quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Dois goles de eternidade




Começou quando passava pela casa de janelas abertas, enquanto caminhava pela zona próxima a minha casa. Era domingo, e eu que deixei de detestar o dia para chorar a cada fim de noite, lembro ainda da cena do casal de senhores assistindo ao Domingão do Faustão na tevê. Fiquei a imaginar ouvir de você que "nós não vamos ser assim, tá?", e concordaria, convicta: estaremos brincando com nossos netos, isso sim. Teve também aquela outra vez em que olhava o fogão acoplado à copa do salão de festas de um amigo. Foi quando eu disse que "nem deve ser tão caro um desses" esperando que, em seguida se lá estivesse, esboçasse algo como "nós vamos ter um, sabia?" e sentir a alegria medrosa de viver, quem sabe, um conto de fadas da era moderna. Feliz com o que antes também havia pensado, porém, sem dizer, afirmaria: sim, nós vamos.

Mal consigo imaginar o dia de amanhã, e promessas, eu admito: me dão calafrios. Elevam ainda mais minha já superestimada ansiedade. Mas se for sempre assim, por mim, poderia ser para sempre. Pro meu próprio bem, deveria. Mesmo que, assim que você me deixe em casa eu desabe de melancolia já no percurso curto que leva uma eternidade até minha casa. Ainda que seja a cada dois ou três dias, porém que faça a minha vivacidade aflorar só por estar prontinha no final de tarde, esperando você no shopping que fica perto. O importante é escutar a sua voz dizendo "lindinha" de vez em quando, só pra negar com a cabeça enquanto você ri. É a competição sempre perdida em que o abraço mais apertado que você consegue me dar vence quase sempre no intervalo entre as minhas falas descontroladas que não consigo frear. Só para depois de dias corridos e chuvosos que tem feito te esperar precipitada para fazer a graça divina do seu sorriso ao me ver. Porque é desses detalhes tão pequenos de nós dois que eu vejo o quanto uma pequena briga qualquer se ouver qulquer dia se torna um grão no meio da imensidão toda que é a recompensa de se apaixonar todo santo dia pela mesma melhor pessoa escolhida.

Somos novos demais e não levamos muita fé nos matrimônios atuais. Igual, me apraze esse eterno enquanto dure que cada vez mais se torna presente e digno de continuar sendo dia após dia. Detestadora de química e afins, seria capaz de inventar uma poção de nome qualquer mas com efeito prolongador de eternidade duradouro o suficiente pra que isso não tivesse fim por motivos banais ou com o desgaste do tempo, especial que é o que temos. Um gole pra cada, divididos de um mesmo frasco da porção única só para nós dois. Porque esses melhores momentos do mundo me arrepiam só de relembrar e escrever, cheia de uma vontade que seja amanhã logo e tudo se repita da maneira singular, e por isso mesmo boa que há meses tem sido e não nos enjoa. Dava para ter gerado uma vida, mas, incrível - o que nasceu em mim foi uma vontade de pra sempre antes nunca transcrita na mente, sentida aos pulos do coração até a palpitação das veias, quase saindo pra fora do tanto que existem. Autodestrutiva, que seja. Venenosa ao longo do tempo, arrepiante também porque até cruzar a linha entre ilusão e realidade a gente tem dificuldade em perceber. Mas que se for pra ser, que seja querendo muito: até que o destino separe, sem prever términos nem muito menos desejar o fim.