quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

A menina e a mulher








Convivem: não se amam, e praticamente não se detestam. Pode-se dizer que, na grande maioria das vezes, se ignoram. A mulher sente um tanto de remorso e um outro muito de culpa ao ser obrigada a permanecer perto de alguém tão ainda incompleta. Falta assunto, um tanto de corpo e algo sólido que sustente um papo bacana - e que também preencha as ideologias e a personalidade de quem ainda é imatura demais para de fato crescer. Enquanto a mulher sente-se segura, sabe estar sendo atentamente observada: é uma risada que segue após a sua, um mesmo tom de cabelo copiado meses depois, palavras aprendidas dispostas em frases que não possuem à tal menina - que pode ser moça, adulta, mas tudo, menos madura. Tem aquela coisa intocável chamada também autenticidade: essa ela tenta, tenta, mas nem com anos de treinamento, fórmula mágica ou pedido ao gênio da lâmpada adquiriria. Não de uma hora pra outra. Admiração também tem limite, oras.

Desconhecedora de conversas bem construídas, bom senso e refinada educação, a menina faz birra. Se torna habitué de chantagens emocionais, sexo como resolução de todos os problemas, e pedidos com sua vozinha infantil aceitos, assim que feitos. É uma correndo enquanto a outra engatinha. O dia ocupado contraposto ao ócio sonhador dos horários vazios de quem se preocupa em se ocupar de nada. A garota se deslumbra com carro, status, e dinheiro, a mulher já conhece o estigma dessas futilidades todas: passageiro. E busca além.  Valoriza bem mais uma sólida integridade, um bom esforço e algum charme (porque no final das contas é isso que fica). Sem saber do grandessíssimo valor de uma boa leitura com uma música de qualidade que complete (ideal), continua perdida em suas meninices sem conseguir desenvolver algo além de fofocas sobre coleguinhas, noitadas futuras e passadas ou a programação da tevê. Vazia.

É constante o duelo entre Marcelo Camelo e David Guetta, carona e transporte coletivo, quem luta e quem apenas - diz que - sonha. Uma estante de livros versus um generoso estojo de maquiagens, quem realmente sinta um pouco das dores do mundo contra quem se orgulha apenas de ostentação. Convívio agradável em réplica à sombra de quem é perita apenas em instabilidade. Algumas fermentam dentro de si e, com o tempo e alguns machucados, desenvolvem uma figura única para transitar pelo mundo - a sua. Outras, de tanto se focar na cópia, demoram a realmente serem especiais e íntegras damas. Mulheres estão atrás de caráter; meninas, ascensão social. Meninas checam insistentemente o celular; mulheres, o jornal. Mulheres e a saborosa degustação de uma bebida moderada junto a um prato delicioso de comida. Meninas e o pensamento anoréxico de não precisar se alimentar direito "que saúde nem é tão importante assim, mas magreza, sim". As primeiras precisam com constância dos pais, de dinheiro e de deslocamento (não raro, fazem o namorado de motorista). Pra quem é realmente mulher, basta apenas a própria boca para perguntar por aí, quantia monetária suficiente e espírito de aventura para se virar cidade à dentro. Quem vier junto, além de companhia, é também adição: ter quem contribua é ótimo, mas ter a si mesma sim: é excelente.