Te vejo, e me olho. Te toco e me sinto. Se assisto teu erro, a vontade é de acertar, para que tudo equilibre; equalize. Quando dormes, sou eu quem sonha em profundo estado de êxtase. Ao te ter ao lado, realização. Quando longe, uma ausência presente, porém amansada, quase quieta. Tu, que és o eco perfeito do meu peito que insiste em gritar - quase loucura, possível felicidade, pequena angústia. Bom que não somos imitação: e sim, complementação. Suprimento daquilo que no mundo nos falta, e reencontramos a cada abraço ofegante, desesperado. Reflexo de toda a sua luz dourada de gente, polindo meu brilho indireto de lua e desejo de se esconder, toda noite. É tocando em teus cabelos que me eriço, quando roças os pés nos meus, meu corpo é isto que se acalma; tão quente está o coração. Vestida de ti é que trajo a tão desejada paz que busquei em vão, em beijos alheios, expectativas incompletas, relacionamentos relâmpagos. Bom saber que se quiser assistir as estrelas, em silêncio, é no espelho dos teus olhos, grudados aos meus. Capto no ar sua respiração propagada, para por osmose deixar que a nobreza desses seus atos principescos me atinja, em cheio. Nas marcas de batom que em tua nuca deixo, evidencio a propriedade acerca de todo teu sentimento: meu.
Nessa minha telepatia mediúnica tão habilidosamente treinada, é que te reaproximo, mesmo sem querer; continuamente. Na superfície lisa que é toda essa linha disforme de nossos encontros perfeitos, onde quero mergulhar. Faço de cada pequeno arranhão ou impureza algo a em mim aprimorar. Para que te passe, que em ti vislumbre, e por fim, sare. Ignoro possíveis molduras e rótulos, em prol do brilho de refletidos um no outro, nos reconhecermos cada vez mais como par.
Do seu lado, irradio palpitações de alegria, enquanto vejo no seu reflexo a vontade enorme, gritante e de certa forma, atrapalhada, de ali estar. Sem toque, vozes mudas, instantes de intimidade tão profunda que, ao ficar calada, não se importa: se normaliza. A arte de desenrolar o novelo dos seus problemas, e acabar no final das contas, diluindo os meus. Até mesmo esse silêncio de sábio que ostentas, tem em minha esfera particular reação: falante que sou, desando a palavras usar, até que me cales com qualquer ato ou frase perfeita, na hora certa.Rabiscos por entre as páginas de cadernos e agendas, orelhas de livros dobrados meu nome junto ao seu, feito tatuagem; eternizado. Combinado.
Como ficamos bem, aliás, um sobre o outro, compostos, harmonizados. De dar vontade de observar o dia inteiro, ensaiar caretas e gestos, posses e espontaneidades. Dois semelhantes semeando o que um no outro falta, e no mesmo, se encontra: a possível perfeição de um encontro eterno. Sem desgastes, sem longas esperas, embebido em renovação. Espelhados pelo retrovisor desse caminho que até aqui cursamos, e pela frente podemos avistar: aberto, livre. Pelas vitrinas da cidade, minha mão na sua, duas metades findadas. Únicas. Realizadas.