segunda-feira, 14 de março de 2011

O problemático



Você tentou provar por x + y que o resultado não seria você. Não foi. Tentou equacionar o padastro com quem ele não se relaciona bem, as drogas que usa para esquecer o mundo, ou ainda, o relacionamento de três anos que derrubou com toda a auto-estima do coitado. Por fim, descobriu que o problema não estava nos seus pés grandes demais, ou no estilo de vocês, tão incongruente um ao outro. O problema é igual a ele, e ele se encontra dentro do conjunto de fatores que engloba a questão: há sempre um problemático que tranca nossos dias para que depois dele, nos tornemos experts na raça de Marte.
E nós, mulheres, nos descabelando com física, química e matemática. Ainda fosse. Pena que esquecemos que, como fêmeas, deixamos sempre ligadas as anteninhas da solidariedade, prontas para nos revelar um mártir à altura do radar. E com todo nosso cuidado, psicologia, colo, paciência e mimos, lá vamos nós em mais essa aventura de resgate másculo.
Tudo era perfeito. Ele lindo, você apaixonada. Até o dia em que começam os sumiços repentinos, desculpas pela metades, atos estranhos ou impensados. E puxa, o que será que aconteceu? Ah, é o avô dele que está no hospital. E nossa, o pai foi demitido. Ou ele se sente um merda no trabalho, por não conseguir ser promovido nunca. Quem sabe, entrou no mundo das drogas e agora não vê saída de largar o vício vivo. Pode simplesmente não saber o que quer da vida, e estar confuso quanto ao seu mundinho quadrado. A verdade é que, aos poucos, ele se torna tanto o problema, que esquece de ser ele mesmo. Se não pode ir ao jantar da sua família, sabe como é, estava deprimido. Ia a uma entrevista para outro emprego. Estava com os amigos que bonzinhos que o levam direto para o bom caminho. E sabe como é, você tem que dar apoio. Entender, e não criticar. Ele, que adorava beijar você por horas intermináveis e ver um filme atrás do outro, agora só a procura para despejar o que o aflige. De namorada, você quase passa a ser terapeuta. Ou de ficante, o relacionamento nem evoluir consegue.
Isso, com certeza começa a fomentar a infelicidade aí dentro, e deixar pegadas de se o erro é você, que se meteu na vida do moço justamente na hora errada, ou se o impasse é que é enorme demais para ser combatido conjuntamente. Você, cada vez mais tentando ajudar, e compreender, quase vestindo as botas vermelhas da Mulher Maravilha para que tudo passe logo e volte a ser como aqueles dias, no bom princípio que o destino reservava para os pombinhos, e se perdeu nas velhas folhas do calendário. Ainda assim, nada resolvido. Proporcionalmente, a distância daquela divindade que pensava ter encontrado no começo, aumentada: lá trás, no formato de lembrança. O rapaz fingindo não ver o que com ele acontece, e apenas o próprio, pode solucionar. Vendando os olhos e esperando que tempos melhores cheguem de uma vez. Projetando em quem nada a ver tem, o que nele deveria refletir e ressonar. Porque mesmo que nas costas, cruzes enormes sejam carregadas, quando ao lado alguém que realmente nos faz sorrir estiver, os lábios não exitarão em deixar os dentes à mostra. E tudo, que era então dificultado, se tornaria mais fácil, quase indolor. Facilitado. Seus recursos e salvações todos em vão, e o abismo entre os dois cavado cada vez com maior profundidade. Para quem realmente quer, os problemas se tornam coadjuvantes. Ou na verdade, nem existem.
Saldo final: culpa, ressentimento, dúvidas. Sendo que, tirada a prova real, tudo certinho: não houve erro, da sua parte. Já da dele, negligência; desatenção. Perder uma mulher assim tão poderosa, heroína e corajosa, não é para os fracos: e sim, os covardes de enfrentar essa vida com olhos abertos e coração valente.