sexta-feira, 4 de março de 2011

O gato, não gato.



Enquanto ele passa, pacato e sem pressa de viver, olhares cúmplices e segregados são trocados entre elas. Ele vai caminhar como quem dá passos largos e triunfantes por algum tapete vermelho que nem ao menos sabe existir, e rei que é e desconhece, aparece a coroa imaginária apenas na vista de quem o vê assim, soberano em impregnar sua digna existência de ser-humano comum, mas que embeleza todo santo dia os olhos das moças que o observam; ainda que tímidas, ou à espreita. Mesmo com aquela camiseta meio desbotada, sapatênis, ou até mesmo regata é essa beleza quase exótica que marca, e que nem mesmo essas doidas compreendem, que elas o acham irresistível. O mais gato da rua, da faculdade, da academia, do trabalho. O bonitão do pedaço. O capitão do navio de sereias incansáveis. De saciar em silêncio esse seu charme de gentleman inglês, e ao mesmo tempo, em algum outro dia, qualquer ação mais rude de fanfarrão extraordinário. Enquanto ele escreve, donzelas sonham que com tais palavras alguma carta sentimental às salvem os dias. E quando ele sorri, até mesmo as pequenas garotinhas pensam em off, com sua voz em narração interna: foi pra mim. Tudo porque quase todas as mulheres presentes o acham super lindo, o muso de tantas e tantas inspirações, e nem ele mesmo sabe disso. Quantas e quantas o admiram em confidência, e mesmo sendo fêmeas, travam a língua. Ele é o último a saber, e dessa vez, nem corno é. Ainda que ele não possua carro e nem muito dinheiro, e tente ganhar a vida exercendo papéis medíocres que aparecem por aí, pelos grupos e círculos sociais, é sempre lembrado como a formosura em forma de ser. Em todas as vezes.
Moçoilas empenham feitiços para acabar com seus relacionamentos, e repetem que aquela é uma baranga, e a outra ainda é uma biscate, tudo porque a guerra sigilosa entre quem algum dia terá qualquer remota chance com tal príncipe que não é loiro, e nem tem olhos azuis, é de altura mediana e veste roupas totalmente básicas pode mesmo ser mágico ou mago mesmo, já que o truque da hipnose deu certo nesse caso - e em mais de dez das duas amigas, pelo menos.
Isso tudo porque ele não deseja ser rotulado como bonito, e quer ser inteligente, e assim acaba tornando ainda mais voraz o apetite de quem o quer por perto, simplesmente porque ele não se preocupa com nada, muito menos com o que pensarão os outros, e brinca assim com o cachorro de rua que aparece, sendo além de magnífico e inteligível, caridoso e solidário. Irresistível. E assim nos faz questionar, qual o defeito desse cidadão que de alguns ângulos nem é assim tão bonito, mas que com toda a despreocupação do mundo coloca pra escanteio todos aqueles que se embelezam e com isso se preocupam - em vão. Suas amigas e você questionam que ele deve então dirigir mal, ou ter voz fina, não praticar esportes, usar o perfume errado. Ou quem sabe cueca colorida, ou na verdade, nem usar nenhuma. Continuando sem descobrir aonde ele peca em ser tão deus e ao mesmo tempo, desejar como nunca se tornar reles plebeu. Algum erro há de ter, alguma equivocação em tanta coisa boa, que na verdade é absolutamente normal, e por algum motivo ainda não desvendando pulsa em meio à massa. Mulher adora se preocupar, e adora mais ainda alguém que não se preocupe com nada. Muito menos com ela, e sua vivência montada em make-up, cabelo e roupas novas. Eis o segredo do moço: exibir seu borogodó por aí, e não olhar para os lados, sem se importar com possíveis fã-clubes, ou clãs de adoração. O que aumenta ainda mais seu charme em potencial, e a paixonite aguda que brilha aos olhos das donas que vêem. Secreta, até que se prove o contrário. Porque ser low profile também é afrodisíaco.