sábado, 31 de dezembro de 2011

Esnobe






Sempre fui assim, acanhada; despercebida, low profile. Foragida de gritos escandalosos, abraços demasiadamente apertados, ou barracos em lugares cheios. Cética, escolhia ficar de fora de todo esse tráfego intenso de movimentos e superficialidades. Observadora das sensações alheias, interrogadora de dores e delícias, questionadora de posicionamentos, virtudes, e verdades. Contudo, mantendo tal barreira divisória e indivisível; necessária. Aquele ponto crucial entre se tornar, ou ficar apenas na especulação. E aí, às vezes, vinha alguém e comentava com não sei quem outro, fulano de tal, o que chegava até mim: é metida. Ou diziam então, que: ela é esnobe. Enjoada. Quando na verdade, era só essa minha mania infantil de observar o movimento dos corpos, suas alegorias endógenas e restritas, tentando decifrar sempre, quando é que o ser que somos de fora, se une à toda essa intimidadade oculta que carregamos dentro de nós. Ver, antes de agir; sempre. Sem nunca encontrar a resposta, me permitindo teorizar que, alguns vinham para a vida carregados de uma sorte que, outros só teriam em pensamento - ou sonho. E falavam então, que ela olhava de cima, por entre o nariz empinado, e o pescoço erguido (com um ar superiormente egípcio que nem eu mesma havia conhecido em mim), com desprezo e dó por todos esses e aqueles que por entre o cotidiano atravessavam. Enquanto não passava de uma menina com olhos atentos e vivos, a boca semi-cerrada , figurando a mesma cara amarrada de sempre. Insegura, descabida em si. Olhando para os pés, ou mesmo decifrando o chão e quaisquer desigualdades nele postas, caminhos ainda incompreensíveis, distintos. Ajeitando as roupas meio amassadas, e fingindo pouco ligar pro resto do mundo: feliz apenas em estar consigo e ninguém mais; completa numa solidão cúmplice de ser sozinha - e não se descabelar por conta disso. Tendo em mente que em sua própria companhia, não há margem para o erro, não existe quem a trairá. E se com cuidado me amedontra estar com os outros, e expor minha opiniões e gostos, isso é medo puro, e não falta de vontade. Cuidado, e não efusividade. Porque as conclusões exatas, só podem ser tiradas do forno quando conhecemos o não só as lágrimas, quanto o sorriso alheio. As graves faltas, os desejos mais profundos e disseminados. Convencidos somos todos nós, das próprias crenças, daquilo que nos cerca e podemos atingir. Talvez por isso, assim quieta e desinteressada nos fatos comuns, nas histórias repetitivas, e das pessoas sem sal nem pimenta, assim: esnobando a vida, se resguardando em si. Don't be shy