiras de copo e de noitadas, faculdade e salão de beleza, esquecidas do que é necessário para não se deixar engolir ou enlouquecer por essas partidas por vezes enganadoras, quase nunca bem apostadas. Se ele estiver afim, será nítido. Transparente. Nem mesmo os nãos ditos no caminho serão capazes de fazer com que pare de correr. Homem quando quer, atravessa cidades e vai até o impossível. Encontra você, da maneira que achar, porque de tanto que deseja, vai atrás sem nem pensar em prejuízos e prerrogativas. Quer mais é correr atrás do que caça, e travar luta com os dragões no caminho. Empunha espadas, e a salva da torre maldita que é ser mulher e assistir a isso tudo, podendo muito pouco modificar um destino. Que resulta nisso aí mesmo: homem gosta de conquistar, é da natureza masculina.
Desde cedo, lhes foi doutrinado o papel de ir atrás e disputar, dominar e vencer; militar arduamente para se alcançar o objetivo a atingir, ver cada gota de suor no formato de recompensa. Depois de tantos dribles e percalços, tapas na cara, faltas e impedimentos, vamos logo nós femininas,  e de salto alto marcar o almejado gol? Não é justo, não nos cabe. Torcer, sim. De forma sucinta e silenciosa, para exprimir a felicidade e não deixar que a inveja corrompa. Agora, se ele quiser, e você também, os saiba que os adversários ficam para trás e são vencidos. Sejam eles o time do lado de lá, as paralisações necessárias, a prorrogação ou os pênaltis. Quando dois querem, unidos ganham o mundo.